sábado, 6 de fevereiro de 2010

A mesa medieval. (VI)

Pão: alimento essencial na Idade Média.

Ovos consumiam-se com fartura. Praticamente, todas as receitas elaboradas os levavam. A produção de ovos era consequência natural da abundância de criação: galinhas, patas, gansas, pombas. No Leal Conselheiro, não se condenam nem prescrevem os ovos: porquanto a sua nocividade ou utilidade variavam conforme as pessoas. O Tratado de Cozinha menciona-os cozidos, escalfaldos e mexidos.
A fruta desempenhava papel de relevo nas dietas alimentares medievais, em especial nos países de produção mediterrânea, como Portugal. Conheciam-se praticamente todas as frutas que comemos hoje. Muitas eram autóctones, outras foram introduzidas pelos Árabes. Apenas a laranja doce viria a ser trazida por Vasco da Gama. A laranja azeda, variedade hoje pouco produzida, tinha funções semelhantes às do limão, aliás também consumido. Certas frutas eram consideradas pouco saudáveis: D. Duarte proscrevia o consumo de cerejas e de pêssegos, por os julgar «vianda húmida». Também o limão se desaconselhava por "muito frio e agudo". Era uso comer fruta acompanhada de vinho, à laia de refresco ou como refeição ligeira, própria da noite. (…) Da fruta fresca se passava à fruta seca e às conservas e doces de fruta. Figos secos, passas de uva, amêndoas, nozes, alfarrobas, castanhas, azeitonas eram objecto de intenso consumo por parte das populações, sem falar já no comércio lucrativo que alimentavam com o estrangeiro. Fabricavam-se conservas e doces de cidra (
casquinhas, diacidrão), pêssego (pessegada), limão, pêra (perinhas, perada), abóbora e marmelo (marmelada, bocados, almívar de marmelo). De laranja se fazia a famosa flor de laranja, simultaneamente tempero e perfume. E até de alface se confeccionava uma conserva especial conhecida por talos.
O fabrico de bolos não se encontrava muito desenvolvido. Anteriormente ao século XV, o elevado preço do açúcar obrigava ao uso do mel como único adoçante ao alcance de todas as bolsas. Mas mesmo depois, não se vislumbravam traços do frequente consumo de bolos à maneira moderna.
Havia excepções: fabricavam-se
biscoitos de flor de laranja, pasteis de leite e pão de ló, ao lado dos chamados fartéis, feitos à base de mel, farinha e especiarias. Com ovos também se produziam alguns doces: canudos e ovos de laços, por exemplo. Contudo, só a partir do renascimento e, mais particularmente, dos séculos XVII e XVIII, se desenvolverá a afamada indústria doceira nacional.
[A. H. de Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa, pp. 14-15]

Até breve.

1 comentário:

Anónimo disse...

a idade média fascina-me em tudo: na cultura, costumes, religião, arte mas, sobretudo, alimentação.

aquele povo tanto se tornava cruel como explenderoso.

abraço amigo,
olga