No que respeita às narrativas dos reinados dos soberanos da primeira dinastia, de D. Sancho I a D. Afonso IV, Rui de Pina baseou-se, no entanto, nos textos da Crónica de 1419, dela também seguindo, implicitamente, o respectivo projecto de revisão do sentido de atribuir aos primórdios do passado luso. Com efeito, tal como o fizera essa crónica, Rui de Pina acabou por reproduzir e fixar uma história do reino autónoma de visíveis e concretas referências a qualquer subordinação política face ao passado da monarquia leonesa, tal como ainda era bem visível na Crónica Geral de Espanha de 1344 e na sua refundição de 1400. Para além disso, seguindo ainda a Crónica de 1419, Rui de Pina também dela adoptou a concepção de um passado luso onde se expressava e confluía o carácter providencialista que a literatura genealógica portuguesa de Trezentos atribuíra à nobreza portuguesa, transferindo para a história dos primeiros monarcas do reino as manifestações dos valores e dos poderes que tinham supostamente feito da fidalguia de Portugal a considerada elite e vanguarda da messiânica cavalaria hispânica, sendo ela vista como a melhor e mais transcendental cavalaria da história da Cristandade.
[Maria Sofia Marques Condessa, A memória das cidades dos séculos XII a XIV, nas crónicas de Rui de Pina e Duarte Galvão, pp. 18-19.]
[Maria Sofia Marques Condessa, A memória das cidades dos séculos XII a XIV, nas crónicas de Rui de Pina e Duarte Galvão, pp. 18-19.]
Até breve.
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