terça-feira, 30 de setembro de 2008

Depois do desastre de Badajoz.

O desastre de Badajoz impossibilitou Afonso Henriques de voltar a comandar os seus exércitos. Depois de voltar de Lafões, onde tinha passado alguns meses de convalescença, passou a viver permanentemente em Coimbra. Quer fosse por impossibilidade física, quer para não ter de cumprir promessas feitas a Fernando II, não voltou mais a cavalgar. A tradução galega da Crónica Geral e a Crónica dos vinte reis dizem que passou a andar «em anda e em colo de homens», porque tinha prometido a Fernando II voltar para a prisão desde que pudesse cavalgar.
[José Mattoso, Notas Críticas, in Alexandre Herculano, História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo II, p. 88. Verificação do texto por Ayala Monteiro — Livraria Bertrand, Lisboa, 1982.]

Até breve.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Sobre o local de nascimento de D. fr. Gualdim Pais.

D. fr. Gualdim Pais [1118-1195]

Sobre o local de nascimento de D. fr. Gualdim Pais há controvérsia declarada, já que, inicialmente, se lhe dera como lugar de nascimento a actual vila de Amares. Também se sabe que D. fr. Gualdim Pais era natural de Marecos, que não era mais do que um lugar onde se situa a actual Barcelinhos — povoação próxima de Braga e fronteira a Barcelos — e não de Amares, como ainda hoje se crê e esta vila faz menção e tem orgulho de divulgar. Julgo que mais por facilidade do que por razão, entendeu fr. António Brandão colocar Braga em vez de Barcelinhos. Sobre este assunto ver uma monografia de um natural de Amares, Domingos M. da Silva — autor da Monografia do Concelho de Amares —, que nos diz que haveria erro na denominação de Marecos como Amares, dado serem vocábulos inteiramente distintos e desde sempre inconfundíveis na toponímia portuguesa já que Amares vem a pronunciar-se e a escrever-se invariavelmente assim desde muito cedo (p. 82), isto é: desde os seus primórdios. Marecos seria — segundo afirma — a actual freguesia de Santo André, situada e identificada no antigo julgado de Faria — em terras de Santa Maria de Faria —, lugar próximo onde se levanta Barcelinhos, freguesia fronteira de Barcelos e de que hoje faz parte integrante como cidade. (p. 83) Poder-se-á deduzir que Amares nunca foi Marecos e que D. Gualdim Pais, se foi de Marecos, nunca foi de Amares? [Ob. cit., Amares — Marecos (Grave confusão), pp. 79-87.] Como este será um assunto para que o tempo o resolva, se os homens quiserem corrigir a História mal contada, deixemo-lo no pé em que está, porque alguém muito mais informado do que eu — sobre este tema específico — irá demonstrar o verdadeiro lugar de nascimento de D. fr. Gualdim Pais, que, na minha opinião, é, e continuará a ser, Barcelinhos.
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, p. 77, nota 195, Zéfiro, Lisboa, 2008.]

Até breve.

domingo, 28 de setembro de 2008

Memória do Mestre, D. fr. Martim Martins.

Sobre a porta do castelo de Idanha-a-Velha, até ao início do século XX, se conservaram as memórias deste Mestre [D. fr. Martim Martins], numa lápide de pedra.
A sua laje sepulcral (que deveria ter estado primitivamente no panteão de Santa Maria dos Olivais de Tomar), foi oferecida ao coronel Garcês Teixeira, cerca de 1924, pelo proprietário duma Quinta situada cerca da Igreja de Santa Maria do Olival (possivelmente o sr. Albino de Lima Simões), servia de ponte sobre o ribeiro Salgado. A laje, que mede 2, 02m X 0,80 cm, é plana. A pedra tem uma cruz chã, firmada, de pé alto. O primeiro e segundo quartéis formados pela cruz nada mostra no centro; o terceiro é ocupado por uma espada de folha larga, arredonda na ponta, com punho maçanetado e as guardas curvas, voltadas para a lâmina, na qual se encontram distribuídos três escudos boleados, um junto das guardas e os dois restantes no terço médio, afastados; o quarto, ostenta um escudo boleado, com sete faixas, armas que também se encontram nos escudos da espada, embora só com três peças. A legenda, em caracteres latinos de transição, diz
:

E: FOI: MAEST’:DO: TEPLE: NOS: T’S: REINOS
Este escudo, faixado, podia muito bem ter sido o de D. Martim Martins, como neto de D. Pedro Pais, o Alferes, c. c. D. Elvira Viegas, visto que D. Sancha Rodrigues de Briteiros, bisneta de «o Alferes» usava um escudo com três faixas enxadrezadas. O que está de acordo com os costumes da época.
[Amorim Rosa, Anais do Município de Tomar, Vol. VIII (1137-1453), p. 108 (citando um artigo de António Machado de Faria, publicado no Vol. II, dos Anais da União dos Amigos dos Monumentos da Ordem de Cristo, sobre elementos fornecidos pelo arqueólogo Francisco Garcês Teixeira), Ed. Câmara Municipal de Tomar, 1972.]

Até breve.

sábado, 27 de setembro de 2008

A liberdade religiosa.

O sarraceno não impôs aos vencidos a renúncia da sua fé, mas condicionou a liberdade religiosa ao pagamento de um forte imposto de capitação e com a isenção deste imposto ficou acenando a todos os que quisessem voluntariamente abraçar o Islão. (...) A tolerância permitida aos vencidos de continuarem a reger-se pelas suas leis, usos e costumes (...). Igualmente, e em regra, foi permitido o terem permanecido de pé as igrejas levantadas pela piedade dos fiéis, no campo e nas cidades, com o quadro dos sacerdotes que as serviam.
[José Leite de Vasconcelos, Religiões da Lusitânia, Vol. II, pp. 24-25, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1981 (edição fac-similada da de 1905).]
Até breve.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

D. fr. Pedro Gomes [?-1250]

19º Mestre. [de 1248 a 1250]
[no reinado de D. Afonso III]
6º Mestre eleito nos três Reinos.

Cavaleiro português.
Eleito, no campo de batalha [em Maio de 1248], sucessor no mestrado de D. fr. Martim Martins. Era Comendador e alcaide-mor de Tomar, sendo eleito logo a seguir à morte do seu antecessor, ainda durante o cerco de Sevilha, que seria finalmente tomada a 22 de Novembro de 1248. Eleito Mestre para os três reinos.

Ao voltar da conquista daquela cidade andaluza, este Mestre templário apresenta-se perante o novo rei português, D. Afonso III, beijando-lhe a mão e colocando-se — e à Ordem — ao seu serviço. É reconhecido, por ele, como novo Mestre da Milícia do Templo em Portugal, seguindo a tradição de reconhecimento e concordância, por parte dos reis portugueses, dos Mestres eleitos por Capítulo ou por nomeação vinda do Ultramar — termo por que era conhecida a cabeça da Ordem na Palestina. Igualmente se põe, bem como os esquadrões templários, ao lado do rei para a conquista final das povoações e terras que, no Algarve, ainda se mantinham na posse das forças agarenas. Estes foram, ao que parece, desnecessários
.
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, p. 141, Zéfiro, Lisboa, 2008.]

Até breve.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O não pagamento do dízimo.

O direito que os senhores do Templo tinham de não pagarem o dízimo dos terrenos que eles próprios cultivavam ou mandavam cultivar, à sua custa (que, conforme notamos na história do reinado do primeiro rei, lhes conferira o papa Alexandre III), foi confirmado por alguns pontífices; e Clemente IV ordenou que se procedesse, judicialmente, contra aqueles que quisessem cobrar esse dízimo. Urbano III [1185-1187] permitiu aos cavaleiros que edificassem igrejas nos lugares conquistados aos infiéis, sujeitando-as, porém, à cadeira de S. Pedro. Os religiosos da Ordem, em virtude de uma bula do papa Inocêncio III [1198-1216], não eram obrigados ao pagamento da portagem, nem de qualquer imposto sobre os víveres; e Clemente IV proibiu que, no futuro, se impusesse aos templários impostos, sob qualquer nome, caso não fosse por ordem especial da Sé apostólica. Inocêncio III estabeleceu, além disso, que os prelados não podiam fulminar, com a excomunhão ou com o interdito, nem os irmãos da Ordem nem as igrejas que lhe pertencessem e que os templários não eram obrigados a dar cumprimento às ordenações exigidas ou dadas contra os privilégios da Ordem; se os templários não fossem mencionados expressamente nas disposições, tais ordenanças seriam de nenhum efeito. Honório III [1216-1226] ordenou aos prelados o castigarem, com a excomunhão, aqueles que ofendessem, corporalmente, um templário e o não absolverem enquanto não prestassem a satisfação devida e não fossem a Roma, e ainda o excomungarem aqueles que roubassem ao templário, o cavalo ou qualquer outra coisa.
[Heinrich Schæfer, História de Portugal, Vol. I, pp. 306-307, Ed. Escriptório da Empreza Editora, Porto, 1893.]

Até breve.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Prosperidade económica das Ordens Militares em Portugal.

(…) as amplas doações régias com que as Ordens Militares foram contempladas na segunda metade do século XII e na centúria seguinte espelham, indirectamente, o facto de elas serem, na sua época, as organizações detentoras dos mais avançados conhecimentos militares, quer na arte de fazer a guerra, quer na arte de erguer fortificações. Assim poderíamos dizer que a prosperidade económica das Ordens militares, com o impressionante conjunto patrimonial que conseguiram reunir, pode ser considerada um reflexo do seu vanguardismo militar.
[Mário Jorge Barroca, A Ordem do Templo e a Arquitectura Militar portuguesa do século XII, p. 171, Portugália, Nova Série — Volume XVII-XVII, separata, Instituto de Arqueologia, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 1996/1997.]
Até breve.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

A novíssima destruição da Ordem.

Sem se conhecer verdadeiramente a parte histórica referente à Ordem do Templo, nunca se poderá dar como próprios ou verdadeiros um esoterismo e uma simbologia que nunca lhe coubera, nem nunca imaginara — ou tudo o mais que se lhe quiser atribuir à volta de um misticismo abundantemente criado e propagado — porque sendo monges e cavaleiros, eram, de facto e acima de tudo, homens treinados para terem uma intrínseca característica de rudeza e uma função puramente guerreira, pouco se preocupando com esta realidade inventada, e que nos dias de hoje se lhes procura dar tanta importância: a qualidade ou forma mística, simbólica, ritualizada e iluminada que se lhes atribuía. Basta não sabermos, ou recordarmos ou atentarmos, como era o espírito belicoso e bárbaro que existia na Idade Média — tendo a Cruz como símbolo e a Espada como razão — sem pretensão ou noção alguma quanto a esoterismos e práticas místicas, muito menos numa aproximação a relações do sagrado com (ou indo buscar a) qualquer outra cultura sagrada ou fé emanante, mormente a islamita.
É que, nos dias que correm, esta importância, além de ser negativa para a imagem e realidade da Milícia, cria-se-lhe uma tão pouca verdade ou uma irrealidade tão óbvia que a irão destruir ainda mais que as acções que tiveram e demonstraram na prática os sicários e algozes de Filipe IV, de França, quando o fizeram com hipocrisia e sadismo desmedido, naquele tempo de autêntico terror que decorreu entre as primeiras prisões — 13 de Outubro de 1307 — e a extinção da Ordem, decretada pelo papa Clemente V, através da bula Vox in excelso, de 22 de Março de 1312, cujo enunciado do texto — não a condenando implícita ou explicitamente — invoca, no pronuncio da sua extinção, o sagrado bem da Igreja.
Os filmes, as reportagens, as descobertas arqueológicas, a procura e explicação da Arca da Aliança, do Graal, do Santo Sudário, e tudo o mais que, sobre ela, se vai criando e que vemos aparecer amiúde em programas que se deveriam considerar sérios e em canais que se pretenderiam tomar como rigorosos, não só não correspondem à mínima das verdades históricas, como são feitos para enfermarem, nos menos conhecedores, ideias e sentidos que à Ordem nunca coube nem nunca se lhe preocupou minimamente, volto a salientar. Mais não são que recriados embustes e refabricadas mentiras para enganarem sãos e iludirem incautos, numa clara e composta irrealidade tão ao gosto do cinema e de hollywoodescas produções.
Acabe-se, uma vez por todas, de se ser demasiado inventivo e tão (des)agradavelmente incorrecto e fale-se honesta e porfiadamente do que comprovadamente existiu.

Até breve.

domingo, 21 de setembro de 2008

A Casa-mãe de Jerusalém.

Os membros do Instituto dependeriam do Mestre e todos os lugares da casa-mãe de Jerusalém. A eleição daquele teria lugar entre os cavaleiros militares e, consequentemente, entre os monges, em exclusividade, sem possibilidade de qualquer ingerência externa, o que logicamente rejeitava a apresentação de candidatos estranhos à Ordem e a intervenção do patriarca [de Jerusalém].
[Luís Garcia-Guijarro Ramos, Papado, Cruzadas, Ordenes Militares, siglos XI-XII, p. 88, Cátedra, Madrid, 1995.]

Até breve.

sábado, 20 de setembro de 2008

Litígio entre o bispo de Coimbra e os Templários.

E, enquanto em Portugal as relações entre bispo de Coimbra e Templários se pautavam por um não-entendimento, pode dizer-se que em Roma também não havia condições de estabilidade para os negócios da Cristandade.
Com efeito, depois de uns dois efémeros meses de governo de Gregório VIII, sucede-lhe Clemente III, governando cerca de três anos. Relativamente a estes dois pontífices não conhecemos qualquer documento sobre esta questão.
Do pontífice seguinte — Celestino III — conhecemos duas bulas, uma de 21 de Abril de 1195
(1) e outra de 10 de Agosto de 1196. (2)
A primeira é dirigida ao bispo de Orense, abade de Bouro e chantre de Braga, para fazerem os templários cumprir a sentença dos juízos apostólicos anteriormente nomeados por Urbano III e confirmada pelo legado do papal actual, cardeal Gregório de Santangelo, presente em Portugal em 1192-1193 (3).
Todavia, no ano seguinte — 1196 — Celestino III, pela bula Justis petentium desideriis, confirma aos Templários as igrejas* pelas quais eles andavam em litígio com a Sé de Coimbra, isentando-as da jurisdição ordinária e, por isso mesmo, submetendo-as directamente à Santa Sé, a troco do pagamento anual de uma onça de ouro. Como é óbvio, não há aqui qualquer referência à bula anterior.
[Maria Alegria Fernandes Marques, O litígio entre a Sé de Coimbra e a Ordem do Templo pela posse das igrejas de Ega, Redinha e Pombal, Jornadas sobre Portugal Medieval, Leiria/1983, p. 361, Ed. da Câmara Municipal de Leiria, Leiria, 1986.]

Notas da Autora:
(1). — Venerabilis frater noster. T. T., — Sé de Coimbra, D. E., m. 1, n.º 20. Publ. C. Erdmann, ob. cit., p. 360, n.º 140.
(1). — Justis petentium desideriis. T. T. gav. VII, m. 10, n.º 34. Publ. C. Erdmann, ob. cit., p. 372-373, n. 150. É uma bula de conteúdo bastante semelhante às anteriores Relatum est auribuis, de Alexandre III e Intelleximus ex autentico, de Urbano III.
(3). — C. Erdamann, ob. cit., publica várias sentenças deste legado. Vejam-se pp. 352-356, n.ºs 131 a 136.

* — As igrejas — com os privilégios, direitos e obrigações a elas adstritos — eram as de Ega, Redinha e Pombal, aliás, como indica o título do artigo da eminente investigadora.
Até breve.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O rei.

(…) o rei era o mais alto senhor de um território, ao qual estavam sujeitos, por natureza, todos quantos a esse território se encontravam vinculados, quer fosse por residência, quer por propriedade, quer por senhorio; isto é, todas as pessoas de um reino lhe deviam fidelidade, obediência e auxílio.
[João José Alves Dias, Itinerário de D. Afonso II (1211-1223), Jornadas sobre Portugal Medieval, Leiria/1983, p. 99, Ed. da Câmara Municipal de Leiria, Leiria, 1986.]

Até breve.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A vida e o modo nos começos do reino de Portugal.

O crime e a bruteza como que transudam de todos os documentos dessa época em que se alude aos usos e hábitos ordinários da vida, e não escasseiam memórias, que a seu tempo havemos de apontar, nas quais se encontra o repugnante quadro de um malvado moribundo, recapitulando à face da sociedade e sem titubear a negra história de uma torpe existência e legando a um mosteiro o fruto das suas extorsões e assassínios, para depois expiar com a tranquilidade do justo. Se, porém, tais espectáculos eram vulgares por aquele tempo em todo o país, imagine-se quais seriam as cenas de imoralidade e ferocia que diariamente se passariam nos lugares fortificados da fronteira, onde quase só dominava o pensamento das assolações e rapinas.
Nada mais natural do que aparecerem no meio desta gente, a bem dizer selvagem, homens de carácter mais sáfaro e duro, para quem o viver à sombra das muralhas de um castelo fosse já sujeição intolerável e que nas brenhas, separados de um ténue simulacro de existência social, buscassem gozar ilimitada liberdade. As rixas entre os homens de armas, os ódios que resultavam da impetuosidade das paixões, as longas vinganças entre as famílias, que muitas vezes não cessavam senão com o extermínio de uma delas; todas estas causas e várias outras deviam povoar os bosques dos territórios disputados entre portugueses e sarracenos de bandos de salteadores, provavelmente compostos de indivíduos de uma e outra crença, unidos pelo instinto do crime, guerreando indiscriminadamente cristãos e muçulmanos, indiferentes à luta do predomínio das duas raças, e atentos só a saciar a própria crueldade e cobiça nas suas correrias e assaltos sem objectivo político
.
Alexandre Herculano, História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo I, Livro II, p. 551, Bertrand Editora, Venda Nova, 1989.]
Até breve.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Esoterismo Templário.

Em que consistiu o esoterismo templário, sobre o qual tantas conjecturas se têm feito e tantas atribuições ocultistas e pseudo-iniciáticas se escreveram? Conviria recordar, antes de expor uma conclusão, que a iniciação diz respeito a uma elite espiritual e que existem diversas fases de iniciação, cada uma delas com os seus graus espirituais correspondentes, de modo que dentro de uma mesma organização iniciática nem todos os membros partilham o mesmo nível de conhecimento e a sequente subida efectiva e transformadora no seu interior. Quer dizer que a maioria dos milhares de templários que teve a Ordem do Templo nem sequer foram virtuais iniciados, e que seguramente nem sequer o foram os seus grandes mestres, possivelmente com alguma excepção.
[Ángel Almazán de Gracia, Os Guardiães da Terra Santa. O Esoterismo Templário, Codex Templi, Cap. XV, p. 340, Zéfiro, Sintra, 2007.]

Até breve.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Forças portuguesas atacam os campos em redor de Sevilha no princípio do verão de 1225.

Os Portugueses tinham vindo atacar esta região e pilhado e levado tudo o que encontraram. Al-‘Adil, o monarca do Magreb, encontrava-se em Sevilha na altura com o seu wazir, Abu Zayd Ibn Yujjan, e os oficiais superiores e os shaykhs almohadas. Não tinham dinheiro nem meios de resistir ao inimigo: o poder do império estava então em declínio e o brilho da dinastia manchado. Se uma catástrofe atingisse um dos seus súbditos, se os seus rebanhos fossem atacados, não podia contar com qualquer auxílio ou assistência. As notícias do ataque português chegaram a Sevilha alguns dias antes do encontro que vamos descrever. Reuniu-se uma enorme quantidade de pessoas na mesquita grande e quando terminou a prece de sexta-feira levantaram-se e gritaram às autoridades, exigindo que atacassem o inimigo. No dia seguinte, sábado, um arauto percorreu a cidade anunciando à população que fora organizada uma surtida. O povo preparou-se e equipou-se. Alguns deixaram a cidade naquele mesmo dia. Quando chegou o domingo, verificou-se uma levée en masse (*), e todos os sevilhanos, grandes e pequenos, saíram da cidade em toda a espécie de montadas, alguns com armas, outros sem elas, como se fossem fazer piqueniques nos seus jardins e prados. Um grupo tomou a direcção de Tejada, acompanhado de menos de uma centena de soldados de cavalaria. Os Cristãos eram em número considerável, e vinham protegidos de cotas de malha e bem armados, enquanto a maioria dos Muçulmanos estava desarmada e impotente: eram apenas gente dos suqs e comerciantes. O chefe do grupo de soldados regulares de Sevilha era Abu Muhammad ‘Abd Allah Abi Bakr Ibn Yazid, que entendia muito mais da guerra do que esta ralé que nada sabia. Gritaram-lhe que iam ao encontro do inimigo mas ele proibiu-os e tentou alertá-los. Ignoraram-no e só queriam estar frente a frente com os Cristãos e injuriaram-no a ponto de se aborrecer com eles e partir com os soldados de cavalaria que o acompanhavam. Além disso, descobriu que iam enfrentar um inimigo muito superior em número e contra o qual nada podia fazer. Ao verem as tropas regulares retirarem-se, os Cristãos começaram a avançar para o povo de Sevilha. Este último, ao vê-los aproximar-se, desatou a fugir e iniciou-se a matança. Alguns foram chacinados e um grande número aprisionado, enquanto um número igual fugia. Depois, as opiniões divergiram quanto aos números de sevilhanos mortos ou feitos prisioneiros naquele dia, alguns exagerando num sentido, outros no outro. Os primeiros indicaram um número de 20.000 enquanto outros efectuaram uma estimativa mais baixa. Alá é quem sabe. Al-‘Adil deixou então Sevilha para regressar à capital, Marraquexe, em Novembro-Dezembro deste ano [1225].
[Al-Himyari, Rawd al-Mi‘tar, pp. 128-129; trad. pp. 156-157, citado por Hugh Kennedy, Os Muçulmanos na Península Ibérica. História Política do al-Andalus, pp. 291-292, Publicações Europa-América, Mem Martins, 1999.]

(*) — Em francês no original. (N. do E.)
Até breve.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A conquista de Monsaraz.

Monsaraz é conquistada, em 1232, pelas forças reais de D. Sancho II, com o auxílio das hostes da Ordem do Templo*. O rei doa, pouco tempo depois, o novo castelo conquistado à Milícia. Será a possessão castelar templária situada mais a sul do reino de Portugal.
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, p. 129, Zéfiro, Sintra, 2008.]

* Comandadas pelo seu Mestre, D. fr. Estêvão de Belmonte [1229-1237].

Até breve.

domingo, 14 de setembro de 2008

A ordenação do cavaleiro.

Se bem que a Igreja tenha sempre desempenhado um papel importante nos rituais de iniciação cavaleiresca, devemos advertir que quase sempre era um cavaleiro laico quem investia o aspirante a cavaleiro — ou lhe dava o abraço —, pois este era o procedimento correcto para manter uma linhagem ou filiação iniciática.
A ordenação de um cavaleiro não é, por isso, um sacramento nem uma bênção sacerdotal. Uma ordenação cavaleiresca conferida por um sacerdote é incorrecta, ou puramente simbólica.

O mestre sufi, originário de Múrcia, Ibn Arabí (1165-1240) — o maior dos mestres do esoterismo islâmico — explicou, na sua obra Futuhat al Makkiya, em que consistiam o silêncio e a vigília, as duas condições previstas para a ordenação do cavaleiro:

“Entendo por silêncio a abstenção de falar aos homens, e a ocupação com o dhikr [a invocação do Nome divino] no coração, a palavra na alma e não com a língua [...]. Quanto ao silêncio interior, que é a abstenção de falar consigo mesmo, o aspirante não deve entreter-se com a sua alma, pensando no que espera obter de Alá e ao que está obrigado para tal, posto que isto seria uma pura perda de tempo sem nenhum proveito, “desejos vãos”. Quando se distrai no diálogo com a sua alma, o aspirante depara-se com a invocação de Alá no coração, o coração não se pode ocupar ao mesmo tempo deste diálogo e da invocação; quando isto sucede, perde-se o objectivo do isolamento e do silêncio, que é a invocação de Alá, invocação que vai polir o espelho do coração para que possa revelar-se o Senhor”.

Noutra obra, intitulada El adorno de los Abdal, o mestre acrescenta ao seguinte:

“Aquele que cala a sua língua, mesmo se o seu coração não cala, aligeira a sua carga; o que cala a sua língua e o seu coração purifica o seu “centro secreto”
[sirr] e revela o seu Senhor. O silêncio da língua é um dos traços comuns a todos os homens espirituais e a todos os homens do caminho. O silêncio do coração é uma das características distintivas dos “próximos”, que são as gentes da contemplação.”

No que diz respeito à vigília, Ibn Arabí explica o seguinte:

“A vigília é suportada pelo jejum, como efeito da diminuição da qualidade húmida e dos vapores que atraem em direcção ao sonho [...]. A utilidade da vigília consiste em manter o indivíduo num estado de consciência para que se ocupe continuamente de Alá, tal como lhe é requerido; uma vez que se o homem adormece, a sua consciência passa para o mundo intermédio
[alamu al barzai] enquanto dorme, deixando desta forma passar o proveito que pode obter-se permanecendo em estado de vigília. Se o aspirante se liga a esta regra, a vigília penetra no “olho do coração” e a partir do olho da visão subtil purifica-se pela continuidade do dhikr; é quando chega a ver, como um bem, o que Alá quer mostrar.”
[José António Mateos Ruiz, A Cavalaria Cristã. A Iniciação Templária, Codex Templi, Cap. XVI, p. 345, Zéfiro, Sintra, 2007.]

Até breve.

sábado, 13 de setembro de 2008

Os templários portugueses a lealdade devida ao rei de Portugal.

Nunca os templários portugueses se afastaram da lealdade devida ao seu Rei; e, enquanto em Castela e em Leão se sublevavam contra os seus soberanos, declarando-lhes guerra aberta, mostravam-se em Portugal sempre possuídos de afeição pelo imperante e pela pátria.
[Heinrich Schæffer, História de Portugal, Vol. I, p. 310, Ed. Escriptório da Empreza Editora, Porto, 1893]
Até breve.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Não resta a menor dúvida…

Imaginar-se um monge empunhando a espada e tirar a vida a um inimigo, normalmente infiel ainda que em algumas ocasiões também cristão, é uma evocação que nos surpreende e que estimula a nossa curiosidade. Se a isso juntarmos o «êxito» político e económico que as Ordens militares adquiriram sob a protecção de reis e papas, essa curiosidade é acrescentada. E mais ainda quando sabemos que sobre os monges das Milícias se construíram todo o tipo de especulações, algumas, as mais inacreditáveis, fruto do interesse político e da criação literária; outras, mais recentes, expressão de uma prolífica imaginação mas muito pouco respeitadora para com a História.
[Carlos de Ayala Martínez, Las ordenes militares hispânicas en la Edad Media (siglos XII-XV), Introducción, p. 9, Marcial Pons S. A., Ediciones de Historia, Madrid, 2007.]
Até breve.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

De um velho privilégio: litígio entre o bispo de Coimbra e a Ordem do Templo.

Já no final deste século (XII), é o bispo D. Pedro Soares que, ao assumir o governo da diocese de Coimbra, vai iniciar como que um «levantamento» dos seus territórios e direitos e vai insistir denodadamente junto da Sé Apostólica no sentido da resolução desses problemas que se arrastavam.
É assim que, não se conformando com a última bula citada
(1) de Celestino III (a que confirmava as igrejas de Ega, Redinha e Pombal aos Templários), aproveita a subida ao trono pontifício de um novo papa — Inocêncio III — para, de imediato, lhe fazer chegar as suas queixas sobre problemas territoriais que também visavam os domínios dos Templários na zona em questão (2). E, logo de seguida, ataca este problema frontalmente: pela bula Exposuit nobis, de 21 de Maio de 1198, vemos também que se queixara directamente contra os Templários, sobre a posse das igrejas de Ega, Redinha e Pombal.
[Maria Alegria Fernandes Marques, O litígio entre Coimbra e a Ordem do Templo pela posse das igrejas de Ega, Redinha e Pombal, Jornadas sobre Portugal Medieval, Leiria/1983, p. 362, Ed. Câmara Municipal de Leiria, Leiria, 1986]

Nota da Autora:

(1) — Justis petenctium desideris de 10 de Agosto de 1196.
(2) — Bula Innotuit nobis, de 14 de Maio de 1198. T. T. — Sé de Coimbra, D. E., m. 1, nº 24, or. c.s., M. Alegria F. Marques, ob. cit. pp. 17-18, nº 7. Queixara-se o bispo, para Roma, pela perda de um antigo privilégio de Inocêncio II à Igreja de Coimbra — quando ainda parte da diocese de Coimbra (a sua parte meridional) estava em poder dos infiéis, Inocêncio II (1130-1143) concedera-lhe as igrejas de Lamego e Viseu, ainda não restauradas, e até que ela recuperasse a parte em poder do infiel.
No entanto, após a reconquista integral da diocese por Afonso Henriques, este não cumpriu o determinado pelo papa, mas antes, por sua iniciativa, deu parte dela ao Mosteiro de Santa Cruz, outra aos Templários e ainda restaurou as igrejas de Lamego e Viseu. De tudo isto D. Pedro Soares se queixara para Roma. (Nota nº 76, p. 362.)

Até breve.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A Ordem estabelece-se.

A Ordem estabelece-se.(1) Sabendo-se aceite, protegida pela rainha, pelo infante [que ainda não contestava o reino] e pela alta nobreza do condado, começa a construir, através das doações(2) que entretanto recebera, os castelos de Ega, Redinha e Pombal, na zona de Coimbra, bem como algumas igrejas. Recebe os primeiros membros, filhos dessa nobreza.(3) A própria rainha e seu filho, o infante D. Afonso Henriques — futuro [primeiro] rei português —, dão o exemplo e filiam-se [tomar a cruz], incentivando, assim, a que a nobreza faça o mesmo.(4)
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, p. 58, Zéfiro, Sintra, 2008.]

Notas do Autor:

(1) — Segundo verificações efectuadas através de documentos, e no tempo, prova-se, sem quaisquer dúvidas, ser Portugal o primeiro reino na Península Ibérica a ver estabelecida a Ordem do Templo no seu espaço geográfico. Vejamos o que sobre isso escreve frei Bernardo da Costa [ob. cit., pp. 2-3]: E sem dúvida, que logo no seu princípio a Ordem do Templo foi recebida, e admitida neste Reino de Portugal, e me persuado foi muito primeiro que no reino de Hespanha; porque sendo ela criada na Palestina pelos nove Cavaleiros, que lhe deram o princípio, na melhor, e mais bem aceite opinião, no ano de mil cento e dezoito (conferidos os Autores mais capazes nas Cronologias) e confirmada pelo papa Honório II, no concílio Trecence, em catorze de Janeiro do ano de Cristo de mil cento e vinte e oito, como consta das sessões do mesmo Concílio, e mais Documentos, sem dúvida alguma. Já no mesmo ano da sua confirmação, consta estar a Ordem do Templo não só aceita, mas estabelecida em Portugal; e não só neste ano, mas ainda nos antecedentes, e pouco depois que os nove Cavaleiros lhe deram o princípio na Palestina.
(2) — Naquele tempo, nem todas as doações eram assinadas — quando recebidas — pelos Mestres; ou, melhor dizendo, pelos Procuradores.
(3) — Cedo se instalou a nova Ordem em Portugal. (...) quando Hugo de Payns veio da Palestina à Europa, a fim de assentar a Ordem incipiente em bases mais largas, um seu irmão de religião, chamado Raimundo Bernardo, presumivelmente francês ou catalão, dirigiu-se para a Península Ibérica, para reunir dinheiro ou alistar membros para a Ordem. Em Março de 1128, estava ele em Braga, na corte da rainha portuguesa D. Teresa. Esta deve ter compreendido imediatamente a importância da nova corporação para a sua terra, pois logo se empenhou em persuadir os cavaleiros a estabelecer residência em Portugal e a empreender guerra contra os mouros. [Monumenta Henricina, Vol. I, p. 6, nota 5 — direcção de A. J. Dias Diniz e Comissão Executiva das Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, Coimbra, 1960.]
(4) — Tanto mãe quanto filho ter-se-iam feito confrades [irmãos] da Milícia templária, entre os anos de 1126 e 1128, seguindo-se-lhes muitos outros cavaleiros das mais nobres famílias portuguesas da época. É por esta altura que, verdadeiramente protegida e apoiada se estabelece a Ordem em Portugal. Não só porque a receptividade ao ideário que propunha e defendia é bem acolhida pela alta nobreza e pelo clero portucalense, mas, muito principalmente, pelas entradas de inúmeros cavaleiros (filhos segundos e terceiros dessas famílias, que sendo nobreza é igualmente clero) que se verificam, bem como por casais abastados que a ela aderem com doações avultadas, de bens e terras — a um ritmo crescente e ininterrupto. Eles como cavaleiros ou apenas confrades, elas como freiras (ou freirissas). Assim sendo, tudo se alia e conjuga para que a Ordem engrandeça: em pessoas e bens
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Até breve.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Idanha-a-Velha templária: de D. Dinis para a nova Ordem de Cristo.

O rei D. Dinis, em 1310, quando se desenrolava o processo contra os templários, conseguiu reaver Idanha-a-Velha, depois de uma série de discussões, não viesse a fortaleza passar para outro senhorio; tanto que fizera um acordo, nesse sentido, com o rei D. Fernando IV de Castela, onde eram englobados todos os bens da Ordem, tanto lá quanto cá. Foi mesmo mais longe. Os documentos que davam a velha cidade como pertença dos templários foram tidos por suspeitos. Idanha-a-Velha passa, assim, para a Ordem de Cristo, quando esta é criada.
[D. Fernando de Almeida, Egitânia — história e arqueologia, p. 76, Ed. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa, 1956.]

Até breve.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Da bula Regnans in Coelis.

A bula pontifícia Regnans in Coelis expusera ao rei português os delitos imputados aos freires do Templo. D. Dinis mandou instaurar o processo judicial, mas oportunas delongas permitiram aos inculpados preparar a defesa, dando tempo a que algum com pecados na consciência se ocultasse ou fugisse.
O bispo João de Lisboa, o prior dos Franciscanos e o jurista João das Leis formaram o tribunal encarregado do julgamento. Por sentença de 27 de Novembro de 1309, as propriedades de Pombal, Soure, Ega e Redinha voltaram para a coroa. No ano seguinte, o mesmo foi decretado quanto às povoações dos castelos de Idanha-a-Velha, Rosmaninhal, Salvaterra do Extremo e outros
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[A. Vieira d’ Areia, O Processo dos templários, pp. 101-102., Livraria Civilização-Editora, Porto, s/d [1947].
Até breve.

domingo, 7 de setembro de 2008

Citação II.

Busquemos como buscam os que devem encontrar e encontremos como encontram os que devem continuar buscando.
Santo Agostinho
Até breve.

sábado, 6 de setembro de 2008

Muçulmanos e Templários.

Alguns falsários da história do Templo fizeram supor que entre a Ordem e os muçulmanos existiram relações mais que amistosas e que estes cavaleiros cristãos e certos sábios muçulmanos teriam mantido encontros secretos nos quais os ulemas (*) lhes teriam transmitido ocultos conhecimentos. Mas as crónicas muçulmanas, sem excepção, indicam exactamente o contrário.
Os muçulmanos definiram os cruzados que lutaram na Terra Santa, nos séculos XII e XIII, como «cães», «infiéis», «homens sem escrúpulos», «assassinos»…, termos tornados ainda mais azedos quando se referiam aos templários. O Templo foi o principal e mais odiado inimigo do Islão no Oriente, e assim permaneceu quando Saladino, o caudilho muçulmano, recuperou Jerusalém em 1187: mandou de imediato destruir todas as construções levantadas pelos templários na mesquita de al-Aqsa, sede da Ordem, para depois purificar o lugar lavando os chãos e as paredes com água de rosas trazida de Damasco. Templo e Islão sempre foram incompatíveis
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[José Luis Corral Lafuente, Templarios en Tierra Santa, los monjes de la guerra, Historia, National Geographic, nº 42, p. 90.]

(*). — Mestres da lei islâmica e grandes conhecedores das tradições corânicas. Do árabe ‘ulama’ e de ‘alim, que era um mestre em matérias teológicas e jurídicas. (Diccionario de uso del Español actual, SM, pp. 1815-1816, 1997, Madrid.)
Até breve.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O 1º Mestre Templário em Portugal.

D. fr. Guilherme Ricardo [1124 ou 1125-1128].

Cavaleiro franco.
Chega ao condado portucalense em finais de 1124 ou inícios de 1125, acompanhado de alguns cavaleiros, enviados, segundo parece confirmar-se, pelo Mestre Hugo de Payns, a pedido da rainha D. Teresa
, (1) que em carta dirigida, a conselho de alguns ilustres cavaleiros portugueses, lhes oferecia casa e emprego para o seu Instituto nas fronteiras dele, em que o braço Português ia despojando ao Mouro inimigo do que tiranicamente tinha usurpado. (2) É com este Procurador (3) que a Ordem recebe, de facto [por aqueles anos], e em doação, as primeiras casas e propriedades, (4) na região de Braga, sendo confirmado que D. Teresa — rainha do condado de Portucale desde 1112 (5) — lhes doa Fonte Arcada (6), próximo de Braga, com todos os seus termos e benefícios.

Do Deo, & Militibus Templi Salomonis
Villa quæ vocatur =Fonte Arcada =&c.
E assina em ella o dito D. Guilherme Ricardo.
Guilhermus Procurator Templi in ipfis
Partibus accipio Cartam &c
. (7)

muito provavelmente já em 1126, tendo recebido, neste mesmo ano, mais dezassete doações de terras, (8) de membros da alta nobreza portucalense, aquela mesma que incitara a rainha a pedir a sua vinda e presença.
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, pp. 57-58, Zéfiro, Sintra, 2008.]

Notas do Autor:

(1) — A rainha D. Teresa reinou desde a morte de seu marido, o conde D. Henrique — ocorrida em 1112 —, até 1128 ou 1129, conforme fr. Bernardo da Costa nos refere. [História da Militar Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, p. 3.]
(2) — Frei Lucas de Santa Catarina, Catálogo dos Mestres da Ordem do Templo portugueses, que tiveram, e exercitaram este título, e cargo nesta Coroa Portuguesa, e em outras de Hespanha. Segundo o que refere, seriam vários os cavaleiros vindos ao condado Portucalense, a pedido da rainha D. Teresa. Salienta, entre os chegados, o já citado D. fr. Guilherme Ricardo, que «superintendia sobre os outros», D. Hugo Martoniensis, D. fr. Pedro Arnaldo [da Rocha] e D. fr. Gualdim Pais. [Referido por André Jean Parashi, ob. cit., pp. 95-96.]
(3) — Viterbo [ob. cit., p. 585.] diz-nos que, umas vezes se intitulavam Preceptores, outras Comendadores-mores, outras Mestres, outras Procuradores, outras Ministros, e outras Mestres provinciais (...).
(4) — Uma delas, metade da Quinta de Vila Nova, a doou Afonso Anes que por Deo, se fez Fratribus Militiae Templi, para o caso de morrer sine haerede bonae, et legitamae mulieris [Viterbo, ob. cit., p. 585].
(5) — Ano da morte do conde D. Henrique, acontecida em Astorga — devido a ferimentos recebidos em combate, aquando da tentativa de conquista desta cidade pelas forças de Afonso I de Aragão — nos finais de Abril [a 26] ou princípios de Maio [a 5].
(6) — Estudos mais recentes, mas não de todo confirmados ou publicados, parecem querer indicar que a original Fonte Arcada templária não terá sido a povoação — com o mesmo nome — existente perto de Penafiel, como nos indica fr. Bernardo da Costa, mas uma outra que se encontra a poucos quilómetros de Póvoa do Lanhoso, e cujos visíveis vestígios se nos caracterizam como a do primeiro mosteiro construído pelos templários no condado Portucalense.
(7) — Fr. Bernardo da Costa, ob. cit., p. 6.
(8) — Viterbo diz que são dezoito, as doações. [Ob. cit., p. 584.]
Encontramos sobre o assunto, de qual teria sido a verdadeira das três Fonte Arcada que se conhecem e primeiro convento construído pelos Templários em Portugal, material muito interessante para uma investigação apurada sobre a verdadeira Fonte Arcada templária. Que ela é minhota, não parecem restar muitas dúvidas. No entanto, deixe-se aos laboriosos e criteriosos investigadores o dado e o parecer, porque é deles que virá certamente a nota final.
Até breve.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Concelhos.

Concelho chamam em Portugal algumas terras e aldeias juntas, que se governam por uns mesmos estilos e debaixo das mesmas justiças e senhorio.
[fr. António Brandão, Crónica de D. Sancho I, p. 111, Livraria Civilização, 1945, Porto.]

Até breve.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Distrito da Açafa.

Vasta área doada aos Templários, em 1199, que englobava uma parte da Guidintesta hospitalária, com a qual a Ordem do Templo atingia, pela segunda vez, terras da Egitânia [inicialmente fora-lhe doado o Território da Egitânea]. Com esta doação os Templários acabaram por se tornar senhores de toda a Beira Baixa, ali construindo, além dos castelos da primeira concessão, os de Vila Velha de Ródão, Castelo Branco, Penamacor, Segura, Zebreira, Salvaterra do Extremo e Penha Garcia. O castelo de Penha Garcia, edificado em 1256, foi o último castelo que a Ordem do Templo construiu (1) na Beira Baixa.
[António Lopes Pires Nunes, Dicionário de Arquitectura Militar, Caleidoscópio, Casal de Cambra, 2005.]

(1) A palavra mais correcta, e que nos desculpe o eminente historiador, tenente- coronel António Lopes Pires Nunes, parece-me ser, possuiu ou reconstruiu e não construiu, já que este castelo foi doado à Ordem do Templo pelo rei D. Dinis, em carta datada de Lisboa, a 17 de Setembro de 1304, segundo nos esclarece José Manuel Capêlo na sua obra Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], p. 198, portanto, muito pouco tempo antes de que se soubera da prisão dos primeiros membros da Milícia em França. Sucedeu, em Portugal, que a grande maioria dos seus membros se ocultaram, com consentimento do monarca português, das vistas dos mais rapaces dos seus inimigos fidagais — a maioria do clero e uma parte da nova nobreza surgida com a aclamação de D. Afonso III, monarca que nunca mostrou simpatia declarada pela Ordem —, até que as deliberações reais fossem tomadas, como foram: na dissolução do Instituto em 1314 — já que em 1311 a finge extinguir, depois de receber a bula Callidis serpentis, de 30 de Dezembro de 1308, enviada pelo papa Clemente V — e na criação da Ordem de Cristo em 1319.
Até breve.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Bens preciosos.

Já no reinado de D. Afonso I [Afonso Henriques], a Ordem dos Templários teve um impulso poderoso. A par de considerável posse de terrenos, adquirira privilégios e regalias muito importantes. Isto, ainda que os sucessores de D. Afonso I se mostrassem menos liberais para com a Ordem, em parte porque as outras ordens de cavaleiros, que se elevavam e tornavam merecedoras também, pretendiam igual consideração, em parte porque os reis futuros se sentiam cada vez menos inclinados a doações à custa da coroa. Com o tempo, ampliou-se, notoriamente, a circunferência dos territórios e ainda mais o âmbito dos privilégios da Ordem do Templo. Além disso, o mais pequeno terreno, que um particular ou um soberano cedia, nos tempos ulteriores, à Ordem, era muito mais precioso, porque a cultura e a população achavam-se num progresso contínuo. Mas, inquestionavelmente, mais importante que estas aquisições de terrenos eram as grandes regalias e privilégios que os papas conferiram, em diversas ocasiões, à Ordem. A longa série de privilégios e isenções que a ordem recebeu da Santa Sé, até à sua suspensão, forma uma grande carta de imunidades, que devia obrigar os cavaleiros à mais sincera gratidão para com os papas, ainda que estes, apenas com um traço de pena, concediam, sem o menor prejuízo próprio, a maior abundância de direitos à Ordem.
[Heinrich Schæfer, História de Portugal, Vol. I, p. 306, Ed. Escriptório da Empreza Editora, Porto, 1893.]

Até breve.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Citação I.

Non indignemur mortalia corpora solvi, cernimus exemplis oppida posse mori.

O que em português actual poderá ser traduzido e significar:

Não cause indignação ver quebrar os laços da vida a nossos corpos, pois vemos, por exemplo, que também as povoações podem morrer.
[Rutílio, Livro I]

Até breve.