quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Almedina.

Castelo de Castelo Branco, por Duarte d'Armas, executado numa perspectiva de nordeste.

Povoação árabe que se desenvolvia à volta da alcáçova, à semelhança da vila em relação ao castelo medieval cristão. (1)
[António Lopes Pires Nunes, Dicionário de Arquitectura Militar, p. 34.]

Notas nossas:

(1). — Estas vilas medievais, este branco casario aninhado dentro dos castelos ou a “descer” pelas encostas, junto aos mesmos, são imagens que se podem apreciar, em muitos dos desenhos que Duarte D’Armas [1465-d.1516], escudeiro da Casa Real, executou, nos começos de quinhentos — mais propriamente em 1509 (2) —, a mando do rei D. Manuel, focando e localizando castelos portugueses junto à raia com Castela. Dos 57 castelos visitados, apenas 2 não eram fronteiriços, o de Barcelos e o dos Mouros, em Sintra, marcando, nestas duas excepções, o “desacordo com o propósito enunciado pelo artista no começo do seu trabalho”, como nos refere Manuel da Silva Castelo Branco, na magnífica Introdução que nos deixa no Livro das Fortalezas de Duarte de Armas (3).
Hábil no desenho, foi encarregado por Manuel I de Portugal para levantar o estado das fortificações da fronteira com Castela, o que fez em planta e em panorâmicas, com as respectivas medidas, sinais cartográficos e notas explicativas (4), de Castro Marim a Caminha, conforme se pode ler no texto da Wikipédia.
Duarte d'Armas era um excelente executante de desenho à vista, facto provado pela fidelidade com que representa as muitas fortalezas de cujos alçados e plantas deixou registo, como se observa num outro registo sobre este homem de leis e desenhador — debuxador, se dizia… — dos séculos XV e XVI.
(2). — É Manuel da Silva Castelo Branco, porém, quem melhor nos elucida sobre o tempo que teria demorado Duarte D’Armas a executar este rigoroso trabalho, salvaguardando-se, como se torna evidente, qualquer outro estudo que se nos documente melhor: (…) podemos presumir com a maior convicção que Duarte de Armas, nos começos da Primavera de 1509, iniciou em Castro Marim o seu trabalho de campo, que viria a terminar em Caminha, por volta de Setembro, depois de percorrer toda a zona fronteiriça (num total de 900 kms.) e proceder ao levantamento de 55 fortalezas, em cerca de 7 meses. Nessa altura regressa a Lisboa mas, no caminho, detém-se ainda em Barcelos, que retrata com uma bela vista panorâmica. Na capital, depois de elaborar também 3 vistas de Sintra, enceta imediatamente o trabalho de gabinete a partir dos esboços preliminares. Daqui resultaram os códices B e A, este último em vias de conclusão no mês de Março de 1510. [Edições Inapa, de parceria com o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, p. 16, Lisboa, 1990.]
(3). — Conforme o fac-simile do Ms. 159 da Casa Forte do Arquivo Nacional da Torre do Tombo [ob. cit., p. 1].
(4). — Ainda segundo Manuel da Silva Castelo Branco, na introdução citada, teriam sido dois os volumes organizados (5) por Duarte D’Armas: no Códice B, formado por folhas em papel de linho, teria desenhado 110 cartas panorâmicas, com 296X404 mm., de 55 povoações raianas, desde Castro Marim a Caminha (duas diferentes, para cada lugar) e as plantas de 51 das respectivas fortalezas. (…) no Códice A, constituído por grandes folhas de pergaminho, Duarte de Armas levantou de modo semelhante, o mesmo número de fortalezas, mas nas cartas panorâmicas, medindo 350x490 mm., vemos incluídas as de duas vilas não fronteiriças — Barcelos e Sintra — com uma e três vistas, respectivamente. Agora, porém, o seu trabalho, mais apurado e completo, vai requintar-se em primorosos detalhes, representando o arvoredo e as culturas, que antes apenas apontara pelos nomes (ex.: olivais, vinha, etc.); a cobertura das casas (em colmo, ardósia ou telha); a estereotomia de paredes, muralhas, aros de portas e janelas, etc., etc. Enfim, um trabalho requerendo técnica simples, mas bem adestrada, e… temperando arte e muita paciência!
(5). — Por vezes, verificamos entre os 2 códices algumas diferenças, mesmo quando as vistas da povoação pertencem a bandas iguais (ex.: Castelo Mendo, N[orte]; C[astelo]. Bom, O[este]; Mogadouro, O[este], etc.). [Ob.cit., Introdução, p. 1, nota 2.]


Até breve.

Sem comentários: