Aguarela de Roque Gameiro.
Lisboa era uma cidade populosa, rica e forte. Edificada à beira dum vasto porto, estava indicada naturalmente como ponto de escala para o comércio entre o Mediterrâneo e o ocidente da Europa. Não é, portanto, de admirar que confluísse a ela grande número de comerciantes e que no seu seio tivessem residência, fixa ou temporária, as mais diversas gentes das mais diversas paragens.
Nos seus edifícios tão apertadamente aglomerados, que a não ser entre as dos comerciantes dificilmente se acharia uma rua com mais de oito pés de largura, adensava-se um povo heterogéneo.
A sua população — exclama Osberno — era mais numerosa do que se pode imaginar! Com efeito, segundo depois soubemos pelo alcaide, isto é, pelo governador, depois de a termos tomado, teve esta cidade cento e cinquenta e quatro mil homens, exceptuando as mulheres e crianças.
Informa ainda o cronista minucioso e observador:
À nossa chegada tinha a cidade sessenta mil famílias que pagavam tributos, incluídos os dos subúrbios em volta, mas excluídos os homens que não estavam sujeitos à tributação de ninguém.
Era gente humilde que labuta e serve e a classe opulenta que goza e gasta.
A Lisboa afluíam os que tinham sede de prazer, ouro para gastar ou ânsia de lucros nas transacções da veniaga. Eram todos os nobres de Sintra, Almada e Palmela; eram os ricos mercadores de toda a parte da Espanha e da África.
Havia motivos para tanto.
[José Augusto de Oliveira, O cerco de Lisboa, em 1147. Narrativa do glorioso feito conforme os documentos coevos, pp. 29-30.]
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