sábado, 12 de julho de 2008

Resposta a EMS.

Minha boa Amiga, e permita-me que assim a trate.
Faz bem em discordar. Devemos fazê-lo quando não estamos de acordo com o que lemos ou vemos. No entanto, aqui, no que diz respeito ao que discorda, gostava de lhe lembrar que a História é aquela que se sabe, porque existem documentos a prová-la, e a ilusão o que se contempla quando se observa ou se lêem páginas e páginas de pura ficção sem nada terem que o suporte em concreto, a não ser a pura invenção, falácia - ou que se lhe quiser chamar para denominar o mesmo sinónimo - de que é feita, e que tanto vem transtornando, numa irrealidade inconcebível, as mentes. Mentes essas que por serem ingénuas ou crentes em relação a uma Ordem, não se apercebem que ela é, desta forma, bem mais vilipendiada e bem mais amesquinhada, servindo-se dela para tudo, até para artes, magias ou rituais inauditos que nunca, mas nunca, se passaram ou concretizaram no seu seio e que a tornam, assim, cada vez menos conhecida do que ela foi e a afastam da realidade que, na verdade, a viveu.
É que, realmente, uma [a História] e outra [a pura ficção e engenho de quem a cria ou por quem é criada] nada têm a ver uma com a outra, porque nada se lhes compara ou pode comparar.
Explico, seguindo o raciocínio do que escreve no seu gentil parecer e discórdia.
Se a fé e a religião estão por detrás, como bem disse, da maioria das guerras, esquecemo-nos de que, por detrás de tudo isso, está o interesse desmedido da conquista, não só pela ocupação, saque, mas pela destruição sistemática do que é conquistado. É o não deixar pedra sobre pedra. Tudo isto vem de há muito, muito tempo - séculos - atrás. E continua hoje, se bem que mais disfarçadamente. Ou não!
Em relação à Ordem do Templo, e é isso que nos interessa e do que estamos falando, se não sabe de todo ou só em parte, continuo a explicar-lhe o pouco que sei, mas que é concreto, não só porque me dá imenso prazer, mas porque igualmente me apercebo que é pessoa interessada no assunto. Realmente, a Milícia templária teve soldados, neste caso, monges-guerreiros - os cavaleiros - tanto quanto uma hierarquia que comportava outro género de combatentes, tais como os escudeiros, os sargentos e os turcópolos. Havia também dentro da Ordem uma outra classe templária: os freires, que na sua grande maioria lhes cumpria, fundamental e exclusivamente, celebrar missas;, ouvir em confissão todos os membros - fossem eles Mestres, Senescais e demais Cavaleiros, os chamados regedores da Ordem, tanto quanto escudeiros, sargentos, turcópolos e os próprios freires -; arregimentar refeições; confeccioná-las; servi-las; fazer as camas ou o que se entendia por isso, já que parece a maioria dormia no chão envoltos em mantas confeccionadas de peles de animais que caçavam, e os abrigava do frio que fizesse, preparar e executar os cânticos litúrgicos que acompanhavam as missas que celebravam - eles e apenas eles, como atrás referi -; cumprindo, asim, os mais diversos e funcionais misteres ou profissões, tais como, cozer as roupas; confeccionar botas e sapatos; a utilização de ferreiros para fundir o aço e preparar as lâminas para pontas de lanças, espadas e punhais, tanto quanto ferraduras para os seus cavalos, entre outras mais, tão necessárias e precisas à boa funcionalidade do Templo.
Por outro lado, e aqui é um item da maior importância, eram os únicos, de todos, mas todos os elementos atrás referenciados, que sabiam ler e escrever. Não todos, é bem verdade, mas uma grande percentagem. E é destes - e também dos cronistas do Outremer [o Ultramar, como então se dizia], principalmente dos arcebispos Guilhermo de Tiro e Jacques de Vitry - que se ficou a saber o que se sabe dos templários na chamada Terra Santa ou Palestina. Desde a sua fundação em 1118 até à sua retirada para Chipre, após a derrota de S. Joao d'Acre, a 18 de Maio de 1291, ante a investida bem sucedida das forças turcas do sultão mameluco Melec el Esseraf [ou el Achraf].
Do seu regresso a França, por imperativos de logística, até à sua quase exterminação na terra do rei Felipe IV, o belo, é um passo de pigmeu. Isso deverá sabê-lo tão bem, ou melhor, que eu.
O que ficou para trás foi História, verídica e consultável. O que se criou depois daí, principalmente nos séculos XVIII, XIX, XX e já neste XXI, através da Maçonaria e dos Rosa-Cruzes, tem sido uma constante de mentiras, falácias ou intrujices que trazem à Ordem do Tempo uma faceta absolutamente falsa e situações e episódios que nunca se viveu nem produziu dentro da sua estrutura de Ordem religiosa-militar. Tudo o que se lhe possa adjectivar - simbologia, rituais profanos, esoterismos, cabalas, e mais, e mais, e mais!... - é pura invenção, falta de verdade ou tentativa, não consumada, de denegrir uma Ordem que não sendo pura, nunca foi nada daquilo que se lhe pretende atribuir.
E será bom que as pessoas começem a estudar melhor a documentação existente, porque ficarão com um muito maior grau de conhecimento e de verdade sobre uma Milícia guerreira que não contemplava muito esoterismos, nem cabalas, nem misticismos, nem simbolismos, nem o quer que seja que se lhe queira arranjar em paralelo. Muito menos Baphfomets ou outras cabeças pardas que teriam usado em rituais de sangue, de orgias sodomíticas ou de heresias irracionais.
Sejemos mais atentos e conscientes, e deixemos todos estes códigos da Vinci e quejandos que se vão escrevendo todos os dias para mal da verdadeira História da Ordem do Templo, e que se procuram, perpetuar nas prateleiras do irrealismo mais depravado, da ficção mais abjecta e irrealista, do anacronismo mais descabido e desconexo, tão aos gosto das pessoas, que, sendo crentes, são pouco conhecedoras e falsamente iluminadas.
Não sei se lhe respondi como desejava que lhe respondesse, mas quero afirmar-lhe que gostaria que procedesse a uma revisão completa na leitura que faz dos livros que lhe falem da Ordem do Templo. Consulte autores sérios como Marion Melville, Régine Pernoud, Stephen Howarth, Amim Maalouf, Georges Bordonove, Steven Runciman, René Grousset, Helen Nicholson, e poucos outros mais, entre os estrangeiros. Quanto aos portugueses aconselho-a a que leia alguns dos trabalhos publicados por Alexandre Ferreira, fr. Bernardo da Costa [apesar de algumas imprecisões histórias e de lugares], fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, António Lopes Pires Nunes, José Manuel Capêlo, Mário Jorge Barroca ou Pinharanda Gomes.
Comece por aqui e logo verá a diferença. De qualquer das maneiras, muito obrigado pelo seu testemunho.

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