domingo, 1 de março de 2009

Ordens hierosolimitanas no reino de Portugal.

Figuração de Cavaleiros das várias Ordens Militares que existiram em Portugal.

Além das Ordens hierosolimitanas do Templo, do Hospital e do Sepulcro, que já existiam amplamente dotadas desde o reinado antecedente e cujos primeiros vestígios remontam ainda à época de D. Teresa, alguns membros da Ordem castelhana de Calatrava tinham entrado em Portugal pelos anos de 1166 e vindo, segundo parece, fazer o seu primeiro assento em Évora, então conquistada, tomando depois promiscuamente o nome de freires de Évora e de freires de Calatrava (a). Uma nova Ordem fora entretanto fundada em Leão por Fernando II; a de Cáceres, Uclés ou Santiago. Apesar da superioridade dos templários, superioridade que traduz do complexo dos documentos relativos às diversas corporações monástico-militares, e apesar de Afonso I haver de antemão doado ao Templo a terça parte de tudo o que se fosse conquistando além do Tejo, Sancho I julgou oportuno entregar aos freires de Cáceres os castelos de Alcácer, Palmela, Almada e o da vila de Arruda, vila cujo senhorio tinham desde 1172, se a doação que dele fora feita por Afonso I chegou a realizar-se. Ao mesmo tempo, mandou ocupar por cavaleiros de Calatrava o de Alcanede e a vila de Alpedriz, na moderna Estremadura, e lhe assegurou o domínio da fortaleza de Juromenha, logo que fosse conquistada aos sarracenos que então a senhoreavam (1) (b).

Nota do Autor:

(1). — O que dizemos aqui acerca das Ordens militares será tratado em lugar oportuno com a extensão conveniente e à vista dos documentos. As doações à Ordem de Santiago ou dos espatários e à de Calatrava acham-se no Arquivo Nacional, maço 12 de Forais Antigos, n.º 3, fs. 60v e 62 [DR II, 14, 65] e, além disso, as feitas à de Santiago num extenso rolo (Gav. 5, Maços n. ºs 14 a 46), espécie de cartulário do século XIII em que vêm transcritos os títulos mais antigos da Ordem. Entre eles é o primeiro na data este a que nos referimos, circunstância que nos assinala a época de fixação definitiva dos espatários em Portugal; porque a doação da Arruda (Maço 12 de Forais Antigos, n.º 3, f. 76) feita por Afonso I [DR 311] um ou dois anos apenas depois da fundação da Ordem, posto que genuína, é o único vestígio indubitável da anterior existência de freires de Santiago neste país, se é que vieram estabelecer domicílio, pois que o silêncio que a tal respeito guarda a doação de Sancho I faz suspeitar que essoutra não se efectuara. Quanto à doação de Juromenha aos freires de Évora, vê-se que era uma simples promessa; porque aí se diz ser feita «de illo castello quod vocatur Alcanede et de illa villa que vocatur Alpedriz e de illo alio quod vocatur Jurismenia, si mihi eum Deus dederit».

Notas críticas ao Livro III, por José Mattoso (ob. cit., notas 9 e 10, p. 176):

(a). — A Ordem Militar de Évora, ao contrário do que aqui diz Herculano, é uma fundação portuguesa que só depois se veio a filiar na de Calatrava. As suas origens estão hoje suficientemente esclarecidas: R. de Azevedo, «Primórdios da Ordem Militar de Évora», in Boletim Cultural da Junta Distrital de Évora, 8 (1967), 43-62, que pormenoriza e confirma em boa parte o trabalho de M. de Oliveira, «A Milícia de Évora e as Ordem de Calatrava», in LS 1 (1956). Para outros pormenores, ver os trabalhos mais antigos de C. da Silva Tarouca, «As Origens da Ordem dos Cavaleiros de Évora (Avis), segundo as Cartas do Arquivo do Cabido da Sé de Évora», in A Cidade de Évora, 5 (1947), 25-39; Aurea Javierre Mur, «La Orden de Calatrava en Portugal», in Boletin de la Real Academia de la Historia, 130 (1952), 323-376.

(b). — Sobre as Origens de Santiago, há dois excelentes trabalhos recentes: Derek W. Lomax, la Orden de Santiago (1170-1275) (Madrid, 1965); J. L. Martín, Orígenes de la Orden Militar de Santiago (1170-1195) (Barcelona, 1974). Para as suas origens em Portugal, ver: A. Javierre Mur, «Documentos para el estúdio de la Orden de Santiago en Portugal en la Edad Media», in BA 15-16 (1964), 409-428; J. L. Martín, «La monarquia portuguesa y la Orden de Santiago (1170-1195)», in AEM, 8 (1972-1973), 463-466.

[Alexandre Herculano, História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo II, Livro III, pp. 28-29.]

Até breve.

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