Combate entre muçulmanos e cristãos na Península Ibérica.
A noção de cruzada, essa grande aventura da fé, entrou na Península Ibérica [Hespanha] com os freires da Ordem de S. Bento (1). Começa na Catalunha — bem antes que em Leão, Castela, Navarra ou Portugal (2) — com o beneplácito de bispos e abades. Foi o papa Alexandre II [1061-1073], um clunicense, quem primeiro [com gritados e incessantes apelos aos ainda incipientes e mal definidos reinos hispânicos] fez acordar e proclamar a necessidade duma guerra santa, e quem, com a ajuda inestimável desta Ordem religiosa, se lançou a conceder indulgências a quem nela participasse. Muitos cavaleiros europeus, sobretudo franceses e alemães, chegaram a Aragão para contribuir para a conquista de Barbastro [1064], confiantes que, nestas empresas guerreiras, as promessas de salvação das suas almas se concretizassem. Era este o espírito que vigorava, verdadeira e conscientemente, em todas as mentes da Idade Média.
Toledo foi conquistada [1065] (3) por Fernando I, o magno, sendo nomeado seu primeiro arcebispo, o francês Bernardo, um clunicense, enviado a Castela pelo [4º] abade (S.) Hugo [†1109], sucessor de (S.) Odilón. Entretanto, poucos anos mais tarde [c. 1092], chegam à corte do rei Afonso VI, de Leão e Castela, os condes Raimundo e Henrique da Borgonha.
Por outro lado, o papa Urbano II [1088-1099], (4) depois do sermão feito no concílio de Clermont [1095], aconselhou os cruzados de toda a Hespanha a que não fossem para a Terra Santa, fazendo menção [e caso!] de que eles tinham a própria cruzada em casa e que não lhes fazia falta nenhuma participarem em igual aventura no Oriente Médio. Chegou mesmo a proibi-los de tal. No entanto, muitos deles, parecendo esquecer a palavra do Sumo Pontífice, demandaram a Palestina.
Desta maneira, diríamos quase simplista — podendo afirmar-se que verdadeiramente imbuída com o espírito de cruzada — começa a Reconquista na Península Ibérica. Não só o exército real e os dos senhores feudais, mas a Igreja em armas, no terreno, eram disso prova.
A guerra contra o Islão toma foros de sagrada com o primeiro cerco de Saragoça [1101] — grande feudo moçarábico da Península — com o rei Pedro I de Aragão [c. 1072-1104], o primeiro monarca hispânico que tomou o nome de rei cruzado. No entanto, este rei teve que abandonar o intento sem conseguir o seu objectivo. Foi só quando seu irmão Afonso I, o batalhador [1073-1134], subiu ao trono [1104], que tal se verificou. Em 1118, depois de reunido o concílio de Tolosa, com religiosos de ambos os lados dos Pirinéus, acordou-se conferir à tomada daquela cidade (5) o carácter religioso com que se tinha iniciado dezassete anos antes. Assim, a nova campanha deixou de ser apenas aragonesa, desde o momento em que se comprometeram nela cavaleiros e vilãos de todo o território peninsular, diante dos quais marchavam os seus respectivos bispos e muito monges, que deram provas de inaudito arrojo e intervindo activamente nos combates.(6)
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, pp. 45-46.]
Notas do Autor:
(1). — Beneditina ou de Cluny.
(2). — Obviamente que, nesta altura, Portugal não existia como reino.
(3). — Naqueles dias Toledo era a cidade santa da Península, a versão hispânica de Jerusalém. [Juan G. Atienza, Monjes y Monasterios Españoles en la Edad Media, p. 328, Ediciones Temas de Hoy, Madrid, 1994.]
(4). — Foi mais tarde beatificado.
(5). — Foi conquistada a 18 de Fevereiro de 1118.
(6). — Juan G. Atienza, ob. cit., pp. 326-327.
A noção de cruzada, essa grande aventura da fé, entrou na Península Ibérica [Hespanha] com os freires da Ordem de S. Bento (1). Começa na Catalunha — bem antes que em Leão, Castela, Navarra ou Portugal (2) — com o beneplácito de bispos e abades. Foi o papa Alexandre II [1061-1073], um clunicense, quem primeiro [com gritados e incessantes apelos aos ainda incipientes e mal definidos reinos hispânicos] fez acordar e proclamar a necessidade duma guerra santa, e quem, com a ajuda inestimável desta Ordem religiosa, se lançou a conceder indulgências a quem nela participasse. Muitos cavaleiros europeus, sobretudo franceses e alemães, chegaram a Aragão para contribuir para a conquista de Barbastro [1064], confiantes que, nestas empresas guerreiras, as promessas de salvação das suas almas se concretizassem. Era este o espírito que vigorava, verdadeira e conscientemente, em todas as mentes da Idade Média.
Toledo foi conquistada [1065] (3) por Fernando I, o magno, sendo nomeado seu primeiro arcebispo, o francês Bernardo, um clunicense, enviado a Castela pelo [4º] abade (S.) Hugo [†1109], sucessor de (S.) Odilón. Entretanto, poucos anos mais tarde [c. 1092], chegam à corte do rei Afonso VI, de Leão e Castela, os condes Raimundo e Henrique da Borgonha.
Por outro lado, o papa Urbano II [1088-1099], (4) depois do sermão feito no concílio de Clermont [1095], aconselhou os cruzados de toda a Hespanha a que não fossem para a Terra Santa, fazendo menção [e caso!] de que eles tinham a própria cruzada em casa e que não lhes fazia falta nenhuma participarem em igual aventura no Oriente Médio. Chegou mesmo a proibi-los de tal. No entanto, muitos deles, parecendo esquecer a palavra do Sumo Pontífice, demandaram a Palestina.
Desta maneira, diríamos quase simplista — podendo afirmar-se que verdadeiramente imbuída com o espírito de cruzada — começa a Reconquista na Península Ibérica. Não só o exército real e os dos senhores feudais, mas a Igreja em armas, no terreno, eram disso prova.
A guerra contra o Islão toma foros de sagrada com o primeiro cerco de Saragoça [1101] — grande feudo moçarábico da Península — com o rei Pedro I de Aragão [c. 1072-1104], o primeiro monarca hispânico que tomou o nome de rei cruzado. No entanto, este rei teve que abandonar o intento sem conseguir o seu objectivo. Foi só quando seu irmão Afonso I, o batalhador [1073-1134], subiu ao trono [1104], que tal se verificou. Em 1118, depois de reunido o concílio de Tolosa, com religiosos de ambos os lados dos Pirinéus, acordou-se conferir à tomada daquela cidade (5) o carácter religioso com que se tinha iniciado dezassete anos antes. Assim, a nova campanha deixou de ser apenas aragonesa, desde o momento em que se comprometeram nela cavaleiros e vilãos de todo o território peninsular, diante dos quais marchavam os seus respectivos bispos e muito monges, que deram provas de inaudito arrojo e intervindo activamente nos combates.(6)
[José Manuel Capêlo, Portugal templário, Relação e sucessão dos seus Mestres [1124-1314], A presença templária em Portugal, pp. 45-46.]
Notas do Autor:
(1). — Beneditina ou de Cluny.
(2). — Obviamente que, nesta altura, Portugal não existia como reino.
(3). — Naqueles dias Toledo era a cidade santa da Península, a versão hispânica de Jerusalém. [Juan G. Atienza, Monjes y Monasterios Españoles en la Edad Media, p. 328, Ediciones Temas de Hoy, Madrid, 1994.]
(4). — Foi mais tarde beatificado.
(5). — Foi conquistada a 18 de Fevereiro de 1118.
(6). — Juan G. Atienza, ob. cit., pp. 326-327.
Até breve.
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