quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Autores e Obras citados de 01.Dezembro.2009 a 30.Dezembro.2009.

Monge escrivão.

(a Autores e a Obras anteriormente referenciados, apenas se lhes citam os nomes e respectivos títulos.)

A. H. de Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa, (5ª. Edição), Ed. Livraria Sá da Costa, Lisboa, 1987;
Adeline Rucquoi, História Medieval da Península Ibérica;
Alexandre Herculano, História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo I, Livro I e Livro II;
António Brandão, fr., Crónica de D. Sancho I e D. Afonso II;
António José Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal;
Carlos de Ayala Martínez, Las ordenes militares hispânicas en la Edad Media (siglos XII-XV), Marcial Pons Historia/Latorre Literaria, Madrid/Arganda del Rey, España, 2007;
Edward Burman, Templários: os Cavaleiros de Deus;
Fernando de Almeida, D., Egitânia — história e arqueologia;
Hermenegildo Fernandes, D. Sancho II;
Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, fr., Elucidário, Vol. II (B-Z);
José Carlos Sánchez Montero, Apogeu e Decadência, Prisão e Julgamento da Ordem do Templo, Codex Templi; José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal;
José Manuel Capêlo, As Sedes Templárias em Portugal, Castelo Branco, a Cidade-Capital Templária de Portugal: de 1215 a 1314;
Mário Jorge Barroca, Do vale do Mondego à reconquista definitiva de Lisboa (1147), Vol. 1, p. 41, Da Reconquista a D. Dinis, Nova História Militar de Portugal;
Saul António Gomes, Introdução à História do Castelo de Leiria;
Pedro Alvites.


Outros:

Crónica Geral de Espanha de 1344;
“Livros” de Linhagens;
“Matéria” de Bretanha
.

Até breve.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Por aqueles dias...

Combates na Lusitânia.

No rimanço da memória, no tempo em que os cavaleiros eram bravos e expeditos, em que as correrias se faziam à brida e os combates rápidos à guisa de algaras, os homens lutavam pelo terreno e pela reconquista a que julgavam ter direito. E tê-lo-iam?!... As lanças e as espadas cruzavam os ventres, e o ar em volta, desferidos golpes e virotadas, enchia-se com os gritos dos aflitos a redobrarem-se de pasmo e dor, tanto quanto as vidas, que ali caíam, deixavam de ter qualquer valor, não representavam sequer misericórdia, nem sustentavam nenhum peso, mesmo para os que se rendiam. Fosse num campo, fosse no outro, achada ou consumada a vitória. Mantinha-se acesa a lei ígnea do combate, a ferocidade do vencedor, o saque do ouro nos corpos.

Por estes lados, terra de ninguém, mas ainda hoje terra duma beleza infinda, as correrias faziam-se mais pela primavera e pelo verão, altura em que, aos exércitos, era mais fácil transportar, a vau, os ribeiros e os rios, em que pequenas ilhotas se erguiam e faziam valer da firmeza da terra. Era por aqui, por estes lados onde a serrania de Segóvia se ergue, mesmo à minha frente, que as legiões romanas e os lusitanos de Sertório se enfrentaram em rituais de afronta e fingimento. Venceram os expeditos, talvez os menos temerosos — se é que medo havia em qualquer dos lados —, nos que fingiam retirada e se voltaram, à uma, para enfrentar e vencer os que corriam ululando, convencidos de que o inimigo retirava por pavor e por cansaço. Puro engano. “Nunca deves ou procures dar luta a um romano em campo aberto”, sempre o afirmara Sertório aos seus lugares-tenente, também eles romanos, também eles firmes no comando de lusitanos — esses bárbaros que tantos males e mortes lhes tinham causado —, como esse agitado e impetuoso Hirtuleius, que desde sempre acompanhara Sertório, mesmo antes que o general se pusesse na disposição de chefiar os irrequietos e insubmissos guerreiros, espalhados por toda uma meseta da Ibéria central, na luta que travavam contra Roma, e que se-lhe tornara o seu comandante favorito, que liderava a posição lusitana postada no alto daquele castro, e que não conseguiu antever, ou não soube entender, ou não soube lembrar, que as legiões de Lucius Metellus, as que se retiravam do campo da luta, depois de um longo cerco e de várias e infrutíferas arremetidas contra as defesas castrejas, o faziam por pura estratégia, mera conjuntura de guerra, arte ou forma para os conseguir atrair e apanhar em terreno aberto, táctica favorita desde sempre aplicada pelas legiões romanas, por forma a triturá-los sem remissão, nem apelo. Naquele dia de Julho, do ano de 75 a. C., no campo fronteiro ao monte majestoso de que fizeram morada, morto ou moribundo, ficou prostrado um dos últimos dos lusitanos.

Ao olhar o cerro de Segóvia, este maciço arredondado pela beleza da forma e pela singularidade do verde, distingo, perfeitamente nítidos, os ais dos aflitos e dos moribundos, os que, junto à minha mão, foram tragados pela terra e pela secular metamorfose das épocas. Oiço-os vindos das profundidades, do ventre das plantas e das árvores, do silêncio das arredondadas pedras de seixo, sinal, ou testemunho, de que também por aqui correra um rio rápido e sem sorte, que se extinguiu com a correria dos séculos e a alteração do clima. El Niño lhe chamam… À hecatombe!

Mas porque sempre me hei-de lembrar da fúria dos homens, do grito dos aflitos, do terror das legiões?!... Melhor fora que beijasse os leitos aos pouquíssimos rios ainda límpidos ou à terra enunciadamente sagrada que por estes lugares correm e se anunciam.
Melhor fora, como lembrança à nossa sobrevivência.
Pedro Alvites

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Dívidas reais.

Das avultadas somas emprestadas pela Ordem a D. Dinis, estas seriam pagas com os rendimentos de Idanha-a-Nova e Salvaterra do Extremo, para tal fim consignados em documento régio de 1310.
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, p. 165 e nota 482.]

Nota do Autor:

(1). — O rei D. Dinis, em 1310, quando se desenrolava o processo contra os templários, conseguiu reaver Idanha-a-Velha, depois de uma série de discussões, não viesse a fortaleza passar para outro senhorio; tanto que fizera um acordo, nesse sentido, com o rei D. Fernando IV de Castela, onde eram englobados todos os bens da Ordem, tanto lá quanto cá. Foi mesmo mais longe. Os documentos que davam a velha cidade como pertença dos templários foram tidos por suspeitos. Idanha-a-Velha passa, assim, para a Ordem de Cristo, quando esta é criada. [Fernando de Almeida, D., Egitânia — história e arqueologia, pp. 76-78.]


Até breve.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A fundação de um Reino. (VI)

É indubitável que as instituições da monarquia de que Portugal fizera até então parte contradiziam a sua separação perfeita e absoluta: era, portanto, necessário anulá-las para uma jurisprudência superior a elas. O povo, a cuja frente Afonso I se achava, não tinha, nem podia ter, um direito público diferente do leonês: este era o mesmo dos visigodos, segundo o qual a existência política do rei dependia em rigor da eleição nacional; e, na verdade, havia muitos anos que o jovem príncipe recebia dos seus súbditos o título de rei, posto que nenhum dos actos nos reste de uma eleição regular.
[Alexandre Herculano, História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo I, Livro I, p. 452.]

Até breve.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Ocupação e povoamento. (IV)

Por inícios do século XIII, efectuou-se uma outra inquirição motivada pelas discórdias reinantes entre a Canónica coimbrã e o Bispo diocesano para as quais havia contribuído, consideravelmente, a passagem pela cátedra episcopal daquela cidade de D. Miguel Salomão e os favores por este prelado oferecidos ao cenóbio dos cónegos regrantes. As testemunhas de ambas as partes afirmam unanimemente que foi D. Afonso Henriques que promoveu o povoamento de Leiria: “Dominus rex populauit illam”, “dominus rex alfonsus populauit eam”, “populauit illam”, são expressões reafirmadas prontamente por todos. Precisamente porque não era essa a matéria de controvérsia. A fundação do castelo e o coevo povoamento do território envolvente era um acto bastante objectivo e claro nas mentes das testemunhas depoentes. As divergências surgiam a propósito da discussão sobre os direitos eclesiásticos nas igrejas leirienses, sobre o privilégio da consagração dos seus altares, da administração dos sacramentos ou da ordenação e apresentação de clérigos.
[Saul António Gomes, Introdução à História do Castelo de Leiria, p. 29.]

Até breve.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Besteiro.

Besteiro.

Soldado armado de besta e que com ela peleja. Ordinariamente, ervavam as setas, untando-as com ervas venenosas, principalmente com o helébero ou varatro negro que, por isso, em Portugal, lhe chamam erva besteira.
[Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, fr., Elucidário, Vol. II (B-Z), p. 31.]

Até breve.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Fronteira entre Tejo e Guadalquivir. (III)

Do lado cristão, esses guerreiros são também compostos por efectivos permanentes das Ordens Militares, sempre pouco numerosos mas extremamente tenazes e profissionais, no duplo sentido do conhecimento da arte da guerra e da profissão na fé. Uma combinação destes elementos havia mantido Évora nas mãos cristãs desde 1165, praticamente isolada desde as grandes e bem sucedidas incursões almohadas dos anos 80. Neste primeiro tempo de Sancho [II] um cordão de castelos garantira já, de forma bastante larga e difusa, uma presença portuguesa desde o Atlântico até à serra de São Mamede, numa linha de desenho longitudinal: Alcácer do Sal, a velha Qasr Abī Dānis; Montemor-o-Novo, já relativamente consolidada no dobrar da centúria; Évora e depois numa inflexão súbita devida à presença ameaçadora de Badajoz e de Elvas, o seu posto avançado para ocidente, muito a norte, ou, mais precisamente, a nordeste, Marvão, o ninho de águias que muitos séculos antes, durante as fricções internas do século IX andaluz, esse outro grande homem de fronteira que fora Ibn Marwan, fizera seu, em detrimento da Amaia antiga, no vale.
[Hermenegildo Fernandes, D. Sancho II, p. 137.]

Até breve.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

D. fr. Pedro Arnaldo. (II)

Companheiro de jornada, tanto em França quanto na Palestina, de Hugo de Payns, André de Montbard e Godofredo de St. Omer, foi com estes, como cavaleiro cruzado, para o Oriente Médio. Aí combate denodadamente pela sorte dos peregrinos chegados à Palestina, por forma a que cheguem à Cidade Santa sem serem molestados pelos árabes, e, junto com os oito companheiros, ajuda a fundar a Ordem do Templo na cidade de Jerusalém. Em 1123 regressa a França, na comitiva de Hugo de Payns, com André de Montbard, seu grande amigo. No ano seguinte, ou em 1125, chega a Portugal integrando a pequena hoste da Milícia do Templo, comandada por D. fr. Guilherme Ricardo, tudo levando a crer ter sido ele a causa principal desta vinda tão temperana.
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, p. 73-74, e nota 185.]

Nota do Autor:

(1). — Muito provavelmente por volta de 1114 ou 1115.


Até breve.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Boas Festas

A todos os que gostam de História e, particularmente, da História da Ordem do Templo em Portugal, elementos que paciente e diariamente vou lembrando como Memória, neste espaço de todos nós, quero deixar expresso os meus mais sinceros desejos de um Natal com muita paz, muita amizade e muito entendimento, e de um Ano de 2010 pleno de saúde, realizações e concretizações que possam vincar neste mundo turbulento e contraditório, cujas sinistras figuras dirigentes tentam manifestamente destruir a cada palavra que proferem.
Que os Homens pensem que a História se repete - sempre se repetiu! - e que os erros que hoje cometemos, deliberadamente, serão os nossos filhos, mas principalmente, os nossos netos, a pagar esta factura doentia e transformista. Basta olharmos em redor para vermos os sinais evidentes de uma Natureza a (re)transformar-se e a dar poucas hipóteses de sobrevivência aos que ficarem para um futuro mais ou menos próximo.
Que o Homem pense, e realize, que todos os dias poderiam ser um diferente dia de Natal.
Boas Festas!
Pedro Alvites

A mesa medieval. (II)

A alimentação na Idade Média.
Num país como Portugal, o peixe situava-se também na base da alimentação, especialmente entre as classes menos abastadas. O consumo frequente de peixe pela nobreza e pelo clero provinha das prescrições religiosas: cerca de sessenta e oito dias no ano eram de abstinência obrigatória de carne para todos os católicos. Nesses dias, os pratos de peixe ou de marisco substituíam, ao jantar e à ceia, so pratos de carne. Porque as proibições eram rigorosas: em tempo de jejum, nada de carne, ovos, queijo, manteiga, banha, vinho e até peixe gordo! Ervilhas, fruta e peixes pequenos recebiam as preferências da Igreja.
Um dos peixes mais consumidos pelos portugueses na Idade Média, parece ter sido a pescada (peixota), presente em quase toda a documentação que especifique variedades piscatórias. Sardinha, congros, sáveis, salmonetes e lampreias viam-se também com frequência nas mesas de todas as classe sociais. Ruivos, pargos, atuns, trutas, solhos, bizugos, cações, rodovalhos, gorazes e muitas outras espécies eram objecto da culinária de então. Também se comia carne de baleia e de toninha. Mariscos (como amêijoa e berbigão) e crustáceos (como lagostas e caranguejos) eram frequentes.
[A. H. de Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa, pp. 9-10]

Até breve.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A Ordem na gestão e defesa do seu património.

Graças à sua organização e à sua gestão ao longo dos séculos, a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo converteu-se numa grande potência. Possuía territórios em todos os reinos importantes da Europa e da Terra Santa, com comendas, bailíos, conventos e muitos outros pertences.
O crescimento rápido desta congregação provocou confrontos de diversa índole entre a Ordem e os monarcas — o poder temporal — e com a Igreja — representantes do poder divino na Terra. Os primeiros viam como a sua ideia original de conceder ao Templo territórios para a sua defesa e gestão, estava a converter a Ordem num poder incontestável, num verdadeiro perigo para os territórios dos próprios monarcas. Paulatinamente, os reis encontravam-se numa posição inferior aos monges. Por seu lado, a Igreja comprovava que nenhuma outra Ordem no mundo gozava dos privilégios que o Templo tinha obtido, de modo que uma organização religiosa militar começava a competir com ela. A Ordem nunca se confrontou directamente com nenhum dos máximos poderes e soube ceder, nalguns casos, para continuar a manter determinados privilégios que a situavam num lugar de preferência. Mas quando teve que defender os seus interesses nos tribunais, fê-lo sem se esconder, e as altas instâncias judiciais deram-lhe razão quando lhe pertencia. Nestas disputas também se pode observar que a diplomacia foi uma das grandes bases do Templo ao longo da História
.
[José Carlos Sánchez Montero, Apogeu e Decadência, Prisão e Julgamento da Ordem do Templo, Codex Templi, pp. 284-285.]

Até breve.

domingo, 20 de dezembro de 2009

O ideal trovadoresco e o Amadis de Gaula. (III)

O livro [Amadis de Gaula] poderia ter sido redigido na corte de Afonso X, o Sábio, em que o galego-português era a língua usada predominantemente na canção e o castelhano na prosa. Seja dito, todavia, que já se cultivava a prosa em português, como o provam as traduções da matéria de Bretanha, os livros de linhagens e a Crónica Geral de Espanha de 1344.
[António José Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal, p. 45.]

Até breve.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Ordens Militares no Outremer.

Templário (à esquerda) e Hospitalário.
Os Templários e, à imitação destes, os hospitalários e os monges de outras Ordens que foram surgindo ao largo do século XII na Terra Santa constituem, neste sentido, os mais fiéis expoentes da ideia pontifícia de Reconquista cristã, uma ideia universalista que implicava, através da Cruzada, a libertação de quantos cristãos se achassem oprimidos pela ilegítima ocupação do Islão. Neste sentido, as primeiras Ordens, as nascidas na Terra Santa, são «universais».Tenha como cenário de actuação o campo cruzado do Oriente ou o exponencial da Reconquista Peninsular, os seus objectivos não podem ser outros senão os de actuar em defesa dos interesses da Cristandade, sob a chefia pontifícia, e ao longo dessas fronteiras, mais ideológicas que geográficas, que separavam estas terras fiéis a Cristo e à sua Igreja de que injustamente haviam sido arrebatadas pelos Infiéis. Esta teórica dependência pontifícia e este objectivo generalizador das Ordens militares conferiam aos seus monges, pelo menos num primeiro momento, uma certa auréola de autonomia respeitante ao poder secular da realeza.
[Carlos de Ayala Martínez, Las ordenes militares hispânicas en la Edad Media (siglos XII-XV), pp. 21-22.]
(Tradução nossa, a partir do castelhano.)

Até breve.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

D. fr. Pedro Arnaldo. (I)

Se este D. fr. Pedro Arnaldo não for o mesmo D. Arnaldo [da Rocha] de que se escreve e enuncia ter sido um dos nove cavaleiros que na Palestina fundaram a Ordem, e que teria vindo no primeiro grupo de quatro ou cinco cavaleiros, enviados pelo próprio Hugo de Payns — chefiados por D. fr. Guilherme Ricardo quando este chegou a terras do condado portucalense, a pedido da rainha D. Teresa —, então pouco se saberá deste Mestre, a não ser que era adorado entre os seus irmãos como guerreiro valente e homem de profunda ciência e humanidade. Se D. fr. Pedro Arnaldo foi um e o mesmo, como tudo leva a supor que sim, a história é-nos um pouco mais clara, apesar de continuar a mostrar-se um pouco intrigante, ou melhor, omissa, em relação a certas realidades pessoais e históricas.
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, p. 73, e nota 184.]

Nota do Autor:

(1). — Michel Lamy, no seu livro Os Templários — esses grandes senhores de mantos brancos [p. 26], fala do cavaleiro Gondomar, que diz ser, com toda a probabilidade, português.

Até breve.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A cintura de defesa de Coimbra. (I)

Apesar da cidade [Coimbra] poder contar com uma série de castelos para a sua defesa (Santa Eulália, Montemor-o-Velho, Soure, Castelo Viegas, Penela, Miranda do Corvo, Arouce e outros), continuava a ser presa fácil para incursões muçulmanas, que partiam de Santarém. Por isso, em fins de 1135, D. Afonso Henriques «vendo as frequentes incursões e depredações que se faziam sobre os campos de Coimbra», decidiu fundar um novo castelo — o castelo de Leiria — implantado, como refere a Chronica Gothorum, sensivelmente a meio caminho entre Santarém e Coimbra: a quarenta milhas da primeira e a cinquenta milhas da segunda.
[Mário Jorge Barroca, Do vale do Mondego à reconquista definitiva de Lisboa (1147), Vol. 1, p. 41, Da Reconquista a D. Dinis, Nova História Militar de Portugal.]

Até breve.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Concelho.

Concelho chamam em Portugal algumas terras e aldeias juntas, que se governam por uns mesmos estilos e debaixo das mesmas justiças e senhorio.
[António Brandão, fr., Crónica de D. Sancho I e D. Afonso II, p. 111.]

Até breve.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Estafermo.

Estafermo.

Estafermo era um tipo de boneco, geralmente de metal, com uma arma presa numa das pontas e escudo na outra, usada para treino da cavalaria na Idade Média.
O boneco ficava preso a um eixo, sobre o qual poderia girar. Montado, o cavaleiro procurava atingi-lo com a lança, espada ou outra das armas então utilizadas. Ao ser golpeado, o estafermo girava, por sua vez, simulando estar golpeando e forçando o cavaleiro a treinar também a defesa.
Sua construção era feita colocando-se o simulacro de boneco com os braços abertos na horizontal e, onde deveriam ser as mãos, em geral eram presas armas, como uma clava ou espada, e um escudo.
O ataque ao estafermo dava-se a galope, de sorte que a velocidade da acção simulava uma situação real de combate.
Dentre as armas que poderiam ser assentadas numa das mãos do boneco estavam a alabarda, clavas ou maças de pontas com formatos diversos
.
[Retirado de "http://pt.wikipedia.org/wiki/Estafermo" ]
Pedro Alvites
Até breve.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Glossário

Para que haja um melhor conhecimento e enquadramento da época medieval que vimos apreendendo nestes pequenos quadros históricos, que apresentamos diariamente — salvo os raros dias de não publicação por motivos absolutamente alheios à nossa vontade —, achei que seria importante e oportuno, tanto quanto útil, inserir um glossário (1) amplo e diverso que nos possa elucidar melhor quanto ao que pretendemos fazer conhecer. Como já fizemos anteriormente, e em tempo espaçado, daremos nota desses mesmos termos.

Glossário:

ababalhar: conspurcar.
abadar: prover de abade.
abaetar: enroupar-se; agasalhar-se.
abalado: comovido; impressionado.
alanzoador: resmungão; bazófia; tagarela.
alaúde: instrumento antigo de cordas, semelhante à guitarra.
alavanca: barra de ferro ou pau de remover ou levantar corpos pesados; corpo rígido em forma de barra que pode girar em torno de um eixo fixo chamado fulcro.
albente: que alveja.
albirrosado: de cor branca ligeiramente rosada.
albornoz [do ár. al-burnus.]: espécie de gabão com mangas e capuz usado pelos árabes; casaco largo com capuz ou gola grande.
alfoz [do ár. al-huz.] : arredores de um povoação.
algarrada [do ár. al-‘arrada.]: espécie de catapulta antiga.
azémola: besta de carga.
casa do de profundis: lugar em que se reza este salmo, antes que se entre para o refeitório.
emparedadas: assim se chamavam às mulheres que nos começos do século XIII, nos reinados de D. Sancho I e D. Afonso II se recolhiam em algumas casas a fazer penitências e também as nomeavam enceladas e a seus recolhimentos celas.
gonia: prazer; regozijo; descanso; entretenimento; gosto; consolação, alívio.
hisn: o castelo, a fortificação, na terminologia árabe.
malha [O m. q. debulha.]: eram os processos utilizados para se desalojar os grãos das espigas.
morabitino: moeda de ouro com valor que variou ao longo do tempo e que equivalia, em geral, a 20 soldos.
portádigo: portagem, imposto indirecto que incidia sobre a compra e venda de mercadorias entradas no concelho.
perciçoeiro: livro que contém o que se diz, canta ou reza nas procissões.
pinaça: embarcação de pequeno fuste, de vela e remo, não muito segura mas ligeira.
pobramento: tempo ou época em que uma terra, lugar, cidade ou vila se começou a povoar.
pôr em pés: mostrar ser verdade, e ter fundamento o que se conta, diz ou alega.
pôrra: dava-se, em tempos antigos, este nome aos ceptros ou maças que nas catedrais, colegiadas insignes e alguns mosteiros serviam de ornato e magnificência às mais solenes procissões.
rodízios: peça do moinho de água que, movida pela água que lhe cai numa das travessas escavadas, chamadas «penas», faz andar a mó.
solarengo: dependente que trabalha e está sob a tutela do possidente de um solar.
terra-chã: aldeia ou povoação pequena, que não é cabeça de concelho, nem tem muros, torres ou castelos.
zarco: dizem que assim se chamavam os que tinham os olhos azuis e em demasia claros. Igualmente se diz daquele que é vesgo ou torto da vista; zarolho.
Pedro Alvites

Nota:

(1) — Para uma consulta da bibliografia aqui inserida, dar-se-á uma relação num dos dias finais de cada ano.
Até breve.

domingo, 13 de dezembro de 2009

A mesa medieval. (I)

Refeição na Idade Média.


De uma maneira geral, a alimentação medieva era pobre, se comparada com os padrões modernos. A quantidade supria, quantas vezes, a qualidade. A técnica culinária achava-se ainda numa fase rudimentar e as conquistas da cozinha romana tinham-se perdido. A condimentação obedecia a princípios extremamente simples.
Do ponto de vista da ciência actual, a alimentação medieva revelava-se deficiente em vitaminas. Feita à base de cereais, de carne, de peixe e de vinho, mostrava falta grande de vitamina D e considerável de A e C. os resultados destas deficiências traduziam-se por uma débil resistência às infecções, com o consequente progresso fácil das epidemias, por frequentes doenças da vesícula e dos rins (resultado da acumulação de pedra) e dos olhos (cegueira, xeroftalmia), resultado da falta de vitamina A; finalmente, por escorbuto muito comum, devido à deficiência em vitamina C.
As duas refeições principais do dia eram o jantar e a ceia. Jantava-se, nos fins do século XIV, entre as dez e as onze horas da manhã; mas nos séculos anteriores, essa hora teria de recuar para as oito ou nove. Ceava-se pelas seis ou sete horas da tarde. No Leal Conselheiro, o rei D. Duarte recomendava que decorressem sete a oito horas entre as duas refeições e que, jantando-se muito, se ceasse pouco, assim como, ceando-se muito, se jantasse pouco no dia imediato. Como ideal de frugalidade, prescrevia-se a ausência de qualquer repasto durante o dia. É de supor, contudo, que o progressivo atraso da hora do jantar tivesse implicado, a partir de certa altura, a necessidade de um «almoço» tomado pouco depois do levantar.
O jantar era a refeição mais forte do dia. O número de pratos servidos andava, em média, pelos três, sem contar sopas, acompanhamentos ou sobremesas. Isto, entendia-se, em relação ao rei, à nobreza e ao alto clero. Entre os menos privilegiados ou os menos ricos, o número de pratos ao jantar podia descer para dois ou até um. À ceia, baixava para dois a média das
iguarias tomadas; ou para um, nos outros casos indicados.

A base da alimentação era a carne. Ao lado das carnes de matadouro ou carnes gordas — vaca, porco, carneiro, cabrito (na Coimbra do século XII, cotava-se a maior preço a carne de porco e a carne de carneiro gordo, e só depois vinham a vaca e o cabrito; na Évora de 1280, como de 1384, valia a carne de vaca o dobro da de porco e mais do dobro das de carneiro e cabra) — consumia-se largamente caça e criação. O Portugal medievo era um país de coutadas e de baldios. A caça incluía-se entre as principais distracções do nobre e representava para o vilão fonte importante de subsistência. Em mercado, tabelavam-se as carnes de gamo, zebro, cervo, corço, lebre e até urso, entre as gordas; ao lado de uma variedade assombrosa de aves: perdiz, abetarda, grou, pato bravo, cerceta, maçarico, fuselo, sisão, galeirão, calhandra e muitas outras.
A criação não variava muito da de hoje: galinhas, patos, gansos, pombos, faisões, pavões, rolas, coelhos. Note-se apenas a não existência do perú que só veio para a Europa depois do descobrimento da América. Em caça e criação consistia boa parte dos pagamentos (foros, censos e outras prestações várias) que o vilão era obrigado a fazer ao seu senhor. Tamanha abundância destas peças de carne recebia o nobre que uma lei de 1340 lhe proibiu expressamente a compra delas em mercado.
Fabricavam-se também enchidos vários, como chouriços e linguiça.
A forma mais frequente de cozinhar a carne era assá-la no espeto (assado). Mas servia-se também carne cozida (cozido), carne picada (desfeito) e carne estufada (estufado). O badulaque seria uma espécie de caldeirada de carneiro que existia ao menos nos séculos XV e XVI.
[A. H. de Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa, pp. 7-9, (5ª. Edição), Ed. Livraria Sá da Costa, Lisboa, 1987. ]

Até breve.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Imigrações e emigrações. (VI)

O exílio castelhano de muitos dos nobres que depois formaram a corte de Afonso III de Portugal, as idas e vindas dos jograis e trovadores, o regresso aos seus paços e quintãs de antigos combatentes de Sevilha contribuíram para que, a partir de cerca de 1250, muitos nobres tomassem consciência de outros modelos sociais, de outros sinais de prestígio, e de outros níveis de poder. Traziam consigo o fascínio por um mundo mais contrastado e com padrões superiores mais altos do que os que podiam encontrar em Portugal. Mas as ocasiões de emigração tornaram-se menos prementes. Portugal assistiu, entre 1250 e 1300 a um grande desenvolvimento económico, ocupou-se com o povoamento das novas províncias adquiridas nas décadas anteriores, o Alentejo e o Algarve, e estes factos permitiram a muitos nobres de todas as categorias permanecerem em Portugal e sustentarem o seu nível social sem terem de procurar o exílio. Por outro lado, a Reconquista castelhana passou a marcar passo a partir de 1248. Os combates não cessaram, mas a miragem do saque diminuiu: a fronteira passava a ser lugar de rigorosa disciplina militar, de poucas vantagens materiais e de risco de morte. Passou a atrair sobretudo os cavaleiros mais ousados ou com verdadeiras dificuldades de subsistência.
[José Mattoso, A nobreza medieval portuguesa no contexto peninsular, Naquele Tempo, Ensaios de História Medieval, Vol. 1, p. 331.]

Até breve.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O reino franco do Oriente. (IV)

O imperador de Bizâncio, embora governante cristão, mantinha um delicado equilíbrio de poder com os seus vizinhos muçulmanos e tinha o cuidado de não permitir que os estados cruzados se tornassem poderosos o bastante para perturbar esse equilíbrio. Ao norte ficava a Cilícia arménia, de importância fundamental para o caminho terrestre da Europa mas pronta a fazer alianças com os inimigos dos cruzados sempre que necessário. Também ao norte estavam os seldjúcidas de Mas’ud, e a nordeste as terras do emir Mohammed Ibn Ghazi — a principal potência da Ásia Menor.
[Edward Burman, Templários: os Cavaleiros de Deus, pp. 59-60.]

Até breve.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A fundação de um Reino. (V)

A separação de Portugal era, enfim, um facto materialmente consumado e completo, fosse qual fosse a dependência nominal em que o príncipe ficasse do imperador. Nem as armas nem os tratados tinham podido impedi-lo.
[Alexandre Herculano, História de Portugal, Desde o começo da monarquia até o fim do reinado de Afonso III, Tomo I, Livro II, p. 452.]

Até breve.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Agradecimento e lembrança.

Aos seguidores deste blog, a par de tantos e tantos que o lêem, afinal para quem pensei desde que o iniciei, fica o meu mais profundo agradecimento e a minha mais lembrada estima, esperando que continuem a desfrutar de passagens e de conhecimentos únicos nestas pequenas notas que vão lembrando a História da Ordem do Templo e do Reino de Portugal, lugares imperecíveis da nossa Memória e do nosso Sentir.

Agora que o Mundo definha cataclismicamente e a hipocrisia assenta em saciedade, o roubo se instala com uma sem vergonha inacreditável e a mendicidade do povo é cada vez maior e mais sentida. Será que por muito mais tempo? Não será altura de gritarmos, como nos indica e faz cantar o nosso hino: Às Armas! Às Armas!!!!!!!!!!!
Ou Arraial! Arraial!, como se motivavam, gritavam e agiam os antigos?!... A cada um a sua pertença, porque a História, essa, sempre se repete e os homens procuram esquecê-la a cada dia, em cada movimento secular dos polos!
Pedro Alvites

Até breve.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Rio Guadiana.

(…) o famoso Guadiana. Rio de Pato Negro como lhe chamavam os antigos (…).
[citado de http://ec.aciprensa.com/b/badajoz.htm.]
Pedro Alvites

Até breve.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Carta de paz e concórdia.

Bula Ea que pro bono pacis de Adriano IV, passada a 15 de Junho de 1159, confirmando a carta de paz e concórdia estabelecida entre o bispo de Lisboa e a Ordem do Templo respeitante aos direitos do eclesiástico de Santarém.
[José Manuel Capêlo, As Sedes Templárias em Portugal, Castelo Branco, a Cidade-Capital Templária de Portugal: de 1215 a 1314, Codex Templi, Capítulo VII, p. 177.]

Até breve.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Reinos peninsulares.

Em 1037, o filho de Sancho III, Fernando I, a seguir à morte de seu cunhado, apoderou-se em nome de sua mulher do reino de Leão, unindo-o a Castela, que tinha herdado. Mas quando, por seu turno, morreu, em 1065, deixou o reino a seus três filhos: porém, Afonso VI saiu vencedor de uma guerra fratricida e reuniu de novo os três reinos, aos quais se juntou o de Toledo em 1085. Em 1157, seu neto, Afonso VII, o Imperador, dividiu de novo os domínios da coroa para dar Castela ao seu filho mais velho, Sancho III, e Leão e a Galiza a seu outro filho, Fernando II. A divisão entre Castela e Leão sobreviveu a vários reis até que Fernando III, herdeiro de Castela por sua mãe, Beringuela, e de Leão por seu pai, Afonso IX, uniu definitivamente as duas coroas em 1230.
[Adeline Rucquoi, História Medieval da Península Ibérica, p. 175.]

Até breve.

sábado, 5 de dezembro de 2009

A espiritualidade religiosa-militar no Outremer.

(…) O que deixámos explícito nas páginas precedentes explica que a primeira de todas as Ordens militares, a Milícia do Templo, nascera na Terra Santa, no recém-constituído reino de Jerusalém. Era este a fronteira mais exposta da Cristandade latina, a que punha termo ao expansivo projecto pontifício que tornava o papa no chefe do Ocidente, um chefe necessitado de instrumentos capazes de tornar realidade e, sobretudo, de poder manter o sonho legítimo da Cruzada.
[Carlos de Ayala Martínez, Las ordenes militares hispânicas en la Edad Media (siglos XII-XV), p. 21, Marcial Pons Historia/Latorre Literaria, Madrid/Arganda del Rey, España, 2007.]
[Tradução nossa, a partir do castelhano.]


Até breve.