Por esta porta, chamada do Templo, e segundo a tradição, teriam entrado os Templários aquando da conquista em 1229. Sabemos agora que não foi conquista, mas ocupação, e não se deu em 1229, mas em meados de 1230.
56. (…) O rei de Leão por volta da Quaresma que se avizinhava, com uma parte da sua milícia e com homens de alguns concelhos, entrou em terras de mouros e assediou uma cidade antigamente populosa, que então estava reduzida a uma pequena cidade, a saber Mérida, sede metropolita, cuja dignidade foi mudada para a igreja compostelana e, por conseguinte, ao arcebispo de Santiago de Compostela ficaram submetidos os bispos que anteriormente o estavam ao arcebispo emeritense, os que estavam próximos da terra lusitana. Enquanto o rei mantinha o seu cerco e assédio, alguns irmãos da Ordem de Santiago apropriaram-se do castelo de Montánchez; Mérida, por sua parte, entregou-se ao rei(1).
Por sua parte Avenhut(2), encontrando-se em terras de Córdova, reuniu, com a intenção de entabular combate, uma multidão de soldos e infantes, e chegou a certo castelo junto a Mérida. Quando o rei leonês soube que Avenhut vinha para lutar com ele, saiu de Mérida e colocou os seus acampamentos para lá do rio Guadiana. Na manhã seguinte, ambos os exércitos saíram ao campo de batalha e por auxílio de Nosso Senhor Jesus Cristo, ainda que fossem poucos os que estavam com o rei leonês em comparação com a multidão de mouros, os venceram e mataram muitos deles, e o próprio Avenhut fugiu e andou perdido.(3)
57. Os habitantes de Elvas, quando souberam que Avenhut e os que estavam com ele tinham soçobrado na batalha, abandonaram o castelo e fugiram de noite. Uns portugueses(4), que tinham participado na batalha, em que estiveram com o rei leonês, encontraram as portas abertas da cidade, entraram e não encontraram ninguém; ocuparam então o castelo e mandaram notificar disso mesmo o rei de Portugal. Ao sabê-lo, enviou alguns dos seus soldados e outros homens armados para tomarem posse de castelo, e assim este dito castelo, populoso naqueles dias, foi ocupado graças ao Salvador para o lado cristão.
[Autor anónimo(5), Crónica Latina dos Reis de Castela — edição de Luís Charlo Brea —, §§ 56 e 57, pp. 87-88, Akal Ediciones, 1999, Madrid.]
Notas:
(1) — Estas acções passaram-se entre Abril de 1229 e meados de 1230.
(2) — Avenhut era um senhor da guerra [caudilho] andaluz que procurava, sempre que podia e destemidamente, dar combate às forças militares dos reis de Leão e de Castela.
(3) — Segundo outras fontes históricas, este combate teve lugar em Alange, a sudeste de Mérida, em começos de 1230.
(4) — Segundo parece, as únicas forças portuguesas que acompanharam o rei D. Afonso IX de Leão — para lá de ter no seu alferes-mor, o infante D. Pedro, filho de D. Sancho I e tio do rei de Portugal, D. Sancho II, o estratega militar —, eram as que constituíam os contingentes militares da Ordens do Hospital, Santiago, Avis (Calatrava) e Templo(*). Foram estas que ocuparam o castelo e a povoação de Elvas, entretanto abandonada pela maioria da população moura, depois desta saber dos incidentes féreos praticados pelas forças cristãs sobre as populações de Cáceres e Mérida e da derrota e morte de Avenhut. Apenas ficaram, sujeitando-se à lei dos cristãos, alguns habitantes, particularmente os mestres artesões de ofícios vários e respectivas famílias. Foi por alguns elementos, destas quatro Ordens, entretanto enviados e chegados à corte de D. Sancho II, que o monarca português soube da ocupação de Elvas. Decidiu-se, então, enviar forças de ocupação suas para manterem sob controle e alçada, em nome do trono, o castelo e povoação, até que se desse a sua chegada, o que ocorreu pouco tempo depois. Estava-se em meados do ano de 1230. Foi nesta altura que procedeu à outorga de foral à cidade.
(5) — Segundo se pensa, ainda que pesem inúmeras discussões sobre o verdadeiro nome do autor, ou autores, que não se pode(m) identificar de forma indiscutível, o(s) religioso(s) anónimo(s) que eventualmente teria(m) escrito esta Crónica, presume-se, com fortes possibilidades, ter sido o bispo de Osma, D. Juan Domínguez (6), que foi, entretanto, eleito bispo de Leão (1237) e depois de Burgos (1240). Foi, igualmente, chanceller do rei D. Fernando III, de Leão e Castela, acompanhando-o nas campanhas militares que este efectuou por alguns dos reinos (das taifas) da Andaluzia. Morreu em 1246, quando ocupava o bispado de Burgos.
Em Espanha, a discussão sobre a identificação do autor continua e continuará a dar-se, já que as vozes não se calam e os pareceres e palpites se prolongam. Talvez um dia, sabe-se lá se próximo, estas ou outras vozes estejam em conformidade sobre quem foi, de facto, o autor desta Crónica Latina dos Reis de Castela, escrita, e igualmente se presume, nos primeiros quarenta anos do século XIII. Para consolo da História da Península Ibérica e da historiografia moderna.
(6) — Sobre o nome próprio e apelido deste prelado, Pedro Fernández Martín refere que O bispo de Osma, chanceller de Fernando III o Santo, não se chamava D. Juan Domínguez, segundo escreve na revista Celtiberia, nº 27 (1964), pp. 79-95.
(*) - Era nesta altura Mestre da Ordem do Templo nos três reinos (Leão, Castela e Portugal), formando, nesse tempo, uma única Província templária, D. fr. Estevão de Belmonte (1229-1237).
Por sua parte Avenhut(2), encontrando-se em terras de Córdova, reuniu, com a intenção de entabular combate, uma multidão de soldos e infantes, e chegou a certo castelo junto a Mérida. Quando o rei leonês soube que Avenhut vinha para lutar com ele, saiu de Mérida e colocou os seus acampamentos para lá do rio Guadiana. Na manhã seguinte, ambos os exércitos saíram ao campo de batalha e por auxílio de Nosso Senhor Jesus Cristo, ainda que fossem poucos os que estavam com o rei leonês em comparação com a multidão de mouros, os venceram e mataram muitos deles, e o próprio Avenhut fugiu e andou perdido.(3)
57. Os habitantes de Elvas, quando souberam que Avenhut e os que estavam com ele tinham soçobrado na batalha, abandonaram o castelo e fugiram de noite. Uns portugueses(4), que tinham participado na batalha, em que estiveram com o rei leonês, encontraram as portas abertas da cidade, entraram e não encontraram ninguém; ocuparam então o castelo e mandaram notificar disso mesmo o rei de Portugal. Ao sabê-lo, enviou alguns dos seus soldados e outros homens armados para tomarem posse de castelo, e assim este dito castelo, populoso naqueles dias, foi ocupado graças ao Salvador para o lado cristão.
[Autor anónimo(5), Crónica Latina dos Reis de Castela — edição de Luís Charlo Brea —, §§ 56 e 57, pp. 87-88, Akal Ediciones, 1999, Madrid.]
Notas:
(1) — Estas acções passaram-se entre Abril de 1229 e meados de 1230.
(2) — Avenhut era um senhor da guerra [caudilho] andaluz que procurava, sempre que podia e destemidamente, dar combate às forças militares dos reis de Leão e de Castela.
(3) — Segundo outras fontes históricas, este combate teve lugar em Alange, a sudeste de Mérida, em começos de 1230.
(4) — Segundo parece, as únicas forças portuguesas que acompanharam o rei D. Afonso IX de Leão — para lá de ter no seu alferes-mor, o infante D. Pedro, filho de D. Sancho I e tio do rei de Portugal, D. Sancho II, o estratega militar —, eram as que constituíam os contingentes militares da Ordens do Hospital, Santiago, Avis (Calatrava) e Templo(*). Foram estas que ocuparam o castelo e a povoação de Elvas, entretanto abandonada pela maioria da população moura, depois desta saber dos incidentes féreos praticados pelas forças cristãs sobre as populações de Cáceres e Mérida e da derrota e morte de Avenhut. Apenas ficaram, sujeitando-se à lei dos cristãos, alguns habitantes, particularmente os mestres artesões de ofícios vários e respectivas famílias. Foi por alguns elementos, destas quatro Ordens, entretanto enviados e chegados à corte de D. Sancho II, que o monarca português soube da ocupação de Elvas. Decidiu-se, então, enviar forças de ocupação suas para manterem sob controle e alçada, em nome do trono, o castelo e povoação, até que se desse a sua chegada, o que ocorreu pouco tempo depois. Estava-se em meados do ano de 1230. Foi nesta altura que procedeu à outorga de foral à cidade.
(5) — Segundo se pensa, ainda que pesem inúmeras discussões sobre o verdadeiro nome do autor, ou autores, que não se pode(m) identificar de forma indiscutível, o(s) religioso(s) anónimo(s) que eventualmente teria(m) escrito esta Crónica, presume-se, com fortes possibilidades, ter sido o bispo de Osma, D. Juan Domínguez (6), que foi, entretanto, eleito bispo de Leão (1237) e depois de Burgos (1240). Foi, igualmente, chanceller do rei D. Fernando III, de Leão e Castela, acompanhando-o nas campanhas militares que este efectuou por alguns dos reinos (das taifas) da Andaluzia. Morreu em 1246, quando ocupava o bispado de Burgos.
Em Espanha, a discussão sobre a identificação do autor continua e continuará a dar-se, já que as vozes não se calam e os pareceres e palpites se prolongam. Talvez um dia, sabe-se lá se próximo, estas ou outras vozes estejam em conformidade sobre quem foi, de facto, o autor desta Crónica Latina dos Reis de Castela, escrita, e igualmente se presume, nos primeiros quarenta anos do século XIII. Para consolo da História da Península Ibérica e da historiografia moderna.
(6) — Sobre o nome próprio e apelido deste prelado, Pedro Fernández Martín refere que O bispo de Osma, chanceller de Fernando III o Santo, não se chamava D. Juan Domínguez, segundo escreve na revista Celtiberia, nº 27 (1964), pp. 79-95.
(*) - Era nesta altura Mestre da Ordem do Templo nos três reinos (Leão, Castela e Portugal), formando, nesse tempo, uma única Província templária, D. fr. Estevão de Belmonte (1229-1237).
Até breve.
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