Infante D. Henrique [suposto retrato].
(…) o papa constituiu o Infante administrador-geral e encarregado da Ordem por falecimento de D. Lopo Dias. Não o nomeou, porém «Mestre», como parece insinuar, embora ambiguamente, o pedido do rei de Portugal. Com efeito, para se ser Mestre era preciso ser freire da Ordem, o que supunha, além do voto de pobreza, uma carreira e, pelo menos formalmente, a eleição pelos confrades. A diferença entre um «regedor», ou «governador», e um «Mestre» é que este emanava dos freires que o reconheciam como seu chefe, ao passo que aquele era um representante do rei imposto à Ordem. Por isso o Infante, ao contrário do que se tem dito, nunca assumiu o nome de Mestre, como certamente desejaria, embora tivesse chegado a pedir ao papa, no fim do ano de 1442, que o autorizasse a ser freire da Ordem, na qual professaria com dispensa do voto de pobreza, que lhe permitisse conservar o ducado de Viseu e outros cargos. O papa deferiu o pedido, mas o Infante nunca chegou a professar por alguma razão que desconhecemos. Imaginamos que essa foi a grande frustração da sua vida: o ser imposto pelo rei à Ordem a que canonicamente não pertencia; não poder legitimamente chamar-se «Mestre» da Ordem de Cristo.
[António José Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal, pp. 267-268.]
Nota nossa:
(1). — O inserirmos este pequeno apontamento sobre o verdadeiro cargo que o Infante D. Henrique assumiu e teve dentro da Ordem da Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo, e já porque o assunto foge à nossa linear conduta de contemplarmos apenas o estudo sobre a Ordem do Templo e o tempo que a secularizou, é apenas a tentativa de dar a conhecer uma figura — aparecida como das maiores adentro da História portuguesa — que não deixou de ser deveras enigmática, mas que o tempo e os homens se têm encarregado de colocar no seu devido lugar e dar-lhe o competente valor, e cujos privilégios e regalias extremam os limites do tido e do imaginado. Até porque, e sabe-se hoje, o Infante viveu a maior parte do seu tempo no palácio que mandou edificar no castelo de Tomar, junto à charola templária, do que propriamente na hipotética casa de Sagres, que parece deveras nunca ter existido, sendo apenas fruto da lenda e da exaltação criativa dos homens. Parece, isso sim, que a casa que teve no Algarve foi apenas uma: em Lagos e não em Sagres.
(…) o papa constituiu o Infante administrador-geral e encarregado da Ordem por falecimento de D. Lopo Dias. Não o nomeou, porém «Mestre», como parece insinuar, embora ambiguamente, o pedido do rei de Portugal. Com efeito, para se ser Mestre era preciso ser freire da Ordem, o que supunha, além do voto de pobreza, uma carreira e, pelo menos formalmente, a eleição pelos confrades. A diferença entre um «regedor», ou «governador», e um «Mestre» é que este emanava dos freires que o reconheciam como seu chefe, ao passo que aquele era um representante do rei imposto à Ordem. Por isso o Infante, ao contrário do que se tem dito, nunca assumiu o nome de Mestre, como certamente desejaria, embora tivesse chegado a pedir ao papa, no fim do ano de 1442, que o autorizasse a ser freire da Ordem, na qual professaria com dispensa do voto de pobreza, que lhe permitisse conservar o ducado de Viseu e outros cargos. O papa deferiu o pedido, mas o Infante nunca chegou a professar por alguma razão que desconhecemos. Imaginamos que essa foi a grande frustração da sua vida: o ser imposto pelo rei à Ordem a que canonicamente não pertencia; não poder legitimamente chamar-se «Mestre» da Ordem de Cristo.
[António José Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal, pp. 267-268.]
Nota nossa:
(1). — O inserirmos este pequeno apontamento sobre o verdadeiro cargo que o Infante D. Henrique assumiu e teve dentro da Ordem da Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo, e já porque o assunto foge à nossa linear conduta de contemplarmos apenas o estudo sobre a Ordem do Templo e o tempo que a secularizou, é apenas a tentativa de dar a conhecer uma figura — aparecida como das maiores adentro da História portuguesa — que não deixou de ser deveras enigmática, mas que o tempo e os homens se têm encarregado de colocar no seu devido lugar e dar-lhe o competente valor, e cujos privilégios e regalias extremam os limites do tido e do imaginado. Até porque, e sabe-se hoje, o Infante viveu a maior parte do seu tempo no palácio que mandou edificar no castelo de Tomar, junto à charola templária, do que propriamente na hipotética casa de Sagres, que parece deveras nunca ter existido, sendo apenas fruto da lenda e da exaltação criativa dos homens. Parece, isso sim, que a casa que teve no Algarve foi apenas uma: em Lagos e não em Sagres.
Até breve.
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