sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Sobre Elvas III.

Afonso IX, devastadas as imediações de Badajoz, retrocedia de novo para os seus estados, e o exército português, posto que houvesse tirado maiores vantagens daquela expedição simultânea, devia recolher-se também para as fronteiras. Ou porque as fortificações de Elvas ficassem de tal modo arruinadas que o conservar e defender aquele ponto fosse perigoso e difícil ou porque ocorressem outros quaisquer motivos que hoje ignoramos, a povoação foi abandonada e, segundo parece, a dispersa população muçulmana pôde voltar por algum tempo aos seus assolados lares, até que o temor das correrias dos cristãos e a impossibilidade de lhes resisitir a obrigaram três anos depois a deixar para sempre não só Elvas mas também várias outras povoações fortes no distrito oriental do Alto Alentejo (1). (2)
[Alexandre Herculano, História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo I, Livro V, pp. 374-375.]

(1). — Nota de Alexandre Herculano a remeter-nos para a Nota XIX das Notas de Fim do Volume Tomada de Elvas e a sua ocupação permanente — e que por ser relativamente longa não cabe no contexto, de lugar e espaço, que pretendemos ou queremos ter para este blog. No entanto, e como a achamos de muito interesse, daremos dela notícia numa outra altura. Tão breve quanto nos permitir a Hora.

(2). — Nota Crítica de José Mattoso:

Azevedo*, VI, 17-18, 138-141, em face sobretudo da Crónica Latina dos Reis de Castela, publicada por Cirot**, mostra, creio que com razão, que a suposta tomada de Elvas por Sancho II em 1226 foi na realidade um fracasso, e que ele teve de se retirar, depois de abandonado (a Crónica diz «destituído») pelos «seus». A doação a Afonso Mendes Sarracins foi realmente feita apud Elvas, mas este advérbio deve significar «junto de» e não «em». É mais problemático saber se o foral de Elvas tem a data errada por falta de uma unidade, isto é, se se deve corrigir o ano de 1229 para 1230 (era MCCLXVII para MCCLXVIII). Sendo assim, explicar-se-ia bem a forma como Lucas de Tuy relata o acontecimento, estaria certa a notícia dada pela «Crónica Conimbricense», que atribui a conquista ao ano de 1230, e seria bem lógica a sua ocupação depois da tomada de Cáceres (1227), que fez cair nas mãos dos cristãos as diversas cidades muçulmanas ao sul do Tejo, até Mérida e Badajoz.
Consequentemente, se a expedição, como supõe Herculano tinha por objectivo dissipar as divergências entre os diversos contendores, acabou afinal por agravar as tensões e pode mesmo ter dado origem a uma primeira guerra civil, como pensa Azevedo.
[José Mattoso, Notas Críticas ao Livro V, in Alexandre Herculano, História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo I, Livro V, nota 18, pp. 545-546.]

Notas nossas:

* Luís Gonzaga de Azevedo, História de Portugal, Vol. VI.
** Georges Cirot publicou pela primeira vez o texto do manuscrito [G-I] em 1912, documento que encontrara na Real Academia de la Historia de Madrid, constando de 280 folhas de pergaminho (233 mm. X 301 mm) e distribuídos em cadernos de oito fólios cada um, trazendo no reverso o título de Chronica B. Isidori iun. et aliorum, cuja tradução, do latim medieval, fizera, e dando-lhe o título de Une Chronique latine inédite dês róis de Castille jusqu’en 1236. Uma segunda edição foi publicada em 1920 e é essa a seguida pela maioria dos investigadores que a leram e a editaram, mormente Luís Charlo Brea, que ele próprio resolveu traduzir o original manuscrito — do latim medieval, como atrás salientámos — e lhe introduziu notas apensas e explicativas, e cuja edição seguimos.
Sobre o documento Brea refere: É uma cópia, de finais do século XV, de um original perdido, coetâneo dos acontecimentos que relata.
[Crónica Latina de los Reyes de Castilla, p. 6, edición de Luís Charlo Brea, Akal Ediciones, Madrid, 1999.]
Até breve.

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