sábado, 11 de abril de 2009

Portas (I).

Castelo de Pombal e a sua porta medieval.

Se à muralha competia o isolamento do espaço por si delimitado, protegendo-se das ameaças do exterior, as portas estabeleciam a ligação entre o espaço intramuros e esse mesmo exterior. Homens e produtos punham em contacto os dois espaços, transpondo as portas, nos dois sentidos, ara a paz ou para a guerra. (1)
O papel das portas era fundamental do ponto de vista militar, económico, fiscal e até higiénico (2). Também a sua importância simbólica era grande (3). Quando, à noite, em tempo de guerra, ou noutras circunstâncias que o justificassem, cerrava as suas grandes portas de madeira (4), reforçadas a ferro (5), a vila criava, por detrás dos murosa, um espaço imune aos contactos — e portanto aos perigos — exteriores: a guerra, a doença, as malfeitorias.
[Manuel Sílvio Alves Conde, Tomar Medieval, O espaço e os homens, pp. 72-73.]

Notas do Autor:

(1). — “Elles sont l’instrument de la dialectique du dehors et du dedans. Par elles entrent, pour le meilleur et pour le pire, les produits de l aterre et les marchandises plus lointaines, les hommes, immigrants, paysans, narchands, soldats, par elles sortent les produits et les rituels, sur ses places, dans ses échoppes, ses taverns,ses écoles, ses églises”. Jacques Le Goff, “L’apogee de la France urbaine medieval”, in La ville medieval des Carolingiens à la Renaissance, dir, por Jacques Le Goof, t. II da Histoire de la France Urbaine, dir. por Georges Duby, Paris, 1980, pp. 197-198.
(2). — Para além da, essencial, função militar, “cumplia también outra finción no menos importante, cual era la de canalizar a través de las puertas la circulacíon comercial, haciendo posible el controle y la fiscalizacíon de las mercancías”. Fernando Lopez Alsina, Introducción al fenómeno urbano medieval gallego, a través de três ejemplos: Mondoñedo, Vivero y Ribadeo, Santiago de Compostela, 1976, p. 53.
Em caso de peste, as portas serviam de barreira à sua difusão.
(3). — Daí que, frequentemente, as portas das cidades conquistadas fossem transportadas pelos vencedores, consideradas troféus de vitória. Leopoldo Torres-Balbás, Ciudades hispano-musulmanas, t. II, pp. 605-606.
(4). — Sobre as circunstãncias em que se fechavam as portas das cidades muralhadas, cf. María del Carmen Carlé, La sociedad hispano medieval. La ciudad, Buenos Aires, 1984, pp. 30-31.
(5). — “Para evitar su incêndio, las hojas solian de forrarse com chapas de hierro bien clavadas”. Leopoldo Torres-Balbás, ob. cit., t. II, p. 695. Cf., também, María del Carmen Carlé, et alii, ob. cit., p. 30.
Até breve.

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