Os Portugueses tinham vindo atacar esta região e pilhado e levado tudo o que encontraram. Al-‘Adil, o monarca do Magreb, encontrava-se em Sevilha na altura com o seu wazir, Abu Zayd Ibn Yujjan, e os oficiais superiores e os shaykhs almohadas. Não tinham dinheiro nem meios de resistir ao inimigo: o poder do império estava então em declínio e o brilho da dinastia manchado. Se uma catástrofe atingisse um dos seus súbditos, se os seus rebanhos fossem atacados, não podia contar com qualquer auxílio ou assistência. As notícias do ataque português chegaram a Sevilha alguns dias antes do encontro que vamos descrever. Reuniu-se uma enorme quantidade de pessoas na mesquita grande e quando terminou a prece de sexta-feira levantaram-se e gritaram às autoridades, exigindo que atacassem o inimigo. No dia seguinte, sábado, um arauto percorreu a cidade anunciando à população que fora organizada uma surtida. O povo preparou-se e equipou-se. Alguns deixaram a cidade naquele mesmo dia. Quando chegou o domingo, verificou-se uma levée en masse (*), e todos os sevilhanos, grandes e pequenos, saíram da cidade em toda a espécie de montadas, alguns com armas, outros sem elas, como se fossem fazer piqueniques nos seus jardins e prados. Um grupo tomou a direcção de Tejada, acompanhado de menos de uma centena de soldados de cavalaria. Os Cristãos eram em número considerável, e vinham protegidos de cotas de malha e bem armados, enquanto a maioria dos Muçulmanos estava desarmada e impotente: eram apenas gente dos suqs e comerciantes. O chefe do grupo de soldados regulares de Sevilha era Abu Muhammad ‘Abd Allah Abi Bakr Ibn Yazid, que entendia muito mais da guerra do que esta ralé que nada sabia. Gritaram-lhe que iam ao encontro do inimigo mas ele proibiu-os e tentou alertá-los. Ignoraram-no e só queriam estar frente a frente com os Cristãos e injuriaram-no a ponto de se aborrecer com eles e partir com os soldados de cavalaria que o acompanhavam. Além disso, descobriu que iam enfrentar um inimigo muito superior em número e contra o qual nada podia fazer. Ao verem as tropas regulares retirarem-se, os Cristãos começaram a avançar para o povo de Sevilha. Este último, ao vê-los aproximar-se, desatou a fugir e iniciou-se a matança. Alguns foram chacinados e um grande número aprisionado, enquanto um número igual fugia. Depois, as opiniões divergiram quanto aos números de sevilhanos mortos ou feitos prisioneiros naquele dia, alguns exagerando num sentido, outros no outro. Os primeiros indicaram um número de 20.000 enquanto outros efectuaram uma estimativa mais baixa. Alá é quem sabe. Al-‘Adil deixou então Sevilha para regressar à capital, Marraquexe, em Novembro-Dezembro deste ano [1225].
[Al-Himyari, Rawd al-Mi‘tar, pp. 128-129; trad. pp. 156-157, citado por Hugh Kennedy, Os Muçulmanos na Península Ibérica. História Política do al-Andalus, pp. 291-292, Publicações Europa-América, Mem Martins, 1999.]
(*) — Em francês no original. (N. do E.)
[Al-Himyari, Rawd al-Mi‘tar, pp. 128-129; trad. pp. 156-157, citado por Hugh Kennedy, Os Muçulmanos na Península Ibérica. História Política do al-Andalus, pp. 291-292, Publicações Europa-América, Mem Martins, 1999.]
(*) — Em francês no original. (N. do E.)
Até breve.
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