sábado, 16 de janeiro de 2010

Razão deveras compreensível.

Castelo Branco, numa perspectiva de noroeste,
vista por Duarte d'Armas nos inícios do século XVI.

Não sei bem porquê — porque razão intrínseca e deveras misteriosa, só assim se compreendendo — Castelo Branco, isto é, os seus habitantes e principalmente os seus mandantes, sempre esqueceram a importância da sua urbe na história dos Templários em Portugal, já que foram exactamente estes que a fundaram, lhe deram o nome e a fizeram desenvolver desde início. Complexo? Mas de quê e porquê, já que outros lugares e regiões, tendo as honrarias mas não a verdade, se proclamam e vêem instituídos privilégios que não lhes cabe? Temor? De que estranha raiz — se é que na verdade existiu!... — é a sua proveniência, quando o então poder estabelecido — a Monarquia e a Igreja, cada um com a sua Inquisição, que não deixava de ser uma e a mesma — utilizaram a heresia e um fascinado e malévolo ocultismo contra a Ordem e todos os seus membros? Esquecimento? Será que ainda é preciso lembrar-lhe que a História é só uma e que a sua fundação é igualmente uma e bem determinada, pese-lhes o martírio de histórias e lendas que lhes fabricaram — e ainda vêem fabricando!... — para a origem do seu nome, criação, desenvolvimento e extinção? Concertada conveniência? Muito provavelmente nos princípios e nas formas de antigamente, já porque não só ela como uma possível e surda conivência teriam sido motivos — que já não importa mencionar, porque não têm absolutamente lugar nenhum —, já porque os tempos são definitivamente outros e se explicam sem complexos nem maneirismos, baseados em documentos probos e em evidências indiscutíveis. Há que termos a noção de que vale mais termos uma História, mesmo que mais violenta — sem nos devermos esquecer que, como Ordem militar, os seus membros combatentes, isto é, os seus monges-guerreiros, eram treinados no uso e prática de uma violência sem limites — que nos faça pensar, mas não nos macule, do que uma falsa história ornada de fantasias ou incríveis balelas apanhadas no pitoresco de uma [ou mais] versão [versões] de antropomorfismo arqueológico sem pés nem qualquer tipo de razão, quanto mais de cabeça, e uma outra de falso esoterismo-simbolismo e procurados mistérios em tesouros que nunca existiram e se procuram denodadamente encontrar — nesse ilusório ouro (1) jazendo em Gisors ou em Tomar —, quer como herdeiros de hipotéticos descendentes de Jesus Cristo e Maria Madalena. Há que se ter juízo e verdadeira noção da realidade para não se enfermar por caminhos ínvios e absolutamente inventados, como se está seguindo para conseguimento e venda de milhares e milhares de exemplares, criando best-sellers onde só a ficção e um bom poder de narrativa existem, ou mesmo, quando nada disso se procura.
[José Manuel Capêlo, As Sedes Templárias em Portugal, Castelo Branco, a Cidade-Capital Templária de Portugal: de 1215 a 1314, Codex Templi, Capítulo VII, pp. 159-160, nota 17.]

Nota do Autor:

(1). — Na verdade, todo o ouro e prata encontrados nos subterrâneos da sede da Ordem em Paris — e que era bastante! — foram mandados derreter por ordem de Felipe, o belo, para que se viessem a cunhar moedas, tão necessárias para os depauperados cofres reais. Uma lufada de ouro-moeda e prata-moeda varreu então, de nova riqueza, o território do frio, determinado e inabalável monarca francês.

Até breve.

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