quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Duarte Galvão. (II)

Neste sentido, tal como Pina, também Galvão foi um letrado cortesão. Nascido em Évora, no seio de uma linhagem fidalga onde se conta um bispo e, depois, arcebispo eborense, o seu irmão João Galvão, Duarte protagonizou uma idêntica longa carreira administrativa e diplomática nas cortes de D. Afonso V, D. João II e D. Manuel I, antes e após este último rei lhe ter solicitado a redacção da crónica do fundador da monarquia lusa (1). Ora, para um tal letrado, ligado a várias missões políticas relacionadas com as negociações destinadas à obtenção de apoios exteriores ao projecto manuelino de retomar a cruzada contra o Islão, a narrativa dos tempos de D. Afonso I foi naturalmente desenvolvida no quadro da procura de uma legitimação histórica para o poder e o carisma atribuídos à realeza portuguesa, sendo, portanto, evocada a época do primeiro dos seus soberanos como providencial e messiânico prenúncio de um império capaz de levar à final vitória contra os infiéis.
[Maria Sofia Marques Condessa, A memória das cidades dos séculos XII a XIV, nas crónicas de Rui de Pina e Duarte Galvão, p. 19.]

Nota da autora:

(1). — Nascido em 1445, Duarte Galvão foi secretário, conselheiro e notário dos monarcas D. Afonso V, D. João II e D. Manuel I, tendo protagonizado ao seu serviço várias missões diplomáticas a Barcelona, Flandres e Roma, acabando, aliás, por vir a falecer em 1515, durante uma viagem que o rei venturoso o encarregara de fazer à corte do Preste João. (…) [Ibidem, nota 36.]
Até breve.

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