segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Autores e Obras citados de 1.Agosto.2009 a 30.Agosto.2009.

Monge escrivão.

(a Autores e a Obras anteriormente referenciados, apenas se lhes citam os nomes e respectivos títulos.)

Adeline Rucquoi, História Medieval da Península Ibérica;
Alexandre Herculano, História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo I, Livro I;
António Brandão, fr., Crónica de D. Sancho I e D. Afonso II;
António José Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal;
António Lopes Pires Nunes, Os castelos Templários da Beira Baixa;
Carlos de Ayala Martínez, Órdenes militares peninsulares y cruzada hispânica, Una aproximacíon historiográfica;
Edward Burman, Templários: os Cavaleiros de Deus;
J. Riley-Smith, The Knights of St. John in Jerusalem and Cyprus c. 1050-1310, Macmillan, Londres, 1967;
José Augusto de Oliveira, O Cerco de Lisboa em 1147;
José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal;
José Mattoso, A nobreza medieval portuguesa no contexto peninsular, Naquele Tempo, Ensaios de História Medieval, Vol. 1, Círculo de Leitores, Lisboa, 2000;
José Pires Gonçalves, Alguns aspectos das campanhas de Giraldo Sem Pavor na região do Guadiana, Anais, Academia Portuguesa de História, Volume 26, T. I;
Leontina Ventura, Introdução, D. Afonso III;
Maria Sofia Marques Condessa, A memória das cidades dos séculos XII a XIV, nas crónicas de Rui de Pina e Duarte Galvão, Patrimonia Historica, Cascais, 2001;
Mário Jorge Barroca, Do vale do Mondego à reconquista definitiva de Lisboa (1147), Vol. 1, Da Reconquista a D. Dinis, Nova História Militar de Portugal;
Miguel Casiri, Bibliotheca Arabico-Hispana Escurialensis, Vol. 2 (2 vols., Madrid, 1760–1770);
Nuno Villamariz Oliveira, Castelos da Ordem do Templo em Portugal, 1120-1314, Vol. I;
P. M. Laranjo Coelho, As Ordens de Cavalaria no Alto Alentejo, O Archeologo Português, vol. 26 [1923/24];
Pinharanda Gomes, A Regra Primitiva dos Cavaleiros Templários, Hugin, Lisboa, 1999;
Saul António Gomes, Introdução à História do castelo de Leiria;
Stephen Howarth, Os Cavaleiros Templários;
Thomas Rymer, Foedera, Vol. 1 [de 15 vols (1704-1713)], P. 1, Londres, 1816;
Pedro Alvites.

Outros:
ADA (Annales Domni Alfonsi Portugallensis Regis) 153;
Annales Portucalenses Veteres;
Chronica Gothorum;
Monarquia Lusitana, P. 3, L. 10, c. 3
retirado da net, http://www.guiadacidade.pt/portugal/index.php?G=monumentos.

domingo, 30 de agosto de 2009

Matança dos monges de Cister em 1195. (I)

Um exército dos árabes entrou em Portugal e, passando o rio Tejo, se estendeu pela comarca de Santarém, fazendo grandes males. Chegou à vila de Alcobaça, distante de Santarém oito léguas e do Mar Oceano quase duas, aonde lhe fizeram os nossos resistência, mas não resultou dela mais que ficarem os cristãos desbaratados e os monges de Cister daquele insigne mosteiro passados a cutelo. Não fazem menção nossos autores deste caso. Mas refere-o Rogério de Hoveden com estas palavras:
Entretanto os pagãos, destruindo a terra de D. Sancho, rei de Portugal, chegaram à Abadia de Alcobaça e mataram os monges de Cister, que serviam a Deus naquela casa e se puseram em defensa. Isto diz aquele autor e, posto que não declare se foi esta resistência em algum recontro que o abade de Alcobaça poderia ter com os mouros, com a gente de suas terras, se foi no próprio mosteiro ou no castelo da vila, que já então era fundado (…), não há dúvida que a matança dos nossos seria grande, pois como coisa notável faz memória dela esse autor estrangeiro.
[António Brandão, fr., Crónica de D. Sancho I e D. Afonso II, p. 60.]

Até breve.

sábado, 29 de agosto de 2009

Rui de Pina. (I)

Rui de Pina e Duarte Galvão não deixaram, no entanto, de veicular nas suas crónicas dos monarcas da dinastia de Borgonha um olhar condicionado pelo favor e pelo interesse da realeza, a quem serviram e por quem foram protegidos. O primeiro, originário da cidade da Guarda e pertencente a uma família da pequena nobreza que contara com vários membros ao serviço da coroa, desempenhou várias funções administrativas e diplomáticas na casa e na corte de D. João II, antes de se dedicar à escrita da história dos reis de Portugal e, em 1497, ter sido nomeado, pelo monarca D. Manuel I, cronista-mor do reino e guarda-mor da Torre do Tombo, enquanto o seu irmão, Fernão Pina, pela mesma época, levava a cabo no arquivo régio a chamada “Retoma dos Forais”. Tendo iniciado um projecto de selecção e cópia dos antigos documentos da chancelaria, da qual resultou o começo da composição dos códices designados da “Leitura Nova”, Rui de Pina teve então acesso, para além dos textos redigidos pelos anteriores cronistas oficiais, ao conhecimento e à consulta da vasta documentação existente no arquivo da coroa, utilizando-a e reproduzindo-a sobretudo na feitura das crónicas dos monarcas D. Duarte, D. Afonso V e D. João II, de acordo com um labor historiográfico de onde resultaram várias mercês e recompensas régias (1).
[Maria Sofia Marques Condessa, A memória das cidades dos séculos XII a XIV, nas crónicas de Rui de Pina e Duarte Galvão, p. 18, Patrimonia Historica, Cascais, 2001.]

Nota da autora:

(1). — Nascido cerca de 1440, Rui de Pina ingressou muito jovem na casa de D. João II, ainda em vida de D. Afonso V, nela exercendo funções de escrivão e de notário. Com a subida ao trono do seu senhor, em 1481, foram-lhe confiadas missões diplomáticas a Castela e a Roma, depressa se tornando num importante privado do monarca de quem abrirá e lerá o respectivo testamento em 1494. Tendo, entretanto, desde 1490, começado um labor de cronista que será reconhecido, em 1497, com a nomeação, pelo rei D. Manuel I, para o cargo de cronista-mor do reino e guarda-mor da Torre do Tombo, neles acabará por ser sucedido, à sua morte, em 1528, por um dos filhos, Fernão Pina. [Ibidem, nota 31.]

Até breve.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

D. fr. Raimundo Bernardo.

Qual fosse o primeiro Mestre que esteve à frente dos templários portugueses, não está inteiramente elucidado mas, seguindo as melhores fontes, o primeiro indivíduo que se conhece, que tenha tido um papel importante, é Raimundo Bernardo (1), francês ou catalão, que em Braga aceitou a domínio de Soure.
[Vieira Guimarães, A Ordem de Cristo, p. 8.]

Nota nossa:

(1). — Antes de D. fr. Raimundo Bernardo se tornar Mestre, aliás, o 2º da Ordem em Portugal, já D. fr. Guilherme Ricardo o tinha sido. Para um melhor conhecimento deste assunto, cf. José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, pp. 57-59 e 200.

Até breve.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A ideia de Cruzada na Península Ibérica. (IV)

Mas pensemos, igualmente, e em segundo lugar, nas Ordens Militares como bandeira de assomo — autêntico chamariz — capaz de mobilizar para o campo de batalha importantes recursos humanos. Nas décadas centrais do século XIII os papas preocuparam-se em fazer recordar a todos os fiéis que combater junto aos monges e debaixo das duas bandeiras em qualquer iniciativa bélica, supunha assumir, como realidade espiritual, a desejável função de Cruzados. (1)
[Carlos de Ayala Martínez, Órdenes militares peninsulares y cruzada hispânica, Una aproximacíon historiográfica, pp. 83-84 e nota 45.]

Nota do Autor:

(1). — De facto, desde 1220 Honório III tornava extensiva a indulgência próprio do voto de um cruzado a quem combatesse com os monges de Calatrava nos seus castelos fronteiriços. Privilégios papaias posteriores identificavam como autêntico cruzado a todo aquele que combatesse e morresse sob o estandarte dos monges calatravos. Conhecemos bulas pontifícias concedidas, neste mesmo sentido, a favor dos de Alcântara (1238), Calatrava (1240) e Santiago (1250).

(Tradução nossa.)

Até breve.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Banqueiros.

Navio medieval de transporte de Cruzados,
uma das fontes de riqueza da Ordem do Templo.

A Ordem exerce paralelamente, tanto no Oriente como no Ocidente, para além das suas habituais funções religiosas e guerreiras, uma outra: a de banca. Os empréstimos eram não só concedidos a reis, a parte de uma nobreza poderosa e competitiva, como a uma burguesia que começava a mostrar-se, e a posicionar-se no reino, ainda que timidamente. Uma outra nobreza, paralelamente — por enquanto não tão poderosa e sustentada, mas a tornar-se já capaz, por si própria — numa intentada doação de terras à Ordem, procurava a sua filiação nesta. Por vezes, conseguia-o. As razões eram fortes, até porque o poder do dinheiro ou das doações criara e sustentara as diferenças. Exactamente por isso, tanto de dinheiro emprestado quanto de filiação recusada, nasceram rancores e ódios ocultos. A teia tecida por algumas aranhas iria provocar uma outra bem maior, na sua plena e mais perfeita forma, precisamente dentro de um século.
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, p. 104.]

Até breve.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Alcácer.

Residência senhorial da alcáçova, correspondente à alcaidaria do castelo cristão, normalmente situada no pátio principal da alcáçova, a um nível superior ao do albacar.
[António Lopes Pires Nunes, Dicionário de Arquitectura Militar, p. 32.]

Até breve.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Conquista de Toledo.

Quando, em 25 Maio de 1085, Afonso VI de Leão e Castela entrou em Toledo, o impacte deste acontecimento foi mais simbólico do que decisivo no domínio militar. Toledo estava então longe de ter a importância demográfica, estratégica ou cultural das cidades meridionais, embora, capital de um vasto reino de taifa que correspondia à antiga Marca Média, controlasse a fronteira setentrional do Al-Andalus. Para os cristãos, no entanto, Toledo desempenhava um papel altamente emblemático, pois era a capital do antigo reino visigodo de cujo nome se valiam, para legitimar o poder, os soberanos que, uma vintena de anos antes, tinham obtido do emir de Sevilha os restos do grande santo visigodo Isidoro, para os transferir para Leão, sua capital.
[Adeline Rucquoi, História Medieval da Península Ibérica, p. 167.]
Até breve.

domingo, 23 de agosto de 2009

Doação do eclesiástico de Leiria a Santa Cruz de Coimbra. (II)

O problema não se pode posicionar em termos de sobreposições de poderes jurisdicionais ou de autoridades, mas antes no facto de se estabelecerem áreas coutadas para o exercício de um múnus e recolha dos direitos e regalias daí resultantes. Assim aconteceu com Leiria. As oposições entre Santa Cruz de Coimbra e o Ordinário diocesano processaram-se num plano distinto da questão civil do povoamento de Leiria. Este tinha um contexto histórico, aferido nos diplomas disponíveis para a análise do investigador, não sendo um caso isolado ou sequer único. Há que inseri-lo num todo regional que era a fronteira do condado conimbricense com os territórios dominados pelos Muçulmanos.
[Saul António Gomes, Introdução à História do Castelo de Leiria, p. 26.]
Até breve.

sábado, 22 de agosto de 2009

Glossário

Para que haja um melhor conhecimento e enquadramento da época medieval que vimos apreendendo nestes pequenos quadros históricos, que apresentamos diariamente, salvo os raros dias de não publicação por motivos absolutamente alheios à nossa vontade, achei que seria importante e oportuno, tanto quanto útil, inserir um glossário (1) amplo e diverso que nos possa elucidar melhor quanto ao que pretendemos fazer conhecer. A partir de hoje, e espaçadamente, daremos nota desses mesmos termos.


Glossário:

adarve: passeio estreito ao longo das muralhas de um castelo; caminho de ronda.
agareno: descendente de Agar; árabe. Nome porque eram conhecidos os árabes na Península Ibérica, para os diferençar dos magrebinos ou mouros.
alambre: pessoa muito esperta.
alão: cão de fila corpulento; pedra grande de lousa com que se encimam as paredes de pedra miúda para que esta se não solte.
albarda: sela grosseira cheia de palha, própria para b estas de carga, como machos ou burros. Casaco grosseiro.
búzio: pequena trombeta feita com as conchas daqueles gastrópodes, em que os pastores ou guardadores de gado tocavam para, dessa forma, fazer reunir os animais à sua guarda.
Castelo Branco de Moncarchino: nome porque era conhecida a urbe de Castelo Branco antes do Mestre templário, D. fr. Pedro Alvites, lhe ter dado o nome que actualmente tem e que não é mais do que a evidente coincidência de nomenclaturas — como denomina Nuno Villamariz Oliveira, no seu magnífico trabalho Castelos da Ordem do Templo em Portugal — entre Castelo Branco e Chastel Blanc, uma das principais fortificações erguidas pela Ordem do Templo no então condado de Tripoli, na actual Síria [Vol. I, p. 278, Lisboa, 2000 (edição policopiada)].
coima: pena aplicada ao delito, multa.
devesa: grande extensão de terreno baldio, limpo e batido.
dinheiro: moeda equivalente, no geral, a 1/12 do soldo.
fanega [o m. q. fanga.]: medida para cereais, de quatro alqueires.
galga: mó de eixo horizontal, nos lagares de azeite e moinhos.
honrar: tornar a terra honrada, isto é, imune, privilegiada.
infanção: nobre de categoria superior ao cavaleiro, mas inferior ao rico-homem.
juiz: autoridade judicial máxima dentro do concelho.
levada [o m. q. açude.]: corrente ou queda de água de água procedente de um rio, que vai dando movimento à mó do moinho.
mongal ou mangual: instrumento de malhar e debulhar os cereais que se compõe de dois paus, um dos quais está ligado ao outro por uma correia. Segundo algumas opiniões teriam sido os Suevos os que introduziram o mangual e as malhas como método de debulha.
omízio: homicídio.
pegulhal: direito de apascentar um certo número de ovelhas suas com as do seu senhor.
pousada: o mesmo que aposentadoria; obrigação dos vizinhos de acolherem em suas casas, gratuitamente, pessoas estranhas ao concelho.
quebrada: ladeira, declive, depressão com saliências em terreno montanhoso.
ripo: espécie de dente ou gadanho, com um pequeno cabo para soltar as azeitonas dos ramos [ripar].
raussata: “mulher raussata”, mulher raptada, violada.
soldo: moeda de prata; 20 soldos correspondiam, em geral, a 1 morabitino.
terra gallega [ou gualega]: a que não era de campo fértil e rendoso, mas sim de charneca, delgada e não muito rendosa.
taleigo: designação dada às quantidades de sacas cheias de trigo ou farinha, consoante eram transportadas antes ou depois da maogem do cereal.
vizinho: morador e contribuinte do concelho, detentor da plenitude dos direitos e deveres foraleiros.

Pedro Alvites


Nota:

(1) — Para uma consulta da bibliografia aqui inserida, dar-se-á uma relação num dos dias finais de cada ano.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Desenho do mapa de Portugal no início deste como reino.

Uma das primeiras constatações que podem ser feitas na análise do mapa de Portugal durante o comando de D. Afonso Henriques é que este reino embrionário não tinha uma correspondência directa com a geografia política que esse território teve durante as épocas romana e tardo-romana. A principal diferença reside nas áreas a sul, pertencentes, inicialmente, na sua maior parte, à Ordem do Templo, por doações do monarca e a ulteriores extensões no Baixo Alentejo e Algarve, terras que vieram a ser controladas maioritariamente por outras milícias. Esta configuração numa franja territorial norte-sul, ao longo da costa, lembra a disposição geográfica dos reinos latinos do Oriente. As Ordens militares nacionais, como a de São Julião do Pereiro, mais tarde inserida na Ordem de Alcântara, a de Avis, submetida à regra de Calatrava, e peninsulares, como a de Santiago, disputaram os novos espaços conquistados. A outra milícia internacional, a do Hospital, só se irá firmar decisivamente como corpo guerreiro em finais do século XII.
[Nuno Villamariz Oliveira, Castelos da Ordem do Templo em Portugal, 1120-1314, Vol. I, pp. 147-148.]
Até breve.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Comenda do Torrão. (I)

Em Elvas tiveram os Templários grossas rendas e mercês como galardão dos actos de bravura que cometeram na luta contra os mouros, especialmente na célebre empresa da tomada da porta de ferro que, em comemoração do dia em que teve lugar, se passou depois a chamar porta de S. Pedro. Aí edificaram uma ermida com a invocação de Santa Maria Madalena, e mais tarde dois grandes aposentamentos de casas que serviram de sede da primeira comenda da Ordem. Quando foram extintos os Templários no ano de 1311 e se deram os seus bens à nova Ordem de Cristo foi instituída a comenda chamada do Torrão, não só uma das mais importantes e ricas do Alentejo como também da Ordem, a julgar pelos avultados haveres que possuía.
[P. M. Laranjo Coelho, As Ordens de Cavalaria no Alto Alentejo, O Archeologo Português, vol. 26 (1923/24), pp. 245-246.]
Até breve.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Torneio ou bafordo da veiga de Valdevez.

Torneio medieval.

Entre os dois exércitos a veiga do Vez oferecia-se como uma vasta estacada, onde os barões e cavaleiros de Leão e Portugal podiam encontrar-se corpo a corpo, sem a desordem e confusão de uma batalha, e experimentarem qual das duas províncias da Espanha gerava braços mais robustos, ânimos mais feros. Foi um largo torneio em que a vitória coube aos valentes homens de guerra do infante. Fernando Furtado, irmão do imperador, Vermudo Peres, cunhado de Afonso Henriques, o conde Ponce de Cabrera e muitos outros dos mais notáveis fidalgos da corte do imperador, derribados pelas lanças dos portugueses, ficaram prisioneiros, segundo as leis da cavalaria. A memória do facto perpetuou-se aí no nome de Jogo do Bufurdio ou Boforda (1), que se pôs ao lugar do torneio, o qual, depois, a tradição popular, engrandecendo o sucesso, segundo é costume, denominou Veiga da Matança, bem que a história não nos diga que morresse no combate um só dos nobres contendores (2).
[Alexandre Herculano, História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo I, Livro I, p. 441.]

Nota do Autor:

(1). — Bufurdium («baforda» ou «boforda», e daí «bafordar» ou «bofordar», Elucidário, P. 1, p. 168) significava conjuntamente o que depois veio a distinguir-se com os nomes de torneio e de justa: isto é, jogos militares com armas verdadeiras e em que corria o sangue, e jogos com armas emboladas e de puro divertimento. Veja-se DuCange, verbete «Bohordium». Os ingleses chamavam-lhe buhurdicium (Rymer, Foedera, Londres, 1816, Vol. 1, P. 1, p. 213.). [Id., p. 441, parte da nota 56.]

Nota nossa:

(2). — Estes acontecimentos passaram-se entre os fins de 1139 até à Primavera de 1140, aliás, como o refere o próprio Herculano.


Até breve.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Preparação para a conquista de Lisboa, em 1147. (I)

Se os meses de Abril e Maio desse ano os gastou D. Afonso [Henriques] a preparar o exército, de certo não contaria então com o auxílio da armada dos cruzados, a não ser que queiramos atribuir ao fero batalhador medieval o santo privilégio de unir na visão do presente os factos contingentes dum futuro distante. Mas não é preciso cingir a fronte do bravo guerreiro de tantas batalhas, com a auréola da santidade a que Deus revela os arcanos impenetráveis da Providência: para a glória e imortalidade do Homem que foi o açoite dos Mouros, é suficiente o brilho fulgurante da sua espada vitoriosa e a memória da sua longa vida toda consagrada a dar a um povo ansioso de independência os limites duma pátria autónoma onde pudesse livremente dirigir-se e preparar os seus destinos.
[José Augusto de Oliveira, O Cerco de Lisboa em 1147, p. 45.]
Até breve.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Batalha de S. Mamede no «Campo de Ataca», próximo de Guimarães.

A nobreza de Entre Douro e Minho, que se afastara progressivamente da corte condal, deve ter estado nessa ocasião ao lado do infante. E a 24 de Junho de 1128 voltou a apoiá-lo na Batalha de São Mamede, quando defrontou o exército de D. Teresa e do conde Fernão Peres de Trava. A batalha ter-se-á travado a nordeste do castelo de Guimarães, no «Campo de Ataca», junto a São Mamede e São Torcato. (…) D. Teresa viu-se obrigada a partir para o exílio, na Galiza, Fernão Peres de Trava abandonou Portugal, e D. Afonso Henriques passou a orientar os destinos do condado. Era previsível uma reacção de Afonso VII à revolta do príncipe e dos nobres portucalenses, mas vários motivos internos levaram o monarca a protelá-la. Dois anos e meio depois, a 1 de Novembro de 1130, D. Teresa falecia no exílio.
[Mário Jorge Barroca, Do vale do Mondego à reconquista definitiva de Lisboa (1147), Vol. 1, p. 38, Da Reconquista a D. Dinis, Nova História Militar de Portugal.]
Até breve.

domingo, 16 de agosto de 2009

Final do diferendo entre Templários e bispo de Lisboa.

Em 1159, acaba com o diferendo existente entre os templários e o bispo de Lisboa, D. Gilberto (1) — até aí mantido, porque nenhuma das partes queria ceder e o rei nunca procurou participar — devido ao interesse e pretensão do prelado pelo eclesiástico de Santarém. (2) Este fora doado por D. Afonso Henriques à Ordem do Templo, após a conquista desta cidade, e, consequentemente, anterior à nomeação do bispo, como se viu. D. fr. Gualdim Pais insatisfeito com esta situação, efectuou, assim e sem mais demoras, uma concordata entre as duas partes, onde o beneplácito régio se verificou. Ficou estabelecido que o rei doaria aos templários toda a região de Ceras [1159], dela ficando senhores, não só no seu aspecto eclesiástico quanto no temporal, bem assim como a igreja de Santiago, em Santarém. O restante eclesiástico ficaria a pertencer ao bispado de Lisboa, como tanto o desejava D. Gilberto, nas sempre pretendidas e provocadas reclamações.
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, p. 79.]

Notas do Autor:

(1). — Gilberto (de Hastings), monge de origem inglesa, é nomeado bispo de Lisboa [1148], pelo rei português, depois de ter participado, como cruzado, na conquista desta cidade. Em 1151, foi a Inglaterra pregar a guerra santa contra os muçulmanos da Península, e conseguiu trazer uma esquadra, com o auxílio da qual foi Alcácer [do Sal] investida, sendo repelidos os assaltantes. [Manuel Pinheiro Chagas, História de Portugal, Vol. I, p. 32.]
(2). — Só em Fevereiro de 1166, isto é, vinte anos depois, é assinada, depois de aprovada primeiramente pela Sé Apostólica e contando com o beneplácito de D. Afonso Henriques, a Escritura da Concordata. Pouco tempo depois, morria o bispo Gilberto: a 27 de Abril de 1166. [GEPB, vol. 12, p. 383.]
Até breve.

sábado, 15 de agosto de 2009

Ordem e Identidade.


Ordem, ordo, é o nome que designa uma forma de vida corporativa. Predica-se de toda uma instituição, com sua regra, seus membros e seus bens, um pouco por sinédoque, ou por alargamento de significado, mas o conceito iniciático significa ordem, quer dizer: regulamento, regra de vida, lex vitæ.
(…) Os testemunhos históricos das congregações e sodalícios regulares, demonstram que a ordo aparece como acto conclusivo para um caminho que se potencia, e cujo acto perfeito se revela com a instituição da Ordem, da Regra.
(…) Aderir a uma Ordem significa escolher uma formula vitæ, fórmula de vida, uma regula vitæ, regra de vida, um regime de vida, uma disciplina, aceitar um tratado de Direito, um regulamento canónico e jurídico com todas as suas implicações, e um bilhete de identidade. Professar uma Regra equivale a uma estrita observância de um determinado modo de vida, qual o proposto por essa Regra.
[Pinharanda Gomes, A Regra Primitiva dos Cavaleiros Templários, pp. 5-6, Hugin, Lisboa, 1999.]
Até breve.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ascensão e queda.

Guerra no Outremer.

Jerusalém estava de novo em mãos muçulmanas, e as outrora gloriosas Ordens Militares foram dizimadas, ou, pelo menos e até certo ponto, manchadas com fracasso e derrota. Todo o Reino de Jerusalém fora tomado, com excepção da inconquistável fortaleza de Belfort e da cidade de Tiro. O principado de Antioquia foi reduzido à cidade de Antioquia — conservada por Boemundo, seu governante, em consequência de uma trégua com Saladino — e ao castelo de al-Marqab. No condado de Tripoli, somente uma única torre em Tortosa, os dois pequenos castelos templários de Chastel Blanc e Chastel Rouge (Qala’at Yahmur), a inconquistável fortaleza hospitalária de Krak des Chevaliers e a cidade de Tripoli ainda estavam em mãos cristãs.
Os Templários emergem disso com pouco crédito: a coragem templária nunca foi posta em dúvida, mas muitas vezes foi colocada fora de lugar. Se a força total da Ordem na Síria latina fora, de facto, os seiscentos cavaleiros citados anteriormente, então metade desse número foi perdido em questão de semanas: 60 em Nazaré e 230 em Hattin.
(1) Outros foram perdidos em Darbsak e nas batalhas de menor importância da campanha de Saladino. Enquanto a Ordem estava no seu auge no Ocidente como potência financeira e proprietária de terras, no final do século XIII os Templários na Terra Santa eram um bando de homens abatidos e derrotados.
[Edward Burman, Templários: os Cavaleiros de Deus, pp. 133-134.]

Nota do Autor:

(1). — Riley-Smith, The Knights of St. John, p. 327n.

Até breve.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A ideia de Cruzada na Península Ibérica (III)

Cavaleiro de Santiago na altura da conquista de Sevilha.


Na Cruzada que conduziu à conquista de Sevilha, de 1248, participaram quase todas as milícias, castelhanas, portuguesas e aragonesas, num esforço que se traduziu mais em rentabilidades políticas que militares. Algo não muito diferente ocorreu, cerca de cem anos depois, na batalha do Salado.
[Carlos de Ayala Martínez, Órdenes militares peninsulares y cruzada hispânica, Una aproximacíon historiográfica, p. 83.]
(Tradução nossa.)

Até breve.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Os anais históricos antigos. (II)

No resumo histórico que precede os Annales, como notou Pierre David, os Godos aparecem como invasores calamitosos, e não como antecessores da monarquia asturiana, contrariamente ao que vemos na crónica de Afonso III das Astúrias (segunda metade do século IX), do qual nasceu a ideia da «Reconquista». A tradição transmitida pelos Annales Portucalenses Veteres remonta, portanto, a começos do século IX, quando os reis asturianos ainda não se consideravam os continuadores e restauradores da monarquia visigótica, mito que apareceu mais tarde (1).
O que mais nos interessa nestes anais é o ponto de vista em que se coloca o narrador. O seu horizonte geográfico está definido quando façla da grande fome de 1122:

Era 1160.
Magna fames fuit in civitate Colimbrie et in tota Portugalensi regione a Mineo usque in Tagum (2)

Coimbra aparece no centro dos acontecimentos. Entre os condes portugalenses, como os Mendo-Gonçalves, e o rei D. Afonso Henriques, passando pelo conde seu pai, não se nota solução de continuidade. Do resto da Espanha só se conhece Toledo. Todavia, Portugal aparece aí como um prolongamento do reino asturiano e Fernando I de Leão, o conquistador de Coimbra, Viseu e Lamego, como o primeiro ocupador do território, do qual já fazem parte Santarém, Lisboa e terras adjacentes, conquistadas primeiramente por Afonso VI de Leão e novamente por seu neto D. Afonso Henriques, e também as terras conquistadas por este último no Alentejo, como Beja, Évora, Serpa e Moura. É uma primeira manifestação de como a gente que habitava a região portugalense estava voltada para dentro do País, alheada da transformação cultural do resto da Espanha, como o mostra a persistência de uma tradição historiográfica dos primeiros anos da reconquista.
[António José Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal, p. 151.]

Notas do Autor:

(1). — Op. cit. [Annales Portucalenses Veteres], pp. 312-325.
(2). — Op. cit., p. 302.

Até breve.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O castelo de Penha Garcia. (II)

Castelo de Penha Garcia.
[foto de João Pereira.]


O castelo de Penha Garcia é um pequeno castelo tardio, provavelmente edificado sobre as ruínas de um velho castelo árabe, após a atribuição do foral de 1256, que se insere na vigilância do rio Erges, quando o inimigo era já Leão e não o mouro.
Conforme se pode verificar na planta da fortaleza, o castelo era constituído pela residência do alcaide e por um conjunto de defesas exteriores. A residência inscreve-se num quadrado de 14 varas de lado, que continha um pátio de entrada, uma cisterna e duas salas no andar térreo. Embora não se vejam desenhadas quaisquer escadas exteriores, a altura deste edifício, analisadas noutros desenhos, faz admitir a possibilidade de ter havido um andar superior com mais salas. Um dos vértices deste quadrado residencial era cortado pela alterosa torre de menagem de forma hexagonal irregular a fazer lembrar a do castelo de Castelo Branco. O castelo de Penha Garcia era, pois, uma sentinela vigilante nestas paragens
.
[António Lopes Pires Nunes, Os castelos Templários da Beira Baixa, p. 80.]

Até breve.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O castelo de Penha Garcia. (I)

Castelo de Penha Garcia.
[foto de IHRU-DGEMN-DSID.]
O Castelo de Penha Garcia, admite-se ter sido edificado pelos Templários, sobre uma fortificação romana que fora antecedida por um castro pré-histórico. Todavia há opiniões no sentido de que a sua edificação se terá iniciado com D. Sancho I, vindo a ser doado por D. Afonso II, à Ordem de Santiago, por volta de 1220.
Nesta linha, Castelo de Penha Garcia e os seus domínios, chegam à posse da Ordem dos Templários, pelas mãos de D. Dinis, por volta de 1300, mas regressam à posse da Coroa, com a extinção das ordens, no século XVI.
A partir do século XIX, esta edificação militar foi-se degradando e restam apenas fragmentos de muralhas bem conservados. É um património que não se encontra classificado.

O castelo está ligado a uma lenda, que conta o rapto da filha do governador de Monsanto, D. Branca, pelo alcaide do Castelo de Penha Garcia, D. Garcia.
Perseguido pelo pai da jovem, acabaria por ser capturado, incorrendo na pena de morte, todavia D. Branca, apelou ao pai o perdão para o raptor, que em vez da pena de morte, o condenou a ficar sem um braço
.
Segundo a lenda, o decepado continua a vaguear pelas torres do castelo.
[retirado da net:

Até breve.

domingo, 9 de agosto de 2009

O Mito (IV)

Como sabemos, a eclosão dos trovadores galaico-portugueses coincide com o estabelecimento dos Templários, embora não exista qualquer relação comprovada de causa-efeito na conjugação destes dois fenómenos. Mas o «trobar» medieval e o encantamento das cantigas de amigo parecem, por vezes, convergir com os segredos templários — se os houve. Mas é certo que quando os Templários se extinguiram se assiste a uma retoma do Cancioneiro de Amigo e do Cancioneiro de Amor, designadamente por D. Dinis, para depois o estilo «novo», de influência italiana, se ir instalando. É nessa altura que se dá como que uma translação do discruso poético, e os romances e novelas fazem a sua aparição, com especial protagonismo para o ciclo do Graal e da Matéria da Bretanha (…).
[Paulo Pereira, Templários e Templarismos, Vol. VIII, p. 13, Enigmas, Lugares Mágicos de Portugal.]

Até breve.

sábado, 8 de agosto de 2009

Início das Ordens Militares, estrangeiras e nacionais, em Espanha.

Figuração de elementos das Ordens Militares existentes na Península Ibérica.

Uma nova invasão vinda da África do Norte, em 1146, a dos Almohadas, rigoristas, intolerantes e partidários da guerra santa inclusive contra os seus correligionários, os Almorávidas, obrigou os cristãos, aliás confrontados com numerosas perturbações, a reorganizar-se. Uma reorganização tanto mais necessária quanto, daí em diante, os «cruzados» estrangeiros, franceses na maior parte, já não vinham lutar contra os muçulmanos da Península. A resistência foi então confiada às Ordens Militares estrangeiras — como os Cavaleiros do Templo, que receberam do rei Afonso VII a fortaleza de Calatrava em 1147, ou os Hospitalários de S. João de Jerusalém, a quem o rei de Aragão, Afonso, o Batalhador, legou o reino aquando da sua morte, em 1134 — e, sobretudo, nacionais, como a Ordem de Calatrava — fundada em 1157-1164 para defender a fortaleza que os Templários tinham abandonado —, a Ordem de Santiago, nascida em 1170, e a de Alcântara, que data de 1176.
[Adeline Rucquoi, História Medieval da Península Ibérica, p. 169.]

Até breve.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Morte de Templários em Xerez de los Caballeros.

Em Fregenal de la Sierra a estrada antiga dividia-se em dois ramais, um que seguia para Cáceres, com passagem por Zafra e Mérida e outro que inflectia para noroeste, vadeava o rio Ardila, atravessava os Portos Tablada e Beltramo para alcançar Xerez de los Caballeros, outra velha e celebrada fortaleza templária da Reconquista onde, na chamada Torre Sangrenta, segundo a tradição, foram massacrados os últimos cavaleiros templários, dos poucos que não se deixaram prender em Medina del Campo e que, naquela torre, decidiram resistir com armas na mão à extinção da sua Ordem, contra as tropas de Fernando IV.
[José Pires Gonçalves, Alguns aspectos das campanhas de Giraldo Sem Pavor na região do Guadiana, Anais, Academia Portuguesa de História, Volume 26, T. I, p. 93.]
Até breve.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Morte de Hugo de Payns e início do mestrado de Robert de Craon.

Hugo de Payns.

A 24 de Maio de 1136, morre Hugo de Payns, fundador da Ordem e seu primeiro Mestre. Tinha sessenta e seis anos, um velho para aqueles tempos (1). Sucede-lhe Robert de Craon, um nobre cavaleiro franco, nascido na Borgonha, que se tornara templário pouco tempo depois da formação da Milícia do Templo, muito provavelmente entre os anos de 1125 e 1128, ocupando o lugar de Senescal [o segundo na hierarquia, depois do Mestre] em Jerusalém no ano de 1131 ou 1132, altura em que regressou à Europa a fim de solicitar apoios e aceitar ofertas.
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, p. 65.]

Nota do Autor:

(1). — Stephen Howarth, Os Cavaleiros Templários, p. 75.


Até breve.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Mulheres guerreiras.

As mulheres almorávidas, vestindo as armas, vieram pelejar ao lado de seus maridos e irmãos em defesa da terra que as tribos de Lantuna olhavam como nova pátria depois da conquista do Andaluz (1).
[Alexandre Herculano, História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo I, Livro I, p. 327.]

Nota do Autor:

(1). — «Foeminae sarracenae in hoc praelio, amazónico ritu, ac modo pugnarunt, ut occisae tales deprehensae», «Chronica Gothorum», na Monarquia Lusitana, P. 3, L. 10, c. 3 [ADA (Annales Domni Alfonsi Portugallensis Regis) 153]. Este uso de entrarem as mulheres nas batalhas era peculiar dos almorávidas (Casiri, Vol. 2, p, 219). [Id., p. 435, nota 47.]

Até breve.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Abades de Alcobaça.

Abadia de Alcobaça.

A abadia de Alcobaça governava D. Martinho, segundo do nome, terceiro abade daquela casa, do qual tratámos em o tomo antecedente, livro II, cap. 15. Faleceu em o fim de Setembro do ano do Senhor de 1191. Entrou em seu lugar D. Fernando, a quem nossos autores fazem segundo abade; mas já temos visto de escrituras como o segundo abade se chamou D. Pero Mendes.
[Fr. António Brandão, Crónica de D. Sancho I e D. Afonso II, p. 38.]

Até breve.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Doação do eclesiástico de Leiria a Santa Cruz de Coimbra. (I)

Referem alguns autores a dificuldade sentida pelos ideólogos crúzios da gesta de D. Afonso Henriques para justificarem a doação, por este rei, do eclesiástico de Leiria a Santa Cruz de Coimbra. Alegam que o rei, em suma, não podia conceder jurisdições eclesiásticas, que pertenciam à autoridade religiosa. Mas esta visão é redutora da realidade. De facto, não só D. Afonso Henriques consegue controlar as decisões dos agentes portugueses eclesiásticos, como as próprias nomeações destes para as dignidades eclesiais, caso do que aconteceu com a canónica crúzia coimbrã, uma das instituições mais beneficiadas pelo monarca.
[Saul António Gomes, Introdução à História do Castelo de Leiria, p. 26.]

Até breve.

domingo, 2 de agosto de 2009

Imigrações e emigrações. (I)

Com efeito, as notícias que se podem recolher de portugueses que se deslocam para os reinos cristãos da Hispânia referem-se apenas aos que hoje chamaríamos exilados políticos. Os seus nomes são Pêro Pais da Maia, o Alferes, Mendo Fernandes de Bragança, e Martim Vasques de Soverosa. O primeiro era alferes de Afonso Henriques e passou a desempenhar o mesmo cargo ao serviço do rei Fernando II de Leão depois de 1189, decerto por lhe ter sido atribuída alguma responsabilidade na derrota de Afonso Henriques e na perda de Badajoz. O segundo, foi alferes do mesmo rei ainda antes dessa data, entre 1157 e 1159, depois de ter desempenhado as mesmas funções na corte como predecessor de Pêro Pais da Maia. O terceiro não foi propriamente um exilado. Era alferes de Sancho I e foi feito cativo dos mouros em Palência, provavelmente em 1197, decerto por ter ido auxiliar o rei de Leão a rechaçar os almóadas que atacaram a cidade nesse mesmo ano. Note-se que todos eles eram alferes. Seguiam, portanto, a carreira militar. Podiam mesmo não haver recebido nenhuma herança, o que facilitaria a sua deslocação para outro reino.
[José Mattoso, A nobreza medieval portuguesa no contexto peninsular, Naquele Tempo, Ensaios de História Medieval, Vol. 1, p. 326, Círculo de Leitores, Lisboa, 2000.]
Até breve.

sábado, 1 de agosto de 2009

O Infante D. Henrique, «governador» ou «regedor» da Ordem de Cristo. (1)

Infante D. Henrique [suposto retrato].

(…) o papa constituiu o Infante administrador-geral e encarregado da Ordem por falecimento de D. Lopo Dias. Não o nomeou, porém «Mestre», como parece insinuar, embora ambiguamente, o pedido do rei de Portugal. Com efeito, para se ser Mestre era preciso ser freire da Ordem, o que supunha, além do voto de pobreza, uma carreira e, pelo menos formalmente, a eleição pelos confrades. A diferença entre um «regedor», ou «governador», e um «Mestre» é que este emanava dos freires que o reconheciam como seu chefe, ao passo que aquele era um representante do rei imposto à Ordem. Por isso o Infante, ao contrário do que se tem dito, nunca assumiu o nome de Mestre, como certamente desejaria, embora tivesse chegado a pedir ao papa, no fim do ano de 1442, que o autorizasse a ser freire da Ordem, na qual professaria com dispensa do voto de pobreza, que lhe permitisse conservar o ducado de Viseu e outros cargos. O papa deferiu o pedido, mas o Infante nunca chegou a professar por alguma razão que desconhecemos. Imaginamos que essa foi a grande frustração da sua vida: o ser imposto pelo rei à Ordem a que canonicamente não pertencia; não poder legitimamente chamar-se «Mestre» da Ordem de Cristo.
[António José Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal, pp. 267-268.]

Nota nossa:

(1). — O inserirmos este pequeno apontamento sobre o verdadeiro cargo que o Infante D. Henrique assumiu e teve dentro da Ordem da Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo, e já porque o assunto foge à nossa linear conduta de contemplarmos apenas o estudo sobre a Ordem do Templo e o tempo que a secularizou, é apenas a tentativa de dar a conhecer uma figura — aparecida como das maiores adentro da História portuguesa — que não deixou de ser deveras enigmática, mas que o tempo e os homens se têm encarregado de colocar no seu devido lugar e dar-lhe o competente valor, e cujos privilégios e regalias extremam os limites do tido e do imaginado. Até porque, e sabe-se hoje, o Infante viveu a maior parte do seu tempo no palácio que mandou edificar no castelo de Tomar, junto à charola templária, do que propriamente na hipotética casa de Sagres, que parece deveras nunca ter existido, sendo apenas fruto da lenda e da exaltação criativa dos homens. Parece, isso sim, que a casa que teve no Algarve foi apenas uma: em Lagos e não em Sagres
.

Até breve.