quarta-feira, 18 de março de 2009

Circunstâncias de Cruzada. (II)

Durante a Quaresma de 1189 uma armada de cinquenta a sessenta velas partira do mar do Norte em demanda da palestina. Transportava dez ou doze mil homens da Frísia e da Dinamarca, e entre os seus chefes contava-se um sobrinho de Knud, rei deste último país. Com ventos propícios os cruzados chegaram dentro de poucos dias às costas da Galiza e, aportando, provavelmente, na ria de Noia, dirigiram-se por terra a Compostela, segundo era uso, para visitarem o templo de Santiago, um dos mais célebres lugares de devoção e romagem de toda a Europa. O seu número, o serem gentes em grande parte vindas das regiões setentrionais e cuja presença as recentes devastações dos normandos deviam tornar suspeitosa explicariam o sucesso que então ocorreu. Fosse, porém, estas ou outras as causas dele, é certo que se espalhou a nova de que os peregrinos intentavam roubar a cabeça do apóstolo, cujos restos mortais, conforme a antiga crença, ali se guardavam. Repelidos pelos habitantes daqueles distritos, foram obrigados a embarcar de novo com alguma perda e, seguindo a intentada viagem, vieram buscar abrigo, entrando no Tejo (1). Votados a combater com infiéis, fácil seria ao rei de Portugal fazê-los concorrer para a execução dos seus desígnios. Estava prestes uma armada portuguesa: partiu com a dos cruzados, e, velejando juntas para o sul, dirigiram-se às costas do moderno Algarve (2).
[Alexandre Herculano, História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo II, Livro III, pp. 42-43.]

Notas do Autor:

(1). — Godofredo, Anales, apud Freher., Rer. Germ. Scriptor, T. 1, p. 351; «Crónica Turonense», apud Martene, Ampliss. Collect., Vol. 5, pp. 1031 e 1032; Reinério, Continuat. Lamberti Parvi, ibid., p. 14, e a nota V no fim do volume.

(2). — De Itinere Navali, etc., p. 11 (edição de Lisboa, 1844 [FMHP 160-161]).
Até breve.

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