domingo, 6 de setembro de 2009

O vale de Matamoros.

No pendor nascente da serra del Zarzoso, perto do pico de S. José, sensivelmente a uma légua para norte de Xerez de los Caballeros, ergue-se o pitoresco e disperso casario do «pueblo» estremenho de «Valle de Matamoros».
O apelativo toponímico de Matamoros não é único em terras da Extremadura castelhana. Repete-se, pelo menos, aplicado a um arroio — Arroyo de Matamoros — que corre entre os contrafortes da Serra Morena, perto do mosteiro de Tentudia, fundação do grande Mestre de Santiago, o português D. Paio Pires Correia
(1) e, também, local da sua sepultura (2).
Ambos os topónimos estremenhos parecem evocar e sugerir, naqueles locais onde se fixaram, um combate entre cristãos e muçulmanos que tivesse terminado por uma matança de mouros e uma espectacular vitória para as armas cristãs.
[José Pires Gonçalves, Alguns aspectos das campanhas de Giraldo Sem Pavor na região do Guadiana, Anais, Academia Portuguesa de História, Volume 26, T. I, p. 94.]

Notas nossas:

(1). — A dado passo desta sua narrativa, José Pires Gonçalves, prefere dizer Pires em vez de Peres, aliás como ele mesmo explica:
Adoptamos e preferimos para o Mestre de Santiago o nome de Paio Pires em vez do homónimo de Pelay Perez ou Paio Perez pelo qual ele é mais conhecido em Espanha e até entre nós. Aliás, já carta expedida pelo rei de Leão D. Afonso XI (3), datada de Abril de 1258, referindo e assinalando os termos de Vilar Maior e da Igreja de Bismula, ao lado do mestre do Templo D. Martim Moniz (4), do mestre de Alcântara, D. Garcia Fernandes, do famoso rei de Niebla Aben Mahfot e de muitos outros personagens importantes da época [entre os quais] nos aparece o Mestre de Santiago identificado como «Paay Pirez» (Cf. As Gavetas da Torre do Tombo, IX (gaveta XVIII, Maços 7-13), Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, Lisboa, 1971, leitura de D. Guilhermina Ribeiro). Também nunca ouvimos designar a povoação portuguesa de Paio Pires — que tomou na região de Palmela, sede da Ordem de Santiago, o nome do Mestre — por Paio Peres e nem nos consta que alguma vez estav povoação assim tivesse sido designada, à espanhola. [Ob. cit., pp. 75-76, nota 14a.]
(2). — Por outro lado, certo e justo será dizer, para quem o não saiba ou procure omitir dizê-lo, que é, muito possivelmente, na igreja de Santa Maria do Castelo, em Tavira, que se encontrará sepultado este célebre Mestre santiaguista, conforme nos elucida a lápide funerária que aí se encontra, não só lembrando-o, como uma outra, com sete cruzes de Santiago, que recorda os seis cavaleiros de Santiago mortos (5), nessa campanha de conquista do Algarve, bem como a de um mercador, Garcia Rodrigues, que ao passar no local e vendo o que ocorria com os cavaleiros cristãos cercados pelos muçulmanos, prontamente se lhes juntou, morrendo no combate.
A lápide refere: AQUI JAZEM OS OSSOS DE D. PAIO PERES CORREIA GRÃO MESTRE DA ORDEM DE SANTIAGO QUE TOMOU ESTA CIDADE AOS MOUROS. FALECEU EM 10 DE FEVEREIRO DE 1275. METERAM-SE AQUI NO ANO DE 1751.
(3). — O autor quererá dizer Afonso X, o sábio, pelo que penso ser um erro tipográfico. Já nesta altura ele era rei de Leão e de Castela, reinos que seu pai, Fernando III, o santo, reuniu em 1230. Das primeiras acções políticas e de contexto que, aliás, tomou.
(4). — O Mestre do Templo neste ano (1258) era D. fr. Martim Nunes [1253-1265]. Que saibamos nunca existiu um Mestre D. Martim Moniz na Ordem do Templo da Província de Portugal, ou na dos três reinos (Leão, Castela e Portugal). Neste caso, deve ser erro de informação do próprio dr. José Pires Gonçalves, tão minucioso e honesto nos seus textos de investigação.
(5). — Os cavaleiros santiaguistas mortos seriam: D. Pedro Paes (igualmente conhecido por D. Pedro Rodrigues ou D. Pedro Peres), Comendador-mor de Santiago, Mem do Vale, Duran Vaz (ou Damião Vaz), Álvaro Garcia (ou Garcia Estêvam ou Vasques), Estêvão Vaz (ou Vasques) e Boceiro de Coja (ou Valério de Ossa ou da Hora. [Cf. José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus mestres [1124-1314], A presença Templária em Portugal, p. 136; e Carla Varela Fernandes, A Igreja de Santa Maria do Castelo de Tavira, p. 24, nota 8, Edições Colibri/Câmara Municipal de Tavira, Lisboa, 2000.]

Até breve.

Sem comentários: