Espero que um dia, quando desfiarem com calma e paciência este rosário de História que vos venho oferecendo, com desejo que aprendam e com o assumido rigor de escolha, sintam o prazer que me deu recuperar trechos de páginas (quase) esquecidas — que o Tempo não conseguiu apagar, nem o Homem consegue esquecer — ou ainda não publicadas, como é o caso do que vos proporciono a seguir, de uma História que é nossa, tão feita de sacrifícios e penas, guerras contínuas e lágrimas acesas, lutas fratricidas quer entre estranhos, quer entre irmãos, teatro de invejas, mal-entendidos, raivas surdas, desejos exacerbados, ódios incontidos, vinganças consumadas! Neste memória, quantos filhos se perderam? Quantas mulheres ficaram viúvas? Quantos órfãos penaram o rigor e a desdita da orfandade? Na verdade, não chegam todos os cemitérios do mundo, nem todos os livros de História destes dias para nos darem resposta.
Ao fim de todos estes séculos, destes anos de imenso e árduo tempo, que nos seja permitido recuperar homens e lugares que se fizeram e se nos deram como seres e como forma. Pelo meu lado continuarei a procurá-los e dá-los aqui em testemunho, honra e louvor.
Não me pesa nem o Tempo, nem a paciência, nem o dedo que escreve na tecla deste computador de poucos anos de ser e de reais milénios por avir.
Exactamente por isso, gostava de vos deixar como referência uma interessante problemática que apareceu nestes últimos anos e que refere a Charola, ou Rotunda, existente no convento de Cristo em Tomar, e que, não é mais, do que a lembrança única — à parte do castelo com as suas muralhas, torres, seteiras e alambor, e da quase desfeita Casa do Capítulo —que os templários nos deixaram, na fantástica e belíssima cidade de Tomar, como coisas verdadeiramente suas. Isto é, genuinamente edificadas pelos seus mestres canteiros e artesãos especializados e engenhosos.
Charola ou Rotunda?
Este templo não era mais do que o oratório dos templários, edificado no castelo da Ordem do Templo, em Tomar, e que o consagraram a S. Tomás da Cantuária.
Nuno Villamariz Oliveira num bem elaborado trabalho (ainda inédito) prefere a denominação Rotunda a Charola, e explica: (…) a Rotunda tomarense vai buscar o seu arquétipo precisamente à Mesquita de Omar (…) erguida em Jerusalém pelo califa Omar, guerreiro contemporâneo de Maomé e difusor da religião islâmica, cujo lugar os cruzados converteram em Templum Domini, e que veio a ser a sede dos Templários na Cidade Santa.
Este mesmo investigador, um pouco mais à frente, refere:
Nos planos simplificados do século XII, apenas os seus principais edifícios — e algumas vias — eram dispostos de acordo com a realidade física, casos do Templum Domini, do Templum Salomonis, do Santo Sepulcro ou da torre de David. O edifício poligonal do Templum Domini, com o seu perfil exótico, depressa se converteu no mias propagado modelo da Cidade Santa. Por vezes ele foi confundido com a Mesquita de al-Aksa, assim como o Templum Salomonis foi, do mesmo modo, associado à Mesquita de Omar. (…) O Templum Domini ou o Templo Salomonis representavam, neste contexto, metonímias da própria Cidade Santa. Após a tomada de Jerusalém pelos Cruzados, o Monte do Templo passou a ser quer o centro das peregrinações quer da própria governação cristã, o lugar da autoridade régia, na cidade e em todo o reino. [Os castelos da Ordem do Templo em Portugal, 1120-1314, pp. 175 e 178. Dissertação de Mestrado em História da Arte Medieval, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2000.]
Até breve!
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