quinta-feira, 9 de julho de 2009

O Mito (II).

Num texto que incluiu na colectânea de ensaios Sobre os Espelhos, Umberto Eco definia assim uma das «Dez maneiras de sonhar a Idade Média»: «A Idade Média da tradição. Lugar em que tomou forma (quero dizer: de um modo iconograficamente estável) o culto de um saber mais antigo, o do misticismo hebreu e árabe, e da gnose. É a Idade Média sincretista que vê na lenda do Graal, na questão histórica dos cavaleiros do Templo, e desde então, através da efabulação alquímica, dos Iluminados da Baviera, até à actual maçonaria de rito escocês, o desenrolar de uma única e contínua história iniciática. Acrítica e antifilológica, esta Idade Média vive de alusões e de ilusões, conseguindo sempre e admiravelmente decifrar, seja onde e com que pretexto for, a mesma mensagem. Felizmente, para nós e para os adeptos, a mensagem perdeu-se, o que faz com que a iniciação se torne num processo sem fim, rosa-cruz e delícia para os privilegiados que resistem, impermeáveis às vestes popperianas da falsificação, devotados aos paralogismos da simpatia universal. Mística e sincretista, esta Idade Média inscreve vorazmente na sua história intemporal tudo o que não pode nem provar-se nem falsificar-se» (pp. 9-100). As especulações em torno dos Templários participam desta concepção da Idade Média.
[Paulo Pereira, Templários e Templarismos, Vol. VIII, p. 10, Enigmas, Lugares Mágicos de Portugal.]
Até breve.

Sem comentários: