domingo, 17 de agosto de 2008

Do cronista Ussama Ibn Mungidh.

Nesta segunda vertente destacamos a faceta mais esotérica e civilizadora dos Templários. O carácter civilizador e o espírito de tolerância que caracterizou a Ordem do Templo são consequência, a nosso ver, da formação esotérica da elite que compunha o seu círculo interno, formação essa que resultou com o contacto com verdadeiros mestres orientais.
O seu espírito de tolerância religiosa ficou, inclusive, registado em crónicas do mundo muçulmano. O cronista do século XII, Ussama Ibn Munqidh, escreveu
:
«Quando eu visitava Jerusalém, tinha o hábito de me dirigir à mesquita al-Aqsa, local de residência dos meus amigos Templários. Havia num dos lados um pequeno oratório onde os Franj [os cruzados ocidentais] tinham instalado uma igreja. Os Templários punham este lugar à minha disposição para eu aí fazer as minhas orações. Certo dia, entrei, disse “Allahu Akbar” e ia começar a oração quando um homem, um Franj, correu para mim, me agarrou e me virou o rosto para o oriente, dizendo-me: “É assim que se reza!” Logo a seguir, alguns Templários acudiram e arredaram-no de mim. Voltei à minha oração, mas o tal homem, aproveitando um momento de desatenção, atirou-se de novo a mim, virou-me o rosto para oriente, repetindo: “É assim que se reza!” Também desta vez os Templários intervieram, afastaram-no e pediram-me desculpa, dizendo: “É um estrangeiro. Acaba de chegar do país dos Franj e nunca viu ninguém rezar sem se virar para oriente.” Respondi que já rezara o suficiente e saí, estupefacto com o comportamento daquele demónio que se agastara tanto ao ver-me rezar na direcção de Meca.»* Existe também documentação que atesta relações positivas dos Templários com elites do mundo muçulmano, como foi o caso dos contactos com a cavalaria iniciática dos Assassinos. [Paulo Alexandre Loução, A Fundação de Portugal e o Mistério Templário, p. 146, Cap. VI, Codex Templi, Zéfiro, Sintra, 2007.]
* Citado por Amin Maalouf, As Cruzadas vistas pelos Árabes, 11.ª edição, Difel, Lisboa, 2002, pp. 155-156.
Até breve.

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