terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Espaço de fronteira. (III)

É interessante sublinhar a inexistência, nos textos analisados, de um conceito de “fronteira”. Para designar esta ideia havia que recorrer a um quadro de significantes de valor lato. Utilizavam mais correntemente a expressão “confinibus” (a propósito do povoamento de Pombal, na inquirição de 1183-1186 antes citada) mas, neste momento, pressupõe um perfil territorial físico, com um senhorio institucional estabelecido e, por conseguinte, a palavra não significa propriamente fronteira, mas antes limite concelhio, termo de uma povoação ou vila.
Mesmo ao nível das cidades este problema se mantém
. (1) Na região que nos ocupa [Leiria], a ideia de fronteira é associada à paisagem vegetal, à floresta, como vimos, ou a áreas ermadas. À fluidez oscilante dos limites espaciais evocados corresponde a plurifuncionalidade dos conceitos ou do vocabulário medievos (2).
[Saul António Gomes, Introdução à História do Castelo de Leiria, p. 30, notas 66 e 67.]

Notas do Autor:

(1). — Terra de Pagons”, assim chama um documento de 1139, do Mosteiro de Pedroso, às terras situadas entre Leiria e Soure até ao Tejo e Guadiana, onde se preparava para combater (em Julho daquele ano) um tal Mendo Bernardes, cavaleiro. (Citado por Rosa Viterbo, Elucidário das Palavras, termos e Frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram, II, (ed. Mário Fiúza), Porto, 1966, p. 607a).
(2). — Vide Rita Costa Gomes, A Guarda Medieval, 1200-1500. Lisboa, ed. Sá da costa, 1987, pp. 19, 29.

Até breve.

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