quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Soure.

Castelo de Soure.

É, porém, no seguimento de uma política de defesa da fronteira, dessa linha de protecção enquadrada nos castelos que circundavam o perímetro defensivo de Coimbra, a “linha do Mondego” — Montemor, Santa Eulália, Miranda do Corvo e Soure, a que se juntaria, mais tarde, Leiria — que a 19 de Março de 1128 (1) — dois meses depois de se ter iniciado o concílio de Troyes [12 de Janeiro] — confirma em carta de doação (2), a entrega do castelo de Soure à Ordem Militar do Templo.

Villa de Soure (...) acho cometida a Tenencia della aos Cavalleiros do Templo (...).
O Reyno de Portugal foy hum dos que primeiro, e com mão mais liberal deu entrada a estes Cavalleiros. Ja no anno de 1126 os acho de assento nelle, e com terras proprias, das quais fazião concertos, e Escrituras. Em o livro dos Foraes da leitura nova ha estas palavras junto ao Foral de Ferreira dado pela Rainha Dona Tareja (...): que Dom Galdim (3), e Arnaldo da Rocha, e os mais Cavalleiros do Templo fazião contrato com Paio Fernandez, Paio Peres, e suas molheres sobre a villa de Ferreira (4). E declara-se ser feita a Escritura no mes de Junho do anno referido de 1126 (...). Dom Galdim o qual naquella Escritura se nomea Mestre, teve este tittulo em Portugal todo o tempo da sua vida, não por ser o Gram Mestre da Ordem, que este residia em Jerusalem, mas por ser o principal dos Cavalleiros Templarios deste Reino, a quem os mais obedecião. Era de nação Portugues, natural da cidade de Braga (5), de fidalguia antiga, filho de Paio Ramires, neto de Ramiro Aires, e bisneto de Aires Carpinteiro (...). Por sua mãy Dona Gontrode Soares era o Mestre da Familia dos Correas, de cuja nobreza e antiguidade fica dito. Foy valeroso nas Armas (...). E de huma pedra que está no Convento de Thomar sobre a Capella do Mestre Dom Lopo Diaz de Sousa, consta que Dom Galdim passou à Terra Santa, e se achou com o Gram Mestre na tomada de Ascalon, e em outros feitos de armas insignes por espaço de cinco annos, aonde deu boas mostras do seu valor. Fundou os Castellos de Thomar, Pombal, Ceria (6), Idanha, Monsanto, e Almourol, como se relata em a mesma pedra. (7)
[José Manuel Capêlo, As Sedes Templárias em Portugal, Castelo Branco, a Cidade-Capital Templária de Portugal: de 1215 a 1314, Capítulo VII, pp. 170-171, notas 65 a 71, Codex Templi, Zéfiro, Sintra, 2007.]

Notas do Autor:

(1). — Muito se tem discutido — e segue discutindo-se — se o concílio de Troyes se tenha realizado em Janeiro de 1128 ou Janeiro de 1129. Eu sou dos que perfilho que a sua realização se deu no ano de 1128, seguindo opinião de historiadores idóneos. No entanto, acredito, a nova investigação irá realmente determinar o ano preciso em que se deu o histórico evento, já que possui meios determinados e precisos para que tal se verifique.
(2). — A rainha estaria nessa altura casada com o conde Fernão Peres «de Trava», que igualmente outorga a doação, por dele ter governo. [José Manuel Capêlo, ob. cit., p. 69.]
(3). — Gualdim Pais nesta data, 1126, tinha oito anos, já por sabermos que nasceu no ano de 1118. Impossível, pois, ser Mestre da Ordem nesta altura. Erro que alguns biógrafos da Ordem inconscientemente mantiveram através dos anos.
(4). — Esta Ferreira, é a actual vila de Ferreira de Aves.
(5). — Também se sabe que D. fr. Gualdim Pais era natural de Marecos, que não era mais do que a actual Barcelinhos — povoação próxima de Braga e fronteira a Barcelos — e não de Amares, como ainda hoje se crê e esta vila faz menção e tem orgulho de divulgar. Julgo que mais por facilidade do que por razão, entendeu fr. António Brandão colocar Braga em vez de Barcelinhos. Sobre este assunto ver uma monografia de um natural de Amares, Domingos M. da Silva — autor da Monografia do Concelho de Amares —, que nos diz que haveria erro na denominação de Marecos como Amares, dado serem vocábulos inteiramente distintos e desde sempre inconfundíveis na toponímia portuguesa já que Amares vem a pronunciar-se e a escrever-se invariavelmente assim desde muito cedo (p. 82), isto é: desde os seus primórdios. Marecos seria — segundo afirma — a actual freguesia de Santo André, situada e identificada no antigo julgado de Faria — em terras de Santa Maria de Faria —, lugar próximo onde se levanta Barcelinhos, freguesia fronteira de Barcelos e de que hoje faz parte integrante como cidade. (p. 83) Poder-se-á deduzir que Amares nunca foi Marecos e que D. Gualdim Pais, se foi de Marecos, nunca foi de Amares? [Ob. cit., Amares — Marecos (Grave confusão), pp. 79-87.] Também Maria Sofia Dias Rodrigues, no seu artigo Os Templários em Portugal no século XII, p. 136, refere a singularidade de Marecos não poder ser Amares, pois que esta já existia cerca de cinquenta anos antes de D. fr. Gualdim Pais ter nascido, correspondendo à leitura que faz da monografia de Domingos M. da Silva, que igualmente cita.
(6). — O castelo a vir referido, não seria o de Ceria, como vem neste texto, mas o de Ceras. Apenas que, e na verdade, aquele não se inscreve na pedra referida. Vem em substituição do castelo de Ozêzere [actual Constância (8)]. Não sabemos porque razão o cronista o nomeou — já porque nos parece livre arbítrio ou má leitura — e não inscreveu o referido castelo de Ozêzere. Outro tanto, que se saiba, resulta que o castelo de Ceras depois de destruído pela invasão do emir Yusuf, em 1140, jamais foi reconstruído: quer por ordem do rei, quer pela Ordem do Templo. Até porque muitas das suas pedras, a grande maioria, serviram na construção e edificação do castelo de Tomar, em 1160.
(7). — António Brandão, fr., Monarchia Lusitana, Livro IX, Cap. XI.
(8). — Há autores que o referem como sendo o de Payo Pele — a actual Praia do Ribatejo — hoje praticamente destruído, apenas restando uma vaga silhueta da sua muralha.


Até breve.

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