sexta-feira, 31 de julho de 2009

Autores e Obras citados de 1.Julho.2009 a 30.Julho.2009.

Monge escrivão.

(a Autores e a Obras anteriormente referenciados, apenas se lhes citam os nomes e respectivos títulos.)

Adeline Rucquoi, História Medieval da Península Ibérica;
Alexandre Herculano, História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo I, Livro I;
António Lopes Pires Nunes, Dicionário de Arquitectura Militar;
António José Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal;
Carlos de Ayala Martínez, Órdenes militares peninsulares y cruzada hispânica, Una aproximacíon historiográfica, Las Órdenes Militares Hispánicas en la Edad Media, Marcial Pons, Ediciones de Historia, S. A. e Latorre Literaria, S. A., Madrid, 2007;
Carlos Riley, A Guerra e o Espaço na Fronteira medieval Beirã. Uma Abordagem Preliminar, Revista de Ciências Históricas, Porto, Universidade Portucalense, vol. VI, 1991;
Edward Burman, Templários: os Cavaleiros de Deus;
Guilherme de Tiro, History, II;
J. Ribeiro Cardoso, Castelo Branco e o seu alfoz, 1953;
Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, fr., Elucidário, Vol. II (B-Z);
José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal;
José Mattoso, A Nobreza Medieval Portuguesa, A Família e o Poder;
José Pires Gonçalves, Alguns aspectos das campanhas de Giraldo Sem Pavor na região do Guadiana, Anais, Academia Portuguesa de História, Vol. 26, T. I;
Luís Gonzaga de Azevedo, História de Portugal, IV, Lisboa, 1944;
Maria Alegria Fernandes Marques, A Viabilização de um Reino, O Poder e o Espaço, Portugal em definição de fronteiras, Do condado portucalense à crise do século XIV, coord. de Maria Helena da Cruz Coelho e Armando Luís de Carvalho Homem, Nova História de Portugal, Vol. III, dir. de Joel Serrão e A. H. Oliveira Marques;
Mário Jorge Barroca, Do vale do Mondego à reconquista definitiva de Lisboa (1147), Vol. 1, Da Reconquista a D. Dinis, Nova História Militar de Portugal — dir. de Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira — Círculo de Leitores, Lisboa, 2003;
Monika Walter Blocker, Alfons I. von Portugal. Studien zu geschichte und Sage des Bergrunders der Portugiesischen Unabhangigkeit, Zurique, Fretz un Wasmuth Verlag, 1966;
Nuno Villamariz Oliveira, Castelos da Ordem do Templo em Portugal, 1120-1314, Vol. I;
Oliveira Martins, História de Portugal;
Paulo Pereira, Templários e Templarismos, Vol. VIII, Enigmas, Lugares Mágicos de Portugal;
Pierre David, pe., Annales Portucalenses Veteres, Études sur le Portugal et la Galice du VIe. au XIIe. siècle, 1946;
R. C. Smail, Crusaders’ Castles of the Twelfth Century, p. 19, The Cambridge Historical Journal, Vol. X, nº 2, pp. 133-149, 1951;
Salvato, Vita S. Martini Sauriensis;
Saul António Gomes, Introdução à História do Castelo de Leiria;
Steven Runciman, History of the Crusades, II;
Pedro Alvites.

Outros:

Cronica de Afonso VII;
Documentos Régios, 63, 64;
Livro Preto, f. 214 e 85v;
Monarchia Lusitana, Parte III, Livro 9, Capº. 27;
Portugaliæ Monumenta Historica, Scriptores, 60b-61, Lisboa, 1856.
Até breve.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Guerra de fronteiras.

As décadas que separam a tomada de Toledo (1085) da vitória dos cristãos em Navas de Tolosa (1212) são caracterizadas pelo declínio do poder muçulmano e a ocupação do território hispânico pelos cristãos. Diversos factores explicam esta expansão que é simultaneamente conquista militar e povoamento do solo.
(…) Mas o avanço de 1085 constituiu ao mesmo tempo uma reviravolta na reconquista militar. Em primeiro lugar, porque os Espanhóis tinham recebido a ajuda militar de cavaleiros vindos do Norte dos Pirenéus, principalmente de Borgonha, mas também da Aquitânia e da Normandia, apoio que se renovou ao longo das décadas seguintes. E depois porque, por apelo dos reis de Sevilha e de Saragoça, os Almorávidas desembarcaram em 1086 e invadiram Al-Andalus. A guerra entre cristãos do Norte e muçulmanos do Sul perdia, desde então, o seu carácter de «guerra civil» para se inserir no quadro mais vasto da luta da «Cristandade» contra o «Islão», a cruzada. Os reis cristãos que dirigiam as expedições militares tinham desde então perante eles não já os reis muçulmanos dos reinos das taifas, mas os «aliados» da África do Norte, aliados intransigentes que pretendiam devolver ao islão espanhol tanto o seu espaço geográfico como a ortodoxia doutrinal e moral que ele tinha perdido.
[Adeline Rucquoi, História Medieval da Península Ibérica, pp. 168-169.]
Até breve.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A autonomia da Milícia Templária.

Foi sob o comando de Robert de Craon que a Ordem do Templo alcançou a sua estrutura hierárquica e organização internacional, obtendo, do mesmo papa (1), a autonomia que lhe permitiu agir com independência em relação às autoridades eclesiásticas e seculares, em cuja jurisdição actuavam. (2) O mesmo seria dizer que ficavam subordinados apenas, e de todo, ao poder papal, nas suas ordens e obrigações.
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, p. 44.]

Nota do Autor:

(1). — Inocêncio II [1130-1143].
(2). — Edward Burman, ob. cit., p. 44.
Até breve.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Ataques almorávidas a Leiria e castelos limítrofes, entre 1116 e 1144. (III)

Castelo de Leiria.

Leiria terá sido atacada, ainda, em 1144, uma vez que, nesta data, os muçulmanos conseguiram atingir Soure deixando um rasto de destruição pelo seu caminho. Escreve o autor da Vita Sancti Martini Saurensis que, neste ano, “paganorum procella ferocius insaniret sauriensium fines inuasit, et multos mortales, homines uidelicet cum peccore, aliaque preda captiuauit”, o que pressupõe uma incapacidade de Leiria para os deter evitando que alcançassem os campos sourienses. (1)
Que, por este ano, Leiria necessitava de fazer frente a incursões e razias muçulmanas prova-o a postura municipal de Coimbra de 16 de Julho de 1145, que determinava, num apelo ao ideal cruzadístico, que: “omnes qui uoluerint ire ad lherosolimen non habeant licenciam eundi sed in auxilio illius castelli de Leirena et tocius extremature: et quicumque ibi fuerit mortuus habeat talem remissionem sicuti illi migrauerit in lherosolimis.” (2)
[Saul António Gomes, Introdução à História do Castelo de Leiria, p. 23.]

Notas do Autor:

(1). — PMH — Scriptores, p. 62, nº. 11; Leontina Ventura, op. cit. [Soure na sua História: Algumas Reflexões], p. 41.
(2). — Livro Preto da Sé de Coimbra, fl. 221; Pub. A. Jesus da Costa, Teresa Veloso e Leontina Ventura, Livro Preto da Sé de Coimbra, Vol. III, doc. 576, p. 263.


Até breve.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O Mito (III)

(…)
Quero dizer, também, isso sim, que todas estas zonas incertas mais próximas da lenda do que da história foram depois amplificadas e mitificadas por uma quantidade imensa de curiosos. De resto, se existe uma área de conhecimento em que abunda a literatura ensaística e os livros de história e de especulação fantasiosa é precisamente esta. O nome dos Templários é suficiente para encher o escaparate inteiro de uma livraria razoavelmente grande… Pois é aqui que reside o grande problema. Para evitar os escolhos da especulação devemos repudiar todas as matérias herméticas ou desencorajar qualquer tipo de investigação que toque no terreno de algo que é ainda polémico e duvidoso? Creio que não, porque — como dizem os Ingleses — corremos o risco de deitar fora o bebé com a água do banho
[Paulo Pereira, Templários e Templarismos, Vol. VIII, p. 11, Enigmas, Lugares Mágicos de Portugal.]

Até breve.

domingo, 26 de julho de 2009

Torre albarrã.

Torre albarrã, do castelo de Silves.


Torre destacada do alinhamento das restantes e ligada à muralha por uma pequena ponte que facilmente podia ser destruída, isolando-a de forma a que a protecção da fortaleza não fosse comprometida [castelos de Silves, Lagos, Loulé, entre outros]. Este elemento de origem árabe é exclusivo da fortificação hispano-árabe.
[António Lopes Pires Nunes, Dicionário de Arquitectura Militar, p. 30.]

Até breve.

sábado, 25 de julho de 2009

Castelo Branco Templária (IV).

O declínio da cidade e do seu castelo deveram-se sobretudo às reacções transfronteiriças à independência portuguesa de 1640 e ao ataque franco-castelhano de 1704, tendo nessa altura sido incendiada a igreja de Santa Maria e a fortificação deixada muito arruinada. A reconstrução pombalina de 1752 veio devolver à zona alta da urbe parte da sua antiga fisionomia, mas a primeira invasão napoleónica, em 1807, e, a partir dos anos vinte do século XIX, as atitudes da própria população e o processo promovido pelos poderes públicos (1) as vereações liberais, sobretudo a de 1835 — que solicitou a sua demolição ao Ministério da Guerra —, vieram a contribuir significativamente para a desagregação do conjunto. Podemos, por isso, suspeitar que o remanescente das estruturas ocidentais do recinto terá sido arrasado por esta data, tendo escapado somente a torre oriental e poucos troços urbanos das muralhas. Nos dias de hoje, a maior parte do antigo monumento está irremediavelmente perdida. Pela importância singular que por certo detinha no horizonte da arte portuguesa do período medieval e pela perda irreparável que constitui na compreensão de inúmeros aspectos relacionados com o seu traçado, atrevemo-nos a considerar este castelo como o mais triste exemplo de secular desleixo patrimonial em todo o panorama da arquitectura militar templária.
[Nuno Villamariz Oliveira, Castelos da Ordem do Templo em Portugal, 1120-1314, Vol. I, pp. 277-278.]

Nota do Autor:

Segundo nos relata o historiador J. Ribeiro Cardoso, “em 1821 um capitão da tropa, secretário das armas da Província, pediu licença para utilizar as pedras da muralha na construção de uma casa. Ouvida a Câmara, achou bem o pedido, contando que a pedra não fosse tirada dos laços da muralha, em poder dos particulares. Foi o início da derrocada. Em 1835 a Câmara apresentou ao Governo a conveniência de serem apeados os Arcos das Portas da muralha. Achou bem o Prefeito da Província e do ministério da Guerra baixou a Portaria de 17 de Julho de 1835, autorizando o apeamento dos arcos das muralhas, utilizando-se a pedra em obras de manifesta utilidade pública. Em 9 de Março de 1839 outra Portaria autorizava a almoeda de parte da pedra do castelo, e em 20 do mesmo mês e ano ainda outra portaria mandava continuar a almoeda da venda de telha e madeiras do Castelo”. Cf. Castelo Branco e o seu alfoz, 1953, vol. III, p. 110.

Até breve.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Divisão territorial do Gharb.

(…) antes de começarem os cristãos a apoderar-se dos territórios além do Tejo e ao sul de Leiria, o Gharb compunha-se de três províncias: primeira, a de Alfaghar ou de Chenchir, onde estavam situadas as cidades e castelos de Santa Maria (Faro), Mirtolah (Mértola), Chelb (Silves), Oksonoba (Estói), Tabira (Tavira) e outros; segunda, a de Al-Kassr Ibn Abu Danès, contendo as importantes cidades de Bataliòs (Badajoz), Xerixa (Jerez de los Caballeros), Iaborah (Évora), Marida (Mérida), Cantarat Al-Seyf (Alcântara), Curia (Coria), Belch ou Ielch (Elvas?), Bajah (Beja), Alkassar (Alcácer do Sal) e vários castelos e povoações, como Jelmanyah (Juromenha?) e Sheberina (Serpa?); terceira, a de Belatha, cujos principais lugares eram as duas cidades de Chantarin ou Chantireny (Santarém) e Lixbona ou Achbuna (Lisboa) e o roqueiro castelo de Chintra ou Zintiras (Sintra). Abaixo de Achbuna, na margem oposta da baía do Tejo, via-se o forte de Al-Maden (Almada), isto é, da mina, nome que lhe vinha das palhetas de ouro que o rolo do mar lançava nas suas praias, e que se entretinham em ajuntar durante o Inverno os habitantes daqueles distritos.
[Alexandre Herculano, História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo I, Livro II, p. 433.]
Até breve.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Gaza: primeiro castelo templário a sul do Reino Latino de Jerusalém.

Antes de examinar a táctica e as armas empregues pelos Templários, podemos perguntar o que foi feito da sua vocação original de protectores dos peregrinos que se dirigiam a Jerusalém. Quando aparecem na História, já são parte das forças militares regulares dos estados cruzados, ao passo que a sua função original parece ter sido esquecida. É um facto curioso que o seu primeiro castelo ficasse na fronteira norte, a seiscentos quilómetros da estrada de Jaffa para Jerusalém, ao passo que os primeiros castelos na fronteira sul não foram confiados aos Templários nem construídos por eles: Ibelin, construído pelo rei Fulk de Jerusalém a dezasseis quilómetros a sudoeste de Lidda, foi confiado a Balian, irmão do conde de Chartres, que deveria proteger a estrada de Ascalon a Jaffa e Ramlah; Blancheregard foi construído ao sul de Ibelin para proteger a estrada de Ascalon a Jerusalém, e foi colocado nas mãos do conde de Arnulf; um outro castelo, chamado Betgibelin, foi construído para controlar a estrada de Ascalon a Hebron e foi dado aos Hospitalários. Este último castelo foi construído depois do patriarca Guilherme de Jerusalém ter organizado uma campanha contra salteadores na estrada de Jaffa para Jerusalém. (1) O primeiro castelo templário no sul do Reino Latino de Jerusalém (2) foi Gaza, que foi reconstruído, fortificado e confiado aos Templários em 1149-50 como base para represálias contra Ascalon. (3) Nalgum ponto da linha, entre a inspiração original de Hugues [de Payns] e a expansão da Ordem sob o comando de Robert de Craon, os Templários tinham mudado completamente de carácter. É como uma ordem de cruzados plenamente desenvolvida que ouvimos falar pela primeira vez dos notáveis êxitos templários.
[Edward Burman, Templários: os Cavaleiros de Deus, pp. 62-63.]

Notas do Autor:

(1). — Smail, Crusaders’ Castles, p. 140.
(3). — Guilherme de Tiro, History, II, p. 203.

Nota nossa:

(2). — O Reino Latino de Jerusalém foi um reino cristão criado no Outremer, pelo ano de 1099, depois da conquista de Jerusalém durante a 1ª. Cruzada. Teve como capital esta cidade e depois de perdida ante as forças de Saladino, a 2 de Outubro de 1187, fixou-se em Acre. Foi extinto em 1291, com a conquista desta última cidade, pelas forças muçulmanas de Al-Asharaf, a 18 de Abril.

Até breve.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Nascem os monges-guerreiros.

Obediência Templária.

A Ordem do Templo regrando-se e disciplinando-se através duma ideologia bem estabelecida e definida uniu dois dos mais importantes, senão os mais importantes, ideais da Idade Média: o monasticismo e a cavalaria. Assim, originalmente, para além de promoverem a abnegação, a pobreza, a simplicidade, o recolhimento e a pureza num confinamento de vida espiritual, muitos deles, vindos da melhor nobreza europeia, transformavam-se em resolutos e destemidos cavaleiros — para o qual tinham sido criados e instruídos —, prontos a sacrificarem-se pelo sagrado «apelo de Deus», gritado, pela voz do papa em toda a Cristandade, contra «a horda infiel». Nasciam os monges-guerreiros.
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, p. 42.]

Até breve.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Giraldo, o Sem Pavor, e a campanha de Badajoz de 1170 (III).

O que os cronistas coevos do recontro não denunciam e os modernos medievalistas também não propuseram ainda, mas todos, por unanimidade, se apostam em silenciar, foi o local do itinerário percorrido pela expedição de socorro saída do famoso castelo de Triana, na margem direita do Guadalquivir, com rumo a Badajoz, onde o grupo operacional da cavalaria de Giraldo interceptou a caravana almoáda e onde, estrategicamente, se encontrava montada a emboscada que a destroçou, matou e capturou os mouros que nela participavam, acabando por apreender toda a carga que transportavam.
O cronista Ibn Sáhide, por exemplo, refugia-se comodamente, no vago e fluído laconismo de informar que o assalto de Giraldo sem pavor ocorreu «perto de Badajoz» e que «o combate durou grande parte do dia».
Esta estranha omissão da localização topográfica do teatro da emboscada de Giraldo por parte dos cronistas coevos do acontecimento — aliás um recontro que, pelo volume dos efectivos humanos e de cavalaria nele empenhados, de tamanha envergadura que, segundo o insuspeito do próprio cronista árabe Ibn Idarí, envolveu o poderoso corpo de tropas do «exército de Sevilha», parece consentir a formulação da hipótese de trabalho que tentaremos construir
.
[José Pires Gonçalves, Alguns aspectos das campanhas de Giraldo Sem Pavor na região do Guadiana, Anais, Academia Portuguesa de História, Volume 26, T. I, p. 89.]

Até breve.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Reinício da unificação cristã em Espanha.

Afonso VI de Leão e Castela pôde assim aparecer como o único herdeiro dos reis visigodos, e a tomada de Toledo, como o golpe de «restauração» da Espanha pela reconquista militar do seu território. O mito da Hispânia unificada e cristão parecia ir-se realizar, reforçado pelo apelo da primeira Cruzada contra os infiéis em 1095. Sete anos depois, em 1102, uma concessão pontifícia dava os mesmos privilégios àqueles que, em Espanha, combatessem os Muçulmanos.
[Adeline Rucquoi, História Medieval da Península Ibérica, p. 168.]
Até breve.

domingo, 19 de julho de 2009

Extinção da Ordem do Templo em Portugal e criação da Ordem de Cristo.

Em Portugal, as negociações entre o papa e o rei levaram à instituição, por bula pontifícia de 14 de Março de 1319, da Ordem de Cavalaria de Jesus Cristo, sujeita à inspecção dos abades cistercienses de Alcobaça, tendo a sede em Castro Marim e sendo herdeira de todos os castelos e bens móveis e imóveis dos extintos Templários, assim como dos direitos de que estes gozavam, e também dos seus homens e vassalos.
A bula do papa aceitava a nomeação pelo rei de Portugal do primeiro Mestre da nova Ordem, D. Gil Martins, que anteriormente fora Mestre de Avis; os Mestres seguintes seriam eleitos pelos freires da Ordem. Por um documento de 11 de Junho de 1312 sabemos que, segundo ordenação de Gil Martins, a Ordem mantinha 84 freires pelo menos, dos quais 69 cavaleiros, número que posteriormente foi acrescentado. É um número reduzido porque os Templários formavam um corpo de elite
.
[António José Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal, p. 266.]

Até breve.

sábado, 18 de julho de 2009

Invasão do condado portucalense por Afonso VII de Leão e Castela, em 1127.

Em Março de 1126 morria D. Urraca e Afonso Raimundes era coroado rei de Leão e Castela. Um ano e meio mais tarde, em Setembro ou Outubro de 1127, Afonso VII invade o Condado Portucalense (que nesta altura englobava o condado de Toronho, na Galiza) procurando submetê-lo, aparentemente por as suas autoridades se terem recusado a prestar-lhe vassalagem. Deve ter sido neste contexto que se deu o cerco de Guimarães, mitificado pela gesta de Egas Moniz de Ribadouro, transformada mais tarde em paradigma de valores como a honra, a lealdade e a palavra. Ora o cerco deve ter ocorrido antes de São Mamede, já que D. Afonso Henriques confirmou o foral de Guimarães em 27 de Abril de 1128 (DR, 87), em reconhecimento pelo apoio que recebera durante o cerco de Afonso VII.
[Mário Jorge Barroca, Do vale do Mondego à reconquista definitiva de Lisboa (1147), Vol. 1, p. 38, Da Reconquista a D. Dinis, Nova História Militar de Portugal.]

Até breve.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Castelo Branco Templária (III).

A denominação de Vila Franca da Cardosa surge no início do século XIII quando da doação, por D. Fernando Sanches (1), dessa propriedade aos Templários, que terão substituído esse nome pelo de Castelo Branco. Os tempos de prosperidade vieram após a concessão do primeiro foral, em 1252, e com o desenvolvimento económico empreendido pelos cavaleiros, que elevariam a urbe á categoria de sua segunda possessão mais importante no território português, imediatamente abaixo de Tomar (2), situação que permaneceu com a passagem para a milícia de Cristo, no primeiro quartel do século XIV, tendo nela sido celebrados diversos capítulos da Ordem. As dimensões invulgares do castelo e da urbe fortificada foram capazes, só por si, de impor respeito ao inimigo até ao advento da pirobalística.
[Nuno Villamariz Oliveira, Castelos da Ordem do Templo em Portugal, 1120-1314, Vol. I, p. 277.]

Nota nossa:

(1). — Filho de D. Sancho I e irmão do rei D. Afonso II.
(2). — Não posso concordar, neste ponto, com o arquitecto Nuno Villamariz Oliveira, dado que depois de Castelo Branco se ter tornado sede da Ordem em Portugal, Tomar passou a simples Comenda e vigaria. Esta voltaria a ocupar o lugar que merecidamente a destaca na História deste País, só depois da Ordem de Cristo se ter mudado, da sua sede de Castro Marim, de regresso a ela, e de a ter dotado, através dos anos, com os edifícios arquitectónicos de beleza ímpar que hoje se contemplam e se distinguem: o convento com as suas particularidades únicas.
Castelo Branco, e o seu castelo templário, por sua vez, entraram num processo de declínio e desagregação, de que só há pouco mais de um século conseguiram reerguer-se e remodernizar-se, depois de todas as vicissitudes que, através dos anos, quase os destruíram por completo. O castelo, principalmente, ainda a precisar de urgentes trabalhos arqueológicos não só de recuperação da sua morfologia — muito coberta pela terra de séculos — e, por consequência, torná-lo bem mais visível aos olhos dos que o visitam, mas, muito principalmente, ser estudo e documento escrito e visual, feitos por arqueólogos competentes, a partir dos vestígios e elementos encontrados, que são muitos e variados naquele grande campo de pesquisa. Não só no terreiro, mas nas vertentes que o marginam. E há que aproveitá-los sem os procurar destruír, para orgulho de uma cidade que se deverá contemplar orgulhosamente num tempo, e na História, que a soube fazer erguer.
Até breve.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Mosteiros e privilégios. (III)

Mas havia ainda outras razões de ordem económica que convidavam os mosteiros a procurarem os benefícios da jurisdição senhorial, como a expansão da moeda como instrumento de troca e os progressos das actividades comerciais. Estes factores devem ter levado os mosteiros a interessarem-se pela cobrança de portagens e peagens, sobretudo quando estavam perto de vias importantes, como Santo Tirso, Pendorada, Rio Tinto ou Pedroso. Os poderes senhoriais davam também aos abades a capacidade de controlarem a comercialização dos géneros produzidos pelos caseiros.
[José Mattoso, A Nobreza Medieval Portuguesa, A Família e o Poder, p. 276.]

Até breve.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Inícios da Ordem do Templo em Portugal.

Cavaleiros Templários.

A Ordem dos Templários, da qual, juntamente com as outras Ordens Militares, teremos de falar em tempo oportuno, conforme o plano do nosso trabalho, tinha recebido o senhorio do castelo de Soure. Os monges cavaleiros, cujo entusiasmo e valor em parte nenhuma se desmentiam, e cujo instituto era o pelejar sem descanso contra os sectários do islamismo, haviam em poucos anos mudado o aspecto daqueles arredores. Cobriam então extensos bosques e matos o tracto de terra que hoje constitui o Estremadura alta, e Afonso Henriques devia ceder com facilidade estes desertos, que eram como barreira natural entre as duas raças inimigas, a essa Ordem composta inteiramente de esforçados homens de guerra. Com a espada numa das mãos e com a enxada ou alvião na outra, eles foram gradualmente contendo ou castigando as correrias dos sarracenos e desbravando ou povoando aqueles arredores (1).
A oeste, porém, de Soure ficava um largo espaço aberto às invasões dos sarracenos, que vinham, sem encontrar resistência, assolar as vizinhanças de Coimbra.
[Alexandre Herculano, História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo I, Livro I, pp. 415-416.]

Nota do Autor:

(1). — Doações de Soure aos templários de Março de 1128 e de Março de 1129 (Carta de Tomar, no Arquivo Nacional [DR 79, 80 — falso —, 96]. Viterbo, Elucidário, verbetes «Ladera» e «Tempreiros». Bulas relativas aos templários no Arquivo Nacional, Gav. 7, Maço 3, nº. 17, e Maço 9, nº. 35: «Quod… rex portugallensis (a do Maço 9, nº. 35, diz: «Mater… illustris portugallensis regis») quam silvam domui vestrae in perpetuum contulisset, eam cum difficultate maxima de sarracenorum manibus liberantes, per vos et homines vestros studiosius coluistis.» [Papsturkunden 74 a 75, falso].


Até breve.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Rei e reino de Portugal reconhecidos através da bula Manifestis probatum.

Bula Manifestis probatum.

E, em 23 de Maio de 1179, Alexandre III, ocupante havia muito do trono pontifício, fazia dirigir a Afonso Henriques a bula Manifestis probatum, pela qual reconhecia o título de rei e a Portugal a categoria de reino, pertencente a S. Pedro, os tomava sob protecção apostólica e prometia o auxílio papal para a defesa da dignidade régia e ainda para os domínios presentes ou a haver. Assim terminavam décadas de negociações com a Santa Sé, em que, por motivos vários, ela resistiu aos intentos dos Portugueses.
[Maria Alegria Fernandes Marques, A Viabilização de um Reino, p. 32.]

Até breve.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Coutos.

Além dos coutos dos fidalgos e senhores, igrejas e mosteiros, havia também coutos do reino (…). Nestes se refugiavam alguns homiziados e malfeitores nos casos, em que os tais coutos lhes podiam valer e residindo neles por certo tempo, ficavam perdoados os seus crimes. Eram, regularmente, nos lugares que ficam na raia com Castela.
[Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, fr., Elucidário, Vol. II (B-Z), p. 142.]
Até breve.

domingo, 12 de julho de 2009

Ataques almorávidas a Leiria e castelos limítrofes, entre 1116 e 1144. (II)

Os testemunhos cronísticos conimbricenses sobre a cronologia deste ataque [1137], como o Livro da Noa ou o Cronicão Conimbricense referem os factos, mas, por razões que derivam de problemas de transmissão textual, as Eras por que os apresentam estão erradas. (1). Isto terá levado Fr. Francisco Brandão a não aceitar um ataque ao castelo de Leiria em 1137, mas apenas em 1140. Alexandre Herculano, contudo, baseado no testemunho da crónica latina do imperador Afonso VII de Castela, aceita os dois anos como tendo havido assédio da fortaleza leiriense em cada um deles (2).
Mas como demonstrou Luís Gonzaga de Azevedo, a
Crónica de Afonso VII, refere-se aos dois recontros. O de 1137 vem descrito após se referir à vitória de Cerneja (1137) como:

“§31 (…)
Post hanc victoriam rex protinus reversus in terram Portugalensem ad succurrendum eis qui erant in quodam Castello quod dicitur Erena quod ille aedificauit à facie alterius Castelli quod a Mauris tenebatur, Sanctarem vocati, ad debelland tam Sanctarem, quam Ulixbonam, et Sintriam, et cetera Castella Sarracenorum quae in circuitu sunt.” (3)

Neste ataque, contudo, a fortaleza deve ter aguentado o assédio sob o comando de Paio Guterres. Em 1140, no entanto, o ataque foi terrivelmente destrutivo, sendo feito prisioneiro o seu alcaide e perecendo ao fio da espada mais de 250 cavaleiros. Narra a
Crónica de Afonso VII que:

Ҥ32.
Eodem vero tempore venerunt Moabites et Agareni supra praedictum Castellum Erenam, ceperuntque illud debellando, et omnes viri bellatores plusquam ducenti quinquaginta Christiani, et quidam viri magnates Regis ibi galdio perierunt, unde facta est tristitia et perturbatio in domo regis Portugalensis.” (4)

Esta destruição de 1 de Outubro de 1140, segundo o
Cronicão Coninbricense, esteve ligada à incursão na Beira interior portuguesa feita pelos Muçulmanos, comandados pelo almorávida Esmar, que atingiria Trancoso, destruindo o seu castelo (5).
[Saul António Gomes, Introdução à História do Castelo de Leiria, p. 23, notas 17 a 21.]

Notas do Autor:

(1). — A mais recente edição crítica destas fontes feita por Monika Walter Blocker (Alfons I. von Portugal. Studien zu geschichte und Sage des Bergrunders der Portugiesischen Unabhangigkeit, Zurique, Fretz un Wasmuth Verlag, 1966, 26-33, 74-81, 115-117, 159-160) considera estas datas como inseguras. Mas a autora não consegue, como ninguém mais, aliás, resolver o problema algo insolúvel da traditio textual dos Anais, à falta de lições originais dessas crónicas crúzias que sobreviveram através de cópias efectuadas no scriptorium local. Veja-se a nota crítica de José Mattoso, na História de Portugal, de A. Herculano, Tomo I, p. 603.
(2). — Monarchia Lusitana, Parte III, Livro 9, Capº. 27; A. Herculano, História de Portugal, Nota final XV, pp. 653-654; nota XVII, pp. 659-661.
(3). — Citado por Luís Gonzaga de Azevedo, História de Portugal, IV, Lisboa, 1944, pp. 169-174.
(4). — Citado por Luís Gonzaga de Azevedo, op. cit., p. 173.
(5). — Alexandre Herculano, História de Portugal, I, pp. 442-444, 659-661; Monarchia Lusitana, Parte III, Apêndice 16; PMH — Scriptores, p. 89; Carlos Riley, “A Guerra e o Espaço na Fronteira medieval Beirã. Uma Abordagem Preliminar”, in Revista de Ciências Históricas, Porto, Universidade Portucalense, vol. VI, 1991, pp. 145-159.

Até breve.

sábado, 11 de julho de 2009

A ideia de Cruzada na Península Ibérica (II)

Cavaleiro de Santiago dos anos do mestrado de D. Paio Peres Correia.

(…) contar com a presença legitimadora das Ordens Militares como obedientes e submissas instituições nascidas da monarquia e consagradas ao seu serviço, era o meio para gerar em torno dela a imagem de um poder excepcional, mas necessário e correcto desde a própria lógica da Cristandade.
Deste modo, mais que pelo interesse estritamente militar, as Ordens Militares seriam rentabilizadas politicamente pela monarquia necessitada de assegurar o seu poder sobre uma base de legitimação
.
[Carlos de Ayala Martínez, Órdenes militares peninsulares y cruzada hispânica, Una aproximacíon historiográfica, p. 81.]
(Tradução nossa, do castelhano.)

Até breve.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Primeiros combates e nova táctica apreendida.

A história da Ordem no Oriente é extremamente nebulosa nesse período (1), e, na verdade, uma das suas primeiras acções registadas parece ter sido uma derrota humilhante. Durante a campanha de Fulk em Gilead, conta Runciman, “um bando de muçulmanos conseguiu atravessar o Jordão perto da sua junção com o Mar Morto e atacar a Judeia, onde atraíram um grupo de cavaleiros templários enviado contra eles (2). De facto, isso foi algum tempo antes de os Templários e outros cavaleiros presentes na Terra Santa desenvolverem uma táctica para contraporem à dos muçulmanos e dos turcos seldjúcidas, que empregavam métodos de guerra diferentes daqueles aos quais os cavaleiros europeus tinham sido acostumados. Os Templários fizeram bom uso dessas primeiras experiências e mais tarde tornaram-se os estrategas militares dos reis e cruzados que lutaram na Terra Santa.
[Edward Burman, Templários: os Cavaleiros de Deus, p. 62.]

Notas nossas:

(1). — De 1131 a 1143.
(2). — Steven Runciman, History of the Crusades, II, p. 230.
Até breve.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O Mito (II).

Num texto que incluiu na colectânea de ensaios Sobre os Espelhos, Umberto Eco definia assim uma das «Dez maneiras de sonhar a Idade Média»: «A Idade Média da tradição. Lugar em que tomou forma (quero dizer: de um modo iconograficamente estável) o culto de um saber mais antigo, o do misticismo hebreu e árabe, e da gnose. É a Idade Média sincretista que vê na lenda do Graal, na questão histórica dos cavaleiros do Templo, e desde então, através da efabulação alquímica, dos Iluminados da Baviera, até à actual maçonaria de rito escocês, o desenrolar de uma única e contínua história iniciática. Acrítica e antifilológica, esta Idade Média vive de alusões e de ilusões, conseguindo sempre e admiravelmente decifrar, seja onde e com que pretexto for, a mesma mensagem. Felizmente, para nós e para os adeptos, a mensagem perdeu-se, o que faz com que a iniciação se torne num processo sem fim, rosa-cruz e delícia para os privilegiados que resistem, impermeáveis às vestes popperianas da falsificação, devotados aos paralogismos da simpatia universal. Mística e sincretista, esta Idade Média inscreve vorazmente na sua história intemporal tudo o que não pode nem provar-se nem falsificar-se» (pp. 9-100). As especulações em torno dos Templários participam desta concepção da Idade Média.
[Paulo Pereira, Templários e Templarismos, Vol. VIII, p. 10, Enigmas, Lugares Mágicos de Portugal.]
Até breve.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Alcaide.

Senhor e governador de um castelo e comandante da sua guarnição. As funções do alcaide nos castelos portugueses tinham algumas variantes. Segundo Marcello Caetano em História do Direito Português (1140-1495), (ed. Verbo, 1981): «O alcaide geralmente era dependente do rico-homem, pessoa que “tinha a terra (divisão do território) em nome do rei, de quem era governador de confiança“ e que “era o verdadeiro chefe militar da terra a quem competia a mobilização das tropas”». “O alcaide era normalmente nomeado pelo rico-homem com a condição de prestar menagem ao monarca. Havia castelos isolados onde residia o próprio rico-homem, ou quem o representasse no governo da terra e castelos de lugares cercados, isto é, redutos de povoações amuralhadas (Lisboa, Santarém, Coimbra, etc.), onde o alcaide representava o rei no governo da cidade, podendo até acontecer que a esse castelo fosse adjudicado largo território onde o alcaide exercia autoridade governativa, às vezes até na dependência directa do rei. Nestas circunstâncias, ou seja, nas povoações junto a um castelo, o alcaide intervinha na vida municipal, presidindo à assembleia e ao tribunal local com os alvazis e os homens-bons. Além de comandar o castelo e exercer jurisdição sobre os cavaleiros, competia ao alcaide a manutenção da ordem e da polícia das povoações junto ao castelo, função geralmente delegada no alcaide-menor que podia prender os delinquentes com a obrigação de os entregar aos juízes locais. A cadeia estava no castelo e aí se cobrava a carceragem”.
[António Lopes Pires Nunes, Dicionário de Arquitectura Militar, pp. 32-33.]
Até breve.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Demanda da Terra Santa.

Assalto a castelo.

Os decretos papais, sobre a Cruzada, de imediato começaram a publicar-se. Este apelo comunicou-se a todos os reinos europeus. Resultou assim que obtivesse uma resposta tão pronta quanto entusiástica de muitos, já que apelara para a consciência e motivos então predominantes: a inabalável fé e religiosidade; o amor pela aventura e pela luta; e para muitos, a grande maioria dos cavaleiros, o de poderem melhorar materialmente as suas vidas, já que, no fundo, o interesse ao apetecido saque, por poder ser proveitoso, predominava e era ambicionado. A lei mercenária vigoraria, como nunca, em pleno.
A demanda da terra que viu nascer e morrer Cristo — por isso mesmo Santa — a luta contra o muçulmano, a que chamavam, depreciativamente, «infiel», aliado à necessidade de pôr em prática o juramento da fé, pela honra e pela espada, eram o dever e o culto mais importantes para o cavaleiro da Idade Média
(1) em toda a Europa. O espírito da cruzada acentuou ainda mais esta demanda e todo aquele que nela participasse devia trazer cozida uma cruz de pano nas suas vestes. (2)
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, p. 38.]

Notas do Autor:

(1). — Deveras clara, a opinião que Oliveira Martins manifesta sobre a Idade Média e dos conflitos que opunha homens, fé, e deveres: No seio da barbária corrupta em que se revolvia, a Idade Média tinha, porém, não só o instinto dos deveres, inato nos homens, como o medo dos castigos divinos pregados por uma religião que até para o próprio clero baixara às condições de um quase fetichismo.[Oliveira Martins, História de Portugal, p. 73.]
(2). — Assim teria nascido o termo «cruzado».

Até breve.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Castelo Branco Templária (II).

Quanto ao período de fixação cristã no século XII, muitos investigadores têm sustentado que a região estaria consideravelmente despovoada, desconhecendo-se o momento de partir do qual se inverteu essa tendência. A documentação escrita reporta-se a 1165, quando D. Afonso Henriques doa aos cavaleiros a extensa região de Idanha e Monsanto, sendo possível que a milícia tenha dado por esta altura os primeiros passos da sua acção colonizadora. A construção do castelo pertence já à centúria seguinte, inserido na vasta Herdade da Cardosa, propriedade régia desanexada do grande termo concelhio destinado à Covilhã através do foral atribuído por aquele rei nos últimos anos da sua vida.
[Nuno Villamariz Oliveira, Castelos da Ordem do Templo em Portugal, 1120-1314, Vol. I, p. 277.]
Até breve.

domingo, 5 de julho de 2009

Os anais históricos antigos. (I)

A primeira manifestação historiográfica reveladora de um sentimento de identidade e solidariedade entre a gente que vivia no território correspondente ao futuro reino de Portugal encontra-se nos anais que o Pe. Pierre David identificou como Annales Portucalenses Veteres (1). Entre os vários apontamentos dispersos provenientes de Santa Cruz de Coimbra, quase todos em latim, dos séculos XII a XIV, foi possível distinguir dois núcleos de notícias, um referente à região portugalense («do Minho ao Tejo»), desde a tomada de Coimbra por Almançor (987) até 1111, e outro relativo ao reinado de D. Afonso Henriques, de 1116 a 1168.
Estes antigos anais portugueses, que registam sobretudo efemérides da guerra contra os Mouros, devem-se às mãos de vários escribas, o mais antigo dos quais conhecera ainda sobreviventes da época de Almançor, sendo o mais moderno um entusiasta de D. Afonso Henriques. O conjunto era precedido de uma breve história dos Godos, desde que partiram da sua terra até que foram expulsos pelos sarracenos da Espanha, e de uma lista dos reis das Astúrias até Afonso II
.
[António José Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal, p. 151.]

Nota do Autor:

(1). — In Études sur le Portugal et la galice du VIe. au XIIe. siècle, 1946, que seguimos no nosso estudo.
Até breve.

sábado, 4 de julho de 2009

Giraldo, o Sem Pavor, e a campanha de Badajoz de 1170 (II).

Na capital do Andaluz, ao tomar conhecimento dos apuros e sofrimentos em que os mouros de Badajoz se encontravam mergulhados e contra os quais se debatiam perante o apertado cerco de Giraldo, o califa decidiu-se a enviar um comboio de socorros em víveres, armas e vestuário, tendo confiado o comando desta coluna, constituída segundo o expresso testemunho de Ibn Sáhibe, por umas 5. 000 azêmolas carregadas e escoltadas por tropas de Sevilha e de todo o Andaluz, a um mouro notável, um cavaleiro de estirpe, do qual os cronistas árabes coevos indicam até o próprio nome: Abu Yahya Zacarias Ibn Ali.
«Chegado este comboio e gente perto de Badajoz, prossegue Ibn Sáhibe, o maldito Giraldo, com a sua gente, formada de moçárabes e moradores de Santarém, saiu-lhes ao encontro e, depois de um combate que demorou grande parte do dia, desbaratou os mouros, matou e capturou muitos deles e tomou toda a carga que transportavam».
[José Pires Gonçalves, Alguns aspectos das campanhas de Giraldo Sem Pavor na região do Guadiana, Anais, Academia Portuguesa de História, Volume 26, T. I, p. 88.]
Até breve.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Permutas e senhorios.

Durante estes anos, as perturbações causadas em África pela nova seita dos almohadas tinham impedido Ali, o emir de Marrocos, de promover a guerra contra os cristãos da Espanha. Nesta região o terrível açoute dos muçulmanos, Afonso I de Aragão, entretinha principalmente as forças dos almorávidas, e as incursões das fronteiras do Ocidente eram passageiras e apenas feitas pelos sarracenos naturais do país (1). D. Teresa aproveitara esta conjugação para restaurar a linha de castelos que defendiam a fronteira meridional do distrito de Coimbra. Pelo menos os de Soure e Santa Eulália foram por esses anos reedificados. Em 1122 o conde Fernando Peres, que possuía o de Coja sobre o Alva, cedeu-o à rainha, recebendo em recompensa o senhorio daqueloutros. Soure, como mais exposto às correrias, com dificuldade achava habitantes; todavia, já por 1125 ele não era não só um lugar forte, mas também uma povoação importante (2).
[Alexandre Herculano, História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo I, Livro I, p. 371.]

Notas do Autor:

(1). — «…agarenorum insidias, qui tunc (1123) viarum comeatus clam, necnon et publice incursabant grave captivitatis pondus cum acerbae mortis casibus homibus inferentes», Salvato, «Vita S. Martini Sauriensis», parágrafo 6 [Scr. 60b-61a]; ismaelitae ou agareni era naquela época a denominação que davam os cristãos aos muçulmanos espanhóis: a palavra moabitae, como nos parece ter dito já, designava os almorávidas (al-morabethyn).
(2). — Carta de permutação de Coja por Santa Eulália e Soure, e doação daquele castelo ao bispo de Coimbra em Novembro de 1122 (Livro Preto, f. 214 e 85v. [DR 63, 64]; Salvato, «Vita S. Martini Sauriensis», parágrafos 6, 7, 8 [Scr. 60b-61ª]).
Até breve.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Presença de D. Fernão Peres «de Trava» no condado Portucalense.

Na realidade, é a partir de 1121 que assistimos à ascensão dos filhos de Pedro Froilaz de Trava (tutor de Afonso Raimundes) (1) na corte condal portucalense. Em 1121 Bermudo Peres de Trava casou com Urraca Henriques, filha do conde D. Henrique e de D. Teresa. E a partir de 1122 documenta-se a presença de Fernão Peres de Trava junto da condessa viúva, de quem recebe uma primeira doação — a vila de Seia — logo em Maio de 1122 (DR, 62). Pouco depois D. Teresa doa ao nobre galego o Castelo de Coja (Arganil), que seria objecto de escambo com o Castelo de Santa Eulália e a vila de Quiaios em 3 de Novembro de 1122 (DR, 63). Por este mesmo documento Fernão Peres toma ainda posse do castelo de Soure. A crescente influência galega junto de D. Teresa levou a maior parte dos nobres portucalenses a abandonar progressivamente a corte condal, começando a desenhar-se a crise que haveria de conduzir a São Mamede.
(…) Aparentemente, das famílias mais influentes do condado apenas os senhores de Baião e Gomes Nunes de Barbosa (irmão de Sancho Nunes de Barbosa) permaneceram junto de D. Teresa e de Fernão Peres de Trava.
[Mário Jorge Barroca, Do vale do Mondego à reconquista definitiva de Lisboa (1147), Vol. 1, pp. 37 e 38, Da Reconquista a D. Dinis, Nova História Militar de Portugal — dir. de Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira — Círculo de Leitores, Lisboa, 2003.]

Nota nossa:

(1). — Futuro Afonso VII, rei de Leão e Castela [1126-1157].
Até breve.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Castelo Branco e o seu distrito verdadeiramente templário.

Torre do castelo de Castelo Branco.
[Fotografia de Paulo Almeida Fernandes - IPPAR.]
Quando a historiografia portuguesa se debruçar sobre a real importância de Castelo Branco e da sua região na história da Ordem do Templo em Portugal, talvez mude muito a facilidade com que se reproduzem as múltiplas realidades de outras regiões templárias, que, por certo, tiveram a sua importância, mas que decaíram quando Castelo Branco se tornou — a última — sede da Ordem em Portugal, desde a sua fundação até à sua extinção: de 1215-1314. Isto é, cem anos.
Atente-se, investigue-se e escreva-se.
Mas que para que tal suceda, muita importância terão as actividades desenvolvidas, neste sentido, por todas as Câmaras do Distrito de Castelo Branco, com a da capital do distrito à cabeça, muito naturalmente.
Se as edilidades, de facto, propugnarem para o conhecimento e enriquecimento desta região beirã — aquela que em Portugal é, para mim, verdadeiramente Templária —, há este trabalho a ter de ser feito sem mais delongas nem protelamentos. Para bem do conhecimento da História da Ordem do Templo em Portugal e da própria História do País.
Pedro Alvites.