quinta-feira, 31 de julho de 2008

A batalha por Alcácer do Sal.

Gostava que lessem esta passagem de Alexandre Herculano e a saboreassem como imagem nua e crua do que se teria passado na campanha que levou à conquista de Alcácer do Sal, depois de um assédio começado a 30 de Julho e finalizado a 18 de Outubro daquele ano de 1217.

Havia quase mês e meio que Alcácer estava sitiada. A vinda das tropas do Andaluz fora a 10 de Setembro, e os auxiliares cristãos haviam chegado ao campo, como dissemos, nessa mesma noite. Na madrugada do dia 11 os trezentos cavaleiros que desde o princípio tinham assistido ao assédio saíram como exploradores e aproximaram-se dos arraiais muçulmanos. Observaram tudo. Por uma grande distância o solo desaparecera coberto da multidão de infiéis. Perceberam estes a cavalaria que os atalaiava e, alevantando o clamor do combate, correram a persegui-la. Esperaram-nos a pé firme os valentes homens de armas, e ali mesmo se travou uma brava escaramuça. Não podia ser duvidoso o resultado: eram um contra cem. Os cavaleiros portugueses foram obrigados a recuar. Lançando os escudos às costas para se ampararem dos golpes e tiros dos sarracenos, vieram à rédea solta precipitar-se no acampamento, perseguidos pelo exército inimigo, que imediatamente marchara. Entretanto os quinhentos cavaleiros chegados nessa noite montavam a cavalo e, vendo aproximar-se os sarracenos, prepararam-se para romper a batalha. Deviam ser na maior parte templários, porque esta Ordem era, talvez, a mais numerosa de todas e porque debaixo do mando do Mestre dos três reinos da Espanha, Pedro Alvites, aí se achavam reunidos aos freires de Portugal muitos de Leão e Castela. A severa disciplina da Ordem, as solenidades com que entravam nas batalhas produziam necessariamente o entusiasmo nesses ânimos, em geral esforçados, e naqueles que os viam a seu lado. Os esquadrões do Templo ao formarem-se para a batalha guardavam profundo silêncio, que só era cortado pelo ciciar do balsão bicolor (negro e branco) que os guiava despregado ao vento e dos longos e alvos mantos dos cavaleiros que se agitavam. À voz do Mestre, um trombeta dava o sinal do combate, e os freires, erguendo os olhos ao céu, entoavam o hino de David: Não a nós, Senhor, não a nós! mas dá glória ao teu nome! — Então, abaixando as lanças e esporeando os ginetes, arrojavam-se ao inimigo, como a tempestade, envoltos em turbilhões de pó. Primeiros no ferir eram os últimos em retirar-se quando assim lho ordenavam. Desprezando os combates singulares, preferiam acometer as colunas cerradas, e para eles não havia recuar: ou as dispersavam ou morriam. A morte era, de feito, mais bela para o templário que a vida comprada com a covardia. Bastava que não atingisse ao tipo de valor humano, como os velhos guerreiros da Ordem o concebiam, para ser punido por fraco. A cruz vermelha, distintivo da corporação, com o manto branco sobre que estava bordada tiravam-se-lhe ignominiosamente, e ele ficava separado dos seus irmãos como um empestado. Obrigavam-no a comer sobre o chão nu: não lhe era lícito o desforço das injúrias e nem sequer castigar um cão que o maltratasse. Só depois de um ano, se o capítulo julgava a culpa expiada, o desgraçado cingia de novo o cíngulo militar para ir, talvez, na primeira batalha afogar no próprio sangue a memória de um ano de afrontas e de suplício.
Qual seria o estado intelectual de homens habituados à exageração de tal disciplina fácil é de imaginar. As outras Ordens imitavam, mais ou menos, os templários; dominavam-nas as mesmas ideias, o mesmo entusiasmo ardente, e tanto mais ardente quanto mais as instituições que as regiam recalcavam todas as tendências suaves do coração debaixo de fórmulas severas e tristes. No acampamento junto a Alcácer os freires das três Ordens rivais — Templo, Hospital e Santiago — achavam-se reunidos: tinham de ser julgados uns pelos outros; tinham de se julgar mutuamente; e nunca mais oportuna ocasião se lhes oferecera de vencer com glória ou de perecer nobremente. Estavam, segundo parece, já além do rio: a febre dos combates exaltava os ânimos até ao delírio, e ao erguerem os olhos ao céu para a invocação da partida afigurou-se-lhes ver na imensidão do espaço, a uns, uma cruz brilhante, a qual ofuscava as estrelas que se imergiam no alvor da manhã, a outros, um estandarte em que a mesma cruz se desenhava. Não havia que duvidar da vitória: era Deus que a anunciava
A situação do campo de batalha, a hora a que ela rompia, a marcha desordenada do exército sarraceno, a crença dos cavaleiros cristãos no auxílio celeste, sentimento assaz enérgico para lhes mostrar no espaço uma cruz resplandecente, tudo os favorecia. Defronte de Alcácer, transpondo o Sado para o ocidente, estende-se uma vasta campina, campina funesta, onde, como em outros lugares, os vindouros terão de erguer um altar de expiação ao sangue português aí vertido por mãos portuguesas quando o silêncio da morte tiver pousado sobre nós, e Deus e a história houverem pesado e condenado os nossos deploráveis ódios civis. Foi nessas planícies, segundo todas as probabilidades, que sarracenos e cristãos se encontraram. Os cruzados do Norte tinham ficado impedindo alguma surtida dos sitiados, e à multidão dos infiéis só o opor os freires militares, os cavaleiros leoneses que vieram associar-se à glória ou aos desastres daquela jornada e os homens de armas e peões de Portugal. Mas uma imprevista circunstância favoreceu estes: o Sol nascia, e os cristãos ocupavam o lado setentrional da campina e os montes que, a bem curta distância da margem esquerda do rio, se prolongam ao noroeste. O reflexo metálico das armas e armaduras ia bater nos olhos dos infiéis e dava ao pequeno exército português uma aparência que lhe acrescentava dimensões. Ou fosse efeito do mesmo reflexo dos ferros polidos e dos dourados escudos que multiplicavam a torrente da luz oriental ou fosse o excitamento religioso, capaz de alucinar ainda outra vez os espíritos, os combatentes, ao travarem-se com os muçulmanos, creram ver no ar um tropel de cavaleiros vestidos como os templários que também feriam nos inimigos. Foi terrível o embate. O comendador de Palmela, Martinho, homem pequeno de corpo, mas animoso como um leão, abaixando a cabeça, com o escudo embaraçado na esquerda e na direita o estandarte da ordem, arroja-se ao meio dos esquadrões sarracenos: Pedro Alvites, o Mestre do Templo, leva a mesma dianteira, e os respectivos freires seguem o exemplo dos seus chefes. Os cavalos batem de peitos uns nos outros, as espadas faíscam nas espadas, os escudos retinam contra os escudos, e os elmos e cervilheiras rolam pelo chão rotos e abolados, Os muçulmanos titubeiam: por entre as nuvens de pó confundem-se amigos e inimigos, e uma completa anarquia se derrama pelas fileiras sarracenas, já forçosamente desordenadas pela rápida e dilatada marcha que tinham trazido perseguindo os exploradores. No meio da confusão, aquela numerosa cavalaria chegou a combater uma contra a outra, enquanto os cavaleiros cristãos, por isso mesmo que eram poucos, estavam livres de cair em igual erro. Em breve o desbarato das tropas andaluzas se tornou inevitável: possuídos de terror começaram a fugir, e parte dos fugitivos foram precipitar-se no Sado. Abafados debaixo dos pés dos ginetes e, até, dos troços da infantaria, muitos expiraram sem haver combatido. Perseguidos por espaço de dez milhas pelos cristãos, três dias durou a carnificina, e dois walis, o de Córdova e o de Jaen, ficaram entre os mortos. O cálculo que destes se fez montava de catorze a quinze mil, afora um sem-número de prisioneiros, os quais, ou para lisonjearem seus senhores ou para se desculparem perante a própria consciência de tão vergonhosa derrota, ouvindo falar do auxílio dado aos cristãos pelos cavaleiros aéreos, asseveraram tê-los igualmente visto e experimentado a sua fúria, o que não podia deixar de fortalecer a fé viva da soldadesca na decisiva protecção divina. Entretanto, uma armada de trinta galés que os sarracenos tinham mandado para a foz do Sado, acometida por horrorosa borrasca, lutava debalde com os elementos e era destruída sem combate. Saindo ao encontro dela, a frota cristã só achou ante si as solidões do oceano: as galés inimigas tinham ido a pique ou dado à costa. Ainda em tempos de mais luz tanta fortuna legitimaria a crença no favor celeste, quanto mais numa época em que a credulidade fazia sempre intervir o omnipotente nestes cruéis dramas da matança e de estragos
.

[História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo II, Livro IV, pp. 262-268 — notas críticas de José Mattoso. Verificação do texto por Ayala Monteiro — Livraria Bertrand, Lisboa, 1981.]

Até breve.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Bula Omne Datum Optimum, de 29 de Março de 1139.

Achei interessante um trecho do texto inserido no livro La vie des Templiers, da historiadora francesa Marion Melville, por verificar que ele se insere no que me leva a dedicar horas de leitura e pesquisa para poder deixar aqui registo do que penso poderá interessar a quem se interessa sobre estes assuntos. Mantenho o francês da edição original porque penso que é bem mais interessante cada um valer-se da sua própria tradução, do que ser eu a fazê-lo.
Refere-se a um passo da outorga da bula Omne Datum Optimum, de 29 de Março de 1139, que o papa Inocêncio II endereça a Robert de Craon — Notre cher fils Robert, maître de la chevalerie religieuse du Temple qui est situe en Jérusalem, como salienta —, 2º Mestre da Ordem no Outremer e sucessor do fundador e 1º mestre, Hugo de Payns, procurando esclarecer e demonstrar que a razão da existência da Ordem e as regalias a ela dadas, e bem explícitas nessa bula — que não é mais do que uma Magna Carta passada à Ordem do Templo e base de todos os seus privilégios — são claramente postas em evidência e expressam a obrigatoriedade, a determinado passo, de que o Instituto mantenha todas as doações que reis, príncipes e privados lhes tenham feito ou venham a fazer, mantendo a Milícia e todos os seus membros sobre a protecção declarada da Santa Sé. Diz esse trecho da bula:

Nous vous exhortons, vous et vos sergents, de combattre intrépidement les ennemis de la Croix; et pour vous récompenser Nous vous permettons de garder pour vous prendrez aux Sarrasins, sans que personne ait le droit de vous en réclamer une part. Nous déclarons que votre maison, avec touts ses possessions acquises para la libéralité dês princes, par dês aumônes, ou de n’importe quelle autre juste manière, demeure sous la tutelle et la protections du Saint-Siège. Tous les frères doivent obéissance au maître en toutes choses et tout temps. Nulle Maison, sauf celle où votre ordre s’établit à l’origine ne doit en être souveraine et maîtresse.

Por outro lado, e um pouco mais à frente no texto, o Papa exorta a que a Ordem deve ter sempre o seu centro ou sede em Jerusalém e que as Províncias — que já tinha espalhadas pela Europa — se mantenham estreitamente ligadas e obedientes à Casa-mãe na Cidade Santa. No respeitante à Península Ibérica, na luta violenta que a Ordem trava contra os mesmos inimigos da Cruz, a preocupação manifesta do Sumo Pontífice resulta dos efeitos e desenvolvimentos irregulares que os contigentes templários mantinham na luta contra os denodados combatentes islâmicos.
Mas isto é um outro capítulo e lá chegaremos mais desenvolvidamente, quando o momento se proporcionar e se tudo correr pelo melhor, como eu penso.

Até breve.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Bons livros.

Gosto sempre de voltar aos livros que me ensinam. São eles que me dão vontade de continuar a aprender e conhecer. No que respeita à Ordem do Templo em Portugal, tenho uma pilha não muito grande — mas mesmo assim suficiente — de títulos e de trabalhos sérios e dignos, comprados ao longo destes anos, que já são alguns, que me deram a conhecer muito da passagem dos templários pelo reino de Portugal, através do seu esforço guerreiro — nas vitórias e nas derrotas —, da sua inventiva de construtores de castelos, do seu génio de negociantes da banca, da sua intuição de almirantes do mar na condução de pequenas armadas, principalmente de transportes de contingentes militares para o Outremer.
E por cada ano que passa, ao lado dos milhares que saem a falar baboseiras e inventarem tramas, mistérios, rituais, magias, relações esotéricas, isotéricas, cabalistas, sei lá que mais, outros há, muito poucos, talvez um ou dois, que nos ilustram a História e o passado desta Milícia com elementos novos e dados esclarecedores, que nos lembram a Ordem como ela realmente foi e no que ela se demonstrou: positiva e negativamente.
Espero, aos que se interessam verdadeiramente pela História Templária, que leiam os mesmo livros que tenho à minha frente. Alguns, já dei notícia. Sobre outros, darei numa outra altura.
Até breve.

domingo, 27 de julho de 2008

Charola ou Rotunda?

Espero que um dia, quando desfiarem com calma e paciência este rosário de História que vos venho oferecendo, com desejo que aprendam e com o assumido rigor de escolha, sintam o prazer que me deu recuperar trechos de páginas (quase) esquecidas — que o Tempo não conseguiu apagar, nem o Homem consegue esquecer — ou ainda não publicadas, como é o caso do que vos proporciono a seguir, de uma História que é nossa, tão feita de sacrifícios e penas, guerras contínuas e lágrimas acesas, lutas fratricidas quer entre estranhos, quer entre irmãos, teatro de invejas, mal-entendidos, raivas surdas, desejos exacerbados, ódios incontidos, vinganças consumadas! Neste memória, quantos filhos se perderam? Quantas mulheres ficaram viúvas? Quantos órfãos penaram o rigor e a desdita da orfandade? Na verdade, não chegam todos os cemitérios do mundo, nem todos os livros de História destes dias para nos darem resposta.

Ao fim de todos estes séculos, destes anos de imenso e árduo tempo, que nos seja permitido recuperar homens e lugares que se fizeram e se nos deram como seres e como forma. Pelo meu lado continuarei a procurá-los e dá-los aqui em testemunho, honra e louvor.

Não me pesa nem o Tempo, nem a paciência, nem o dedo que escreve na tecla deste computador de poucos anos de ser e de reais milénios por avir.

Exactamente por isso, gostava de vos deixar como referência uma interessante problemática que apareceu nestes últimos anos e que refere a Charola, ou Rotunda, existente no convento de Cristo em Tomar, e que, não é mais, do que a lembrança única — à parte do castelo com as suas muralhas, torres, seteiras e alambor, e da quase desfeita Casa do Capítulo —que os templários nos deixaram, na fantástica e belíssima cidade de Tomar, como coisas verdadeiramente suas. Isto é, genuinamente edificadas pelos seus mestres canteiros e artesãos especializados e engenhosos.

Charola ou Rotunda?

Este templo não era mais do que o oratório dos templários, edificado no castelo da Ordem do Templo, em Tomar, e que o consagraram a S. Tomás da Cantuária.

Nuno Villamariz Oliveira num bem elaborado trabalho (ainda inédito) prefere a denominação Rotunda a Charola, e explica: (…) a Rotunda tomarense vai buscar o seu arquétipo precisamente à Mesquita de Omar (…) erguida em Jerusalém pelo califa Omar, guerreiro contemporâneo de Maomé e difusor da religião islâmica, cujo lugar os cruzados converteram em Templum Domini, e que veio a ser a sede dos Templários na Cidade Santa.

Este mesmo investigador, um pouco mais à frente, refere:
Nos planos simplificados do século XII, apenas os seus principais edifícios — e algumas vias — eram dispostos de acordo com a realidade física, casos do Templum Domini, do Templum Salomonis, do Santo Sepulcro ou da torre de David. O edifício poligonal do Templum Domini, com o seu perfil exótico, depressa se converteu no mias propagado modelo da Cidade Santa. Por vezes ele foi confundido com a Mesquita de al-Aksa, assim como o Templum Salomonis foi, do mesmo modo, associado à Mesquita de Omar. (…) O Templum Domini ou o Templo Salomonis representavam, neste contexto, metonímias da própria Cidade Santa. Após a tomada de Jerusalém pelos Cruzados, o Monte do Templo passou a ser quer o centro das peregrinações quer da própria governação cristã, o lugar da autoridade régia, na cidade e em todo o reino. [Os castelos da Ordem do Templo em Portugal, 1120-1314, pp. 175 e 178. Dissertação de Mestrado em História da Arte Medieval, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2000.]
Até breve!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Doação de Idanha-a-Velha em 1199.

Hoje, lendo um livro bastante raro, deparei com esta nota histórica sobre a doação de Idanha-a-Velha [Egitânea] por D. Sancho I, ao Mestre do Templo em Portugal, D. fr. Lopo Fernandes, em 1199, por troca com [os castelos de] Penas Róias e Mogadouro.

«Eu, el-rei D. Sancho, com meu filho el-rei D. Afonso, e os demais filhos e filhas, faço escritura e troca firmíssima a vós D. Lopo Fernandes, mestre da Ordem do Templo, e a vossos cavaleiros da cidade de Idanha, a qual vos damos por dois castelos que nos entregastes em terras de Bragança, que são Penas Roxas e Mogadouro.»
Passou-se a carta em Covilhã a cinco de Julho da era de 1237, que é o ano de 1199, que dissemos. Confirmam nela D. Gonçalo Mendes, mordomo da Corte; D. Paio Moniz, alferes; D. Raimundo Pais, Senhor da Covilhã; D. Martim Lopes, Senhor de Trancoso; D. Lourenço Soares, Senhor de Lamego; D. Egas Afonso, Senhor de Alafões; D. João Fernandes, veador da casa ou trinchante de el-rei
. [fr. António Brandão, Crónica de D. Sancho I, p. 106, Livraria Civilização, Porto, 1945, edição actualizada de A. de Magalhães Basto.]

Até um destes dias.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Sobre a Regra Primitiva.

Parece-me interessante, e útil, continuarmos a procurar em livros sérios e capazes, informações que nos esclareçam devidamente sobre quem eram e o que foram os Templários. Daí, a citação desta passagem:

Balduíno de Jerusalém sentiu necessidade de aquela nova Cavalaria estar na cidade santa de forma organizada, e por isso fez sentir a Bernardo de Claraval a urgência de uma Regra — «certam vitæ norman» — que os mesmos cavaleiros desejavam. O articulado demonstra que, mesmo antes da Regra, já havia práticas nela consideradas, mormente quanto à admissão de cavaleiros casados e ao uso do manto branco, E que foi a existência de cavaleiros que se faziam passar por Templários, que tornou a promulgação da regra mais urgente e necessária, de modo a obter um grau de indubitável transparência. Bernardo de Claraval redigiu a Regra, decerto mediante consultas a Hugo, no aspecto militar e, uma vez redigida, e submetida a considerável número de hierarcas franceses, o Concílio de Troyes, reunido em 13 de Janeiro de 1128, no nono ano da fundação da Ordem, ouviu de Hugo de Payns a leitura da Regra, que foi aprovada, confirmando-se desse modo a canonicidade da nova Ordem. Hajamos em vista que a mesma foi objecto de consideração por militares da nobreza, os iletrados, como diz o Prólogo, mas que, no aspecto da administração militar puderam aduzir, sem dúvida, aportações rectificativas do que, nesse aspecto, lhes pareceu menos razoável. O redactor do Concílio, fr. João Michaelense não deixou de mencionar este pormenor. [Pinharanda Gomes, A Regra Primitiva dos Cavaleiros Templários, p. 18, Hugin, Lisboa, 1999.]

Até à próxima.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Poder e manifestação real.

Sobre o procedimento que D. Afonso III teve para com os templários, a quem nunca perdoaria o gesto de não terem participado a seu lado na luta civil travada entre correligionários seus e os que se mantiveram leais e fiéis ao rei D. Sancho II, seu irmão, atentemos no que Alexandre Herculano narra, na sua História de Portugal:

De todas as ordens militares, a dos templários é a que parece ter-se inclinado mais ao partido de Sancho II, caindo por isso naturalmente no desagrado do vencedor. De feito, não só não figura aquela potente e belicosa ordem nos monumentos dos primeiros anos do reinado de Afonso III ou nas guerras desse período, mas sabemos positivamente que foi espoliados seus tesouros e que ao Mestre Paio Gomes, resignatário talvez forçado da dignidade mestral, nem sequer se consentiu gozasse em paz do elevado cargo de comendador de Castelo Branco, em que foi substituído por um obscuro freire*.

Diz, ainda, Herculano em nota de rodapé:

* Num fragmento da inquirição que se acha na Gav. 7, maço 18, n.º 2 [cf. GTT II 527], diz-se que Afonso III arrebatara aos templários os tesouros que tinham juntos e fizera deles o que quisera, e que tirar o castelo de castelo Branco ao comendador Paio Gomes Barreto** para o dar a um simples freire. Paio Gomes era o Mestre da Ordem em 1250, mas já em 1253 era apenas comendador de Castelo Branco (Viterbo, Elucidário, T. 2, p. 370 [Elucid. II, 599.]). Assim vem impresso. [Tomo III, Livro VI, p. 47 — notas críticas de José Mattoso — Livraria Bertrand, Lisboa, 1982.]

** Apenas para referir que o nosso grande historiador não é exacto quando refere que D. fr. Paio Gomes Barreto foi Mestre do Templo em Portugal. Na realidade, foi outro D. fr. Paio Gomes, Mestre de 1250 a 1253, e que teria renunciado à sua dignidade, muito possivelmente, por mando de D. Afonso III, como bem diz Herculano. D. Paio Gomes Barreto teve primordial importância aquando da extinção da Ordem em Portugal. Foi um dos três cavaleiros que deram a cara, por assim dizer, e se mantiveram visíveis e localizados, ao contrário dos demais, assinando, em nome do Mestre D. fr. Vasco Fernandes, tudo o que à Ordem dissesse respeito. E por aqueles dias, ele, ao que tudo indica, seria o Comendador da Ordem em Castelo Branco.
Até breve.

sábado, 19 de julho de 2008

Uma passagem de Os Templários, de Régine Pernoud.

Hoje lembrei-me de respigar uma passagem do livro Os Templários, de Régine Pernoud, pp. 60-61 (2ª edição), quando ela lembra a construção, em forma octogonal, da charola do Castelo de Tomar:
No entanto, é na Península Ibérica que hoje em dia se encontram os exemplos mais impressionantes de igrejas tendo realmente pertencido à Ordem do Templo e construídas sobre planta circular: a igreja dita da Verdadeira Cruz, em Segóvia [Espanha], e a charola de Tomar, em Portugal. Nestas regiões, onde a Ordem do Templo era levada a manifestar-se na sua função guerreira, como na Terra Santa, as construções são fortalezas, como as que encontramos no Oriente ou em raros casos como o do Templo de Paris, que era a «casa principal», uma das casas principais da Ordem. No que se refere ao edifício propriamente religioso, a igreja de Segóvia, consagrada em 1208, foi intencionalmente construída para recordar o Santo Sepulcro de Jerusalém (e não o Templo de Salomão!); continha uma famosa relíquia da Verdadeira Cruz, que São Fernando [ o rei Fernando III de Leão e Castela], rei de Espanha, veio venerar. A charola de Tomar, essa, foi construída em diversas campanhas sucessivas, o andar inferior em planta octogonal, em seguida o deambulatório comportando dezasseis vãos.
Para concluir, a forma circular, embora se encontre, por vezes, na arquitectura religiosa dos Templários, não pode, de maneira nenhuma, ser considerada como uma das suas características. [Publicações Europa-América, Mem Martins, s/d. (1996?)]
Queremos, desta forma, fazer interessar quem se debruça pela morfologia histórica e pela essência viva, que é aquela que verdadeiramente deverá interessar a quem estuda a Ordem do Templo, na generalidade, e em particular, em Portugal.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Mestres templários em Portugal e nos três reinos: Leão, Castela e Portugal.

Hoje deixo-vos a lista completa de todos os Mestres templários que o foram em Portugal e nos três reinos, isto é: Leão, Castela e Portugal, e que, quanto a mim, é a relação mais credível e consentânea que nos oferece um dos mais importantes, senão o mais importante investigador sobre a Ordem do Tempo em Portugal, no seu aspecto histórico. Os Mestres dos três reinos vêm referenciados, para melhor conhecimento, com um asterisco. Referimos também, logo à frente do nome de cada Mestre, as datas em que ocuparam esse importante cargo, bem como os que morreram em combate e os que renunciaram.
Mestres de Portugal e dos Três Reinos

D. fr. Guilherme Ricardo [1124-1128]
D. fr. Raimundo Bernardo [1128-1135]
D. fr. Pero Froiaz [1135-1143]
D. fr. Hugo de Martónio [1143-1155]
D. fr. Pedro Arnaldo [1156-1158] [morreu em combate]
D. fr. Gualdim Pais [1159-1195]
D. fr. Lopo Fernandes [1195-1199] [morreu em combate]
D. fr. Fernão Dias [1199-1206]
D. fr. João Domingues [1206-1209]
D. fr. Gomes Ramires [1210-1212] [morreu em combate]
D. fr. Pedro Alvites [1212-1221]* [1º mestre dos três reinos] [renunciou]
D. fr. Pedro Anes [1223-1224]
D. fr. Martim Sanches [1224-1229]* [2º Mestre dos três reinos] [renunciou]
D. fr. Estevão Belmonte [1229-1237]* [3º Mestre dos três reinos]
D. fr. Pedro Nunes [1237-1239] [morto em combate?]
D. fr. Guilherme Fulcon [1239-1242]* [4º Mestre dos três reinos]
D. fr. Rodrigo Dias [1242]
D. fr. Martim Martins [1242-1248]* [5º Mestre dos três Reinos] [morreu em combate]
D. fr. Pedro Gomes [1248-1250]* [6º mestre dos três reinos]
D. fr. Paio Gomes [1250-1253]* [7º Mestre dos três reinos] [renunciou]
D. fr. Martim Nunes [1253-1265]* [8º Mestre dos três reinos]
D. fr. Gonçalo Martins [1265-1271]
D. fr. Beltrão de Valverde [1271-1277]
D. fr. João Escritor [1278-1283]
D. fr. João Fernandes [1283-1288]* [9º e último Mestre dos três reinos]
D. fr. Afonso Gomes [1288-1290]
D. fr. Lourenço Martins [1291-1293] [renunciou]
D. fr. Vasco Fernandes [1293-1314]
A listagem que vos podemos oferecer foi retirada de José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, pp. 200-201, Zéfiro, Sintra, 2008.
Espero, mais uma vez, que vos seja útil este breve apontamento histórico.
Até breve!

terça-feira, 15 de julho de 2008

Livros sobre a Ordem do Templo

Quando se tem verdadeiro interesse por alguma coisa, o melhor que temos a fazer é tentar encontrar material que nos possa fornecer ensinamento e bases para se partir para outras pesquizas e outros entendimentos.
Ora, pensando nisto mesmo, decidi tentar ajudar quem sem interessa pela História da Ordem do Templo e particularmente pela existência desta em Portugal.
Assim, periodicamente, irei aqui dando conta de alguns livros que versam sobre o tema, no geral, e pelo assunto, no seu particular, a Portugal.
Eis alguns:
Alexandre Ferreira, Parte Primeira, em dois Volumes, de um Suplemento Histórico ou Memórias e Notícias da Célebre Ordem dos Templários, para a História da Admirável Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo [1735];
Amorim Rosa, Anais do Município de Tomar, Vol. VIII [1137-1453], Ed. Câmara Municipal de Tomar, Tomar, 1972;
António Lopes Pires Nunes, Castelo Branco, uma cidade histórica. Estrutura da urbe e as linhas do seu desenvolvimento, Cadernos de Património Cultural da Beira Baixa, nº 3, Edição Câmara Municipal de Castelo Branco, Castelo Branco, 2002;
fr. Bernardo da Costa, História da Militar Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, Coimbra, 1771 [reimpressão fac-similada, Lisboa, 1997];
José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A aventura templária em Portugal, Zéfiro, Lisboa, 2008 (nova edição, revista e aumentada);
Manuel Sílvio Alves Conde, Tomar Medieval, O espaço e os homens, Patrimonia, Cascais, 1996;
Mário Simões Dias, Os Templários em Terras de Portugal, Ed. do Autor, Coimbra, 1999.

Este é apenas um começo que espero interesse verdadeira e vivamente a quem se dedique ao estudo dos Templários, mormente em Portugal.
Até breve.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Dia da tomada da Bastilha

No dia de hoje, em que se comemora mais um aniversário da tomada da Bastilha, em Paris, e que projectou a Revolução Francesa nesta data [1791] não só em França, mas no Mundo, gostava de lembrar que exactamente nesse local se erguera o que restava do antigo, imponente e quase inexpugnável castelo da Ordem do Templo em Paris, sede-mãe da Milícia em toda a França. Se lembro este acontecimento, é para que se saiba onde ficava exactamente o Templo de Paris.

D. Afonso Henriques membro da Ordem do Templo.

Podemos ficar a saber que D. Afonso Henriques se tornou membrou da Ordem do Templo, em 1129, sendo recebido [como irmão] pelo Procurador - nesta altura ainda não tinham o designativo de Mestre, o que só aconteceria em 1144 - D. fr. Raimundo Bernardo e restantes monges-cavaleiros e freires [clérigos], como prova de agradecimento e como forma de honrar a Milícia templária, que sempre e nobremente o acompanhara na sua luta de independência e de reconquista. É o primeiro alto dignitário [homnis emerint] de qualquer dos reinos da Península que assim procede.
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, p. 61, Zéfiro, Lisboa, 2008.]

domingo, 13 de julho de 2008

Muralha do castelo de Tomar, com o famoso alambor.

O alambor era uma defesa, essencialmente de pedra, imaginada e concebida pelos mestres construtores templários, que consistia numa rampa colocada fora das muralhas dos seus castelos, a que era bastante difícil aos sitiantes fazerem chegar elementos de ataque, como torres e catapultas, ou mesmo pessoal especializado que procedia às minagens das muralhas. Tomar era, em Portugal, um exemplo paradigmático.

A Regra d'Ouro

Encontrei num livro que fala sobre templários em Portugal, esta bela citação de Alexandre Herculano:
Os monges cavaleiros, cujo entusiasmo e valor em parte nenhuma se desmentiam e cujo instituto era a pelejar sem descanso contra os sectários do islamismo, haviam em pouco anos mudado o aspecto daqueles arredores. Cobriam então extensos bosques e matos a tracto de terra que hoje constitui a Estremadura alta, e Afonso Henriques devia ceder com facilidade estes desertos, que eram como barreira natural entre as duas raças inimigas, a essa Ordem composta inteiramente de esforçados homens de guerra. Com a espada numa das mãos e com a enxada ou altrião na outra, eles foram gradualmente contendo ou castigando as correrias dos sarracenos e desbravando ou povoando aqueles arredores.
Elequente observar-se o pormenor da descrição. Não me parece, e Herculano que era tão justo no pormenor e na essência, que ele alguma vez tivesse falado de rituais simbólicos e crenças esotéricas observadas pelo monges-guerreiros desta Milícia.
Apenas num pormenor Herculano não está inteiramente correcto: a arma utilizada pelos templários era fundamentalmente a lança, instrumento de morte tão temível para os adversários com quem pelejassem. Evidentemente que tinham espadas e punhais. Mas a arma de eleição para o Templo, por aqueles anos, era a lança.
Por outro lado, se atentarmos bem em qualquer dos parágrafos porque é regida a Regra, que os monges-guerreiros observaram rígida e escrupulosamente, vemos que não há cabimento para qualquer destas práticas, a não ser as que correspondem ao que a Igreja de Roma, pelo punho de S. Bernardo de Clairvaux, lhes disse para praticarem ao mais alto grau: a sua-própria observância e manifestação.
Tão só!

sábado, 12 de julho de 2008

Resposta a EMS.

Minha boa Amiga, e permita-me que assim a trate.
Faz bem em discordar. Devemos fazê-lo quando não estamos de acordo com o que lemos ou vemos. No entanto, aqui, no que diz respeito ao que discorda, gostava de lhe lembrar que a História é aquela que se sabe, porque existem documentos a prová-la, e a ilusão o que se contempla quando se observa ou se lêem páginas e páginas de pura ficção sem nada terem que o suporte em concreto, a não ser a pura invenção, falácia - ou que se lhe quiser chamar para denominar o mesmo sinónimo - de que é feita, e que tanto vem transtornando, numa irrealidade inconcebível, as mentes. Mentes essas que por serem ingénuas ou crentes em relação a uma Ordem, não se apercebem que ela é, desta forma, bem mais vilipendiada e bem mais amesquinhada, servindo-se dela para tudo, até para artes, magias ou rituais inauditos que nunca, mas nunca, se passaram ou concretizaram no seu seio e que a tornam, assim, cada vez menos conhecida do que ela foi e a afastam da realidade que, na verdade, a viveu.
É que, realmente, uma [a História] e outra [a pura ficção e engenho de quem a cria ou por quem é criada] nada têm a ver uma com a outra, porque nada se lhes compara ou pode comparar.
Explico, seguindo o raciocínio do que escreve no seu gentil parecer e discórdia.
Se a fé e a religião estão por detrás, como bem disse, da maioria das guerras, esquecemo-nos de que, por detrás de tudo isso, está o interesse desmedido da conquista, não só pela ocupação, saque, mas pela destruição sistemática do que é conquistado. É o não deixar pedra sobre pedra. Tudo isto vem de há muito, muito tempo - séculos - atrás. E continua hoje, se bem que mais disfarçadamente. Ou não!
Em relação à Ordem do Templo, e é isso que nos interessa e do que estamos falando, se não sabe de todo ou só em parte, continuo a explicar-lhe o pouco que sei, mas que é concreto, não só porque me dá imenso prazer, mas porque igualmente me apercebo que é pessoa interessada no assunto. Realmente, a Milícia templária teve soldados, neste caso, monges-guerreiros - os cavaleiros - tanto quanto uma hierarquia que comportava outro género de combatentes, tais como os escudeiros, os sargentos e os turcópolos. Havia também dentro da Ordem uma outra classe templária: os freires, que na sua grande maioria lhes cumpria, fundamental e exclusivamente, celebrar missas;, ouvir em confissão todos os membros - fossem eles Mestres, Senescais e demais Cavaleiros, os chamados regedores da Ordem, tanto quanto escudeiros, sargentos, turcópolos e os próprios freires -; arregimentar refeições; confeccioná-las; servi-las; fazer as camas ou o que se entendia por isso, já que parece a maioria dormia no chão envoltos em mantas confeccionadas de peles de animais que caçavam, e os abrigava do frio que fizesse, preparar e executar os cânticos litúrgicos que acompanhavam as missas que celebravam - eles e apenas eles, como atrás referi -; cumprindo, asim, os mais diversos e funcionais misteres ou profissões, tais como, cozer as roupas; confeccionar botas e sapatos; a utilização de ferreiros para fundir o aço e preparar as lâminas para pontas de lanças, espadas e punhais, tanto quanto ferraduras para os seus cavalos, entre outras mais, tão necessárias e precisas à boa funcionalidade do Templo.
Por outro lado, e aqui é um item da maior importância, eram os únicos, de todos, mas todos os elementos atrás referenciados, que sabiam ler e escrever. Não todos, é bem verdade, mas uma grande percentagem. E é destes - e também dos cronistas do Outremer [o Ultramar, como então se dizia], principalmente dos arcebispos Guilhermo de Tiro e Jacques de Vitry - que se ficou a saber o que se sabe dos templários na chamada Terra Santa ou Palestina. Desde a sua fundação em 1118 até à sua retirada para Chipre, após a derrota de S. Joao d'Acre, a 18 de Maio de 1291, ante a investida bem sucedida das forças turcas do sultão mameluco Melec el Esseraf [ou el Achraf].
Do seu regresso a França, por imperativos de logística, até à sua quase exterminação na terra do rei Felipe IV, o belo, é um passo de pigmeu. Isso deverá sabê-lo tão bem, ou melhor, que eu.
O que ficou para trás foi História, verídica e consultável. O que se criou depois daí, principalmente nos séculos XVIII, XIX, XX e já neste XXI, através da Maçonaria e dos Rosa-Cruzes, tem sido uma constante de mentiras, falácias ou intrujices que trazem à Ordem do Tempo uma faceta absolutamente falsa e situações e episódios que nunca se viveu nem produziu dentro da sua estrutura de Ordem religiosa-militar. Tudo o que se lhe possa adjectivar - simbologia, rituais profanos, esoterismos, cabalas, e mais, e mais, e mais!... - é pura invenção, falta de verdade ou tentativa, não consumada, de denegrir uma Ordem que não sendo pura, nunca foi nada daquilo que se lhe pretende atribuir.
E será bom que as pessoas começem a estudar melhor a documentação existente, porque ficarão com um muito maior grau de conhecimento e de verdade sobre uma Milícia guerreira que não contemplava muito esoterismos, nem cabalas, nem misticismos, nem simbolismos, nem o quer que seja que se lhe queira arranjar em paralelo. Muito menos Baphfomets ou outras cabeças pardas que teriam usado em rituais de sangue, de orgias sodomíticas ou de heresias irracionais.
Sejemos mais atentos e conscientes, e deixemos todos estes códigos da Vinci e quejandos que se vão escrevendo todos os dias para mal da verdadeira História da Ordem do Templo, e que se procuram, perpetuar nas prateleiras do irrealismo mais depravado, da ficção mais abjecta e irrealista, do anacronismo mais descabido e desconexo, tão aos gosto das pessoas, que, sendo crentes, são pouco conhecedoras e falsamente iluminadas.
Não sei se lhe respondi como desejava que lhe respondesse, mas quero afirmar-lhe que gostaria que procedesse a uma revisão completa na leitura que faz dos livros que lhe falem da Ordem do Templo. Consulte autores sérios como Marion Melville, Régine Pernoud, Stephen Howarth, Amim Maalouf, Georges Bordonove, Steven Runciman, René Grousset, Helen Nicholson, e poucos outros mais, entre os estrangeiros. Quanto aos portugueses aconselho-a a que leia alguns dos trabalhos publicados por Alexandre Ferreira, fr. Bernardo da Costa [apesar de algumas imprecisões histórias e de lugares], fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, António Lopes Pires Nunes, José Manuel Capêlo, Mário Jorge Barroca ou Pinharanda Gomes.
Comece por aqui e logo verá a diferença. De qualquer das maneiras, muito obrigado pelo seu testemunho.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Eram os templários místicos?

Só um ingénuo ou um desconhecedor da realidade templária poderá ainda acreditar nisso.
Como é que querem que eles tenham sido místicos, esotéricos, cabalistas, quando exactamente eram uma Ordem religiosa-militar, pronta a matar em combate, a degolar - sem contemplações! - depois da luta, a poupar muito poucos dos seus inimigos declarados? Daí que tivessem, igualmente, a paga - dessa mesma maneira - por parte dos seus opositores.

Deixemo-nos de cretinices e busquemos a verdade, já que ela é séria demais e não provoca histerias místicas quando dela se retira o conhecimento.
Apenas e só!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Elvas ocupada, em 1230, pela Milícia templária?

Sobre este assunto, dentro de uns dias darei notícias, pois parece que a História que aprendemos em relação a Elvas e à "sua conquista", por D. Sancho II, não estará bem contada. Levantando um pouco do véu do Tempo, nunca Elvas foi conquistada em 1229, nunca recebeu foral nessa data e as Ordens religiosas-militares do Hospital, Templo, Espada e Avis vieram, por ordem do rei leonês, ocupar a cidade previamente abandonada pelos seus habitantes, face à aproximação do exército leonês de Afonso IX, comandado pelo infante português D. Pedro, filho de D. Sancho I, um estratega militar de excelência, em oposição à "brandura" de seu irmão, o rei D. Afonso II de Portugal. Corria o ano de 1230 e estes factos passaram-se logo depois da sanguinolenta conquista da Mérida almohada, por estas mesmas forças cristãs.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Codex Templi

Já leram o Codex Templi? Falo do publicado em Portugal!
Existem artigos com verdadeiro interesse. Falo dos que versam temas comprovadamente históricos, referentes aos Templários. Naturalmente.
No entanto, alguns há, que pertencem à fantasia do fácil, do facilmente inventado, que não presta, que não serve, que não nos indica caminho algum seguro, sobre um tema que tanto nos interessa. Mas no conjunto, é um livro a ler e a reter.