sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

A mesa medieval. (III)

Refeição na Idade Média.

Ao lado do peixe fresco, a Idade Média fez grande uso de peixe seco salgado e defumado. No norte da Europa, o tráfico de arenque salgado e fumado ocupou muitos barcos e movimentou grandes capitais. Se, em Portugal, a riqueza piscatória e o reduzido, «hinterland» justificavam menos o consumo do peixe não fresco, seria não obstante errado julgar da sua não inexistência. Na falta de frigoríficos e com um clima pouco frio, o recurso à secagem pelo sol facilitava o transporte do peixe a distância e a possibilidade de armazenagem por períodos longos. É assim que um recibo passado por D. Afonso III aos seus uchões, em 1279, nos dá a conhecer a entrada na régia ucharia, entre 1257 e 1270, de 7687 pescadas secas (640 dúzias ew mais 7), 317 congros secos (26 dúzias e mais 5), 2658 postas (talhos) de baleia e 1656 lampreias secas; tudo resultado de serviços e colheitas de povoações piscatórias. Em Lisboa defumava-se sardinha para exportar para Sevilha ou Aragão, nos fins dos séculos XIV. Também para Castela se remetiam pescadas secas. E sabemos da importação de peixe seco proveniente do norte da Alemanha.
Não eram especialmente apreciadas as hortaliças e os legumes, pelo menos entre as classes superiores. O povo, esse fazia basto uso das couves (couve comum, couve-flor, couve murciana, couve tronchuda) e não menos de feijões e favas, amplamente difundidos no mundo islâmico, que duns e doutros consumia diversas variedades. As favas, assim como as ervilhas, as lentilhas, o grão-de-bico e os chícharos, tinham igualmente significado como sucedâneos ou complementos do pão. Quando escasseavam os cereais no Reino, o que passou a ser relativamente frequente a partir dos meados do século XIV, importavam-se muitas vezes favas do estrangeiro para ocorrer à penúria. Os navios bretões demandavam então o Tejo com carregamentos de favas e de outros legumes que iam carregar a portos franceses ou ingleses. Moída para fabrico de farinha, ou simplesmente cozinhada, a fava chegava para manter a fome até ao regresso das boas colheitas
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[A. H. de Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa, pp. 10-11]

Até breve.

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