quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Cerco de Coimbra de 1117.

Ruínas do castelo de Coimbra.

O conde D. Henrique tentou — desde que assumiu o comando do condado de Coimbra, tornada uma verdadeira região de moçárabes (1) — que houvesse um surto de povoamento nesta zona de estabilidade precária devido, essencialmente, à constante ameaça muçulmana. Uma investida devastadora em Junho de 1116 levou os seus habitantes a fugirem e recolherem-se sob a protecção das muralhas de Coimbra, não sem antes terem incendiado e destruído as fortificações do castelo, num acto de desespero, mas ao mesmo tempo de insubmissão, transformando o lugar num antro de feras, nos sete anos seguintes, tempo que demoraria a reconstrução, levando a que Herculano tenha escrito:
Estava desguarnecida ou derribada a linha de castelos que a defendia, e Ali veio sem resistência assentar campo em volta dela (Junho, 1117). D. Teresa achava-se então aí. Tal e tão repentina foi a invasão dos sarracenos que a muito custo a rainha se pôde salvar dentro dos muros da cidade. Os arrabaldes ficaram reduzidos a cinzas e as fortificações foram combatidas durante vinte dias sem interrupção de um só. Defenderam-se, porém, os cercados vigorosamente, e o emir, conhecendo que era inútil o insistir, retirou-se, assolando tudo a tal ponto, que — diz um escritor árabe — subsistiram por largo tempo claros vestígios daquela terrível entrada. De feito, ainda sete anos depois o lugar onde existira Soure achava-se convertido em habitação de feras. Ali passara de novo o Estreito e voltara a Ceuta, satisfeito com a vingança que tomara dos cristãos. (2)
[José Manuel Capêlo, As Sedes Templárias em Portugal, Castelo Branco, a Cidade-Capital Templária de Portugal: de 1215 a 1314, Codex Templi, Capítulo VII, pp. 167-168, notas 52-53.]

Notas do Autor:

(1). — Com o nome de moçárabes designavam os sarracenos os povos que, sem abandonarem a própria religião, recebiam o jugo muçulmano. Moçárabe deriva de Mocetárabe, que significa feitos ou tornados árabes. [Fortunato de Almeida, História de Portugal, p. 71, nota 4.]
(2). — História de Portugal, Tomo I, Livro I, pp. 340-341.

Até breve.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Almedina.

Castelo de Castelo Branco, por Duarte d'Armas, executado numa perspectiva de nordeste.

Povoação árabe que se desenvolvia à volta da alcáçova, à semelhança da vila em relação ao castelo medieval cristão. (1)
[António Lopes Pires Nunes, Dicionário de Arquitectura Militar, p. 34.]

Notas nossas:

(1). — Estas vilas medievais, este branco casario aninhado dentro dos castelos ou a “descer” pelas encostas, junto aos mesmos, são imagens que se podem apreciar, em muitos dos desenhos que Duarte D’Armas [1465-d.1516], escudeiro da Casa Real, executou, nos começos de quinhentos — mais propriamente em 1509 (2) —, a mando do rei D. Manuel, focando e localizando castelos portugueses junto à raia com Castela. Dos 57 castelos visitados, apenas 2 não eram fronteiriços, o de Barcelos e o dos Mouros, em Sintra, marcando, nestas duas excepções, o “desacordo com o propósito enunciado pelo artista no começo do seu trabalho”, como nos refere Manuel da Silva Castelo Branco, na magnífica Introdução que nos deixa no Livro das Fortalezas de Duarte de Armas (3).
Hábil no desenho, foi encarregado por Manuel I de Portugal para levantar o estado das fortificações da fronteira com Castela, o que fez em planta e em panorâmicas, com as respectivas medidas, sinais cartográficos e notas explicativas (4), de Castro Marim a Caminha, conforme se pode ler no texto da Wikipédia.
Duarte d'Armas era um excelente executante de desenho à vista, facto provado pela fidelidade com que representa as muitas fortalezas de cujos alçados e plantas deixou registo, como se observa num outro registo sobre este homem de leis e desenhador — debuxador, se dizia… — dos séculos XV e XVI.
(2). — É Manuel da Silva Castelo Branco, porém, quem melhor nos elucida sobre o tempo que teria demorado Duarte D’Armas a executar este rigoroso trabalho, salvaguardando-se, como se torna evidente, qualquer outro estudo que se nos documente melhor: (…) podemos presumir com a maior convicção que Duarte de Armas, nos começos da Primavera de 1509, iniciou em Castro Marim o seu trabalho de campo, que viria a terminar em Caminha, por volta de Setembro, depois de percorrer toda a zona fronteiriça (num total de 900 kms.) e proceder ao levantamento de 55 fortalezas, em cerca de 7 meses. Nessa altura regressa a Lisboa mas, no caminho, detém-se ainda em Barcelos, que retrata com uma bela vista panorâmica. Na capital, depois de elaborar também 3 vistas de Sintra, enceta imediatamente o trabalho de gabinete a partir dos esboços preliminares. Daqui resultaram os códices B e A, este último em vias de conclusão no mês de Março de 1510. [Edições Inapa, de parceria com o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, p. 16, Lisboa, 1990.]
(3). — Conforme o fac-simile do Ms. 159 da Casa Forte do Arquivo Nacional da Torre do Tombo [ob. cit., p. 1].
(4). — Ainda segundo Manuel da Silva Castelo Branco, na introdução citada, teriam sido dois os volumes organizados (5) por Duarte D’Armas: no Códice B, formado por folhas em papel de linho, teria desenhado 110 cartas panorâmicas, com 296X404 mm., de 55 povoações raianas, desde Castro Marim a Caminha (duas diferentes, para cada lugar) e as plantas de 51 das respectivas fortalezas. (…) no Códice A, constituído por grandes folhas de pergaminho, Duarte de Armas levantou de modo semelhante, o mesmo número de fortalezas, mas nas cartas panorâmicas, medindo 350x490 mm., vemos incluídas as de duas vilas não fronteiriças — Barcelos e Sintra — com uma e três vistas, respectivamente. Agora, porém, o seu trabalho, mais apurado e completo, vai requintar-se em primorosos detalhes, representando o arvoredo e as culturas, que antes apenas apontara pelos nomes (ex.: olivais, vinha, etc.); a cobertura das casas (em colmo, ardósia ou telha); a estereotomia de paredes, muralhas, aros de portas e janelas, etc., etc. Enfim, um trabalho requerendo técnica simples, mas bem adestrada, e… temperando arte e muita paciência!
(5). — Por vezes, verificamos entre os 2 códices algumas diferenças, mesmo quando as vistas da povoação pertencem a bandas iguais (ex.: Castelo Mendo, N[orte]; C[astelo]. Bom, O[este]; Mogadouro, O[este], etc.). [Ob.cit., Introdução, p. 1, nota 2.]


Até breve.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Eventos cronísticos. (I)

Monge cronista.

Um último tipo cronístico de eventos religiosos urbanos diz respeito às notícias sobre a celebração citadina de assembleias eclesiásticas participadas por religiosos oriundos de próximas e distantes áreas da Cristandade. Nas fontes em análise, essa memória urbana regista-se a propósito das cidades citadas enquanto sedes de antigos concílios ecuménicos. Situadas em regiões cuja relativa centralidade geográfica e proximidade em relação à corte papal facilitavam a deslocação local de clérigos, bispos e embaixadores provenientes de províncias eclesiásticas bastante afastadas entre si, elas correspondem a núcleos urbanos servidos por boas redes de comunicações e bem dotadas de infra-estruturas capazes de responder às necessidades de abastecimento e alojamento de uma numerosa e exigente população visitante.
[Maria Sofia Marques Condessa, A memória das cidades dos séculos XII a XIV, nas crónicas de Rui de Pina e Duarte Galvão, p. 137.]

Até breve.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Ordens Militares na Península Ibérica. (I)

As circunstâncias mudaram na segunda metade do século XII, no momento em que surgem as Ordens militares hispânicas e também um pouco depois — a começos do XIII — as centroeuropeias. É este o contexto em que se produz o aparecimento ascencional — bem mais visível na Península Ibérica — das monarquias feudais cujos programas de institucionalização e integração territorial começam a desenhar um modelo de Cristandade regionalizada, a par com o universalismo pontifício. A fronteira da Cristandade, pelo menos no seu extremo Ocidental, compartimenta-se e os reis fazem particulares os seus projectos de Cruzada que, estando menos mediatizados que a iniciativa papal, não deixam de requerer instrumentos próprios, porém adequados às suas necessidades. E os instrumentos são as novas Ordens militares.
[Carlos de Ayala Martínez, Las órdenes militares hispánicas en la Edad Media (siglos XII-XV), p. 22.]
[tradução nossa, do original em castelhano.]

Até breve.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Templários no Outremer. (II)

Carga de cavalaria, de Boccioni.

Ao que tudo indica, as primeiras acções militares de que os Templários participaram foram no norte da Terra Santa — distante da sua suposta tarefa de guardar a estrada dos peregrinos de Jaffa até Jerusalém. Riley-Smith sustentou que a Ordem pode ter adquirido a posse da importante região fronteiriça de Amanus, no principado de Antioquia, já em 1131; o mais tardar, os Templários controlavam Amanus em 1137, antes de qualquer actividade militar na Terra Santa seja registada. Essa região consistia num maciço ao norte de Antioquia que constituía uma barreira natural entre a cidade e a província da Cilícia, ou a Ásia Menor, a norte. Ela foi criada a fim de controlar as duas estradas que levavam através dos portões sírios até à cidade de Antioquia. O rei Fulk de Jerusalém, sucessor de Balduíno II, viajou para Antioquia em 1131 e pode ter conferido a região aos Templários nesse ano.
[Edward Burman, Templários: os Cavaleiros de Deus, pp. 60-61.]

Até breve.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Morte de Balduíno III.

A 10 de Janeiro de 1162, em Beirute, Balduíno III morreu envenenado, diz-se, pelo seu médico. O povo chorou-o. Os seus inimigos renderam-lhe justa homenagem e Nuredin em primeiro lugar. Conta-se que recusou atacar os francos durante o cortejo fúnebre do seu príncipe. Este facto merece ser realçado. A Balduíno III sucedeu Amaury I.
No Templo, Bernardo de Tremelay teve como sucessor, primeiro a André de Montbard, tio de S. Bernardo; e depois de 1156, a Bernardo de Blanquefort, de uma ilustre família da região do Languedoc
.
[Georges Bordonove, Os Templários — história e tragédia, pp. 84-85, Ed. Fondo de Cultura Económica de España, Madrid, 2001.]
[tradução nossa, da edição em castelhano.]


Até breve.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Balluticiacum.

Correria guerreira: balluticiacum.

Em Du Cange se acha balluticiacum por escaramuça, surtida ou incursão de gente a cavalo que, à rédea solta, e como de galope, fazia todo o possível dano a seus inimigos.
[Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, fr., Elucidário, Vol. II (B-Z), p. 14.]

Até breve.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Herdade de Alferroze. (II)

Esta herdade era uma das mais antigas que a Comenda de Elvas possuía no seu termo, herdade que lhe adviera por doação feita na era de 1268 [1230 da era de Cristo] nos termos seguintes:
«
Notum sit omnibus tam presentibus quam fucturis quod Martinus menendii vna cum vxore mea dona Domjnica: damus et concedimus fratribusd Templi turre de Alfarose cum suis terminis sicut habemus confirmatos per litteras concilii de Elbie in die sancti Stephan mense decembris millessima duocentessima sexagessima octaua. Et quis uenirit super hoc factum sit maledictus a deo Amen et pectet ccc morabitinos predictis fratribus Templi. Et hoc fuit eoram pretore. Testis. Marcus Egidio Rodirici. Joane martini fratre pretoris. Domjnico Taujra Pelagius Marcus consanguíneo Egidii Rodericii Menendus Caneliam Stefano carpentario Pelagius pelagii Balestacio Marcus pelagii mantiz. Martinus garfie homjne pretorie. Jo martinj».
[P. M. Laranjo Coelho, As Ordens de Cavalaria no Alto Alentejo, O Archeologo Português, pp. 247-248.]

Até breve.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

As origens modernas do romance. (II)

A novela é um género em prosa, mas tem origem em narrativas jogralescas que eram versificadas e cantadas. Vimos em obra anterior que o reportório jogralesco era muito vasto e procurava corresponder a curiosidades diversamente orientadas.
Quando, no século XII, aumentou o número de pessoas alfabetizadas, as estórias dos jograis foram postas em verso escrito para leitura, como é o caso de várias narrativas de Chrétien de Troyes, compostas no século XII. O verso narrativo é ainda um atestado de oralidade. O livro não se destinava só aos leitores, mas também aos ouvintes, que assistiam em grupos à sua leitura em voz alta
.
[António José Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal, p. 59.]

Até breve.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Espaço de fronteira. (III)

É interessante sublinhar a inexistência, nos textos analisados, de um conceito de “fronteira”. Para designar esta ideia havia que recorrer a um quadro de significantes de valor lato. Utilizavam mais correntemente a expressão “confinibus” (a propósito do povoamento de Pombal, na inquirição de 1183-1186 antes citada) mas, neste momento, pressupõe um perfil territorial físico, com um senhorio institucional estabelecido e, por conseguinte, a palavra não significa propriamente fronteira, mas antes limite concelhio, termo de uma povoação ou vila.
Mesmo ao nível das cidades este problema se mantém
. (1) Na região que nos ocupa [Leiria], a ideia de fronteira é associada à paisagem vegetal, à floresta, como vimos, ou a áreas ermadas. À fluidez oscilante dos limites espaciais evocados corresponde a plurifuncionalidade dos conceitos ou do vocabulário medievos (2).
[Saul António Gomes, Introdução à História do Castelo de Leiria, p. 30, notas 66 e 67.]

Notas do Autor:

(1). — Terra de Pagons”, assim chama um documento de 1139, do Mosteiro de Pedroso, às terras situadas entre Leiria e Soure até ao Tejo e Guadiana, onde se preparava para combater (em Julho daquele ano) um tal Mendo Bernardes, cavaleiro. (Citado por Rosa Viterbo, Elucidário das Palavras, termos e Frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram, II, (ed. Mário Fiúza), Porto, 1966, p. 607a).
(2). — Vide Rita Costa Gomes, A Guarda Medieval, 1200-1500. Lisboa, ed. Sá da costa, 1987, pp. 19, 29.

Até breve.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Estratégia Aquém-Tejo.

Avanço de um exército sarraceno.
Pormenor da pintura: a batalha de Guadibeca.

Como hábeis estrategas, o rei Afonso o Velho, como a Afonso Henriques chama um tomarense de 1317, e o Mestre Gualdim Pais, viram que era mister, para consolidação do Portugal de Aquém-Tejo, defender a via romana que de Scalabis, pelo vale de Tomar, dava acesso ao coração do reino — Coimbra; e evitar que uma travessia fácil da moirama pelo Tejo, fizesse cair, como no final do século XI, de novo Santarém e Lisboa, nas mãos dos infiéis.
[Amorim Rosa, De Tomar, p. 22, 2ª edição.]

Até breve.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Condado e reino de Portugal. (I)

O governo do território portucalense tinha sido confiado por Afonso VI de Castela a D. Henrique de Borgonha, marido de sua filha ilegítima D. Teresa, em 1095, a título hereditário e em troca de um juramento de vassalagem. Quando da morte do conde D. Henrique, o seu filho Afonso — D. Afonso Henriques (1109-1185) — tinha apenas três anos. A regência, assumida por sua mãe, terminou num conflito com Castela, à qual o condado de Portugal teve de submeter-se. No entanto, em 1128, o infante D. Afonso rebelou-se contra sua mãe e derrotou as tropas castelhanas perto do castelo de Guimarães. Depois de muitos conflitos fronteiriços, a paz foi assinada em 1137, e o infante jurou a Afonso VII, o Imperador, «fidelidade, segurança e ajuda contra os inimigos». A partir de 1140, adoptou o título de rei e, em 1143, reconheceu-se vassalo do papa em troca de um tributo que lhe garantia autonomia. A chancelaria pontifícia, no entanto, só em 1179 concedeu o título de «reis» aos príncipes portugueses. A luta prosseguiu contra os reinos vizinhos, e D. Afonso Henriques chegou mesmo a estar prisioneiro, em 1169, do rei de Leão, a quem teve de pagar um resgate de 35 «cargas» de ouro.
[Adeline Rucquoi, História Medieval da Península Ibérica, p. 176.]

Até breve.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Parcelas de território português entregues às Ordens Militares e a colonos.

Várias parcelas do território português eram entregues às Ordens religioso-militares, principalmente aos Templários, que procediam ao arroteamento das terras, tentando a fixação de gente, sempre que possível, em novas vilas, aldeias e herdades. Outras eram entregues exclusivamente a estrangeiros que aí se fixavam como colonos. Estabelecem-se colónias de naturais oriundos da França e da Flandres, principalmente no vale do Tejo, entre Santarém e Lisboa, ou no Alto Alentejo.
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, p. 99.]

Até breve.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A fundação de um Reino. (VII)

Partindo do pensamento teocrático predominante na cristandade, Afonso Henriques, apenas assentada a paz de Zamora, tratou de iludir as consequências dela que lhe podiam ser de futuro desfavoráveis, apelando para a doutrina de Gregório VII e reconhecendo que ao pontífice pertencia o sumo império dos estados cristãos da Península. Esse reconhecimento fê-lo nas mãos de Guido, ou anteriormente à partida do legado, nos fins de Novembro de 1143 para presidir ao sínodo de Gerona, ou depois disso, supondo que ele veio a Portugal antes de regressar para Roma. (1) Numa carta dirigida ao papa, o novo monarca declarava qual era a situação em que se colocara relativamente à sé apostólica em virtude da homenagem que fizera, e oferecia o seu reino à Igreja romana pagando o censo anual de quatro onças de ouro. As condições desta homenagem eram que os seus sucessores contribuiriam sempre com igual quantia e que ele rei, como vassalo (miles) de São Pedro e do pontífice, não só em tudo o que pessoalmente lhe tocasse, mas também naquilo que dissesse respeito ao seu país e à honra e dignidade do mesmo país, achasse auxílio e amparo na Santa Sé, não reconhecendo domínio algum eminente, eclesiástico «ou secular», que não fosse o de Roma na pessoa do seu legado.
[Alexandre Herculano, História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo I, Livro II, pp. 455-456.]

Nota nossa:

(1). — Diferente é a opinião expressa por José Mattoso, sobre este assunto, referida numa das suas Notas Críticas ao Livro II, desta forma: C. Erdmann, ob. cit. [O Papado e Portugal no Primeiro Século da História Portuguesa (Coimbra, 1935), 44-46], na página 44, nota 4, mostra ser impossível uma segunda visita do cardeal Guido a Portugal depois do sínodo de Gerona, porque este foi no fim de Novembro de 1143, e em Fevereiro seguinte já ele estava em Roma. [Alexandre Herculano, História de Portugal, Tomo I, Livro II, nota 33, p. 608.]


Até breve.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A cidade da Guarda, nas palavras de fr. António Brandão.

Sé da Guarda.

Está fundada esta cidade numa parte do monte Hermínio, que vulgarmente se diz serra da Estrela, não no mais alto, mas num espaço de terra chã, que cai da parte oriental e compreende a cidade e algumas partes que a cercam. Da parte do ocidente se divide do mais alto do monte com uma quebrada feita pelo rio Mondego, que por ali passa e tem perto seu princípio. E por causa deste vale fica o assento da cidade superior a todas as terras circunvizinhas, as quais das outras três partes estão mais inferiores e fazem a subida um pouco dificultosa. A cidade é toda murada com cerca de cantaria e torres fortes. No mais alto, tem um castelo defensável por sítio e fortaleza. A Sé é dos edifícios principais do reino, assim na fábrica como em rendas. A terra sadia em todo o tempo e no verão mimosa de frutas e outras coisas que as aldeias lhe comunicam. Alguns invernos são ásperos em demasia por causa da neve, que é contínua naqueles montes.
[António Brandão, fr., Crónica de D. Sancho I e D. Afonso II, pp. 108-109.]

Até breve.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Juromenha: castelo de Geraldo, o Sem Pavor.

Torres almohadas do castelo de Juromenha.

Após a conquista de Évora, definitivamente liberta do domínio sarraceno em Setembro de 1165, Geraldo instalou o seu quartel general nesta cidade e daí lançava as suas frequentes e devastadoras cavalgadas em terras da mourama, mas, pouco tempo depois, na fase preparatória do primeiro assalto contra Badajoz, em 1169, a base logística avançada do caudilho português contra esta importante poderosa praça muçulmana parece ter-se deslocado para Juromenha, alcandorada na margem direita do Guadiana e a dominar do alto os teatros planos e abertos da margem esquerda do rio onde, mais tarde, supomos que já nos tempos de D. Dinis, veio a edificar-se a povoação cristã de Olivença e onde hoje verdejam, em pleno verão, os coloridos prados que os espanhóis souberam conquistar às águas do plano Badajoz.
[José Pires Gonçalves, Monsaraz da reconquista, Anais, Academia Portuguesa de História, Volume 25, pp. 16-17.]

Até breve.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Origem de Tomar. (I)

Localização actual do castelo e da cidade de Tomar.

O Lugar dos Sete Montes é um trecho de colinas com uma área de cerca de 40 hectares, compreendido num vasto domínio doado pelo rei D. Afonso Henriques aos Cavaleiros do Templo, em 1159. Esse território, conhecido pelo nome de Termo de Ceras, está geograficamente situado a meia distância entre as cidades de Coimbra e Santarém. Os seus principais limites são determinados por vários cursos de água como o rio Zêzere, a nascente; a norte o ribeiro da Murta, a poente pela ribeira da Beselga e, a sul, o trecho final do rio Nabão até desaguar no Zêzere.
É o Lugar dos Sete Montes que vai dar origem à povoação de Tomar
.
[Álvaro José Barbosa, Os Sete Montes de Tomar: memória dos Templários inscrita na paisagem, Codex Templi, Cap. XI, p. 259.]

Até breve.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Glossário

Para que haja um melhor conhecimento e enquadramento da época medieval que vimos apreendendo nestes pequenos quadros históricos, que apresentamos diariamente — salvo os raros dias de não publicação por motivos absolutamente alheios à nossa vontade —, achei que seria importante e oportuno, tanto quanto útil, inserir um glossário (1) amplo e diverso que nos possa elucidar melhor quanto ao que pretendemos fazer conhecer. Como já fizemos anteriormente, e em tempo espaçado, daremos nota desses mesmos termos.

Glossário:

abacial: referente ao abade ou à abadia; ábaco: espécie de contador mecânico para fazer cálculos; parte superior do capitel em que assenta a arquitrave; aparador.
abádida: referente aos Abádidas; dinastia muçulmana que dominou em Sevilha no século XI.
abafas: ameaças arrogantes; bravatas.
abalistar: atacar com balista.
abarregado: diz-se de uma propriedade onde não reside o dono e que está por isso exposta aos ladrões; amancebado; amigado.
abcisão: corte rente.
abdicatário: que ou aquele em favor de quem se abdica; o que faz a abdicação.
albardadura: conjunto dos arreios das bestas.
azorrague: látego formado por correias entrelaçadas; chicote.
guelfo: termo introduzido, na Itália, pelo imperador Frederico II, da Alemanha, que pretendia denominar a todos os que eram partidários ou promotores do pontífice e da independência da Itália.
gibelino: termo introduzido, na Itália, pelo imperador Frederico II, da Alemanha, que pretendia denominar a todos os que eram partidários ou promotores do Império ou do Imperador Alemão.
peito: tributo, imposto, dívida.
penável: digno de pena e castigo.
pergamilheiro: oficial que prepara, compõe ou vende pergaminhos.
pestrumeiro: o último, o derradeiro, o que fica para o fim.
poçíma: finalmente; por fim.
prazo: obrigação; qualquer escritura; concerto; ajuste.
talia: que se ajusta; compõe; faz avença.
terra de pagons: assim chamavam os nossos antigos às terras, que os Mouros ocupavam, quer fossem ao norte, quer ao meio-dia ou para a parte do nascente.
Entendia-se, também, ou principalmente, como (…) a que ficava desde Soure e Leiria para o Tejo e Guadiana (…).
Pedro Alvites

Nota:

(1) — Para uma consulta da bibliografia aqui inserida, dar-se-á uma relação num dos dias finais de cada ano.


Até breve.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O censual.

(…) o censual consigna, entre outros, o ónus de pagar «en cada huum anno hum quarteiro de trigo limpo pela medida de Ponte».
Nestas condições, conhecendo os submúltiplos do
moio e sabendo que o quarteiro de Ponte tinha dezasseis alqueires, podemos fixar os seguintes padrões:

moio — 64 alqueires;
quarteiro — 16 alqueires;
quarta — 4 alqueires;

e mais:

teiga (taleiga) — 4 alqueires;
puçal (para líquidos) — 9 almudes ou 18 cântaros;
almude: para secos — 2 alqueires;
para líquidos — 2 cântaros de 12 litros cada um;
libra — 2 arráteis;
arrátel — 459 grs.
[José Marques, Relações entre Portugal e Castela nos finais da Idade Média, p. 75.]

Até breve.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A mesa medieval. (VI)

Pão: alimento essencial na Idade Média.

Ovos consumiam-se com fartura. Praticamente, todas as receitas elaboradas os levavam. A produção de ovos era consequência natural da abundância de criação: galinhas, patas, gansas, pombas. No Leal Conselheiro, não se condenam nem prescrevem os ovos: porquanto a sua nocividade ou utilidade variavam conforme as pessoas. O Tratado de Cozinha menciona-os cozidos, escalfaldos e mexidos.
A fruta desempenhava papel de relevo nas dietas alimentares medievais, em especial nos países de produção mediterrânea, como Portugal. Conheciam-se praticamente todas as frutas que comemos hoje. Muitas eram autóctones, outras foram introduzidas pelos Árabes. Apenas a laranja doce viria a ser trazida por Vasco da Gama. A laranja azeda, variedade hoje pouco produzida, tinha funções semelhantes às do limão, aliás também consumido. Certas frutas eram consideradas pouco saudáveis: D. Duarte proscrevia o consumo de cerejas e de pêssegos, por os julgar «vianda húmida». Também o limão se desaconselhava por "muito frio e agudo". Era uso comer fruta acompanhada de vinho, à laia de refresco ou como refeição ligeira, própria da noite. (…) Da fruta fresca se passava à fruta seca e às conservas e doces de fruta. Figos secos, passas de uva, amêndoas, nozes, alfarrobas, castanhas, azeitonas eram objecto de intenso consumo por parte das populações, sem falar já no comércio lucrativo que alimentavam com o estrangeiro. Fabricavam-se conservas e doces de cidra (
casquinhas, diacidrão), pêssego (pessegada), limão, pêra (perinhas, perada), abóbora e marmelo (marmelada, bocados, almívar de marmelo). De laranja se fazia a famosa flor de laranja, simultaneamente tempero e perfume. E até de alface se confeccionava uma conserva especial conhecida por talos.
O fabrico de bolos não se encontrava muito desenvolvido. Anteriormente ao século XV, o elevado preço do açúcar obrigava ao uso do mel como único adoçante ao alcance de todas as bolsas. Mas mesmo depois, não se vislumbravam traços do frequente consumo de bolos à maneira moderna.
Havia excepções: fabricavam-se
biscoitos de flor de laranja, pasteis de leite e pão de ló, ao lado dos chamados fartéis, feitos à base de mel, farinha e especiarias. Com ovos também se produziam alguns doces: canudos e ovos de laços, por exemplo. Contudo, só a partir do renascimento e, mais particularmente, dos séculos XVII e XVIII, se desenvolverá a afamada indústria doceira nacional.
[A. H. de Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa, pp. 14-15]

Até breve.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Espaço de fronteira. (II)

Mas a ocupação dum locus vastae solitudinis, duma terra deserta ou duma silva magna era legítima a um senhor cristão cujos interesses, deste ponto de vista, caminhavam paralelamente às disponibilidades e motivações dos cónegos crúzios. Por isso, a pena do escriba crúzio não se cansa de enaltecer e justificar os seus actos de conquista. Tratava-se de registar, ainda que através de uma forma concisa e biográfica, o currículo de um projecto comum.
Desse projecto fazia parte encontrar saídas para uma população crescente e excedentária que atingia todos os grupos e níveis sociais. Uma dessas soluções foi justamente a ocupação da terra leiriense que, de fronteira, passou a território. Outra será a conquista da “terra dos pagãos” com pontos altos nas tomadas de Santarém e de Lisboa, em 1147
.
[Saul António Gomes, Introdução à História do Castelo de Leiria, p. 30.]

Até breve.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ainda… Idanha-a-Velha.

Li em uma memória de mão que ganhara el-rei D. Sancho I esta cidade [Idanha], e para mim é muito provável, pois vejo a doação que dela fez aos Templários e por outra parte não acho em tempo de el-rei D. Afonso Henriques relação da conquista da Idanha; sendo coisa certa que se devia ganhar em algum tempo, é muito provável el-rei D. Sancho antes de a dar aos Templários, por ser quase costume ordinário naqueles príncipes entregarem as terras que ganhavam às Ordens Militares e muitas vezes fazerem delas liberal doação a particulares mosteiros.
[António Brandão, fr., Crónica de D. Sancho I e D. Afonso II, pp. 107-108.]

Até breve.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O reino franco do Oriente. (V)

Alguns importantes governantes muçulmanos invadiam constantemente os limites das terras dos cruzados das cidades de Alepo, Damasco e Homs, que ficavam a uma pequena distância de castelos e cidades dos quatro estados. Mais para leste, os seldjúcidas de Bagdad e os fatimidas de Fustat estavam prontos para se aproveitar de qualquer fraqueza, ao passo que o sultão do Egipto ameaçava constantemente a fronteira sul do Reino de Jerusalém.
[Edward Burman, Templários: os Cavaleiros de Deus, p. 60.]

Até breve.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Investigadores antigos e modernos da Ordem do Templo, em Portugal.

Também por me parecerem — e serem! — verdadeiramente importantes os estudos históricos realizados por investigadores antigos e modernos — de que destaco, manifestamente, os nomes de Pedro Álvares Seco (1) [séc. XV]; fr. Jerónimo Roman (2) [ou Romano] [séc. XVI]; fr. António Brandão [1584-1637]; Alexandre Ferreira (3) [1664-1737]; fr. Bernardo da Costa [1701-1779] — porventura, estes dois últimos, os mais importantes dos investigadores que, num tempo mais ou menos próximo de quase trezentos anos, se debruçaram e escreveram, quase que exclusivamente, sobre a Ordem do Templo em Portugal; fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo [1744-1822]; o historiador alemão Eric Schæffer (4) [sécs. XVIII-XIX]; Alexandre Herculano [1810-1877]; Vieira Guimarães [1864-1939]; Amorim Rosa, Manuel da Silva Castelo-Branco, António Lopes Pires Nunes, Mário Jorge Barroca, Saul António Gomes, Paulo Pereira, Nuno Villamariz Oliveira, Maria Sofia Dias Rodrigues, Paulo Alexandre Loução, entre poucos mais —, dados em textos de honestíssima investigação e criteriosa narrativa, contribuindo, desta forma, para um melhor esclarecimento para a História — de personagens e factos — que relembrará a existência e passagem da Ordem do Templo em Portugal.
[José Manuel Capêlo, As Sedes Templárias em Portugal, Castelo Branco, a Cidade-Capital Templária de Portugal: de 1215 a 1314, Codex Templi, Capítulo VII, p. 161, notas 21 a 24.]

Notas do Autor:

(1). — Aquele Pedro Álvares Seco que por mando de El-Rei D. Sebastião, no ano de 1560 escreveu o tombo das rendas e direitos do Convento de Tomar e comendas da Ordem de Cristo, em dois volumes, que se encontram manuscritos na Biblioteca Nacional. (...) [J. Ribeiro Cardoso, Castelo Branco e o seu Alfoz, achegas para uma monografia regional, p. 20.]
(2). — Monge de origem castelhana.
(3). — Que escreveu um Suplemento Histórico ou Memorias, e Notícias da Celebre Ordem dos Templários, para a História da admirável Ordem de Nosso Senhor Jesus Christo, Parte Primeira, Tomo Primeiro; e umas Memorias, e Noticias Históricas da Celebre Ordem Militar dos Templários na Palestina, para a Historia da admirável Ordem de Nosso Senhor Jesus Christo em Portugal, Tomo Segundo da Primeira Parte, ambas publicadas em 1735. Há um terceiro volume, Historia das Ordens Militares que houve no Reyno de Portugal, que nunca chegou a ser publicado, devido à morte do seu autor, mas que corre em edição fac-similada, como os dois anteriores.
(4). — Que escreveu uma belíssima e muito correcta História de Portugal, em cinco volumes, que o próprio Herculano referiu muito elogiosamente, já que lhe teria sido extremamente útil para a sua História de Portugal, desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, publicada em 4 volumes [1ª edição de 1847].

Nota nossa:

Poderemos acrescentar vários nomes de investigadores portugueses, que, por esquecimento ou desconhecimento à altura da publicação do seu livro, José Manuel Capêlo não citou. São eles: P. M. Laranjo Coelho, Iria Gonçalves, Maria Alegria Fernandes Marques, Manuel Sílvio Alves Conde, Isabel Morgado de Sousa e Silva, Ernesto Alves Jana ou José Manuel Vargas, entre poucos mais.
É apenas uma achega ao número daqueles que se debruçam sobre a documentação, existente e/ou visível, da Ordem do Templo no nosso País.

Até breve.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Autores e Obras citados de 01.Janeiro.2010 a 30.Janeiro.2010.

Monge escrivão.

(a Autores e a Obras anteriormente referenciados, apenas se lhes citam os nomes e respectivos títulos.)

A. H. de Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa;
Adeline Rucquoi, História Medieval da Península Ibérica,
Amorim Rosa, De Tomar, Edição comemorativa do V centenário da morte do infante D. Henrique e do VII centenário da cidade de Tomar, 2ª. edição, Tomar, 1991;
António Brandão, fr., Crónica de D. Sancho I e D. Afonso II;
António Lopes Pires Nunes, Os castelos Templários da Beira Baixa;
António José Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal;
Edward Burman, Templários: os Cavaleiros de Deus;
Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho, Edições Ática, Lisboa, s/d;
Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal;
Gonzalo Martínez Díez, Los templarios en los reinos de España;
Hermenegildo Fernandes, D. Sancho II;
Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, fr., Elucidário, Vol. II;
José Carlos Sánchez Montero, Apogeu e Decadência, Prisão e Julgamento da Ordem do Templo, Codex Templi;
José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal;
José Manuel Capêlo, As Sedes Templárias em Portugal, Castelo Branco, a Cidade-Capital Templária de Portugal: de 1215 a 1314, Codex Templi, Capítulo VII;
José Mattoso, A nobreza medieval portuguesa no contexto peninsular, Naquele tempo, Ensaios de História Medieval, Vol. I;
José Pires Gonçalves, Monsaraz da reconquista, Anais, Academia Portuguesa de História, Volume 25, 1979;
Manuel Sílvio Alves Conde, Tomar Medieval;
Mário Jorge Barroca, Do vale do Mondego à reconquista definitiva de Lisboa (1147), Vol. 1, Da Reconquista a D. Dinis, Nova História Militar de Portugal;
Miguel de Oliveira, pe., História Eclesiástica de Portugal;
P. M. Laranjo Coelho, As Ordens de Cavalaria no Alto Alentejo;
Padre Espanha, Compendio de Notícias de Vila Viçosa, Redondo, 1892;
Saul António Gomes, Introdução à história do castelo de Leiria.

Outros:

Tesouros Artísticos de Portugal.

Até breve.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Divisa da Ordem do Templo.

Selo templário: dois cavaleiros num só cavalo.
[ Pintura de Juan Díaz.]

Os dois cavalleiros montados no mesmo cavallo não designam (1), como ingenuamente se julgou, a pobreza da Ordem, que não tinha cavallos bastantes para os seus cavalleiros. Significa outra coisa muito differente: a dupla constituição da Ordem, o facto de que tinha um lado Militar e um lado Sacerdotal, ou, em outras palavras, um lado exotérico e outro esotérico, um lado externo e outro interno. O primeiro estava em contacto com a Igreja de Roma e a ella se subordinava e obedecia; o segundo a ninguém humano devia, ou poderia dever, obediência.
[Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho, Edições Ática, Lisboa, s/d .]

Nota:

(1). — Sob a divisa Sigillum Militum Christi, criava-se a figura de um cavalo, levando no dorso um cavaleiro e um peregrino. [A. Vieira d’Areia, O Processo dos Templários, p. 15.]


Até breve.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

D. Martin Anes, o Sangalho.

(…) a carta de foral de Vila Viçosa, datada de 5 de Junho de 1270 e comunicada, precisamente, de Monsaraz onde figura como «pobrador» e primeiro alcaide um D. Martim Anes, dito Sangalho, inclui na lista das personalidades que testemunham a sua outorga pública o referido D. Martim Anes «do Vinhal», que assina o documento com precedência sobre várias figuras de grande nível social e, entre elas, o próprio Prior do Hospital, D. Afonso Pires Farinha (1).
[José Pires Gonçalves, Monsaraz da reconquista, Anais, Academia Portuguesa de História, Volume 25, p. 49.]

Nota do Autor:

(1). — Padre Espanha, Compendio de Notícias de Vila Viçosa, pp. 113-114, Redondo, 1892.


Até breve.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Herdade de Alferroze. (I)

Finalmente, no termo da mesma vila e no mesmo caminho de Badajoz tinha a comenda de Elvas uma grande e importante herdade denominada de Alferroze (1), com três folhas, cada uma das quais levava dez moios de pão e, semeadura, a qual estava arrendada nessa época por oito moios de trigo, cinco de cevada postos na vila, três mil reis de pitança, vinte velos de lã, dois carneiros, dois queijos, quatro cabritos e meia dúzia de galinhas».
[P. M. Laranjo Coelho, As Ordens de Cavalaria no Alto Alentejo, O Archeologo Português, p. 247.]

Nota nossa:

(1). — Nos dias de hoje esta comenda tem o nome de Alfarofe.


Até breve.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A mesa medieval. (V)

Uma mesa senhorial na Idade Média.

Para bem condimentar os alimentos, usavam os Portugueses da Idade Média espécies várias de matérias gordas. O azeite colocava-se, sem contestação, em primeiro lugar, e o seu papel na culinária foi aumentando, à medida que a mancha dos olivais subia para norte. Contudo, o emprego da manteiga era igualmente relevante e parece ter correspondido a uma indústria local bastantes desenvolvida, talvez mais até do que a do queijo. São numerosas as referências a manteiga na documentação que nos resta. Ao lado da manteiga outras gorduras animais de farto consumo eram o toucinho e a banha. Num país como Portugal, em que o gado porcino avultava na pecuária, e em que a carne de porco abundava no açougue, compreende-se o papel da banha de porco no tempero culinário de todas as camadas populacionais. Em certos casos, mas com menos frequência, também a gordura de vaca servia na confecção dos repastos.
Não se esqueça, claro está, o sal, que não apenas funcionava como tempero básico a quase todas as vitualhas, mas também se exigia para a conservação de carnes, peixes e outros alimentos que fosse necessário armazenar ou transportar.
As chamadas viandas de leite estão presentes com frequência na alimentação medieval do português. Por elas se entendiam queijo, nata, manteiga, doces feitos à base de lacticínios, além de, evidentemente, o prórpio leite. Este, aliás, consumia-se em muito fraca quantidade. Na sua maior parte, transformava-se em queijo e em manteiga. Servia também como medicamento. Mas parece ter-se utilizado pouco para matar a sede ou como alimento «de per si».
Os «lacticínios» tomavam-se em regra como acompanhamento ou sobremesa
.
[A. H. de Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa, pp.12-13.]

Até breve.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Palavras do foral de D. Sancho II, a Idanha-a-Velha.

Torre templária de Idanha-a-Velha.


A este fundamento de estar no ano de 1199 a cidade de Idanha sujeita a el-rei D. Sancho [I] e povoada, ajuntamos outro princípio certo e é o foral que lhe deu el-rei D. Sancho II, donde sabemos ser destruída depois ou despovoada por causa dos mouros e que não foi muito depois da doação e troca relatada.
«Eu, D. Sancho II, por graça de Deus rei de Portugal, que no Concílio Geral celebrado em Coimbra de novo mandei povoar esta cidade de Idanha de muito tempo despovoada, por causa dos inimigos da fé, por conselho de D. João, pela graça de Deus, bispo sabinense e legado da Santa Sé Apostólica, e por parecer dos bispos e barões de meu reino e que mandei fazer e confirmei esta carta com meu sinal e selo em presença dos infra-escritos, estando na Guarda no mês de Abril da era de 1267», que é o ano de Cristo de 1229.
Consta desta antigualha dar el-rei D. Sancho II foral à Idanha, trinta anos depois que seu avô el-rei D. Sancho I fez concessão dela aos Templários
(…)
[António Brandão, fr., Crónica de D. Sancho I e D. Afonso II, p. 107.]

Até breve.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Razão deveras importante.

Por outro lado, se Tomar teve a sua importância, enquanto foi sede da Ordem [entre 1160 e 1215] — porém não tanta quanto aquela que a publicidade tenta encontrar e faz parangonas —, jamais a bela e histórica cidade do Nabão readquiriu a importância templária que hoje em dia se lhe dá, porque, na realidade, nunca mais a teve, ficando apenas como simples Comenda e priorado. E há que dizê-lo sem peias nem donas, porque a verdade é a realidade — a única — que se nos mostra bem visível e documentada. A cidade voltou a recuperar nova evidência e notoriedade, precisamente em 1357, quando o Mestre da Ordem de Cristo, D. Nuno Rodrigues [1356-1372], conseguiu que o rei D. Afonso IV [1325-1357] (1) e o papa Alexandre IV [1254-1261] a transferissem de Castro Marim — para onde tinha sido enviada e colocada desde o seu início — de volta à velha urbe onde a antiga Milícia dos Pobres Cavaleiros de Jesus Cristo deixara bens preciosos: o castelo, a charola e o Panteão, essa simples mas magnífica igreja de Santa Maria dos Olivais, na qual jaziam as sepulturas (2) de vinte e dois Mestres templários erguidas nos seus formidáveis mausoléus, até que o camartelo de um impiedoso e sacrílego Geral jerónimo de má têmpera e desditoso engenho, as fez destruir (3), dando-se, mais tarde, perpétua sepultura nas paredes de capelas laterais, a apenas três deles: D. fr. Gualdim Pais e D. fr. Lourenço Martins, da Ordem do Templo, e D. Gil Martins, 1º Mestre da Ordem de Cristo e ex-Mestre da Ordem de Avis.
[José Manuel Capêlo, As Sedes Templárias em Portugal, Castelo Branco, a Cidade-Capital Templária de Portugal: de 1215 a 1314, Codex Templi, Capítulo VII, pp. 160-161, notas 18 a 20.]

Notas do Autor:

(1). — Praticamente no final do seu reinado.
(2). — Alguns dos seus principais Lugar-tenentes, Comendadores e Priores, foram igualmente sepultados no lajeado das naves central e laterais.
(3). — Pelos anos de 1530-1540.

Até breve.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Templários em Portugal.

Templário em combate.

A Ordem do Templo tinha como bandeira a «balsa», bipartida de negro — terror e morte dos inimigos — e branco — fé e caridade para os cristãos; ao meio, a vermelho, a cruz doada por Pedro Bernardo (Eugénio III) e em volta, padrão de modéstia de tais homens, só ombreada pela sua fé e pela sua valentia, este salmo do rei David: «Não a nós Senhor, não a nós, mas ao Teu nome dá Glória!», que era também o seu grito de guerra.
Tais eram os cavaleiros que em 1126 estabeleceriam a sua cabeça em Braga e a quem, em 1147, D. Afonso Henriques doava os rendimentos eclesiásticos de Santarém
.
[Amorim Rosa, De Tomar, p. 20, 2ª edição, (fac-simile), Edição comemorativa do V centenário da morte do Infante D. Henrique e do VII centenário da cidade de Tomar, Tomar, 1991.]

Até breve.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Guerras e ginetes. (I)

O caso de cavaleiros modestos que vão servir as mesnadas de vários senhores castelhanos é mais frequente. É aí que muitas vezes encontram a morte. Assim aconteceu com Estevão Soares de Barbudo, morto em 1286 na lide de Alfaiates contra Sancho IV de Castela, ao serviço de João Nunes de Lara; com Fernão Fernandes Cogominho, que combatia nas tropas do mesmo senhor e que morreu em Chinchila, em 1290, em combate contra Estevão Rodrigues de Castro; com Gonçalo Anes de Lima, que perdeu a vida numa batalha contra os Mouros junto a Granada, em 1280; com Gonçalo Gonçalves Mourão e seus irmãos Lourenço e João, que pereceram também em combate contra os Mouros, mas em Tarifa, em 1292; com Gonçalo Martins de Nomães, que foi alferes do infante Henrique de Castela e o acompanhou à Lombardia, de onde não voltou depois da batalha de Benevento em 1266 ou da de Tagliacozzo em 1268; com Lopo Lopes Gato, que se ficou em Jerez de los Caballeros por altura da revolta mourisca de 1265; com Vasco Martins Pimentel que, em Córdova, foi vítima dos combates entre Afonso X e o infante D. Sancho. Mas nem todos deixavam os seus corpos nos campos de batalha, apesar de também prestarem serviços como cavaleiros, pois regressaram a Portugal, onde, por vezes, conseguiram algum sucesso, como aconteceu com João Simão de Urrô, que foi meirinho-mor de D. Dinis, depois de na sua juventude ter vivido em Castela ao serviço da família Lara; outros, enfim, chegaram a alcançar posições de grande prestígio, mas nem por isso abandonaram a vida militar, como Gonçalo Anes de Aguiar, o Velho, que tinha estado nas campanhas de Múrcia e Sevilha, e que acabou por morrer às mãos dos Mouros em Granada em 1280.
[José Mattoso, A nobreza medieval portuguesa no contexto peninsular, Naquele Tempo, Ensaios de História Medieval, Vol. 1, p. 332.]

Até breve.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Morte da rainha D. Dulce.

Rainha D. Dulce de Aragão (1154-1211)

Neste ano do Senhor de 1198 (1), no primeiro dia do mês de Setembro, faleceu a Sereníssima Rainha D. Dulce, mulher de el-rei D. Sancho [I]. Assim ficou em memória no livro dos óbitos de Santa Cruz de Coimbra, aonde foi enterrada. Era filha de D. Ramon Berenguer, conde de Barcelona, e de sua mulher D. Petronilha, rainha de Aragão, filha e herdeira de el-rei D. Ramiro, que chamaram o Monge e o havia sido.
(…) Nove filhos lhe contam nossos historiadores, entre varões e fêmeas.
[António Brandão, fr., Crónica de D. Sancho I e D. Afonso II, p. 36.]
Nota nossa:

(1). — A data do passamento da rainha está incorrecta. O ano em que morreu foi o de 1211 e não o de 1198. Ou o eminente historiador errou, o que acontece aos melhores, ou houve uma gralha tipográfica na impressão da data, que me parece o mais certo.

Até breve.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Divisões territoriais na Península Ibérica.

A divisão, em 1035, pelo rei Sancho III, o Grande, entre os seus filhos, do conjunto de territórios que tinha conseguido reunir, determina a evolução política futura da Península. Dos quatro principados que ele então constituiu, Navarra, Castela, Aragão e a união dos condados de Sobrarbe e Ribagorza, só estes últimos desapareceram, fundindo-se com a coroa de Aragão. O casamento de Raimundo Berenguer IV e de Petronilha consagrou em 1137 a união da Catalunha e de Aragão. Em 1140, porém, D. Afonso Henriques proclamou-se rei de Portugal e criou um reino à custa da coroa de Castela. No entanto, no decorrer do século XII, nada parecia definitivo e, enquanto se faziam uniões pela força das armas ou pelo casamento, davam-se divisões.
[Adeline Rucquoi, História Medieval da Península Ibérica, pp. 174-175.]

Até breve.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Espaço de fronteira. (I)

A apropriação dum espaço fronteiriço é legítima porque feita a fundamento, e por isso mesmo terra de ninguém, ainda que isso custasse a quebra dos equilíbrios militares preexistentes entre muçulmanos e cristãos. Resultava, contudo, na dilatação da fé cristã, o que constituía motivo suficiente para merecer o encómio dos monges e cónegos conimbricenses.
A fundação de Leiria significava a intromissão numa zona neutra, provocando o rompimento dum equilíbrio relativamente estável desde há mais de um século. As fontes cristãs apresentam-na mesmo como essencial para a defesa dos campos de Coimbra, demasiado frequentemente assediados, por essa época, pelas hostes almorávidas e sarracenas
.
[Saul António Gomes, Introdução à História do Castelo de Leiria, pp. 29-30.]

Até breve.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Comendas templárias.

(…) a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo contava aproximadamente com mil e quinhentas comendas no momento da sua supressão.
[José Carlos Sánchez Montero, Apogeu e Decadência, Prisão e Julgamento da Ordem do Templo, Codex Templi, p. 285.]

Até breve.

domingo, 17 de janeiro de 2010

A mesa medieval. (IV)

Os Portugueses do interior, sobretudo beirões e transmontanos, não precisavam todavia de recorrer à fava. Bastava-lhes a castanha dos castanheiros úberes que o solo e o clima favoreciam. Durante metade do ano comiam castanha em vez de pão. Não consta, porém, que o sucedâneo interessasse ao país todo. Restam escassos testemunhos de um comércio desenvolvido de castanha, das zonas do interior para os centros populosos do litoral e do sul.
Brócolos, alfaces, pepinos, rabanetes, rábanos, cogumelos, cenouras, nabos, espargos e outros produtos hortícolas consumiam-se da mesma forma no Portugal medievo.
Nas casas ricas, onde a culinária era requintada, as ervas de cheiro serviam de ingredientes indispensáveis à preparação das iguarias. Coentros, salsa e hortelã, ao lado de sumos vários (de limão e de agraço), de vinagre, de cebola e de pinhões, contribuíam para o bom tempero das vitualhas. Cebola e azeite entravam para o tradicional refogado.
(…) O cravo, o açafrão, a pimenta e o gengibre é que não seriam muito vulgares nas receitas da nossa Idade Média. Só com o estabelecimento de relações comerciais com o oriente se introduziram em Portugal vastas quantidades de especiarias, a preços relativamente módicos. Logo se passou a usar e a abusar do seu emprego na preparação da cozinha.
É verdade que ao longo dos séculos XII a XV se conheceram e aplicaram na comida diversas especiarias. Mercadores catalães e sevilhanos traziam-nas a Portugal, importadas do oriente. Na casa real, temos testemunhos do consumo de algumas drogas em quantidades apreciáveis, pelo menos desde os fins do século XIII. As contas da ucharia de D. Dinis, relativas aos anos de 1278-82, mostram a compra de açúcar, com as variedades açúcar rosado e açúcar de Alexandria. Era tão caro, que se avaliava em mais de cinquenta vezes o preço do mel! Compravam-se igualmente pimenta, gengibre e outras especiarias difíceis de identificar hoje. A pimenta devia ser relativamente frequente, embora cara. Surge mencionada na maioria dos forais dos séculos XII e XIII
.
[A. H. de Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa, pp.11-12.]

Até breve.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Razão deveras compreensível.

Castelo Branco, numa perspectiva de noroeste,
vista por Duarte d'Armas nos inícios do século XVI.

Não sei bem porquê — porque razão intrínseca e deveras misteriosa, só assim se compreendendo — Castelo Branco, isto é, os seus habitantes e principalmente os seus mandantes, sempre esqueceram a importância da sua urbe na história dos Templários em Portugal, já que foram exactamente estes que a fundaram, lhe deram o nome e a fizeram desenvolver desde início. Complexo? Mas de quê e porquê, já que outros lugares e regiões, tendo as honrarias mas não a verdade, se proclamam e vêem instituídos privilégios que não lhes cabe? Temor? De que estranha raiz — se é que na verdade existiu!... — é a sua proveniência, quando o então poder estabelecido — a Monarquia e a Igreja, cada um com a sua Inquisição, que não deixava de ser uma e a mesma — utilizaram a heresia e um fascinado e malévolo ocultismo contra a Ordem e todos os seus membros? Esquecimento? Será que ainda é preciso lembrar-lhe que a História é só uma e que a sua fundação é igualmente uma e bem determinada, pese-lhes o martírio de histórias e lendas que lhes fabricaram — e ainda vêem fabricando!... — para a origem do seu nome, criação, desenvolvimento e extinção? Concertada conveniência? Muito provavelmente nos princípios e nas formas de antigamente, já porque não só ela como uma possível e surda conivência teriam sido motivos — que já não importa mencionar, porque não têm absolutamente lugar nenhum —, já porque os tempos são definitivamente outros e se explicam sem complexos nem maneirismos, baseados em documentos probos e em evidências indiscutíveis. Há que termos a noção de que vale mais termos uma História, mesmo que mais violenta — sem nos devermos esquecer que, como Ordem militar, os seus membros combatentes, isto é, os seus monges-guerreiros, eram treinados no uso e prática de uma violência sem limites — que nos faça pensar, mas não nos macule, do que uma falsa história ornada de fantasias ou incríveis balelas apanhadas no pitoresco de uma [ou mais] versão [versões] de antropomorfismo arqueológico sem pés nem qualquer tipo de razão, quanto mais de cabeça, e uma outra de falso esoterismo-simbolismo e procurados mistérios em tesouros que nunca existiram e se procuram denodadamente encontrar — nesse ilusório ouro (1) jazendo em Gisors ou em Tomar —, quer como herdeiros de hipotéticos descendentes de Jesus Cristo e Maria Madalena. Há que se ter juízo e verdadeira noção da realidade para não se enfermar por caminhos ínvios e absolutamente inventados, como se está seguindo para conseguimento e venda de milhares e milhares de exemplares, criando best-sellers onde só a ficção e um bom poder de narrativa existem, ou mesmo, quando nada disso se procura.
[José Manuel Capêlo, As Sedes Templárias em Portugal, Castelo Branco, a Cidade-Capital Templária de Portugal: de 1215 a 1314, Codex Templi, Capítulo VII, pp. 159-160, nota 17.]

Nota do Autor:

(1). — Na verdade, todo o ouro e prata encontrados nos subterrâneos da sede da Ordem em Paris — e que era bastante! — foram mandados derreter por ordem de Felipe, o belo, para que se viessem a cunhar moedas, tão necessárias para os depauperados cofres reais. Uma lufada de ouro-moeda e prata-moeda varreu então, de nova riqueza, o território do frio, determinado e inabalável monarca francês.

Até breve.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Glossário

Para que haja um melhor conhecimento e enquadramento da época medieval que vimos apreendendo nestes pequenos quadros históricos, que apresentamos diariamente — salvo os raros dias de não publicação por motivos absolutamente alheios à nossa vontade —, achei que seria importante e oportuno, tanto quanto útil, inserir um glossário (1) amplo e diverso que nos possa elucidar melhor quanto ao que pretendemos fazer conhecer. Como já fizemos anteriormente, e em tempo espaçado, daremos nota desses mesmos termos.

Glossário:

abalienação: direito que havia, entre os Romanos, de transmitir terras e gados ou escravos aos que os podiam adquirir.
abaluartar: guarnecer de baluartes; fortificar.
abarreirar: cercar com barreiras; fortificar; acautelar.
abdominoso: barrigudo; pançudo; que tem o abdómen saliente.
alaboeiro [o m. q alavoeiro]: pastor que cuida dos rebanhos de ovelhas que dão leite [alavão].
albumina: substância viscosa, esbranquiçada, que coagula pela acção do calro e existente em grande quantidade na clara do ovo, no soro do sangue e, em geral, nos líquidos dos organismos animais e vegetais; nome genérico das proteínas solúveis nas águas.
pena de sangue: Era a condenação, multa ou coima, que se impunha àqueles que espancavam, feriam ou matavam alguma pessoa, ainda que sangue não corresse da ferida ou contusão. E também se estendiam aos que diziam palavras desonestas e injuriosas a seu próximo, com as quais lhe faziam vir o sangue às faces, ou como vulgarmente se diz, lhe faziam a cara vermelha.
Também se dizia daquela que se paga por morte de homem de propósito. Antigamente, eram 33 maravedis para o bispo.
pendenças: multas eclesiásticas, em que se comutavam as penitências, que se deviam pelas culpas.
pousadouro: lugar que ficava no fim ou termo de alguma subida, onde naturalmente descansa e depõe o seu peso ou carga ou caminhante ou jornaleiro. É usadíssima esta palavra já dantes do princípio da nossa monarquia.
Pedro Alvites

Nota:

(1) — Para uma consulta da bibliografia aqui inserida, dar-se-á uma relação num dos dias finais de cada ano.
Até breve.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

D. fr. Gomes Martins Silvestre.

Gomes Martins, o filho do rico mercador (1), foi contemporâneo de D. João Lourenço e, segundo supomos pela iconografia do seu túmulo, também cavaleiro templário.
A concluir pela magnífica estátua jazente e pela cena de falcoaria que ilustram o trabalho escultural da sua arca tumular, Gomes Martins foi cavaleiro fidalgo de Monsaraz e, estamos em crer, um dos mais notáveis falcoeiros portugueses do seu tempo
. (2)
[José Pires Gonçalves, Monsaraz da reconquista, Anais, Academia Portuguesa de História, Volume 25, p. 33.]

Notas nossas:

(1). — Seu pai foi o rico mercador Martim Silvestre, que no seu tempo passava por ser, e era, um dos mais ricos .
(2). — D. fr. Gomes Martins Silvestre jaz sepultado na igreja matriz de Santa Maria da Lagoa, em Monsaraz, num riquíssimo túmulo de mármore esculturado.

Até breve.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Ermida (heremitagium).

Ruínas da ermida de S. Ginés, em Noudar.

Santuário, hermitágio, capela ou casa de oração, fundado em lugar ermo e solitário, donde lhe veio o nome, e não por ser habitada por algum eremita ou ermitão.
[Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, fr., Elucidário, Vol. II (B-Z), ver, Hermitagio, p. 313.]

Até breve.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Expedição de Afonso IX de Leão e de Sancho II de Portugal além-Tejo. (I)

A exactamente contemporânea Crónica Latina dos Reis de Castela, redigida por um autor que conheceu bem os sucessos, dá-nos uma medida do tempo que decorreu entre a celebração do acordo leonês/português e a expedição dos dois reis ao além-Tejo: a propósito do «pacto firmado entre eles», diz ter ocorrido «multis deibus ante», «muitos dias antes» (1), o que apontaria para a primeira metade de 1226, ou, na melhor das hipóteses, para finais de 1225. Uma data consentânea com a cronologia das operações de Afonso IX, que, até aí incapaz de mobilizar o reino de Portugal para uma participação mais directa nas suas investidas meridionais, porventura por causa da trégua com os almohadas, teria chegado a conseguir finalmente um acerto no Inverno de 1226 para a Primavera seguinte.
[Hermenegildo Fernandes, D. Sancho II, pp. 138-139.]

Nota do Autor:

(1). — Chronica Latina, 1997, parág. 50, p. 95.


Até breve.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Doação do castelo Ceras.

Doação de D. Afonso Henriques aos Templários do [arruinado] castelo de Ceras, (1) com todos os seus termos, de direito hereditário. Nesta zona, duas a três léguas afastados para sul (2), virão a ser construídos o castelo e a [futura] urbe de Tomar (3), com vista à sua defesa e povoamento. (4)
(...) Tratou logo D. Afonso Henriques de dotar a nova catedral [de Lisboa], passando para o bispo as rendas eclesiásticas de Santarém, em troca de compensações aos Templários, aos quais primeiro haviam sido conferidas. (5)
[José Manuel Capêlo, As Sedes Templárias em Portugal, Castelo Branco, a Cidade-Capital Templária de Portugal: de 1215 a 1314, Codex Templi, Capítulo VII, pp. 177-178.]

Notas do Autor:

(1). — Alexandre Herculano chama-lhe Cera. Inclusa no mesmo termo, a povoação de Olalhas é doada à Ordem pelo rei português. [Tesouros Artísticos de Portugal, p. 421.]
(3). — Segundo nos refere Manuel Sílvio Alves Conde: O território do antigo termo de Tomar, cuja área total era de cerca de 40.000 hectares, encontrava-se situado entre as latitudes de 39° 45’ 40’’ e 39° 31’ 20’’. Os pontos extremos da longitude correspondiam a 8° 30’ e 8° 14’ W. [Tomar Medieval, p. 21.]
(4). — Com o domínio de Ceras-Tomar, a que se juntava, em 1169, o dos castelos de Cardiga e Zêzere, reforçados em 1171, pela construção do de Almourol, os cavaleiros do Templo passavam a deter importantes posições estratégicas na margem direita do Tejo. Controlavam os acessos a Coimbra, a partir do Sul, e a Santarém, a partir de Leste. [Manuel Sílvio Alves Conde, Tomar Medieval, p. 40.]
(5). — Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal, Vol. I, p. 93.

Nota nossa:

(2). — Ao contrário do que nos diz o autor, hoje pensamos, pelos dados ao nosso dispor, que o castelo de Ceras e o castelo de Tomar são um e o mesmo castelo. A tradição manteve-os como se fossem dois, mas pelas investigações que especialistas fizeram nos últimos vinte anos, pode-se concluir que o castelo de Ceras e o castelo de Tomar são um único: sendo este construído sobre as ruínas daquele.

Até breve.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Templários no Outremer. (I)

Templários em combate no Outremer.

Os Templários foram obrigados a agir dentro dessa teia complexa de alianças mutantes, a fim de desenvolver e consolidar o seu poder. Portanto, não é de surpreender que numa das primeiras acções registadas eles se tenham aliado ao imperador João de Constantinopla e às tropas do conde de Edessa contra os interesses do Reino de Jerusalém. Poder-se-ia argumentar, à luz das acusações posteriores de traição, que o tipo de idealismo inspirado por um homem como São Bernardo tinha necessariamente de ser modificado na turbulência e confusão da vida no Oriente.
[Edward Burman, Templários: os Cavaleiros de Deus, p. 60.]

Até breve.

sábado, 9 de janeiro de 2010

As origens modernas do romance. (I)

A palavra portuguesa «romance», no sentido que tomou no século XIX e conservou até hoje, é um galicismo semântico. Anteriormente, «romance» significava na Espanha estória em verso, rimada na língua vulgar. O falar românico do povo usado nessas estórias contrapunha-se ao falar latino dos clérigos. Mas esta palavra adquiriu em Portugal o sentido de narrativa de ficção em prosa, por influência do francês roman. O antigo significado não desapareceu. Só que passou a haver duas palavras homónimas. Para evitar equívocos designamos o romance rimado pela palavra «rimance» e reservamos a sua variante para a ficção em prosa, como já explicámos em obra anterior. Nos séculos XVI e XVII, o nome que se dava em português e castelhano às estórias em prosa de amor, aventuras e semelhantes era o de «novelas», nome de origem italiana. Este significado da palavra ainda hoje subsiste em castelhano.
[António José Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal, pp. 58-59.]

Até breve.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A luctuosa.

A luctuosa era a obrigação que os vassalos do rei tinham de deixar à Ordem do Templo, na hora da morte, o melhor cavalo que tivessem; caso não tivessem cavalos, os seus herdeiros pagariam 600 maravedis.
[Gonzalo Martínez Díez, Los templarios en los reinos de España, p. 391, Planeta, Barcelona, Espanha, 2001.]
[Tradução nossa, do original em castelhano.]

Até breve.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Regra. (III)

Magistra, a Regra contém os ensinamentos sobre o que cada professo regular deve à Ordem, aos Irmãos, e à Fraternidade, já que a Ordem se consolida numa fraternidade, numa fraternitas, onde cada professo é frade, frater, confrade de outros frades, irmãos e confrades e confreires. Como é um caminho, um mapa para guiar na Vida, a Regra ensina, transmite um magistério, e identifica o que se pode mas não se deve, o que nem pode nem se deve. E ensina como importa proceder em cada situação, mesmo que omita os pormenores casuísticos inerentes a situações insusceptíveis de serem preconizadas. A magistralidade da Regra é dogmática, porque a Regra se não discute. Aceita-se e cumpre-se, não há meio termo.
[Pinharanda Gomes, A Regra Primitiva dos Cavaleiros Templários, p. 7.]

Até breve.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Doações de padroados.

D. Dinis e a rainha Santa Isabel doam à Ordem do Templo o padroado das Igrejas de S. Mamede [de Mogadouro] e de Santa Maria [de Penas Róias], com todas as suas capelas e ermidas, bem como todos os seus direitos e pertenças. A escritura foi feita em Coimbra, a 25 de Maio de 1297.
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, p. 160.]

Até breve.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

D. fr. João Lourenço.

Outra figura de grande relevo na Monsaraz dos fins do século XIII e princípios do século XIV foi a do cavaleiro templário D. João Lourenço, João Lourenço, de Monsaraz, como ele é mais conhecido através dos pergaminhos do seu tempo.
Gozou, por certo, de grande prestígio na vida da Corte e era personalidade muito conceituada e respeitada — «de bom saber e de boa autoridade» foi Rui de Pina quem o disse — junto do próprio rei D. Dinis.
E de tanto saber e autoridade que o monarca não teve dúvidas em o escolher e enviar a Avinhão, como embaixador, para negociar,
in solidum, com o cónego de Coimbra, Pedro Peres, e por forma «que a condição de hum nam seja melhor que a do outro» como se especifica nos termos da carta que os acreditava junto do papa João XXII, a conversão da Ordem do Templo na nova Ordem portuguesa de Cristo, da qual ele próprio, João Lourenço, de Monsaraz, veio a ser o segundo Mestre e sucessor do donatário de Terena, D. Gil Martins, que o rei havia ido buscar ao mestrado de Avis para tomar nas mãos os destinos da nova casa dos cavaleiros de Castro Marim.
[José Pires Gonçalves, Monsaraz da reconquista, Anais, Academia Portuguesa de História, Volume 25, 1979, pp. 31-32.]

Até breve.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A cintura de defesa de Coimbra. (II)

O novo castelo [Leiria], dotado de habitantes e guarnição, foi confiado a D. Paio Guterres, referido como um militar corajoso («militem strenuum»), que seria pouco depois contemplado por doação do infante (1). O relevo que os anais cristãos dão à decisão do infante, registando, até, o dia em que a fundação ocorreu (a 10 de Dezembro), espelha bem a sua importância. De resto, as forças muçulmanas também o compreenderam, pois não tardaram a atacá-lo, conquistando-o e destruindo-o cinco anos depois (1140).
[Mário Jorge Barroca, Do vale do Mondego à reconquista definitiva de Lisboa (1147), Vol. 1, p. 41, Da Reconquista a D. Dinis, Nova História Militar de Portugal.]

Nota do Autor:

(1). — DR (Documentos Régios), 151.


Até breve.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Bens Templários. (II)

Alegando o prejuízo que com a sua incorporação na Ordem do Hospital sofreria a coroa e o reino, o nosso D. Dinis propôs à Santa Sé que com os bens dos Templários se fundasse uma milícia portuguesa à qual daria para sede a vila de Castro Marim, lugar forte e quase inexpugnável, situado ainda na fronteira dos sarracenos. Ao fim de sete anos de negociações, o papa João XXII acedeu aos desejos do monarca e pela bula Ad ea ex quibus, expedida de Avinhão, a 14 de Março de 1319, instituiu a Ordem de Cristo, à qual aplicou tudo o que em Portugal pertencia aos Templários. D. Dinis aceitou a bula, por diploma de 5 de Maio do mesmo ano. À nova milícia foi dada a regra de Calatrava e assinada por casa principal a de Castro Marim. Diz-se que passaram para ela muitos dos Templários portugueses. A eleição dos mestres, à excepção do primeiro, D. fr. Gil Martins, nomeado pelo papa, pertencia aos próprios freires; ficou visitador e reformador da Ordem o Dom Abade de Alcobaça. Pelo ano de 1356, a sede da Ordem mudou-se de Castro Marim para Tomar, onde depois se conservou.
[Miguel de Oliveira, pe., História Eclesiástica de Portugal, pp. 110-111.]

Até breve.

sábado, 2 de janeiro de 2010

O castelo de Salvaterra do Extremo.

Castelo de Salvaterra do Extremo,
segundo Duarte d'Armas.

O castelo de Salvaterra do Extremo faz parte, com Penha Garcia, de um grupo de castelos erigidos para vigilância do Erges e tinha como opositor directo, edificado para o mesmo fim, o castelo de Penafiel, em Castela.
A planta representa um castelo constituído pela residência do alcaide, com a forma quadrada, num dos lados da qual se implantou a torre de menagem, também ela de forma quadrangular. Devido à circunstância de se localizar num outeiro, bem diferente das fragas do de Penha Garcia ou dos penhascos do de Monsanto, a residência foi cercada por uma larga cerca circular, formato muito raro nos castelos portugueses, desprovido de qualquer torreão de defesa, que criou em redor do edifício um vasto terreiro, em círculo
.
[António Lopes Pires Nunes, Os castelos Templários da Beira Baixa, p. 84.]

Até breve.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

A mesa medieval. (III)

Refeição na Idade Média.

Ao lado do peixe fresco, a Idade Média fez grande uso de peixe seco salgado e defumado. No norte da Europa, o tráfico de arenque salgado e fumado ocupou muitos barcos e movimentou grandes capitais. Se, em Portugal, a riqueza piscatória e o reduzido, «hinterland» justificavam menos o consumo do peixe não fresco, seria não obstante errado julgar da sua não inexistência. Na falta de frigoríficos e com um clima pouco frio, o recurso à secagem pelo sol facilitava o transporte do peixe a distância e a possibilidade de armazenagem por períodos longos. É assim que um recibo passado por D. Afonso III aos seus uchões, em 1279, nos dá a conhecer a entrada na régia ucharia, entre 1257 e 1270, de 7687 pescadas secas (640 dúzias ew mais 7), 317 congros secos (26 dúzias e mais 5), 2658 postas (talhos) de baleia e 1656 lampreias secas; tudo resultado de serviços e colheitas de povoações piscatórias. Em Lisboa defumava-se sardinha para exportar para Sevilha ou Aragão, nos fins dos séculos XIV. Também para Castela se remetiam pescadas secas. E sabemos da importação de peixe seco proveniente do norte da Alemanha.
Não eram especialmente apreciadas as hortaliças e os legumes, pelo menos entre as classes superiores. O povo, esse fazia basto uso das couves (couve comum, couve-flor, couve murciana, couve tronchuda) e não menos de feijões e favas, amplamente difundidos no mundo islâmico, que duns e doutros consumia diversas variedades. As favas, assim como as ervilhas, as lentilhas, o grão-de-bico e os chícharos, tinham igualmente significado como sucedâneos ou complementos do pão. Quando escasseavam os cereais no Reino, o que passou a ser relativamente frequente a partir dos meados do século XIV, importavam-se muitas vezes favas do estrangeiro para ocorrer à penúria. Os navios bretões demandavam então o Tejo com carregamentos de favas e de outros legumes que iam carregar a portos franceses ou ingleses. Moída para fabrico de farinha, ou simplesmente cozinhada, a fava chegava para manter a fome até ao regresso das boas colheitas
.
[A. H. de Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa, pp. 10-11]

Até breve.