domingo, 12 de julho de 2009

Ataques almorávidas a Leiria e castelos limítrofes, entre 1116 e 1144. (II)

Os testemunhos cronísticos conimbricenses sobre a cronologia deste ataque [1137], como o Livro da Noa ou o Cronicão Conimbricense referem os factos, mas, por razões que derivam de problemas de transmissão textual, as Eras por que os apresentam estão erradas. (1). Isto terá levado Fr. Francisco Brandão a não aceitar um ataque ao castelo de Leiria em 1137, mas apenas em 1140. Alexandre Herculano, contudo, baseado no testemunho da crónica latina do imperador Afonso VII de Castela, aceita os dois anos como tendo havido assédio da fortaleza leiriense em cada um deles (2).
Mas como demonstrou Luís Gonzaga de Azevedo, a
Crónica de Afonso VII, refere-se aos dois recontros. O de 1137 vem descrito após se referir à vitória de Cerneja (1137) como:

“§31 (…)
Post hanc victoriam rex protinus reversus in terram Portugalensem ad succurrendum eis qui erant in quodam Castello quod dicitur Erena quod ille aedificauit à facie alterius Castelli quod a Mauris tenebatur, Sanctarem vocati, ad debelland tam Sanctarem, quam Ulixbonam, et Sintriam, et cetera Castella Sarracenorum quae in circuitu sunt.” (3)

Neste ataque, contudo, a fortaleza deve ter aguentado o assédio sob o comando de Paio Guterres. Em 1140, no entanto, o ataque foi terrivelmente destrutivo, sendo feito prisioneiro o seu alcaide e perecendo ao fio da espada mais de 250 cavaleiros. Narra a
Crónica de Afonso VII que:

Ҥ32.
Eodem vero tempore venerunt Moabites et Agareni supra praedictum Castellum Erenam, ceperuntque illud debellando, et omnes viri bellatores plusquam ducenti quinquaginta Christiani, et quidam viri magnates Regis ibi galdio perierunt, unde facta est tristitia et perturbatio in domo regis Portugalensis.” (4)

Esta destruição de 1 de Outubro de 1140, segundo o
Cronicão Coninbricense, esteve ligada à incursão na Beira interior portuguesa feita pelos Muçulmanos, comandados pelo almorávida Esmar, que atingiria Trancoso, destruindo o seu castelo (5).
[Saul António Gomes, Introdução à História do Castelo de Leiria, p. 23, notas 17 a 21.]

Notas do Autor:

(1). — A mais recente edição crítica destas fontes feita por Monika Walter Blocker (Alfons I. von Portugal. Studien zu geschichte und Sage des Bergrunders der Portugiesischen Unabhangigkeit, Zurique, Fretz un Wasmuth Verlag, 1966, 26-33, 74-81, 115-117, 159-160) considera estas datas como inseguras. Mas a autora não consegue, como ninguém mais, aliás, resolver o problema algo insolúvel da traditio textual dos Anais, à falta de lições originais dessas crónicas crúzias que sobreviveram através de cópias efectuadas no scriptorium local. Veja-se a nota crítica de José Mattoso, na História de Portugal, de A. Herculano, Tomo I, p. 603.
(2). — Monarchia Lusitana, Parte III, Livro 9, Capº. 27; A. Herculano, História de Portugal, Nota final XV, pp. 653-654; nota XVII, pp. 659-661.
(3). — Citado por Luís Gonzaga de Azevedo, História de Portugal, IV, Lisboa, 1944, pp. 169-174.
(4). — Citado por Luís Gonzaga de Azevedo, op. cit., p. 173.
(5). — Alexandre Herculano, História de Portugal, I, pp. 442-444, 659-661; Monarchia Lusitana, Parte III, Apêndice 16; PMH — Scriptores, p. 89; Carlos Riley, “A Guerra e o Espaço na Fronteira medieval Beirã. Uma Abordagem Preliminar”, in Revista de Ciências Históricas, Porto, Universidade Portucalense, vol. VI, 1991, pp. 145-159.

Até breve.

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