domingo, 31 de agosto de 2008

Castelo Branco: a última sede templária em Portugal [1215-1314].

Antiga torre do castelo templário de Castelo Branco, hoje parcialmente visível e bastante modificada.

Castelo Branco foi, durante cem anos, isto é, desde a sua fundação, em 1215 — altura da outorga do 2º foral —, até ao desaparecimento ou extinção da Milícia templária, no nosso País, em 1314, a capital provincial da Ordem em Portugal — ocupando igual estatuto para os denominados três [1] reinos — nela se efectuando, pelo menos, seis Capítulos-Gerais e outros de não tão notória envergadura, mas de igual importância. Tudo isto até [2] à altura em que o reino de Castela-Leão [3] teve a sua própria Província e o seu próprio Mestre [4].
[Nessa altura, manteve-se como sede provincial no reino português.]

Notas do Autor:

1. — Leão, Castela e Portugal, que constituíram a partir de 1212 ou 1213, uma das duas Províncias da Ordem na Península Ibérica. A outra era integrada pelo reino de Aragão/Navarra e Catalunha.
2. — Até 1288.
3. — Os reinos de Leão e Castela ficaram definitivamente unidos — por vontade e mando do rei Fernando III, o santo [1230-1252] — em 1230.
4. — Foi ele D. fr. Fernand Perez [1288] a que se lhe seguiram mais seis Mestres*, o último dos quais foi D. fr. Rodrigo Yañez [1297-1309]. Crê-se ter sido este o último Mestre do Templo na coroa de Castela. Mantinha-se no seu lugar quando o papa Clemente V ordenou a prisão e a confiscação dos bens dos templários, por aquele ano, neste reino de Espanha.

[José Manuel Capêlo, Castelo Branco, a Cidade-Capital Templária de Portugal: de 1215 a 1314. As Sedes Templárias em Portugal, Codex Templi, Cap. VII, p. 159, Zéfiro, Sintra, 2007.]


Até breve.

sábado, 30 de agosto de 2008

A presença templária a sul de Coimbra: os fossados.

A defesa de Coimbra é incrementada com a entrega de Soure aos templários e a construção do castelo de Leiria. A partir destas posições pode-se avançar para todo o tipo de acções militares, como sejam os fossados. Terá sido num destes fossados que os cristãos chegaram até Tomar, corria o ano de 1137. Aqui, talvez na zona do Almougadel — que o mesmo é dizer o local da contenda —, registou-se o embate entre as duas forças antagonistas, tendo os cristãos averbado uma derrota que ficou registada na Crónica Gothorum(1). Os ataques almoadas terão feito o monarca repensar a sua estratégia. Opta por consolidar posições e, nesse sentido, doa Alcobaça aos cistercienses em 1153 e em 1159 concede a região de Ceras aos Templários. Quanto a esta última doação era notório que a presença templária no Zêzere seria factor a ter em atenção pelos almoadas no caso de atacarem Santarém e Lisboa. A presença templária irá ser reforçada com a posse e construção dos castelos da Cardiga e Zêzere em 1169, a que se segue a fortificação fluvial de Almourol, iniciada em 1171. O acesso aos campos da Balata, a Soure e a Coimbra tornava-se mais problemático aos que viessem com instintos hostis.
[Ernesto José Nazaré A. Jana, Tomar e seu termo no séc. XII, Actas do Congresso, Vol. 4, p. 74, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Ed. Câmara Municipal de Guimarães e Universidade do Minho, Guimarães, 1996.]

Nota do Autor:

(1) — Portugaliæ Monumenta Historica. Scriptores, vol. I, p. 12.

Até breve.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A Ordem do Templo na ocupação definitiva de Elvas. Estava-se em meados do ano de 1230.

Por esta porta, chamada do Templo, e segundo a tradição, teriam entrado os Templários aquando da conquista em 1229. Sabemos agora que não foi conquista, mas ocupação, e não se deu em 1229, mas em meados de 1230.

56. (…) O rei de Leão por volta da Quaresma que se avizinhava, com uma parte da sua milícia e com homens de alguns concelhos, entrou em terras de mouros e assediou uma cidade antigamente populosa, que então estava reduzida a uma pequena cidade, a saber Mérida, sede metropolita, cuja dignidade foi mudada para a igreja compostelana e, por conseguinte, ao arcebispo de Santiago de Compostela ficaram submetidos os bispos que anteriormente o estavam ao arcebispo emeritense, os que estavam próximos da terra lusitana. Enquanto o rei mantinha o seu cerco e assédio, alguns irmãos da Ordem de Santiago apropriaram-se do castelo de Montánchez; Mérida, por sua parte, entregou-se ao rei(1).
Por sua parte Avenhut(2), encontrando-se em terras de Córdova, reuniu, com a intenção de entabular combate, uma multidão de soldos e infantes, e chegou a certo castelo junto a Mérida. Quando o rei leonês soube que Avenhut vinha para lutar com ele, saiu de Mérida e colocou os seus acampamentos para lá do rio Guadiana. Na manhã seguinte, ambos os exércitos saíram ao campo de batalha e por auxílio de Nosso Senhor Jesus Cristo, ainda que fossem poucos os que estavam com o rei leonês em comparação com a multidão de mouros, os venceram e mataram muitos deles, e o próprio Avenhut fugiu e andou perdido.(3)

57. Os habitantes de Elvas, quando souberam que Avenhut e os que estavam com ele tinham soçobrado na batalha, abandonaram o castelo e fugiram de noite. Uns portugueses(4), que tinham participado na batalha, em que estiveram com o rei leonês, encontraram as portas abertas da cidade, entraram e não encontraram ninguém; ocuparam então o castelo e mandaram notificar disso mesmo o rei de Portugal. Ao sabê-lo, enviou alguns dos seus soldados e outros homens armados para tomarem posse de castelo, e assim este dito castelo, populoso naqueles dias, foi ocupado graças ao Salvador para o lado cristão.
[Autor anónimo(5), Crónica Latina dos Reis de Castela — edição de Luís Charlo Brea —, §§ 56 e 57, pp. 87-88, Akal Ediciones, 1999, Madrid.]


Notas:

(1) — Estas acções passaram-se entre Abril de 1229 e meados de 1230.
(2) — Avenhut era um senhor da guerra [caudilho] andaluz que procurava, sempre que podia e destemidamente, dar combate às forças militares dos reis de Leão e de Castela.
(3) — Segundo outras fontes históricas, este combate teve lugar em Alange, a sudeste de Mérida, em começos de 1230.
(4) — Segundo parece, as únicas forças portuguesas que acompanharam o rei D. Afonso IX de Leão — para lá de ter no seu alferes-mor, o infante D. Pedro, filho de D. Sancho I e tio do rei de Portugal, D. Sancho II, o estratega militar —, eram as que constituíam os contingentes militares da Ordens do Hospital, Santiago, Avis (Calatrava) e Templo(*). Foram estas que ocuparam o castelo e a povoação de Elvas, entretanto abandonada pela maioria da população moura, depois desta saber dos incidentes féreos praticados pelas forças cristãs sobre as populações de Cáceres e Mérida e da derrota e morte de Avenhut. Apenas ficaram, sujeitando-se à lei dos cristãos, alguns habitantes, particularmente os mestres artesões de ofícios vários e respectivas famílias. Foi por alguns elementos, destas quatro Ordens, entretanto enviados e chegados à corte de D. Sancho II, que o monarca português soube da ocupação de Elvas. Decidiu-se, então, enviar forças de ocupação suas para manterem sob controle e alçada, em nome do trono, o castelo e povoação, até que se desse a sua chegada, o que ocorreu pouco tempo depois. Estava-se em meados do ano de 1230. Foi nesta altura que procedeu à outorga de foral à cidade.
(5) — Segundo se pensa, ainda que pesem inúmeras discussões sobre o verdadeiro nome do autor, ou autores, que não se pode(m) identificar de forma indiscutível, o(s) religioso(s) anónimo(s) que eventualmente teria(m) escrito esta Crónica, presume-se, com fortes possibilidades, ter sido o bispo de Osma, D. Juan Domínguez (6), que foi, entretanto, eleito bispo de Leão (1237) e depois de Burgos (1240). Foi, igualmente, chanceller do rei D. Fernando III, de Leão e Castela, acompanhando-o nas campanhas militares que este efectuou por alguns dos reinos (das taifas) da Andaluzia. Morreu em 1246, quando ocupava o bispado de Burgos.
Em Espanha, a discussão sobre a identificação do autor continua e continuará a dar-se, já que as vozes não se calam e os pareceres e palpites se prolongam. Talvez um dia, sabe-se lá se próximo, estas ou outras vozes estejam em conformidade sobre quem foi, de facto, o autor desta Crónica Latina dos Reis de Castela, escrita, e igualmente se presume, nos primeiros quarenta anos do século XIII. Para consolo da História da Península Ibérica e da historiografia moderna.
(6) — Sobre o nome próprio e apelido deste prelado, Pedro Fernández Martín refere que O bispo de Osma, chanceller de Fernando III o Santo, não se chamava D. Juan Domínguez, segundo escreve na revista Celtiberia, nº 27 (1964), pp. 79-95.

(*) - Era nesta altura Mestre da Ordem do Templo nos três reinos (Leão, Castela e Portugal), formando, nesse tempo, uma única Província templária, D. fr. Estevão de Belmonte (1229-1237).

Até breve.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Castelos e outras fortificações.

O facto de a Ordem do Templo se instalar no território português, assim como noutros estados peninsulares, pode induzir à ideia, veiculada sobretudo pelos primeiros estudos de investigadores franceses no Oriente, de que ela terá ocupado apenas castelos dispostos nos espaços mais sensíveis das fronteiras.
Todavia, verificamos que nestas paragens os monges-guerreiros edificaram, para além dessas estruturas arquitectónicas, também fortificações urbanas, granjas fortificadas e pequenos mosteiros. No nosso país, ocuparam antigos redutos defensivos que se encontrariam em bom estado e outros cujo estado de conservação seria reduzido, necessitando, por isso, de profundas remodelações. Neste último caso, poderiam inclusivamente erguer perímetros fortificados completamente novos, utilizando os destroços de amuralhamentos anteriores. A Idade Média veio a conhecer o aparecimento fulgurante de estruturas castelares em
lugares de grande continuidade ocupacional. Certos povoados vinham conhecendo uma ocupação continuada desde a segunda parte do primeiro milénio, enquanto outros sofreram diversas vicissitudes. Alguns antigos castra sobreviveram ao tempo devido às suas localizações naturalmente protegidas, mas outros sofreram, no clima de instabilidade entre cristãos e muçulmanos, uma desertificação populacional que, nalguns casos, extinguiu os próprios povoados. Não apenas os amuralhamentos urbanos foram reaproveitados, pois também certas torres e templos
(1) que estavam aptos para serem transformados em recintos militares conheceram o mesmo destino.
[Nuno Villamariz Oliveira, Oriente e Ocidente na Arquitectura Militar Templária em Portugal — a Ascendência de Bernardo de Claraval, Capítulo IX, p. 236, Codex Templi, Zéfiro, Sintra, 2007.]

(1) — Neste caso, haverá a destacar o exemplo paradigmático do templo romano de Idanha-a-Velha, convertido em torre de menagem. (Nota do Autor vinda em pé de página.)

Até breve.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A História, o imaginário e o sonho.

Representação de Hugues de Payns,
fundador e 1º Mestre da Ordem no Outremer.

(…) existe a história do Templo e a história da sua lenda. O historiador não se ocupa apenas do verdadeiro; ele ocupa-se igualmente do falso que se tem acreditado verdadeiro; ocupa-se também do imaginário e do sonho. No entanto, recusa-se confundi-los.
[Alain Demurger, Vie et Mort de l’Ordre du Temple, p. 8, Éditions du Seuil, Paris, 1985.]

Até breve.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

A ideia de monge-guerreiro. (4)

Os cistercienses souberam extrair da sua Regra a grande sabedoria que esta continha, e utilizaram-na na sua vida espiritual e na vida organizativa das suas comunidades e de toda a Ordem. No prólogo da Regra podem encontrar-se frases que denotam a tradição do cristão como “soldado de Cristo”:

“[…] [3] Minha palavra dirige-se agora a ti, quem quer que sejas, que renuncias às tuas próprias vontades e tomas as esclarecidas e poderosíssimas armas da obediência, para militar por Cristo Senhor, verdadeiro Rei. [...] [22] Se queremos habitar na morada do seu reino, pois que não se chega ali correndo com boas obras, [23] perguntemos ao Senhor com o Profeta, dizendo-lhe: “Senhor, quem habitará na tua morada, ou quem descansará no teu monte santo?”. [24] Feita esta pergunta, irmãos, oiçamos o Senhor que nos responde e que nos mostra o caminho desta morada [25] dizendo: “O que anda sem pecado e pratica a justiça, [26] o que diz a verdade no seu coração e não tem astúcia na sua língua, [27] o que não fez mal ao próximo nem admitiu que o ultrajassem”. [28] O que afastou do olhar do seu coração o maligno diabo tentador e a própria tentação, e o aniquilou, e tomou os seus pensamentos nascentes e os atirou contra Cristo. [...] [39] Quando perguntamos ao Senhor, irmãos, sobre quem moraria em sua casa, ouvimos o que há que fazer para habitar nela, a condição de cumprir com o dever de morador. [40] Por isso, preparemos os nossos corações e os nossos corpos para militar sob a santa obediência dos preceitos, [41] e roguemos ao Senhor que nos conceda a ajuda da sua graça, para cumprir o que a nossa natureza não pode. [42] E se queremos evitar as penas do inferno e chegar à vida eterna, [43] enquanto temos tempo, e nos encontramos neste corpo e possamos cumprir todas estas coisas à luz desta vida, [44] corramos e pratiquemos agora o que se nos aproveitará eternamente. [...] [47] Mas se, por uma razão de equidade, para corrigir os vícios ou para conservar a caridade, se dispõe algo mais estrito, [48] não fujas em seguida, aterrado, do caminho da salvação, porque este tem apenas um estreito começo. [...] [50] Deste modo, não nos afastando nunca do seu magistério e perseverando na sua doutrina, no mosteiro, até à morte, participemos nos sofrimentos de Cristo pela paciência, a fim de merecer também acompanhá-lo no seu reino.”

[Francisco Rafael de Pascual, A Continuidade do Templo nas Ordens Militares e de Cister. Valores e Ideais dos Templários, Codex Templi, Cap. XIV, pp. 312-313, Zéfiro, Sintra, 2007.]

Até breve.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A ideia de monge-guerreiro. (3)

A Regra de São Bento é um manual de vida espiritual para monges cenobitas, um guia para a organização de um mosteiro, e um admirável resumo da espiritualidade monástica tradicional.
Entre os séculos X e XII, e na medida em que é possível falar do monacato como uma entidade, todos os monges do Ocidente seguem a Regra de São Bento. Este monolitismo, imposto pela legislação carolíngia, adapta-se perfeitamente a uma sociedade simples e estática. Mas as orações e a liturgia dos mosteiros eram diferentes daquelas das catedrais. Tudo se encontrava orientado para o culto, e os monges foram promotores de novas técnicas de arquitectura religiosa e civil, os scriptoriums transformaram-se em “editoras” de todo o tipo de livros que enriqueciam as incipientes bibliotecas de nobres, escolas e universidades. O desenvolvimento desta “manufactura” do livro, promoveu igualmente a circulação de ideias novas.
O ideal monástico exerceu em todos os espíritos do seu tempo, incluindo nos espíritos menos cultivados, um fascínio incomparável. E a espiritualidade dos monges — com uma enorme bagagem cultural, patrística e bíblica — foi recuperada
por outros, clérigos ou laicos, que a levaram à praxis das suas vidas
.
[Francisco Rafael de Pascual, A Continuidade do Templo nas Ordens Militares e de Cister. Valores e Ideais dos Templários, Codex Templi, Cap. XIV, p. 312, Zéfiro, Sintra, 2007.]

Até breve.

domingo, 24 de agosto de 2008

A ideia de monge-guerreiro. (2)

De onde surge a bagagem religiosa em torno da guerra e da milícia espiritual? Os monges que ajudaram a fundar Cister primitivo, eram homens que pensavam e viviam conforme a mentalidade do seu tempo, e que se viram envolvidos na mesma história. Para compreender os fundamentos de Cister, é necessário ter em conta três fontes importantes: a Regra de São Bento — como documento espiritual básico —, os chamados Documentos Primitivos da Ordem de Cister — que pressupõem um “corpus” jurídico” importante — e o Exordium Magnum Ordinis Cisterciensis — como documento literário.
[Francisco Rafael de Pascual, A Continuidade do Templo nas Ordens Militares e de Cister. Valores e Ideais dos Templários, Codex Templi, Cap. XIV, p. 312, Zéfiro, Sintra, 2007.]

Até breve.

sábado, 23 de agosto de 2008

A ideia de monge-guerreiro. (1)

As ordens militares foram o resultado de uma autêntica vocação religiosa e de serviço à Igreja e à sociedade. A expansão muçulmana ameaçava a estabilidade desse império terreno e espiritual cristão, se bem que este, na realidade, não era o único problema com que os reinos ocidentais se deparavam. Nasce assim a ideia do monge-guerreiro, um ânimo de sacrifício que é aplicado à resolução daquele grave problema por uns homens de vocação, desejosos de uma união íntima com Deus e que, sensíveis aos males do seu tempo, e qualificados para lutar contra eles com a mentalidade da época, haviam impregnado de religiosidade e de espírito de serviço a sua própria capacidade de acção.
[Francisco Rafael de Pascual, A Continuidade do Templo nas Ordens Militares e de Cister. Valores e Ideais dos Templários, Codex Templi, Cap. XIV, p. 306, Zéfiro, Sintra, 2007.]
Até breve.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Unidades administrativas e de gestão da Ordem.

Estela funerária templária encontrada
no antigo castelo de Povos (Vila Franca de Xira)

A unidade administrativa e de gestão mais importante da Ordem do Templo era a comenda, na qual se costumava enquadrar um convento – onde os frades desenvolviam a sua vida espiritual – ou uma igreja, e habitações para o alojamento dos residentes. A organização do Templo baseava-se nestas comendas. Um grupo de comendas formava a «província» ou «língua», gerida por um mestre provincial; e à frente de toda a estrutura estava o grão-mestre. (Há que esclarecer que sempre que nesta obra se utiliza o apelativo «grão» para referir o mestre geral do Templo, faz-se com o objectivo de o diferenciar dos mestres provinciais, pois na realidade o título máximo dignitário da Ordem sempre foi apenas «mestre». É a partir do século XVIII, especialmente em âmbitos maçónicos neo-templários, ainda que também por parte de alguns historiadores pouco rigorosos, que se utiliza incorrectamente o título de «Grão-Mestre»). [José Carlos Sánchez Montero, Apogeu e Decadência, Prisão e Julgamento da Ordem do Templo, Codex Templi, Cap. XIII, p. 284, Zéfiro, Sintra, 2007.]
Até breve.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Os bens templários e a extinção da Ordem em Portugal.

Trecho 4º. — Os bens templários e a extinção da Ordem em Portugal.

A grande preocupação dos reis desse período [segunda metade do século XIII e o princípio do século XIV] cifra-se na administração interna do país e nas lutas com o clero. Esmorecera a actividade militar e, com ela, as ideias de cruzada. De modo particular, o governo de D. Dinis (1279-1325) foi todo orientado em sentido económico. Os tempos haviam mudado. Todavia, a conduta deste rei permite-nos lançar um olhar interessante sobre a situação da cavalaria portuguesa, no momento em que foi extinta a Ordem dos templários. Na Europa central, a catástrofe dos templários representa o adeus definitivo à época das cruzadas. Não assim em Portugal.
A falar a verdade, o ponto vital da questão templária era o mesmo para D. Dinis que para Filipe o Belo de França: o destino dos bens da Ordem. Já em 1307, quando a tempestade se desencadeou sobre os templários, ele se apossara desses bens, contestando os direitos da Ordem, e pelo tempo adiante defendeu o seu próprio direito a esses bens, valendo-se de ficções jurídicas.
Talvez lhe tivesse sido possível reter em suas mãos a porção principal dessa riqueza com métodos semelhantes aos que Filipe o belo empregava. Não o fez. Só lhe interessava que o rico património não saísse para fora do país. É o que teria acontecido, pelo menos em parte, se os bens passassem para os cavaleiros de S. João
. [Carl Erdmann, A ideia de cruzada em Portugal, Ed. do Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, pp 50-41, Coimbra, 1940.]
Até breve.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Os dízimos para as Cruzadas.

Trecho 3º. — Os dízimos para as Cruzadas.

A percepção e a aplicação dos dízimos da cruzada permitem igualmente tirar algumas conclusões, embora toda a cautela seja pouca na apreciação destas medidas financeiras que, com o tempo, se tornaram em elemento muito importante na administração fiscal da Cúria. Os dízimos ou vintésimos, que em 1215 foram decretados no concílio de Latrão, em 1245 e 1274 no de Lyon e em 1312 no de Viena, deviam também ser pagos pelo clero português.
No século XIII, não podiam mesmo ser utilizados para a guerra com os mouros em Portugal. Honório III não acedeu a um pedido que, com esse intuito, lhe fora feito pelo clero português e, em 1268, Clemente IV outorgou ao rei D. Afonso III dinheiros da cruzada, unicamente depois de obter a promessa duma cruzada à Terra Santa
. [Carl Erdmann, A ideia de cruzada em Portugal, Ed. do Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, pp 14-15, Coimbra, 1940.]

Até breve.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

A primeira entrada dos templários no exército do rei de Portugal.

Trecho 2º. — A primeira entrada dos templários no exército do rei de Portugal.

Mas o acontecimento decisivo deu-se no ano de 1147: a primeira entrada dos templários no exército do rei de Portugal. Quando D. Afonso Henriques foi conquistar Santarém, prometeu-lhes, em caso de vitória, todas as rendas das igrejas da cidade: em vista do que, os cavaleiros não hesitaram em tomar parte na expedição.
Esta união entre a Coroa e a Ordem dos Templários consolidou-se mais ainda pelo tempo adiante e foi muito proveitosa para ambos os lados. Para disso nos certificarmos, basta percorrer brevemente as principais etapas: no ano de 1158, a Ordem recebeu importantes privilégios; em 1159, foi-lhes doado o terreno [território] de Cera, onde os templários fundaram a sua sede principal, Tomar, e desenvolveram fecunda actividade colonizadora; em 1169, foi-lhes confiada a terça parte de todo o território por conquistar ao sul do Tejo, com a condição expressa de que as rendas, que daí tirassem, deveriam ficar em Portugal e não mais ser aplicadas à Terra Santa
. [Carl Erdmann, A ideia de cruzada em Portugal, Ed. do Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, p 37, Coimbra, 1940.]

Até breve.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Quatro extractos retirados de A ideia de Cruzada em Portugal, de Carl Erdmann.

Trecho 1º. — A ideia de Cruzada em Portugal.

Não somente os reis se retraíam das cruzadas, mas também os cavaleiros e o povo. Repetidas vezes os historiadores portugueses tomaram a peito determinar a parte que o seu povo tomara nas cruzadas. Descartando velhas fábulas, à excepção dum templário e dum cavaleiro de S. João, fica apenas um único cavaleiro português, Sueiro Riamundo, que talvez se incorporou na terceira cruzada.*

* Podíamos ainda em rigor citar o Infante D. Pedro, que em 1236 foi ao Oriente lutar contra os muçulmanos, mas nessa altura já era de todo alheio à sua pátria nem os portugueses, a não ser um ou outro, o contavam entre os seus. [este último texto é citado de Alexandre Herculano, História de Portugal, Tomo II, p. 396 s, por Carl Erdmann, in A ideia de cruzada em Portugal, Ed. do Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, pp. 10-11, e nota 1 da p. 11, Coimbra, 1940.]
Até breve.

domingo, 17 de agosto de 2008

Do cronista Ussama Ibn Mungidh.

Nesta segunda vertente destacamos a faceta mais esotérica e civilizadora dos Templários. O carácter civilizador e o espírito de tolerância que caracterizou a Ordem do Templo são consequência, a nosso ver, da formação esotérica da elite que compunha o seu círculo interno, formação essa que resultou com o contacto com verdadeiros mestres orientais.
O seu espírito de tolerância religiosa ficou, inclusive, registado em crónicas do mundo muçulmano. O cronista do século XII, Ussama Ibn Munqidh, escreveu
:
«Quando eu visitava Jerusalém, tinha o hábito de me dirigir à mesquita al-Aqsa, local de residência dos meus amigos Templários. Havia num dos lados um pequeno oratório onde os Franj [os cruzados ocidentais] tinham instalado uma igreja. Os Templários punham este lugar à minha disposição para eu aí fazer as minhas orações. Certo dia, entrei, disse “Allahu Akbar” e ia começar a oração quando um homem, um Franj, correu para mim, me agarrou e me virou o rosto para o oriente, dizendo-me: “É assim que se reza!” Logo a seguir, alguns Templários acudiram e arredaram-no de mim. Voltei à minha oração, mas o tal homem, aproveitando um momento de desatenção, atirou-se de novo a mim, virou-me o rosto para oriente, repetindo: “É assim que se reza!” Também desta vez os Templários intervieram, afastaram-no e pediram-me desculpa, dizendo: “É um estrangeiro. Acaba de chegar do país dos Franj e nunca viu ninguém rezar sem se virar para oriente.” Respondi que já rezara o suficiente e saí, estupefacto com o comportamento daquele demónio que se agastara tanto ao ver-me rezar na direcção de Meca.»* Existe também documentação que atesta relações positivas dos Templários com elites do mundo muçulmano, como foi o caso dos contactos com a cavalaria iniciática dos Assassinos. [Paulo Alexandre Loução, A Fundação de Portugal e o Mistério Templário, p. 146, Cap. VI, Codex Templi, Zéfiro, Sintra, 2007.]
* Citado por Amin Maalouf, As Cruzadas vistas pelos Árabes, 11.ª edição, Difel, Lisboa, 2002, pp. 155-156.
Até breve.

Agradecimento a Scaliburis.

Muito grato pelo seu comentário. Apareça quando entender.
O abraço do

Pedro Alvites

Um dos (possíveis) princípios do final da Ordem.

É verdade que cada autor varia algo quanto às pessoas dos acusadores. O Abade Fleuri, supondo que esta circunstância se refere a diversas maneiras, inclina-se, como a mais verosímil, a que o acusador foi um vizinho de Beziers, chamado Squin de Florian, o qual estava preso juntamente com um templário apóstata, não em Paris mas num castelo real da diocese de Tolosa; e como os delitos de um e outro fossem tão graves que esperavam por eles o suplício capital, estimulados pelos remorsos da sua consciência confessaram-se reciprocamente um ou outro, como faziam naquele tempo (acrescenta o autor citado) os que se achavam em algum grande perigo de perder a vida; e constantando a Squin, pela confissão do templário, as abominações estabelecidas na sua Religião, resolveu solicitar a graça revelando-as ao rei, ministrando-lhe este meio para adquirir grandes riquezas. [Vítor Manuel Adrião, Portugal Templário, Vida e Obra da Ordem do Templo, pp. 242-243, Via Occidentalis, Lisboa, 2007.]
Até breve.

sábado, 16 de agosto de 2008

Sobre o início da Ordem no Outremer e os primórdios desta em Portugal.

Sobre o início da Ordem no Outremer
Os conquistadores [de Jerusalém] tinham ocupado cidades e fortalezas, mas o campo estava incontrolável. Existia, junto a ele, um défice de homens que agravava o problema; poucos eram os cruzados que permaneciam na Terra Santa depois de terem cumprido a sua promessa e o fluxo de colonos era demasiado lento para ocupar o espaço conquistado. A debilidade da fronteira meridional foi uma das razões que motivou o aparecimento da Ordem do Templo. [Luís Garcia-Guijarro Ramos, Papado, Cruzadas y Ordenes Militares, Siglos XI-XIII, Cátedra, Madrid, 1995.]

e os Primórdios da Ordem do Templo em Portugal.

Houve quem duvidasse se as Ordens da cavalaria na Península Ibérica teriam sido uma pura importação da Terra Santa. Pelo menos, H. Prutz pensou que precisamente em Portugal, muito antes que na Terra Santa, os templários tinham empreendido a guerra fundamental contra os pagãos, que por esse motivo se devia admitir uma segunda raiz para essa Ordem aquém dos Pirinéus, e que dum modo especial as circunstâncias de Portugal haviam sido determinantes para o desenvolvimento dos Templários e em geral das Ordens militares.
Depressa se contesta semelhante opinião. No entanto, os mais antigos autores declaram que já em 1126, e portanto dois anos antes do concílio de Troyes, os templários portugueses possuíam um grande domínio
. [Carl Erdmann, A ideia de cruzada em Portugal, pp 30-31, Ed. do Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1940.]

Até breve.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Foral dado aos mouros forros de Lisboa, Almada, Palmela e Alcácer do Sal, em 1170.

Uma das facetas mais ignoradas da História de Portugal é a atribuição de um foral específico — aliás, como o eram as designações, atribuições e concessões contidas nas cartas foraleiras que os reis, particulares e clero atribuíam —, que terá sido o primeiro dado em todo o território cristão peninsular, aos chamados mouros forros de Lisboa, atribuído por D. Afonso Henriques em Março de 1170, e que por extensão abrangeriam igualmente os de Almada, Palmela e Alcácer do Sal. Sobre este assunto, façamos leitura de um trecho de um artigo mais extenso, e bastante preciso, que a profª. Eva-Maria von Kemnitz nos dá e vem publicado no Livro de Actas do 2º Congresso Histórico de Guimarães.

(…) É de admitir que as elites muçulmanas tenham abandonado esses territórios [tomados durante o período da denominada Reconquista] em função da sua maior mobilidade e contactos e por isso maior facilidade de se integrarem noutros lugares do dar al-Islam.
Em relação à restante população muçulmana, pelo menos em relação à parcela que pode livremente decidir por si ou seja aquela que não estava reduzida à escravidão e que vivia do cultivo das suas terras ou do desempenho dum ofício punha-se um dilema: emigrar, como mandaria a consciência dum crente, ou permanecer?
Para o rei, a expulsão de uma numerosa população muçulmana, prática aliás bastante comum em fases anteriores da reconquista, poria claramente em risco o êxito da conquista uma vez que deixaria o território despovoado, privaria a coroa dos proventos do trabalho desta mão de obra qualificada e ainda tornaria mais difícil, em termos militares, a manutenção dos terrenos recém conquistados.
Em seguida à ocupação de Lisboa os Muçulmanos, destituídos do foro de cidadania, foram desalojados da cidade intra muri, ficando a habitar o arrabalde e os arredores. Muito não conseguiram emigrar para as terras do Islão.
Foram esses que permaneceram, os muddayyanun, daí o termo português mudéjar, que contribuíram para a preservação de tradições, saberes e costumes islâmicos no Portugal cristão e cuja herança está bem patente, ainda hoje, em diversas áreas apesar da distância de vários séculos.
Decorridos vinte e três anos após a tomada de Lisboa e da área adjacente, precisamente em Março de 1170 em Coimbra, D. Afonso Henrique concedeu um foral aos Muçulmanos livres, correntemente designados por Mouros forros de Lisboa e extensivo aos de Almada, Palmela e Alcácer do Sal e que curiosamente precedeu de nove anos a concessão de foral à própria cidade de Lisboa.
Precisemos que os Muçulmanos foram a única minoria contemplada pela legislação régia da altura.
Este foral continha disposições legais que definiram o estatuto da comunidade de Muçulmanos no seio da sociedade cristã, garantindo-lhes a liberdade de religião e a conservação das suas propriedades mediante pagamento dos impostos e cumprimento de certas obrigações, em suma, um quadro específico dos seus deveres e direitos.
Confirmado em 1217 em Santarém, já no reinado de D. Afonso II e com o aditamento da inviolabilidade do seu domicílio, este foral constituiu o modelo de toda a legislação posterior que abrangeu esta minoria como, por exemplo, nos de Tavira, Loulé, Silves e Faro datados de 1269, concedidos depois de concluída a reconquista
.
[Eva-Maria von Kemnitz, A construção de uma nova sociedade — o caso específico da minoria Moura. 2º. Congresso histórico de Guimarães, Actas do Congresso, Vol. 4, Sociedade, administração, cultura e igreja em Portugal no séc. XII, pp. 85-86, Ed. Câmara Municipal de Guimarães e Universidade do Minho, Guimarães, 1996.]

Até breve.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Sobre o Concílio de Salamanca.

(…) em Castela, Fernando IV, o Emprazado, e Dinis, de Portugal, procederam aos autos dos factos, mal receberam as bulas correspondentes e, ainda que este último se declarasse logo de início seu defensor, no entanto, e para condescender com o primeiro, consentiu na reunião de um Concílio em Salamanca, composto pelo arcebispo de Santiago [de Compostela], bispos de Lisboa, Zamora, Ávila, Ciudad Rodrigo, Plasência, Mondoñedo, Astorga, Tuy e Lugo; os quais, unanimemente, declararam livres os Templários de Leão, Castela e Portugal. A Ordem do Templo prosseguiu nos seus nobres valores que lhe deram origem. Centenas de Templários tinham morrido heroicamente, tanto no campo de batalha, quanto nas prisões onde padeceram o martírio pela fé. [V. Joaquim Bastús, Historia de los Templarios, p. 162, Ediciones Alcántara, Madrid, 1998 (?).]

Até breve.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Navas de Tolosa. A acção portuguesa.

Mouros preparados para o combate

Assim, rapidamente contada ou descrita, tenha-se noção — muito ligeira — da acção do contingente português enviado pelo monarca Afonso II, ao rei Afonso VIII de Castela, tanto quanto o seu papel no desenrolar da refrega. Que existiu esta presença, apesar de não muito numerosa, e dos manuais publicados pelos estudiosos estrangeiros da batalha — espanhóis e outros — muito raramente o referirem, não podem haver omissões deste género, porque são crassas e selectivas, já para não dizer impróprias de quem realmente estuda e publica o que investiga. Vejamos o que nos diz o nosso narrador:

Em 1212 expirava a trégua de um lustro que o rei de Castela tivera de negociar com o almohada, ao tempo da batalha de Alarcos. Belicoso e decidido a exterminar o poderio muçulmano, Afonso VIII não temia a empresa, não obstante saber considerável a organização guerreira do sarraceno e inextinguível o material humano que ele podia transportar do Magreb com o auxílio da sua numerosa esquadra. Havia a ponderar, contudo, as dissenções entre os reinos cristãos e, especialmente, as manobras dúbias a que se entregava o rei de Leão, hostil a Portugal e feito com o miramolim.
De qualquer forma, o de Castela entendia vingar o desastre de Alarcos. Então, subitamente inspirado, envia mensageiros aos príncipes cristãos da península e de além Pirinéus, conseguindo que o papa acordasse ao movimento a feição de Cruzada. E seguro do concurso universal, mais uma vez Afonso VIII desafia o almohada, Mohamed Anasir, que reúne, a seu turno, forças consideráveis que já tinha no Andaluz e manda pregar a guerra santa até aos recônditos confins do seu império africano.
Logo que as tropas aliadas da Península e as legiões estrangeiras fizeram concentração, é ordenado o avanço. E apesar da resistência e dos obstáculos que os sarracenos opuseram, os cristãos entram vitoriosamente em Calatrava. Era um bom triunfo. Os estrangeiros, porém, como tantas vezes aconteceu em liças de cruzados, abandonaram o campo sob pretexto de não poderem suportar o calor. Não houve súplicas bastante eloquentes para os demover, nem lhes importou a ameaça que para a cristandade representava a circunstância de se ter provocado o exército muçulmano e não mostrar coesão para o enfrentar. Ficou assim reservado o choque brutal às forças peninsulares — mas também lhes coube, sem partilha, o que Menéndez y Pelayo entende ser «a maior vitória lograda pela cristandade após a de Carlos Martel em poitiers».
Essa vitória foi a de Navas de Tolosa, obtida em 16 de Julho de 1212, após quatro diasa de soalheira abrasadora, durante os quais nem uma ligeira brisa agita o estandarte de Cristo e o fanal do Islão. Dela comparticiparam os portugueses, que se fizeram notar pela bravura na peleja e coragem para suportar os rudes sofrimentos da canícula e privações. Do que foi o resultado, a princípio duvidoso tal a esmagadora potência do exército muçulmano, diz bem o epíteto de que se servem os cronistas agarenos ao referir a tremenda batalha: a da desventura. O desbarato foi completo. Mohamed Anasir teve de romper caminho entre montões de cadáveres, para fugir numa égua veloz que lhe emprestou um dedicado servidor, encontrando ainda um grupo de negros que lhe auxiliou a retirada. E enquanto os cristãos prosseguem triunfantes na reconquista, o almohada regressa a Marrocos, entrega as rédeas do Estado ao filho e procura na embriaguez alíviopara o sofrimento moral, até que o envenenam e morre
. [Eduardo Dias, Árabes e Muçulmanos, Tomo II, A invasão da Hispânia e o aspecto cultural do Islamismo, pp. 138-140, Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1940.]

Até breve.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Templários: os cavaleiros do rei de Portugal.

Conquista de Santarém.
Sobre uma das acções combatentes que os Templários tiveram no reino de Portugal, é proveitoso seguirmos, com o que nos deixa escrito, o prof.º Mário Jorge Barroca, no seu bem elaborado trabalho, A Ordem do Templo e a Arquitectura Militar Portuguesa do Século XII.

O ano de 1147 representa um momento de viragem decisiva para os Templários em Portugal. Em 15 de Março desse ano os Freires participam ao lado de D. Afonso Henriques na conquista de Santarém, no que é a primeira acção de armas dos freires ao lado do rei. O monarca, em reconhecimento pelo contributo prestado, assinaria a polémica doação do Eclesiástico de Santarém em favor da Ordem (DMP, DR I, doc. 221, de Abril de 1147*). A doação seria recebida por Hugo Martoniense, Procurador dos Templários, e daria origem, poucos meses depois, a uma acesa e prolongada disputa. Na realidade, depois da tomada de Lisboa, em Outubro de 1147, e da restauração da sua Diocese, os direitos eclesiásticos de Santarém seriam reclamados pelo novo Bispo olisiponense, Gilberto de Hastings. A disputa prolongou-se por mais de uma década, tendo sido apenas resolvida em Fevereiro de 1159. [Mário Jorge Barroca, ob. cit., Portugália, Nova Série, Vol. XVII-XVII, separata, p. 175, Instituto de Arqueologia, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, 1996/1997.]

* Tb. publicado em Monumenta Henricina, vol. I, Lisboa, 1960, Doc. 2.

Até breve.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Sobre as funções do Mestre da Ordem do Templo.

Estas funções eram aplicadas ao Mestre da Casa-mãe, em Jerusalém, a principal Casa que a Ordem possuía, dela emanando todas as directrizes e nomeações [as que indigitava e as que, já concretizadas, dava normalmente o seu aval] para as restantes Províncias — cujos Mestres, no seu geral, aplicavam e tomavam com veneração e respeito, seguindo-as escrupulosamente.

O Mestre.

(…) O Mestre tem o báculo para sustentar os fracos, e a vara, para castigar os delitos — «Magister, qui baculum, e virgam manu tenere debet; baculum videlicet, quo aliorum virilium imbecilitates sustentet; virgam quoque, qua vitia delinquentium zelo rectitudinis feriat»1. Este poder de castigar será exercido em obediência ao Patriarca, e segundo o parecer deste. A Regra invoca o ensinamento de S. Máximo, para que nem a brandura relaxe o justo rigor, nem a aspereza desespere os delinquentes.
Se algum cavaleiro comete pecado, venial ou mortal que seja, o Mestre tem o privilégio de tomar disso conhecimento pela boca do próprio infractor, proferindo a sentença correctiva apropriada. Ou leve penitência, se o caso não for grave, ou castigo maior, se a pena for grave ou, ainda pior, se a falta chegou ao conhecimento do Mestre, não pela palavra do infractor, mas através de outro freire.2 Assim como tem o poder de admitir, tem o poder de expulsar e de separar. Se algum freire comete falta muito grave, o Mestre separa-o da comunidade e em tudo fica sujeito à disposição do Mestre.
O poder do Mestre, sem atingir as raias do discricionário, abrange o direito de dar armas e cavalos, e tudo o mais, a quem lhe parecer.3 Neste aspecto ele decide sózinho.
O Mestre preside aos Capítulos, tanto ao secreto como ao geral. O Capítulo reúne, ou toda a comunidade, ou apenas o Mestre e os conselheiros, para estudo de problemas e adequada decisão. Apesar de possuir, por escolha electiva, o báculo e a vara, símbolos do poder de governar e de ensinar, o Mestre ouve o Conselho, por lhe ser necessário ouvir e escutar quem saiba mais acerca da paz e da guerra, ou da forma de proceder adequada nesta ou em estoutra situação. O Mestre chamará ao Conselho, ou Junta (Consilium) aqueles frades que lhe parecerem de maior juízo e prudência. Se houver de decidir sobre questões maiores, ele ouvirá toda a congregação. Ouvirá, mas, tendo ouvido, o Mestre decide o que julgar melhor4.
O Mestre aplica a Regra, mas sempre há casos a considerar. São aqueles que a Regra não contempla de forma casuística, e que melhor devem constar das posteriores e necessárias Constituições. Por isso, o Mestre dispõe de poderes para julgar as excepções, os casos particulares, e determinar o procedimento em cada caso. Sabido o que se deve dar aos capelães, o Mestre decide, por «sua graciosa vontade») «Magistri sponte»)5 o que poderá dar a mais. Ele pode também alterar a ordem das orações matinais a cumprir pelos frades achacados, que dispensará do dever, caso o entenda justo. O mesmo poder se aplica ao número de cavalos a possuir por cada soldado. Se forem necessários mais de três, o Mestre dará, ou não, a respectiva licença.6 Quanto à liberdade de os cavaleiros saírem do Templo em passeio pela cidade, salvo em visita ao Santo Sepulcro, só o Mestre pode conceder licença e, por outro lado só ao Mestre incumbe o direito de autorizar que um cavaleiro saia sozinho do convento7. Neste particular, cada um deve sujeitar-se, sem constrangimento, ao que o Mestre lhe ordenar8. Idêntico poder lhe inere acerca dos arreios luxuosos, detendo ainda o poder de ouvir ler as cartas que os religiosos recebam de seus familiares, ou de qualquer outra pessoa. A leitura das cartas é devida, mas o Mestre tem o poder de dispensar o freire dessa leitura, se ele quiser, «si ei placit»9. O Mestre está isento desta obrigação de ler as cartas que recebe. Ele e o Procurador da casa têm isenção desse dever. Por fim, quanto à admissão de soldados seculares, e mediante o processo determinado pelo artigo 58.º da regra, pertence-lhe o arbítrio sobre o tempo de provação a conceder ao candidato e a sua posterior admissão. O Mestre é um abade, um pai, o primeiro responsável pelo exercício da Regra
.
[Pinharanda Gomes, A Regra Primitiva dos Cavaleiros Templários, pp. 25-27, Hugin, Lisboa, 1999.]

Notas:
1 Regula, art. 68.
2. id., art. 67.
3. id., art. 39.
4. id, art. 59.
5. id, art. 4.
6. id., art. 30.
7. id., art. 34.
8. id., art. 35.
9. id., art. 41.

Aqui podemos notar que se fala de Mestre e nunca de grão-mestre, título ou coisa inventada em tempos mais ou menos recentes — séculos XVII-XVIII — e que na Ordem do Templo — aquela de que aqui falamos, por ser a verdadeira e a única! — nunca teve existência, por nunca ter tido, ou usado, este nome, tornado deveras enigmático e ridículo pelo oportunismo da colagem, próprio, aliás, dos diabólicos e fantasmagóricos seres humanos que a inventaram. Apenas Bailío, Procurador e Mestre se lhes aplicara na verdade. Nunca este ridículo termo de grão-mestre, espécie de título de pavoneio e manta de muitos remendos, fora usado pelos Templários: quer no Outremer quer em qualquer das suas Províncias espalhadas por vários reinos europeus.

Deixo, assim e desta forma, mais alguns elementos de conhecimento que nos serão bastante úteis para a aprendizagem que desejamos possuir.

Até breve.

domingo, 10 de agosto de 2008

Hoje resolvi inserir dois textos. Assim eram os Almorávidas.

Hoje resolvi inserir dois textos. Ambos importantes, porque ambos relatam ocorrências que o tempo teve tempo de guardar e o homem de copiar.
Os almorávidas eram, na verdade uma tribo berbere nómada originária da região ocidental do deserto do Sahara, que corresponde actualmente à Mauritânia. Esta tribo, os Lamtuna, pertencente ao grupo dos berberes Sanhāja, controlava pelo menos duas das principais rotas de caravanas que vinham da África Equatorial para a costa norte do actual território de Marrocos e da Argélia. Viviam essencialmente da criação de gado e deste tráfico caravaneiro, quer pela sua participação nele enquanto comerciantes, quer pelo ataque e pilhagem de caravanas. No século IX haviam sido convertidos ao islamismo e passado a considerar então como um dever religioso a luta contra os reinos pagãos negros das regiões da Alta Nigéria e do Alto Senegal. Constituíam assim uma permanente ameaça para estes últimos e uma ocasional fonte de perturbação para os seus mais sedentários vizinhos do norte. Os próprios Lamtūna passavam frequentemente de uma relativa harmonia e estabilidade internas para uma igualmente relativa desunião, dependendo da firmeza deste ou daquele xeque, como era frequente entre os povos nómadas. Em meados do século XI atravessaram pois um período de harmonia, tanto a nível interno como em relação a dois povos Sanhaja vizinhos, os Guddala, a ocidente, e os Massūfa, a nordeste do seu território. [Bernard F. Reilly, Cristãos e Muçulmanos, a luta pela Península Ibérica, pp. 128-129, Teorema, Lisboa, s/d (1996?).]

Por outro lado, uma outra informação muito útil, apesar de curta, e que complementa a anterior, achei de todo o interesse incluí-la.
Os almorávidas tinham o costume de cobrirem a face com um véu, que poderia ter a tonalidade branca, preta ou azul, dependente da cor das vestes que, nesse momento, usavam. [José Mattoso, Notas críticas ao Livro II, Alexandre Herculano, História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo I, nota 16, p. 605, Bertrand Editora, Lisboa, 1989.]

Até breve.

sábado, 9 de agosto de 2008

Última possessão templária na Terra Santa: a ilha de Rouad.

As últimas praças da Terra Santa iriam ser evacuadas sem combate: Tiro, Sídon, Tortosa. Apenas os Templários conservaram, até ao ano 1303, em frente de Tortosa, a ilha de Rouad, que contavam fortificar. Um dos cavaleiros, Hughues de Ampurias, iria, com alguns companheiros, resistir corajosamente ao sultão*, antes de morrer, vítima de uma traição semelhante à que havia marcado o fim dos últimos defensores de Acre: violando as suas promessas, os mamelucos iriam decapitar alguns e levar os outros, como cativos, para o Cairo. [Régine Pernoud, Os Templários (2ª. edição), p. 97, Publicações Europa-América, Lisboa, s/d (1996?).]

* Al-Ashraf.

Até breve.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

O meu agradecimento a Francisco Galego.

Ao dr. Francisco Galego, fica o agradecimento da minha mais profunda estima e admiração não só pelas palavras francas que me dirigiu, mas, igualmente, pelo sentido que soube observar do intuito que me levou a criar este blog.
Até breve.

Castelo de Tomar: vista da Casa do Capítulo... em ruína.

Aspecto e pormenor do que resta e do que foi a magnífica Casa do Capítulo, lugar onde os Templários se reuniam para celebrar os seus Concílios-Gerais e menores, bem como para a discussão e eleição dos seus novos Mestres, espaço existente no belíssimo e ainda relativamente bem conservado castelo de Tomar, que, segundo rumores ainda não confirmados, estão a pensar procurar separar do espaço que o confina com o convento de Cristo. Na verdade, só imaginações aberrantes e mentes doentias se poderiam permitir pensar em tamanha obscenidade e em semelhante vergonha.
Desta desoladora visão, a do estado em que se encontra a Casa do Capítulo, fico cada vez mais convicto de que assim continuam as autoridades portuguesas - sejam elas estatais, municipais ou privadas - a tratarem os mais dignificantes e insígnes lugares que contemplam a História de um País, que por acaso é o Nosso, de que nos devíamos orgulhar, honrar e fazer elevar. Mas como sempre somos os mesmos cães danados que, à mínima oportunidade, mordemos a mão a quem nos cria e alimenta, continuando a demonstrar, desta forma, a nossa raiva e o nosso destempero. Na realidade, um povo de danados!
Com lástima... até breve.

Quando se fala do foral de Idanha-a-Velha dado pelo rei D. Sancho II.

(…) ajuntamos outro princípio certo e é o foral que lhe deu el-rei D. Sancho II, donde sabemos ser destruída depois ou despovoada por causa dos mouros e que não foi muito depois da doação e troca relatada. Egu Sancius Secundus, são palavras formais do foral da Idanha. «Eu, D. Sancho II, por graça de Deus rei de Portugal, que no Concílio geral celebrado em Coimbra de novo mandei povoar esta cidade da Idanha de muito tempo despovoada, por causa dos inimigos da Fé, por conselho de D. João, pela graça de Deus, bispo sabinense e legado da Santa Sé Apostólica, e por parecer dos bispos e barões de meu reino e que mandei fazer e confirmei esta carta com meu sinal e selo em presença dos infra-escritos, estando na Guarda no mês de Abril da era de 1267», que é o ano de Cristo de 1229. Consta desta antigualha dar el-rei D. Sancho II foral à Idanha, trinta anos depois que seu avô el-rei D. Sancho I fêz concessão dela aos templários (…). [fr. António Brandão, Crónica de D. Sancho I, Cap. XXVI, p. 107, Livraria Civilização, Porto, 1945.]

Até breve.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Tradução do “Tratado” de Tui feito, do latim medieval, por José Antunes.

Apresentamos, hoje e nesta página, por nos parecer de invulgar interesse histórico, a tradução portuguesa que o prof. José Antunes fez do texto latino medievo, nunca antes traduzido — e que pelas discussões travadas ao longo dos anos motivaram ambiguidades extremadas, que os anos nunca esclareceram e assim para sempre se mantiveram — dum pacto ou convenção — mais do que “tratado” — de Tuy, realizado, a 4 de Julho de 1137, entre D. Afonso Henriques e seu primo D. Afonso VII, rei de Leão e Castela e Imperador das Hespanhas. É esta a tradução que o eminente estudioso nos propõe:

Este é o pacto e convenção que o infante de Portugal celebra com Afonso, imperador da Espanha e que permanecerá para sempre. Em primeiro lugar, evidentemente, que seja seu bom amigo e fiel, de boa fé e sem má intenção; garante-lhe segurança do seu corpo, de tal modo que nem por si ou pelo seu conselho seja, em qualquer ocasião, morto, ferido ou preso. E se outro homem infringir este compromisso que ele o defenda, de boa vontade, como defenderia o seu próprio corpo e do seu filho que muito ama.
Garante-lhe igualmente a segurança da sua terra para que não a perca, nem ardilosamente a liberte, quer por si, quer pelos seus homens. Porém, se alguém o atentar, que de boa fé e sem qualquer má intenção o auxilie a defendê-la, a fim de a reconquistar, como faria se fosse sua própria.
Se, porém, algum rei dos cristãos ou dos pagãos quiser invadir pela força a terra do imperador, que o ajude a recuperá-la, de boa fé e sem má intenção, se nele procurar auxílio e lho pedir.
Além disso, garante-lhe a segurança de que este pacto e esta convenção, se manterá com os filhos do imperador, evidentemente com aqueles que quiserem guardar e continuar com este pacto e convenção.
Porém, se algum dos homens do infante violar este pacto e convenção, que o infante o corrija, na medida do possível, tal como louvará aqueles homens do infante e os do imperador que quiserem estabelecer a paz e concórdia entre ambos.
Além disto, garante-lhe também a segurança de que aquela honra que agora lhe dá a ele, e dará, quer esteja irado ou em paz, em qualquer tempo que ele quiser, lha preste a ele ou a seu filho, de boa fé e sem má intenção. E assina o pacto, e com juramento, ele próprio com 150 dos seus homens bons. Se, porém, o infante infringir este pacto, seja considerado como perjuro e traidor.
Este pacto foi celebrado em Tui na margem do Minho, em 4 de Julho de 1137. Este pacto foi celebrado na presença de D. Paio Arcebispo de Braga, de D. Pedro bispo de Segóvia, de D. João bispo do Porto, de D. Paio bispo de Tui e de D. Martinho bispo de Orense
. [José Antunes, A versão portuguesa do “Tratado” de Tui (1137). Uma interpretação diferente da de Paulo Merêa e de outros historiadores. 2º. Congresso histórico de Guimarães, Actas do congresso, Vol. 4, Sociedade, administração, cultura e igreja em Portugal no séc. XII, pp. 36-37, Ed. Câmara Municipal de Guimarães e Universidade do Minho, Guimarães, 1996.]

Por estes dias, no condado Portucalense, as forças combatentes templárias estavam a formar-se — como cavaleiros iniciados e filiados — entre os filhos segundos das mais nobres famílias do condado. Seriam eles que iriam fazer parte dos primeiros contingentes da Ordem nas pugnas que se iriam dar mais a sul, mormente na celebrada batalha de Ourique, travada em campos próximos de Santarém e do Cartaxo, mais propriamente em Chão de Ourique. Sobre este tema haveremos de deixar notícias prolongadas e não milagreiras.

Até breve.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Linha de defesa na Beira Baixa e em Ribacôa.

(…) os Templários construíram os castelos de Vila Velha de Ródão, Castelo Branco e Penamacor, enquanto foram sendo edificados no Maciço Central os castelos de Castelo Novo e Sortelha, ambos templários, que separavam os teatros de operações da Beira Baixa e do Ribacôa. Já em meados do séc. XIII e com os árabes expulsos, desenha-se um novo perigo vindo de Leão e são ainda os Templários que edificam uma última linha de defesa, agora a leste, na fronteira leonesa, com os castelos de Zebreira, Segura e Penha Garcia [1256, o último castelo templário na Beira Baixa]. [António Lopes Pires Nunes, Dicionário de Arquitectura Militar, p. 229, Caleidoscópio, Casal de Cambra, 2005.]
Até breve.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Um texto esclarecedor sobre o papel do mercenário nas forças combatentes dos exércitos almohadas.

Com efeito, os almohadas tinham criado um aparelho militar de grande poder e disciplina. Entre eles, o mercenário duvidoso nos seus propósitos, ainda que valente, foi eliminado. A expeirência indicara-lhes a verdade do que Belisário dissera um dia às tropas alugadas que compunham as principais forças de Justiniano: «Vós sois superiores aos adversários pela coragem e força corporal; há porém algo em que lhes cedeis terreno — é que não sabeis obedecer nem tendes ideal além da soldada». [Eduardo Dias, Árabes e Muçulmanos, Tomo II, A invasão da Hispânia e o aspecto cultural do Islamismo, pp. 136-137, Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1940.]

Até breve.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Sobre o local de nascimento de D. fr. Gualdim Pais.

Sobre o local de nascimento de D. fr. Gualdim Pais é interessante atentarmos nesta nota.
Sobre o local de nascimento de D. fr. Gualdim Pais há controvérsia declarada, já que, inicialmente, se lhe dera como lugar de nascimento a actual vila de Amares. Também se sabe que D. fr. Gualdim Pais era natural de Marecos, que não era mais do que um lugar onde se situa a actual Barcelinhos — povoação próxima de Braga e fronteira a Barcelos — e não de Amares, como ainda hoje se crê e esta vila faz menção e tem orgulho de divulgar. Julgo que mais por facilidade do que por razão, entendeu fr. António Brandão colocar Braga em vez de Barcelinhos. Sobre este assunto ver uma monografia de um natural de Amares, Domingos M. da Silva — autor da Monografia do Concelho de Amares —, que nos diz que haveria erro na denominação de Marecos como Amares, dado serem vocábulos inteiramente distintos e desde sempre inconfundíveis na toponímia portuguesa já que Amares vem a pronunciar-se e a escrever-se invariavelmente assim desde muito cedo (p. 82), isto é: desde os seus primórdios. Marecos seria — segundo afirma — a actual freguesia de Santo André, situada e identificada no antigo julgado de Faria — em terras de Santa Maria de Faria —, lugar próximo onde se levanta Barcelinhos, freguesia fronteira de Barcelos e de que hoje faz parte integrante como cidade. (p. 83) Poder-se-á deduzir que Amares nunca foi Marecos e que D. Gualdim Pais, se foi de Marecos, nunca foi de Amares? [Ob. cit., Amares — Marecos (Grave confusão), pp. 79-87.] Como este será um assunto para que o tempo o resolva, se os homens quiserem corrigir a História mal contada, deixemo-lo no pé em que está, porque alguém muito mais informado do que eu — sobre este tema específico — irá demonstrar o verdadeiro lugar de nascimento de D. fr. Gualdim Pais, que, na minha opinião, é, e continuará a ser, Barcelinhos.
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres, 1124-1314, A Presença Templária em Portugal, p. 77, nota 195, Zéfiro, Sintra, 2008.]
Até breve.

domingo, 3 de agosto de 2008

Templum Domini e Templum Salomonis.

Deveras confuso se tem mostrado o conhecimento sobre o Templum Domini [Templo do Senhor] e o Templum Salomonis [Templo de Salomão].
Talvez que com estas duas importantes achegas se clarifique, em nós, o verdadeiro lugar onde os Templários fundaram a sua Ordem na cidade santa de Jerusalém.

No século XII, as alusões aos edifícios no Monte do Templo surgem muitas vezes confundidos pelos europeus, numa mentalidade que associava a Cúpula do Rochedo a uma réplica do segundo Templo, destruído em 70 d.C., ou mesmo ao primitivo Templo de Salomão. A itineraria das peregrinações e as crónicas dos cruzados referem frequentemente a Cúpula do Rochedo como Templo do Senhor (Templum Domini) e a Mesquita de Al-Aqsa como o Templo de Salomão (Templum Salomonis). [Nuno Villamariz Oliveira, Castelos da Ordem do Templo em Portugal, 1120-1314, p. 70, Lisboa, 2000.]

(…) durante o século XII, o Templo do Senhor tornou-se também o símbolo dos cavaleiros templários. Embora estes residissem no Templo de Salomão, escolheram o outro santuário como seu emblema, possivelmente porque o termo “templum” era partilhado pelos dois principais monumentos do Monte. Qualquer que fosse a razão, o selo da Ordem carregava a imagem do Templo do Senhor e a inscrição “Sigillum Militum Templum Christi”. [Sylvia Schein, Between Mount Moriah and the Holy Sepulchre: The changing traditions of the Temple Mount in the central Middle Ages, Traditio, nº. 40, p. 191, 1984.]

Espero que se confusão ainda houvesse em nós, ela tivesse sido, de todo, esclarecida.
Até breve.