sábado, 30 de janeiro de 2010

Autores e Obras citados de 01.Janeiro.2010 a 30.Janeiro.2010.

Monge escrivão.

(a Autores e a Obras anteriormente referenciados, apenas se lhes citam os nomes e respectivos títulos.)

A. H. de Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa;
Adeline Rucquoi, História Medieval da Península Ibérica,
Amorim Rosa, De Tomar, Edição comemorativa do V centenário da morte do infante D. Henrique e do VII centenário da cidade de Tomar, 2ª. edição, Tomar, 1991;
António Brandão, fr., Crónica de D. Sancho I e D. Afonso II;
António Lopes Pires Nunes, Os castelos Templários da Beira Baixa;
António José Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal;
Edward Burman, Templários: os Cavaleiros de Deus;
Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho, Edições Ática, Lisboa, s/d;
Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal;
Gonzalo Martínez Díez, Los templarios en los reinos de España;
Hermenegildo Fernandes, D. Sancho II;
Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, fr., Elucidário, Vol. II;
José Carlos Sánchez Montero, Apogeu e Decadência, Prisão e Julgamento da Ordem do Templo, Codex Templi;
José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal;
José Manuel Capêlo, As Sedes Templárias em Portugal, Castelo Branco, a Cidade-Capital Templária de Portugal: de 1215 a 1314, Codex Templi, Capítulo VII;
José Mattoso, A nobreza medieval portuguesa no contexto peninsular, Naquele tempo, Ensaios de História Medieval, Vol. I;
José Pires Gonçalves, Monsaraz da reconquista, Anais, Academia Portuguesa de História, Volume 25, 1979;
Manuel Sílvio Alves Conde, Tomar Medieval;
Mário Jorge Barroca, Do vale do Mondego à reconquista definitiva de Lisboa (1147), Vol. 1, Da Reconquista a D. Dinis, Nova História Militar de Portugal;
Miguel de Oliveira, pe., História Eclesiástica de Portugal;
P. M. Laranjo Coelho, As Ordens de Cavalaria no Alto Alentejo;
Padre Espanha, Compendio de Notícias de Vila Viçosa, Redondo, 1892;
Saul António Gomes, Introdução à história do castelo de Leiria.

Outros:

Tesouros Artísticos de Portugal.

Até breve.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Divisa da Ordem do Templo.

Selo templário: dois cavaleiros num só cavalo.
[ Pintura de Juan Díaz.]

Os dois cavalleiros montados no mesmo cavallo não designam (1), como ingenuamente se julgou, a pobreza da Ordem, que não tinha cavallos bastantes para os seus cavalleiros. Significa outra coisa muito differente: a dupla constituição da Ordem, o facto de que tinha um lado Militar e um lado Sacerdotal, ou, em outras palavras, um lado exotérico e outro esotérico, um lado externo e outro interno. O primeiro estava em contacto com a Igreja de Roma e a ella se subordinava e obedecia; o segundo a ninguém humano devia, ou poderia dever, obediência.
[Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho, Edições Ática, Lisboa, s/d .]

Nota:

(1). — Sob a divisa Sigillum Militum Christi, criava-se a figura de um cavalo, levando no dorso um cavaleiro e um peregrino. [A. Vieira d’Areia, O Processo dos Templários, p. 15.]


Até breve.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

D. Martin Anes, o Sangalho.

(…) a carta de foral de Vila Viçosa, datada de 5 de Junho de 1270 e comunicada, precisamente, de Monsaraz onde figura como «pobrador» e primeiro alcaide um D. Martim Anes, dito Sangalho, inclui na lista das personalidades que testemunham a sua outorga pública o referido D. Martim Anes «do Vinhal», que assina o documento com precedência sobre várias figuras de grande nível social e, entre elas, o próprio Prior do Hospital, D. Afonso Pires Farinha (1).
[José Pires Gonçalves, Monsaraz da reconquista, Anais, Academia Portuguesa de História, Volume 25, p. 49.]

Nota do Autor:

(1). — Padre Espanha, Compendio de Notícias de Vila Viçosa, pp. 113-114, Redondo, 1892.


Até breve.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Herdade de Alferroze. (I)

Finalmente, no termo da mesma vila e no mesmo caminho de Badajoz tinha a comenda de Elvas uma grande e importante herdade denominada de Alferroze (1), com três folhas, cada uma das quais levava dez moios de pão e, semeadura, a qual estava arrendada nessa época por oito moios de trigo, cinco de cevada postos na vila, três mil reis de pitança, vinte velos de lã, dois carneiros, dois queijos, quatro cabritos e meia dúzia de galinhas».
[P. M. Laranjo Coelho, As Ordens de Cavalaria no Alto Alentejo, O Archeologo Português, p. 247.]

Nota nossa:

(1). — Nos dias de hoje esta comenda tem o nome de Alfarofe.


Até breve.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A mesa medieval. (V)

Uma mesa senhorial na Idade Média.

Para bem condimentar os alimentos, usavam os Portugueses da Idade Média espécies várias de matérias gordas. O azeite colocava-se, sem contestação, em primeiro lugar, e o seu papel na culinária foi aumentando, à medida que a mancha dos olivais subia para norte. Contudo, o emprego da manteiga era igualmente relevante e parece ter correspondido a uma indústria local bastantes desenvolvida, talvez mais até do que a do queijo. São numerosas as referências a manteiga na documentação que nos resta. Ao lado da manteiga outras gorduras animais de farto consumo eram o toucinho e a banha. Num país como Portugal, em que o gado porcino avultava na pecuária, e em que a carne de porco abundava no açougue, compreende-se o papel da banha de porco no tempero culinário de todas as camadas populacionais. Em certos casos, mas com menos frequência, também a gordura de vaca servia na confecção dos repastos.
Não se esqueça, claro está, o sal, que não apenas funcionava como tempero básico a quase todas as vitualhas, mas também se exigia para a conservação de carnes, peixes e outros alimentos que fosse necessário armazenar ou transportar.
As chamadas viandas de leite estão presentes com frequência na alimentação medieval do português. Por elas se entendiam queijo, nata, manteiga, doces feitos à base de lacticínios, além de, evidentemente, o prórpio leite. Este, aliás, consumia-se em muito fraca quantidade. Na sua maior parte, transformava-se em queijo e em manteiga. Servia também como medicamento. Mas parece ter-se utilizado pouco para matar a sede ou como alimento «de per si».
Os «lacticínios» tomavam-se em regra como acompanhamento ou sobremesa
.
[A. H. de Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa, pp.12-13.]

Até breve.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Palavras do foral de D. Sancho II, a Idanha-a-Velha.

Torre templária de Idanha-a-Velha.


A este fundamento de estar no ano de 1199 a cidade de Idanha sujeita a el-rei D. Sancho [I] e povoada, ajuntamos outro princípio certo e é o foral que lhe deu el-rei D. Sancho II, donde sabemos ser destruída depois ou despovoada por causa dos mouros e que não foi muito depois da doação e troca relatada.
«Eu, D. Sancho II, por graça de Deus rei de Portugal, que no Concílio Geral celebrado em Coimbra de novo mandei povoar esta cidade de Idanha de muito tempo despovoada, por causa dos inimigos da fé, por conselho de D. João, pela graça de Deus, bispo sabinense e legado da Santa Sé Apostólica, e por parecer dos bispos e barões de meu reino e que mandei fazer e confirmei esta carta com meu sinal e selo em presença dos infra-escritos, estando na Guarda no mês de Abril da era de 1267», que é o ano de Cristo de 1229.
Consta desta antigualha dar el-rei D. Sancho II foral à Idanha, trinta anos depois que seu avô el-rei D. Sancho I fez concessão dela aos Templários
(…)
[António Brandão, fr., Crónica de D. Sancho I e D. Afonso II, p. 107.]

Até breve.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Razão deveras importante.

Por outro lado, se Tomar teve a sua importância, enquanto foi sede da Ordem [entre 1160 e 1215] — porém não tanta quanto aquela que a publicidade tenta encontrar e faz parangonas —, jamais a bela e histórica cidade do Nabão readquiriu a importância templária que hoje em dia se lhe dá, porque, na realidade, nunca mais a teve, ficando apenas como simples Comenda e priorado. E há que dizê-lo sem peias nem donas, porque a verdade é a realidade — a única — que se nos mostra bem visível e documentada. A cidade voltou a recuperar nova evidência e notoriedade, precisamente em 1357, quando o Mestre da Ordem de Cristo, D. Nuno Rodrigues [1356-1372], conseguiu que o rei D. Afonso IV [1325-1357] (1) e o papa Alexandre IV [1254-1261] a transferissem de Castro Marim — para onde tinha sido enviada e colocada desde o seu início — de volta à velha urbe onde a antiga Milícia dos Pobres Cavaleiros de Jesus Cristo deixara bens preciosos: o castelo, a charola e o Panteão, essa simples mas magnífica igreja de Santa Maria dos Olivais, na qual jaziam as sepulturas (2) de vinte e dois Mestres templários erguidas nos seus formidáveis mausoléus, até que o camartelo de um impiedoso e sacrílego Geral jerónimo de má têmpera e desditoso engenho, as fez destruir (3), dando-se, mais tarde, perpétua sepultura nas paredes de capelas laterais, a apenas três deles: D. fr. Gualdim Pais e D. fr. Lourenço Martins, da Ordem do Templo, e D. Gil Martins, 1º Mestre da Ordem de Cristo e ex-Mestre da Ordem de Avis.
[José Manuel Capêlo, As Sedes Templárias em Portugal, Castelo Branco, a Cidade-Capital Templária de Portugal: de 1215 a 1314, Codex Templi, Capítulo VII, pp. 160-161, notas 18 a 20.]

Notas do Autor:

(1). — Praticamente no final do seu reinado.
(2). — Alguns dos seus principais Lugar-tenentes, Comendadores e Priores, foram igualmente sepultados no lajeado das naves central e laterais.
(3). — Pelos anos de 1530-1540.

Até breve.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Templários em Portugal.

Templário em combate.

A Ordem do Templo tinha como bandeira a «balsa», bipartida de negro — terror e morte dos inimigos — e branco — fé e caridade para os cristãos; ao meio, a vermelho, a cruz doada por Pedro Bernardo (Eugénio III) e em volta, padrão de modéstia de tais homens, só ombreada pela sua fé e pela sua valentia, este salmo do rei David: «Não a nós Senhor, não a nós, mas ao Teu nome dá Glória!», que era também o seu grito de guerra.
Tais eram os cavaleiros que em 1126 estabeleceriam a sua cabeça em Braga e a quem, em 1147, D. Afonso Henriques doava os rendimentos eclesiásticos de Santarém
.
[Amorim Rosa, De Tomar, p. 20, 2ª edição, (fac-simile), Edição comemorativa do V centenário da morte do Infante D. Henrique e do VII centenário da cidade de Tomar, Tomar, 1991.]

Até breve.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Guerras e ginetes. (I)

O caso de cavaleiros modestos que vão servir as mesnadas de vários senhores castelhanos é mais frequente. É aí que muitas vezes encontram a morte. Assim aconteceu com Estevão Soares de Barbudo, morto em 1286 na lide de Alfaiates contra Sancho IV de Castela, ao serviço de João Nunes de Lara; com Fernão Fernandes Cogominho, que combatia nas tropas do mesmo senhor e que morreu em Chinchila, em 1290, em combate contra Estevão Rodrigues de Castro; com Gonçalo Anes de Lima, que perdeu a vida numa batalha contra os Mouros junto a Granada, em 1280; com Gonçalo Gonçalves Mourão e seus irmãos Lourenço e João, que pereceram também em combate contra os Mouros, mas em Tarifa, em 1292; com Gonçalo Martins de Nomães, que foi alferes do infante Henrique de Castela e o acompanhou à Lombardia, de onde não voltou depois da batalha de Benevento em 1266 ou da de Tagliacozzo em 1268; com Lopo Lopes Gato, que se ficou em Jerez de los Caballeros por altura da revolta mourisca de 1265; com Vasco Martins Pimentel que, em Córdova, foi vítima dos combates entre Afonso X e o infante D. Sancho. Mas nem todos deixavam os seus corpos nos campos de batalha, apesar de também prestarem serviços como cavaleiros, pois regressaram a Portugal, onde, por vezes, conseguiram algum sucesso, como aconteceu com João Simão de Urrô, que foi meirinho-mor de D. Dinis, depois de na sua juventude ter vivido em Castela ao serviço da família Lara; outros, enfim, chegaram a alcançar posições de grande prestígio, mas nem por isso abandonaram a vida militar, como Gonçalo Anes de Aguiar, o Velho, que tinha estado nas campanhas de Múrcia e Sevilha, e que acabou por morrer às mãos dos Mouros em Granada em 1280.
[José Mattoso, A nobreza medieval portuguesa no contexto peninsular, Naquele Tempo, Ensaios de História Medieval, Vol. 1, p. 332.]

Até breve.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Morte da rainha D. Dulce.

Rainha D. Dulce de Aragão (1154-1211)

Neste ano do Senhor de 1198 (1), no primeiro dia do mês de Setembro, faleceu a Sereníssima Rainha D. Dulce, mulher de el-rei D. Sancho [I]. Assim ficou em memória no livro dos óbitos de Santa Cruz de Coimbra, aonde foi enterrada. Era filha de D. Ramon Berenguer, conde de Barcelona, e de sua mulher D. Petronilha, rainha de Aragão, filha e herdeira de el-rei D. Ramiro, que chamaram o Monge e o havia sido.
(…) Nove filhos lhe contam nossos historiadores, entre varões e fêmeas.
[António Brandão, fr., Crónica de D. Sancho I e D. Afonso II, p. 36.]
Nota nossa:

(1). — A data do passamento da rainha está incorrecta. O ano em que morreu foi o de 1211 e não o de 1198. Ou o eminente historiador errou, o que acontece aos melhores, ou houve uma gralha tipográfica na impressão da data, que me parece o mais certo.

Até breve.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Divisões territoriais na Península Ibérica.

A divisão, em 1035, pelo rei Sancho III, o Grande, entre os seus filhos, do conjunto de territórios que tinha conseguido reunir, determina a evolução política futura da Península. Dos quatro principados que ele então constituiu, Navarra, Castela, Aragão e a união dos condados de Sobrarbe e Ribagorza, só estes últimos desapareceram, fundindo-se com a coroa de Aragão. O casamento de Raimundo Berenguer IV e de Petronilha consagrou em 1137 a união da Catalunha e de Aragão. Em 1140, porém, D. Afonso Henriques proclamou-se rei de Portugal e criou um reino à custa da coroa de Castela. No entanto, no decorrer do século XII, nada parecia definitivo e, enquanto se faziam uniões pela força das armas ou pelo casamento, davam-se divisões.
[Adeline Rucquoi, História Medieval da Península Ibérica, pp. 174-175.]

Até breve.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Espaço de fronteira. (I)

A apropriação dum espaço fronteiriço é legítima porque feita a fundamento, e por isso mesmo terra de ninguém, ainda que isso custasse a quebra dos equilíbrios militares preexistentes entre muçulmanos e cristãos. Resultava, contudo, na dilatação da fé cristã, o que constituía motivo suficiente para merecer o encómio dos monges e cónegos conimbricenses.
A fundação de Leiria significava a intromissão numa zona neutra, provocando o rompimento dum equilíbrio relativamente estável desde há mais de um século. As fontes cristãs apresentam-na mesmo como essencial para a defesa dos campos de Coimbra, demasiado frequentemente assediados, por essa época, pelas hostes almorávidas e sarracenas
.
[Saul António Gomes, Introdução à História do Castelo de Leiria, pp. 29-30.]

Até breve.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Comendas templárias.

(…) a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo contava aproximadamente com mil e quinhentas comendas no momento da sua supressão.
[José Carlos Sánchez Montero, Apogeu e Decadência, Prisão e Julgamento da Ordem do Templo, Codex Templi, p. 285.]

Até breve.

domingo, 17 de janeiro de 2010

A mesa medieval. (IV)

Os Portugueses do interior, sobretudo beirões e transmontanos, não precisavam todavia de recorrer à fava. Bastava-lhes a castanha dos castanheiros úberes que o solo e o clima favoreciam. Durante metade do ano comiam castanha em vez de pão. Não consta, porém, que o sucedâneo interessasse ao país todo. Restam escassos testemunhos de um comércio desenvolvido de castanha, das zonas do interior para os centros populosos do litoral e do sul.
Brócolos, alfaces, pepinos, rabanetes, rábanos, cogumelos, cenouras, nabos, espargos e outros produtos hortícolas consumiam-se da mesma forma no Portugal medievo.
Nas casas ricas, onde a culinária era requintada, as ervas de cheiro serviam de ingredientes indispensáveis à preparação das iguarias. Coentros, salsa e hortelã, ao lado de sumos vários (de limão e de agraço), de vinagre, de cebola e de pinhões, contribuíam para o bom tempero das vitualhas. Cebola e azeite entravam para o tradicional refogado.
(…) O cravo, o açafrão, a pimenta e o gengibre é que não seriam muito vulgares nas receitas da nossa Idade Média. Só com o estabelecimento de relações comerciais com o oriente se introduziram em Portugal vastas quantidades de especiarias, a preços relativamente módicos. Logo se passou a usar e a abusar do seu emprego na preparação da cozinha.
É verdade que ao longo dos séculos XII a XV se conheceram e aplicaram na comida diversas especiarias. Mercadores catalães e sevilhanos traziam-nas a Portugal, importadas do oriente. Na casa real, temos testemunhos do consumo de algumas drogas em quantidades apreciáveis, pelo menos desde os fins do século XIII. As contas da ucharia de D. Dinis, relativas aos anos de 1278-82, mostram a compra de açúcar, com as variedades açúcar rosado e açúcar de Alexandria. Era tão caro, que se avaliava em mais de cinquenta vezes o preço do mel! Compravam-se igualmente pimenta, gengibre e outras especiarias difíceis de identificar hoje. A pimenta devia ser relativamente frequente, embora cara. Surge mencionada na maioria dos forais dos séculos XII e XIII
.
[A. H. de Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa, pp.11-12.]

Até breve.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Razão deveras compreensível.

Castelo Branco, numa perspectiva de noroeste,
vista por Duarte d'Armas nos inícios do século XVI.

Não sei bem porquê — porque razão intrínseca e deveras misteriosa, só assim se compreendendo — Castelo Branco, isto é, os seus habitantes e principalmente os seus mandantes, sempre esqueceram a importância da sua urbe na história dos Templários em Portugal, já que foram exactamente estes que a fundaram, lhe deram o nome e a fizeram desenvolver desde início. Complexo? Mas de quê e porquê, já que outros lugares e regiões, tendo as honrarias mas não a verdade, se proclamam e vêem instituídos privilégios que não lhes cabe? Temor? De que estranha raiz — se é que na verdade existiu!... — é a sua proveniência, quando o então poder estabelecido — a Monarquia e a Igreja, cada um com a sua Inquisição, que não deixava de ser uma e a mesma — utilizaram a heresia e um fascinado e malévolo ocultismo contra a Ordem e todos os seus membros? Esquecimento? Será que ainda é preciso lembrar-lhe que a História é só uma e que a sua fundação é igualmente uma e bem determinada, pese-lhes o martírio de histórias e lendas que lhes fabricaram — e ainda vêem fabricando!... — para a origem do seu nome, criação, desenvolvimento e extinção? Concertada conveniência? Muito provavelmente nos princípios e nas formas de antigamente, já porque não só ela como uma possível e surda conivência teriam sido motivos — que já não importa mencionar, porque não têm absolutamente lugar nenhum —, já porque os tempos são definitivamente outros e se explicam sem complexos nem maneirismos, baseados em documentos probos e em evidências indiscutíveis. Há que termos a noção de que vale mais termos uma História, mesmo que mais violenta — sem nos devermos esquecer que, como Ordem militar, os seus membros combatentes, isto é, os seus monges-guerreiros, eram treinados no uso e prática de uma violência sem limites — que nos faça pensar, mas não nos macule, do que uma falsa história ornada de fantasias ou incríveis balelas apanhadas no pitoresco de uma [ou mais] versão [versões] de antropomorfismo arqueológico sem pés nem qualquer tipo de razão, quanto mais de cabeça, e uma outra de falso esoterismo-simbolismo e procurados mistérios em tesouros que nunca existiram e se procuram denodadamente encontrar — nesse ilusório ouro (1) jazendo em Gisors ou em Tomar —, quer como herdeiros de hipotéticos descendentes de Jesus Cristo e Maria Madalena. Há que se ter juízo e verdadeira noção da realidade para não se enfermar por caminhos ínvios e absolutamente inventados, como se está seguindo para conseguimento e venda de milhares e milhares de exemplares, criando best-sellers onde só a ficção e um bom poder de narrativa existem, ou mesmo, quando nada disso se procura.
[José Manuel Capêlo, As Sedes Templárias em Portugal, Castelo Branco, a Cidade-Capital Templária de Portugal: de 1215 a 1314, Codex Templi, Capítulo VII, pp. 159-160, nota 17.]

Nota do Autor:

(1). — Na verdade, todo o ouro e prata encontrados nos subterrâneos da sede da Ordem em Paris — e que era bastante! — foram mandados derreter por ordem de Felipe, o belo, para que se viessem a cunhar moedas, tão necessárias para os depauperados cofres reais. Uma lufada de ouro-moeda e prata-moeda varreu então, de nova riqueza, o território do frio, determinado e inabalável monarca francês.

Até breve.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Glossário

Para que haja um melhor conhecimento e enquadramento da época medieval que vimos apreendendo nestes pequenos quadros históricos, que apresentamos diariamente — salvo os raros dias de não publicação por motivos absolutamente alheios à nossa vontade —, achei que seria importante e oportuno, tanto quanto útil, inserir um glossário (1) amplo e diverso que nos possa elucidar melhor quanto ao que pretendemos fazer conhecer. Como já fizemos anteriormente, e em tempo espaçado, daremos nota desses mesmos termos.

Glossário:

abalienação: direito que havia, entre os Romanos, de transmitir terras e gados ou escravos aos que os podiam adquirir.
abaluartar: guarnecer de baluartes; fortificar.
abarreirar: cercar com barreiras; fortificar; acautelar.
abdominoso: barrigudo; pançudo; que tem o abdómen saliente.
alaboeiro [o m. q alavoeiro]: pastor que cuida dos rebanhos de ovelhas que dão leite [alavão].
albumina: substância viscosa, esbranquiçada, que coagula pela acção do calro e existente em grande quantidade na clara do ovo, no soro do sangue e, em geral, nos líquidos dos organismos animais e vegetais; nome genérico das proteínas solúveis nas águas.
pena de sangue: Era a condenação, multa ou coima, que se impunha àqueles que espancavam, feriam ou matavam alguma pessoa, ainda que sangue não corresse da ferida ou contusão. E também se estendiam aos que diziam palavras desonestas e injuriosas a seu próximo, com as quais lhe faziam vir o sangue às faces, ou como vulgarmente se diz, lhe faziam a cara vermelha.
Também se dizia daquela que se paga por morte de homem de propósito. Antigamente, eram 33 maravedis para o bispo.
pendenças: multas eclesiásticas, em que se comutavam as penitências, que se deviam pelas culpas.
pousadouro: lugar que ficava no fim ou termo de alguma subida, onde naturalmente descansa e depõe o seu peso ou carga ou caminhante ou jornaleiro. É usadíssima esta palavra já dantes do princípio da nossa monarquia.
Pedro Alvites

Nota:

(1) — Para uma consulta da bibliografia aqui inserida, dar-se-á uma relação num dos dias finais de cada ano.
Até breve.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

D. fr. Gomes Martins Silvestre.

Gomes Martins, o filho do rico mercador (1), foi contemporâneo de D. João Lourenço e, segundo supomos pela iconografia do seu túmulo, também cavaleiro templário.
A concluir pela magnífica estátua jazente e pela cena de falcoaria que ilustram o trabalho escultural da sua arca tumular, Gomes Martins foi cavaleiro fidalgo de Monsaraz e, estamos em crer, um dos mais notáveis falcoeiros portugueses do seu tempo
. (2)
[José Pires Gonçalves, Monsaraz da reconquista, Anais, Academia Portuguesa de História, Volume 25, p. 33.]

Notas nossas:

(1). — Seu pai foi o rico mercador Martim Silvestre, que no seu tempo passava por ser, e era, um dos mais ricos .
(2). — D. fr. Gomes Martins Silvestre jaz sepultado na igreja matriz de Santa Maria da Lagoa, em Monsaraz, num riquíssimo túmulo de mármore esculturado.

Até breve.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Ermida (heremitagium).

Ruínas da ermida de S. Ginés, em Noudar.

Santuário, hermitágio, capela ou casa de oração, fundado em lugar ermo e solitário, donde lhe veio o nome, e não por ser habitada por algum eremita ou ermitão.
[Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, fr., Elucidário, Vol. II (B-Z), ver, Hermitagio, p. 313.]

Até breve.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Expedição de Afonso IX de Leão e de Sancho II de Portugal além-Tejo. (I)

A exactamente contemporânea Crónica Latina dos Reis de Castela, redigida por um autor que conheceu bem os sucessos, dá-nos uma medida do tempo que decorreu entre a celebração do acordo leonês/português e a expedição dos dois reis ao além-Tejo: a propósito do «pacto firmado entre eles», diz ter ocorrido «multis deibus ante», «muitos dias antes» (1), o que apontaria para a primeira metade de 1226, ou, na melhor das hipóteses, para finais de 1225. Uma data consentânea com a cronologia das operações de Afonso IX, que, até aí incapaz de mobilizar o reino de Portugal para uma participação mais directa nas suas investidas meridionais, porventura por causa da trégua com os almohadas, teria chegado a conseguir finalmente um acerto no Inverno de 1226 para a Primavera seguinte.
[Hermenegildo Fernandes, D. Sancho II, pp. 138-139.]

Nota do Autor:

(1). — Chronica Latina, 1997, parág. 50, p. 95.


Até breve.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Doação do castelo Ceras.

Doação de D. Afonso Henriques aos Templários do [arruinado] castelo de Ceras, (1) com todos os seus termos, de direito hereditário. Nesta zona, duas a três léguas afastados para sul (2), virão a ser construídos o castelo e a [futura] urbe de Tomar (3), com vista à sua defesa e povoamento. (4)
(...) Tratou logo D. Afonso Henriques de dotar a nova catedral [de Lisboa], passando para o bispo as rendas eclesiásticas de Santarém, em troca de compensações aos Templários, aos quais primeiro haviam sido conferidas. (5)
[José Manuel Capêlo, As Sedes Templárias em Portugal, Castelo Branco, a Cidade-Capital Templária de Portugal: de 1215 a 1314, Codex Templi, Capítulo VII, pp. 177-178.]

Notas do Autor:

(1). — Alexandre Herculano chama-lhe Cera. Inclusa no mesmo termo, a povoação de Olalhas é doada à Ordem pelo rei português. [Tesouros Artísticos de Portugal, p. 421.]
(3). — Segundo nos refere Manuel Sílvio Alves Conde: O território do antigo termo de Tomar, cuja área total era de cerca de 40.000 hectares, encontrava-se situado entre as latitudes de 39° 45’ 40’’ e 39° 31’ 20’’. Os pontos extremos da longitude correspondiam a 8° 30’ e 8° 14’ W. [Tomar Medieval, p. 21.]
(4). — Com o domínio de Ceras-Tomar, a que se juntava, em 1169, o dos castelos de Cardiga e Zêzere, reforçados em 1171, pela construção do de Almourol, os cavaleiros do Templo passavam a deter importantes posições estratégicas na margem direita do Tejo. Controlavam os acessos a Coimbra, a partir do Sul, e a Santarém, a partir de Leste. [Manuel Sílvio Alves Conde, Tomar Medieval, p. 40.]
(5). — Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal, Vol. I, p. 93.

Nota nossa:

(2). — Ao contrário do que nos diz o autor, hoje pensamos, pelos dados ao nosso dispor, que o castelo de Ceras e o castelo de Tomar são um e o mesmo castelo. A tradição manteve-os como se fossem dois, mas pelas investigações que especialistas fizeram nos últimos vinte anos, pode-se concluir que o castelo de Ceras e o castelo de Tomar são um único: sendo este construído sobre as ruínas daquele.

Até breve.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Templários no Outremer. (I)

Templários em combate no Outremer.

Os Templários foram obrigados a agir dentro dessa teia complexa de alianças mutantes, a fim de desenvolver e consolidar o seu poder. Portanto, não é de surpreender que numa das primeiras acções registadas eles se tenham aliado ao imperador João de Constantinopla e às tropas do conde de Edessa contra os interesses do Reino de Jerusalém. Poder-se-ia argumentar, à luz das acusações posteriores de traição, que o tipo de idealismo inspirado por um homem como São Bernardo tinha necessariamente de ser modificado na turbulência e confusão da vida no Oriente.
[Edward Burman, Templários: os Cavaleiros de Deus, p. 60.]

Até breve.

sábado, 9 de janeiro de 2010

As origens modernas do romance. (I)

A palavra portuguesa «romance», no sentido que tomou no século XIX e conservou até hoje, é um galicismo semântico. Anteriormente, «romance» significava na Espanha estória em verso, rimada na língua vulgar. O falar românico do povo usado nessas estórias contrapunha-se ao falar latino dos clérigos. Mas esta palavra adquiriu em Portugal o sentido de narrativa de ficção em prosa, por influência do francês roman. O antigo significado não desapareceu. Só que passou a haver duas palavras homónimas. Para evitar equívocos designamos o romance rimado pela palavra «rimance» e reservamos a sua variante para a ficção em prosa, como já explicámos em obra anterior. Nos séculos XVI e XVII, o nome que se dava em português e castelhano às estórias em prosa de amor, aventuras e semelhantes era o de «novelas», nome de origem italiana. Este significado da palavra ainda hoje subsiste em castelhano.
[António José Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal, pp. 58-59.]

Até breve.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A luctuosa.

A luctuosa era a obrigação que os vassalos do rei tinham de deixar à Ordem do Templo, na hora da morte, o melhor cavalo que tivessem; caso não tivessem cavalos, os seus herdeiros pagariam 600 maravedis.
[Gonzalo Martínez Díez, Los templarios en los reinos de España, p. 391, Planeta, Barcelona, Espanha, 2001.]
[Tradução nossa, do original em castelhano.]

Até breve.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Regra. (III)

Magistra, a Regra contém os ensinamentos sobre o que cada professo regular deve à Ordem, aos Irmãos, e à Fraternidade, já que a Ordem se consolida numa fraternidade, numa fraternitas, onde cada professo é frade, frater, confrade de outros frades, irmãos e confrades e confreires. Como é um caminho, um mapa para guiar na Vida, a Regra ensina, transmite um magistério, e identifica o que se pode mas não se deve, o que nem pode nem se deve. E ensina como importa proceder em cada situação, mesmo que omita os pormenores casuísticos inerentes a situações insusceptíveis de serem preconizadas. A magistralidade da Regra é dogmática, porque a Regra se não discute. Aceita-se e cumpre-se, não há meio termo.
[Pinharanda Gomes, A Regra Primitiva dos Cavaleiros Templários, p. 7.]

Até breve.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Doações de padroados.

D. Dinis e a rainha Santa Isabel doam à Ordem do Templo o padroado das Igrejas de S. Mamede [de Mogadouro] e de Santa Maria [de Penas Róias], com todas as suas capelas e ermidas, bem como todos os seus direitos e pertenças. A escritura foi feita em Coimbra, a 25 de Maio de 1297.
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, p. 160.]

Até breve.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

D. fr. João Lourenço.

Outra figura de grande relevo na Monsaraz dos fins do século XIII e princípios do século XIV foi a do cavaleiro templário D. João Lourenço, João Lourenço, de Monsaraz, como ele é mais conhecido através dos pergaminhos do seu tempo.
Gozou, por certo, de grande prestígio na vida da Corte e era personalidade muito conceituada e respeitada — «de bom saber e de boa autoridade» foi Rui de Pina quem o disse — junto do próprio rei D. Dinis.
E de tanto saber e autoridade que o monarca não teve dúvidas em o escolher e enviar a Avinhão, como embaixador, para negociar,
in solidum, com o cónego de Coimbra, Pedro Peres, e por forma «que a condição de hum nam seja melhor que a do outro» como se especifica nos termos da carta que os acreditava junto do papa João XXII, a conversão da Ordem do Templo na nova Ordem portuguesa de Cristo, da qual ele próprio, João Lourenço, de Monsaraz, veio a ser o segundo Mestre e sucessor do donatário de Terena, D. Gil Martins, que o rei havia ido buscar ao mestrado de Avis para tomar nas mãos os destinos da nova casa dos cavaleiros de Castro Marim.
[José Pires Gonçalves, Monsaraz da reconquista, Anais, Academia Portuguesa de História, Volume 25, 1979, pp. 31-32.]

Até breve.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A cintura de defesa de Coimbra. (II)

O novo castelo [Leiria], dotado de habitantes e guarnição, foi confiado a D. Paio Guterres, referido como um militar corajoso («militem strenuum»), que seria pouco depois contemplado por doação do infante (1). O relevo que os anais cristãos dão à decisão do infante, registando, até, o dia em que a fundação ocorreu (a 10 de Dezembro), espelha bem a sua importância. De resto, as forças muçulmanas também o compreenderam, pois não tardaram a atacá-lo, conquistando-o e destruindo-o cinco anos depois (1140).
[Mário Jorge Barroca, Do vale do Mondego à reconquista definitiva de Lisboa (1147), Vol. 1, p. 41, Da Reconquista a D. Dinis, Nova História Militar de Portugal.]

Nota do Autor:

(1). — DR (Documentos Régios), 151.


Até breve.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Bens Templários. (II)

Alegando o prejuízo que com a sua incorporação na Ordem do Hospital sofreria a coroa e o reino, o nosso D. Dinis propôs à Santa Sé que com os bens dos Templários se fundasse uma milícia portuguesa à qual daria para sede a vila de Castro Marim, lugar forte e quase inexpugnável, situado ainda na fronteira dos sarracenos. Ao fim de sete anos de negociações, o papa João XXII acedeu aos desejos do monarca e pela bula Ad ea ex quibus, expedida de Avinhão, a 14 de Março de 1319, instituiu a Ordem de Cristo, à qual aplicou tudo o que em Portugal pertencia aos Templários. D. Dinis aceitou a bula, por diploma de 5 de Maio do mesmo ano. À nova milícia foi dada a regra de Calatrava e assinada por casa principal a de Castro Marim. Diz-se que passaram para ela muitos dos Templários portugueses. A eleição dos mestres, à excepção do primeiro, D. fr. Gil Martins, nomeado pelo papa, pertencia aos próprios freires; ficou visitador e reformador da Ordem o Dom Abade de Alcobaça. Pelo ano de 1356, a sede da Ordem mudou-se de Castro Marim para Tomar, onde depois se conservou.
[Miguel de Oliveira, pe., História Eclesiástica de Portugal, pp. 110-111.]

Até breve.

sábado, 2 de janeiro de 2010

O castelo de Salvaterra do Extremo.

Castelo de Salvaterra do Extremo,
segundo Duarte d'Armas.

O castelo de Salvaterra do Extremo faz parte, com Penha Garcia, de um grupo de castelos erigidos para vigilância do Erges e tinha como opositor directo, edificado para o mesmo fim, o castelo de Penafiel, em Castela.
A planta representa um castelo constituído pela residência do alcaide, com a forma quadrada, num dos lados da qual se implantou a torre de menagem, também ela de forma quadrangular. Devido à circunstância de se localizar num outeiro, bem diferente das fragas do de Penha Garcia ou dos penhascos do de Monsanto, a residência foi cercada por uma larga cerca circular, formato muito raro nos castelos portugueses, desprovido de qualquer torreão de defesa, que criou em redor do edifício um vasto terreiro, em círculo
.
[António Lopes Pires Nunes, Os castelos Templários da Beira Baixa, p. 84.]

Até breve.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

A mesa medieval. (III)

Refeição na Idade Média.

Ao lado do peixe fresco, a Idade Média fez grande uso de peixe seco salgado e defumado. No norte da Europa, o tráfico de arenque salgado e fumado ocupou muitos barcos e movimentou grandes capitais. Se, em Portugal, a riqueza piscatória e o reduzido, «hinterland» justificavam menos o consumo do peixe não fresco, seria não obstante errado julgar da sua não inexistência. Na falta de frigoríficos e com um clima pouco frio, o recurso à secagem pelo sol facilitava o transporte do peixe a distância e a possibilidade de armazenagem por períodos longos. É assim que um recibo passado por D. Afonso III aos seus uchões, em 1279, nos dá a conhecer a entrada na régia ucharia, entre 1257 e 1270, de 7687 pescadas secas (640 dúzias ew mais 7), 317 congros secos (26 dúzias e mais 5), 2658 postas (talhos) de baleia e 1656 lampreias secas; tudo resultado de serviços e colheitas de povoações piscatórias. Em Lisboa defumava-se sardinha para exportar para Sevilha ou Aragão, nos fins dos séculos XIV. Também para Castela se remetiam pescadas secas. E sabemos da importação de peixe seco proveniente do norte da Alemanha.
Não eram especialmente apreciadas as hortaliças e os legumes, pelo menos entre as classes superiores. O povo, esse fazia basto uso das couves (couve comum, couve-flor, couve murciana, couve tronchuda) e não menos de feijões e favas, amplamente difundidos no mundo islâmico, que duns e doutros consumia diversas variedades. As favas, assim como as ervilhas, as lentilhas, o grão-de-bico e os chícharos, tinham igualmente significado como sucedâneos ou complementos do pão. Quando escasseavam os cereais no Reino, o que passou a ser relativamente frequente a partir dos meados do século XIV, importavam-se muitas vezes favas do estrangeiro para ocorrer à penúria. Os navios bretões demandavam então o Tejo com carregamentos de favas e de outros legumes que iam carregar a portos franceses ou ingleses. Moída para fabrico de farinha, ou simplesmente cozinhada, a fava chegava para manter a fome até ao regresso das boas colheitas
.
[A. H. de Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa, pp. 10-11]

Até breve.