sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Falsificações e hipóteses indemonstráveis.

Estas teorias confusas, baseadas em falsificações e hipóteses indemonstráveis, são as que têm sugerido que os templários teriam duas doutrinas: a oculta e secreta dos seus mestres, que era o joanismo, e a pública, que era católica. Contudo, existem matizes históricos e doutrinais que não se contemplam na heresia joanina, a qual não tem nenhuma relação com o joanismo católico. Este tema é muito amplo e complexo, e inabordável nesta obra.
A presumida gnose ou doutrina secreta templária da qual tanto se fala baseia-se noutros documentos. Um deles é confirmado pelos «Estatutos de Roncelinus » ou Livro do Baptismo de Fogo.
Em 1780, o bispo de Copenhaga, Friedrich Münter, encontrou na Biblioteca Corsino do Arquivo do Vaticano um pergaminho com duas colunas de escritura românica em cada página e engalanado com a grande cruz da Ordem do Templo.
O documento estava dividido em quatro partes: «A primeira não é mais do que a Regra oficial da Ordem, copiada por um tal de Mathie Tramlay “no dia de São Félix do ano 1205”, hoje em dia conservada em Roma na biblioteca Corsino.
A segunda e a terceira estão assinadas pelo copista Robert de Samfort, que foi procurador do Templo em Inglaterra. Comportam, efectivamente, trinta e vinte artigos agrupados sob a inscrição: “Aqui começa o livro do Baptismo do Fogo ou dos Estatutos secretos redigidos para os Irmãos pelo Mestre Roncelinus”. Finalmente, a quarta parte traz este título: “Aqui começa a lista dos signos secretos que o Mestre Roncelinus reuniu” (onde dá indicações criptográficas).
O bispo Münter não chegou a estar muito tempo na posse destes preciosos documentos. Numa carta que escreveu ao seu amigo Vilke, que preparava uma História dos templários, revela que a maior parte deles desapareceu sem se saber como. Em 1877, o erudito alemão Mertzdorff publicou as três últimas partes do manuscrito descoberto pelo bispo e que ele teria tido a sorte de encontrar num legado de arquivos privados de Hamburgo»
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[Fernando Arroyo Durán, Templários, Jesuítas e Maçons: O Afã Legitimista, Capítulo XXXI, Codex Templi, p. 597, Zéfiro, Sintra, 2007.]

Nota pessoal:

Enfim, do que se vai escrevendo por aí, presume-se, sugere-se, recorda-se, conjectura-se num amplo leque de dados e meras hipóteses, que, somadas ou baralhadas no cubo mágico dos elementos secretos, se esfumam como toda uma série de documentação que apareceu tão misteriosamente como o que ocorreu aquando do seu desaparecimento.
Se publicamos, neste lugar de História, documentos como este que procuram pôr a nu as evidentes irrealidades que se vêem e ouvem sobre a Ordem do Templo, é para demonstrar quão falsa e inventiva tem sido — e continua a ser! — a escola em que navegam os falsos doutrinários e os apaniguados de uma “Ordem” ou várias “Ordens do Templo” — que pretendem demonstrar como verdadeira(s) (!?...) — e que não passam de uma cabala muito mal montada: já porque ilógica e irracional, tanto quanto desprovida de bases e elementos concretos, apenas construída em hipóteses e delírios de tradição e buscada em qualquer coisa que lembre ou soe a elemento terciário ou de quinta dimensão, numa qualquer presumida gnose que agrupe e interligue o recém ou além descoberto. Afinal, todo um caos causado por essa imensa mentira, embuste, falsificação, fuga à realidade, filmografia de delírio fantástico, imaginação q. b., que muito contribuem para o estado em que estão a colocar a imagem da verdadeira Ordem do Templo, extinta, como se sabe, em 1314, e que teve os seus últimos e verdadeiros elementos diluídos nas Ordens de Cristo em Portugal e de Montesa em Aragão.

Até breve.

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